PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

sexta-feira, 25 de março de 2011

FUNDO DO DIREITO DIFUSO

Estado seleciona projetos para Defesa de Direitos Difusos


Qui, 24 de Março de 2011 04:20



Instituições públicas e privadas sem fins lucrativos têm até 1º de abril para apresentar projetos visando obter financiamento Fundo Estadual de Defesa de Direitos Difusos (Fundif).

Propostas nas áreas de meio ambiente natural, cultural ou urbanístico, poderão receber recursos por meio do Conselho Estadual de Direitos Difusos (Cedif), vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese). O órgão prorrogou o prazo de inscrição e os interessados podem ainda apresentar seus projetos.

Órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta, estadual ou municipal, além de instituições privadas sem fins lucrativos, podem concorrer ao financiamento.

As instituições interessadas devem protocolar os projetos presencialmente ou pelos correios. O Cedif está localizado na rua da Bahia, 1148, sala 328, Centro - CEP 30.160-906. O horário de atendimento é das 9h às 17h.

O edital com a relação dos documentos necessários para concorrer ao financiamento e as características que os projetos devem ter está disponível no site www.conselhos.mg.gov.br/cedif.
 O telefone para informações é (31)3213-0833

Gestão

O Fundo Estadual de Defesa de Direitos Difusos (Fundif) foi criado para promover a reparação de danos causados ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

A Sedese é a gestora do Fundif, por meio do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Difusos.

quarta-feira, 9 de março de 2011

CONTOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL I

INTRODUÇÃO

O trabalho de educação patrimonial é um fator imprescindível para a adequada proteção do patrimônio Cultural. Trata-se de um trabalho constante de sensibilização e envolvimento de todos os segmentos que compõem a comunidade, nos trabalhos de preservação dos marcos e manifestações culturais, definindo conceitos, esclarecendo dúvidas divulgado trabalhos e resultados dos trabalhos e o mais importante, dividindo responsabilidades.
Com o intuito de promover a preservação do Patrimônio Cultural, o município deve criar um programa de educação patrimonial nas escolas envolvendo as novas gerações e produzir informativos onde conceitos e dúvidas sejam debatidos. A rotina de palestras e aulas práticas sobre os procedimentos para a manutenção e restauração dos bens culturais, criará uma nova mentalidade, uma nova maneira de ver a cidade e seus lugares.

As comunidades são importantes parceiras da prefeitura, juntamente com a iniciativa privada, também parte destas comunidades. Deve participar das decisões referentes à seleção e proteção dos marcos culturais representativos da cidade estreitando o vínculo com o órgão de preservação e criando uma cumplicidade sadia e cooperativa.

Esses vinte e um contos e noventa e oito poemas abordam de forma simples e às vezes com sutileza a questão da preservação do Patrimônio Cultural em suas várias nuanças, desde a preservação dos bens imóveis e imateriais às formas de se relacionar com esta produção tão rica e diversificada. Pretende ser um instrumento que poderá contribuir para a sensibilização das novas gerações sobre este tema ainda pouco trabalhado.
Preservar é crescer com dignidade é continuar com identidade.

Carlos Henrique Rangel – Historiador
Março de 2010

1



JOSÉ E O CASARÃO





José era um operário destes que fazem casas.



Que destróem casas.



Erguem edifícios onde havia casas.



Neste dia José não estava fazendo nem construindo edifícios.



Junto com outros operários estava demolindo uma grande e antiga casa.



Neste dia trabalhou muito, derrubando paredes com sua marreta, quebrando tijolos, destruindo pinturas.



Quando o dia terminou, sentou cansado em um degrau de escada.



Seus amigos foram embora, mas ele ficou mais um pouco olhando o trabalho feito. Adiantado, mas ainda não terminado.



Foi então que ouviu uma voz.



Voz rouca, quase distante.



- José...

- Quem está me chamando? Quem está aí? – Perguntou José se levantando.



- Sou eu José – disse a voz.



- Quem? Se mostre, por favor... – Pediu José assustado.



- Já estou me mostrando, estou em toda parte – Disse a voz.



- Não entendo... Que brincadeira é essa? – Perguntou José preocupado.



- Não é nenhuma brincadeira, José. Sou eu, a casa que você destrói.- Disse a voz.



- A casa? – Espantou José.



- Sim, a casa.



- Mas casas não falam – Respondeu José.



- Casas falam e sentem José...

- Devo estar sonhando...

- Não José, você não esta sonhando. Te vi aqui sozinho e achei que podia conversar com você.



- O que quer de mim? – Perguntou o operário tremendo.



- Apenas conversar... Apenas falar... Apenas lamentar...



- Lamentar?



- É... Eu sofro sabia? Sofro por deixar esta terra que eu ví crescer.



- Não sabia que as casas sentiam... – Exclamou José.



- As casas sentem sim. E têm memória também. – Disse a voz.



- Memória?



- É, me lembro ainda do primeiro tijolo que fui, da casa que me tornei... O belo casal que abriguei... Marina nasceu no quarto lá em cima. Depois veio Manuel... Manuel cresceu e se casou. Veio morar em mim. Marina também se casou mas não ficou. Foi para longe... Vinha de vez em quando... Quando os pais morreram parou de vir...

