PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - PROJETO

A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL REGIONAL

­­MARTINS, José Joaquim Maia¹; MACIEL, Luísa Lacerda¹

¹Acadêmico do curso de Bacharelado em Turismo da UFPel, Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em História, integrantes do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia- DHA-ICH/UFPel
ICH – CEP 96010-770 joaquimturismo@gmail.com

1.  INTRODUÇÃO

A proposta de uma metodologia para o desenvolvimento de ações educacionais voltadas para o uso e apropriação dos bens culturais que compõem o nosso “patrimônio cultural” foi introduzida no Brasil, em termos conceituais e práticos, por ocasião do 1° seminário sobre o “Uso Educacional de Museus e Monumentos”, realizado em julho de 1983, no Museu Imperial, em Petrópolis, RJ [7].
A partir dessa proposta inicial, inúmeras experiências e atividades vêm sendo realizadas, em diferentes contextos e locais do país, que demonstraram e demonstram resultados surpreendentes na recuperação da memória coletiva, no resgate da auto-estima de comunidades em processo de desestruturação, no desenvolvimento local e no encontro de soluções inovadoras de preservação do patrimônio cultural em áreas sob o impacto de mudanças e transformações radicais em seu meio ambiente [7].
A Educação Patrimonial é um processo sistemático centrado no Patrimônio Cultural e com público alvo permanente, que serve como um instrumento de afirmação da cidadania. Tem a finalidade de oferecer alguns subsídios para que a própria comunidade defina o que vem a ser seu patrimônio, e assim se identifique com ele e o preserve [7].
O desenvolvimento de programas de Educação Patrimonial, envolvendo não só a rede escolar, mas também as organizações da comunidade local, as famílias, as empresas e, principalmente, as autoridades responsáveis, contribuíram para a ampliação de uma nova visão do Patrimônio Cultural Brasileiro em sua diversidade de manifestações.
É enorme a diversidade do Patrimônio Cultural na zona sul do estado do Rio Grande do Sul, em sua dimensão material e imaterial, o que exige uma abordagem multidisciplinar do seu estudo, com enfoque destacadamente arqueológico (cultura tangível) e antropológico (cultura intangível). Visando à valorização e preservação deste Patrimônio Cultural, desenvolveremos o Projeto de Educação Patrimonial Regional, vinculado ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia (LEPAARQ/ICH), como uma etapa do Projeto de Mapeamento e Salvamento Arqueológico da Região Sul, que abrange um total de 12 municípios: Aceguá, Arroio Grande, Bagé, Candiota, Capão do Leão, Cerrito, Herval, Hulha Negra, Pedras Altas, Pedro Osório, Pinheiro Machado e Piratini.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a elaboração e aplicação do projeto de Educação Patrimonial foram sistematizadas algumas etapas, são elas: pesquisa de fontes primárias (documentos e relatos orais), pesquisas bibliográficas, pesquisas de campo e pesquisas qualitativas com os habitantes das cidades acerca de seu patrimônio cultural.
Os trabalhos práticos de educação patrimonial nos municípios foram divididos em quatro etapas, as quais podem sofrer variações de acordo com a realidade de cada cidade.
No primeiro encontro haverá uma reunião com as secretarias municipais de educação, cultura ou turismo, tendo como um de seus alvos a rede de professores, onde serão apresentados os projetos de Mapeamento e Salvamento Arqueológico e de Educação Patrimonial Regional; nesta ocasião serão definidas as atividades de educação patrimonial, passíveis de serem adaptadas ao calendário de cada município.
No segundo encontro, se fará um trabalho direcionado à população estudantil de ensino fundamental e médio, quando serão expostos conceitos básicos de Arqueologia e Patrimônio Cultural, de forma pedagógica. Serão utilizados recursos como banners, exposições de materiais arqueológicos e apresentações com data show, os quais devem ser adequados à realidade da infra-estrutura de cada município. Estão previstas atividades práticas como a dinâmica Arqueólogo do Futuro, onde as crianças serão estimuladas a pensar que o local onde elas se encontram é um sítio arqueológico e como arqueólogos do futuro o pesquisariam, e escavações arqueológicas simuladas, visando tornar mais lúdica a aprendizagem dos alunos. Será entregue uma tarefa para os alunos, a qual consiste em descrever um objeto (material) de seu cotidiano com um roteiro de perguntas já previamente estipulado para o auxilio desta tarefa; juntamente será entregue um convite aos pais para o próximo encontro.
O terceiro encontro será realizado com pais e alunos, visando a atingir uma esfera maior de pessoas. O encontro será iniciado com a apresentação da tarefa da aula anterior pelos alunos; após esta apresentação será feita uma discussão com os pais e seus filhos sobre as experiências vivenciadas durante a realização desta tarefa, utilizando-se da discussão como uma forma de abordar temas como a Arqueologia, o trabalho do arqueólogo, a importância da preservação dos sítios arqueológicos, buscando já informar os tipos de artefatos arqueológicos que poderão ser encontrados na região. Durante essa discussão será também abordado o tema referente ao patrimônio cultural (tangível e intangível) que eles venham a eleger como sendo o seu.
Por fim, teremos um quarto encontro com a comunidade em geral, onde será entregue e discutida uma cartilha que tratará sobre Educação Patrimonial, e será feita  uma avaliação do projeto e de seus resultados.

                                          3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A maneira mais utilizada pelas políticas públicas para a preservação do Patrimônio, seja material ou imaterial, é a criação de novos museus ou centros de memória. Assim o discurso de preservação torna-se vazio, dissociado e distante da sociedade e novamente é sacralizado. Não há planejamento com sucesso para este patrimônio sem a participação social. [8]
O Projeto de Educação Patrimonial almeja trabalhar essa aproximação da comunidade com o seu patrimônio cultural, fazendo com que este não seja algo elitizado e distante da realidade do povo. Trabalhar a identificação e valorização do patrimônio cultural, que a comunidade escolhe como sendo seu, é uma forma de elevar a auto-estima e promover a valorização da cultura local.
As atividades do projeto encontram-se em fases distintas nas cidades abrangidas. Já foram mantidos os primeiros contatos em algumas cidades.  Em Pedras Altas onde foi aplicada uma palestra para toda rede de professores, onde também estiveram presentes alguns professores da cidade de Herval, somando-se um número em torno de cem educadores.
O primeiro encontro é de extrema importância para o transcurso das outras etapas do projeto, pois ele propicia a nossa aproximação com a especificidade da realidade escolar dos diferentes municípios, permitindo que as secretarias municipais de educação e a rede escolar conheçam o projeto, identifiquem-se e apropriem-se do mesmo, tornando-se assim parceiros necessários ao amadurecimento do processo de educação patrimonial na região.

  1. CONCLUSÃO

O Projeto de Educação Patrimonial Regional tem finalidade de trabalhar em conjunto com a comunidade, promovendo a identificação, valorização e preservação da volumosa e diversa gama de Patrimônio Cultural que se encontra nas localidades de abrangência deste projeto, visando também a fomentar o desenvolvimento cultural e o turismo das regiões atingidas.
Uma grande dificuldade encontrada na montagem deste projeto é ainda não haver uma tradição bibliográfica sobre o assunto, constituindo boa parte dos textos estudos de caso, sendo limitadas as referências no domínio conceitual e metodológico, salvo o Guia Básico de Educação Patrimonial [7], que traduz uma política oficial do IPHAN.
Temos a consciência de que este trabalho nos municípios, na primeira fase, cumprirá mais a tarefa de sensibilização com respeito ao patrimônio. No entanto, entendemos que a sensibilização é uma etapa de extrema importância no processo de Educação Patrimonial, o qual queremos promover e consolidar ao longo de várias etapas.

  1. referênciaS bibliogrÁficaS

[1] BESSEGATO, Mauri Luiz. O Patrimônio em Sala de Aula, Santa Maria: Ed. Evangraf, 2004.
[2] FUNARI, Pedro Paulo, Arqueologia, São Paulo: Contexto, 2003.
[3] MURTA, Stela Maris; ALBANO, Celina Org. Interpretar o Patrimônio: Um exercício do Olhar. Belo Horizonte: UFMG,Território Brasilis, 2002.
[4] MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Educação Patrimonial: Orientação Para Professores do Ensino Fundamental e Médio. Caxias do Sul: Maneco Livraria & Editora, 2004.
[5] ATAÍDES, Jésus Marco de; MACHADO, Laís Aparecida; SOUZA, Marcos André Torres de. Cuidando do Patrimônio Cultural. Goiânia: UCG, 1997.
[6] SCHWANTZ, Angélica Kohls. Educação Patrimonial: A Pedagogia Política do Esquecimento. Trabalho de Conclusão da Especialização em Memória, Identidade e Cultura Material. Pelotas, 2004.
[7] HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. RJ: Museu Imperial, IPHAN, 1999.
[8] FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Arqueologia, História e Arqueologia Histórica no Contexto Sul-Americano. In.: FUNARI, Pedro Paulo Abreu (org.). Cultura Material e Arqueologia Histórica. Campinas, SP: UNICAMP, 1998. pp. 7 – 34.
[9] ALMEIDA, Maria Bezerra. O Publico e o Patrimônio Arqueológico: Reflexões para a Arqueologia Publica no Brasil. Revista Habitus, Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia da Universidade Católica de Goiás. V. 1, N° 1. Goiânia: Ed. da Universidade Católica de Goiás. 2003 pp. 275 – 295.
[10] KERN, Arno Alvarez (org.). Arqueologia Pré-Histórica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992.

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