Foi Manuel que me mandou pintar com os barrados coloridos de frutas. Sua mulher me trocou os vidros por estes que você ajudou a quebrar...



- Desculpa – Pediu José.



- É ... Ao meu redor a cidade ia mudando...Crescendo, se povoando... Os carros puxados a cavalo foram substituídos pelos carros a motor... Manuel comprou um ford... Um dia a mulher do Manuel faleceu e ele ficou só com os filhos.



- Coitado... – Lamentou José.



 Marcos, Maria e Fernanda brincavam muito descendo e subindo estas escadas... Rabiscavam-me com seus lápis, me derramavam tinta... Manuel ficava com raiva e me consertava. Eu não ligava... Até gostava...

 Quietinha em meu lugar ouvia falar de guerras e rumores de guerras...Uma doença que matou muita gente... Gripe Espanhola...Manuel reformou o banheiro... Ficou lindo...



- O que aconteceu depois? – Perguntou José.



- Manuel ficou velho, os meninos cresceram, estudaram, casaram, mudaram... Quase não vinham mais... Eu e Manuel assistíamos as mudanças...As modas indo e vindo... O som do rádio, depois a televisão... Os prédios substituindo as casas amigas da vizinhança... Barulho, muito barulho... Aí Manuel morreu... Fiquei só de vez.



- Os meninos não vieram ficar com você? – Perguntou José com os olhos cheios de lágrimas.



- Ninguém me quis...Fiquei fechada um tempo...Os vidros sendo quebrados por meninos...Doía... A solidão doía mais...

De vez em quando um mendigo dormindo na varanda... O fogo de sua fogueira queimando as paredes... Depois...Venderam-me, me esqueceram e aqui estou sendo demolida por vocês...



- Mas que injustiça – Disse José.



- É a vida José... – Disse a casa com sua voz fraquinha.



- Mas toda esta história... Tudo será destruído com você... – Exclamou José.



- Infelizmente é assim... Mas estou aliviada, pelo menos uma pessoa sabe.



- Em tantos anos destruindo e construindo casas, nunca havia pensado que as casas pudessem ter vida.



- Elas têm. Vidas impregnadas das vidas dos que a fizeram e habitaram. Nas paredes, nos lustres, no ranger de cada porta, um pouco dos habitantes permanece. A alma de um tempo, de vários tempos... Seus amores, suas dores, seus modos de viver e ver o mundo... Somos vivas porque abrigamos vidas... Muito mais que isto, abrigamos memórias...



José ficou pensativo.

- É noite José, eu já não tenho mais luz para te iluminar. Vá

para sua casa e pense em tudo que te contei. Amanhã eu

sei, não estarei mais aqui.



José não disse nada. Pegou sua mochila e saiu da casa em ruínas.

Amanhã ele não voltaria.

FIM







2
A CIDADE DO SONHO


Em uma cidade não muito distante, havia um homem que era muito rico, dono de muitas casas e lojas chamado Luciano. Um dia Luciano resolveu demolir uma velha casa que ficava no centro da cidade.
- Uma cidade precisa crescer... E para crescer é preciso fazer coisas novas e modernas. O futuro é o concreto e os arranha-céus. Cidade progressista é aquela que tem grandes edifícios de concreto. Progresso, progresso, é disto que precisamos, uma cidade que acompanha o seu tempo...Por isso vou demolir esta velha casa e construir um lindo prédio. Nossa cidade não pode parar no tempo. Temos que acompanhar o progresso do mundo... – Dizia a todos o senhor Luciano com orgulho.

Muitas pessoas não se importaram. Alguns garotos e velhos não gostaram.
- É um absurdo o que o Senhor Luciano vai fazer. Ele não pode demolir o casarão. – Disse o menino Gabriel.
- Bobagem existem tantos... Um não vai fazer falta...- Falou um homem.

- Vai sim... É assim que começa, primeiro derrubam um, depois outro... Uma casa ali outra acolá... E ai lá se vai a nossa memória... – Rebateu o velho senhor Juca.
- Deixem que ele faça o que quiser, a casa é dele... – Disse uma moça.
- Não acho isto certo, com a destruição do casarão toda a cidade perde... – Falou o menino Gabriel.
- Isto mesmo, temos que defender a nossa cidade. Se nós que moramos aqui não fizermos nada, ninguém mais fará. – Disse Pedro, o dono do cinema local.
- Vocês deviam é cuidar das suas vidas, deixem o homem fazer o que quiser. – Falou novamente a moça.
- Isto não está certo... Ele não tem o direito de destruir parte da história de nossa cidade...
- Tudo bem, mas o que vamos fazer?... O que podemos fazer? – Perguntou o senhor Juca.
- Não há nada a fazer... A não ser que vocês tenham muito dinheiro para comprar o casarão... – Disse um homem rindo.

- Vamos falar com o Senhor Luciano, quem sabe conseguimos convencê-lo. – Falou Gabriel.
- Boa idéia menino. Vamos lá na mansão falar com o Senhor Luciano, tenho certeza que ele vai mudar de idéia.
- Isto mesmo temos que defender a nossa cidade. Se nós que moramos aqui não fizermos nada, ninguém mais fará.... Estranho, acho que alguém já disse isto...
Montaram uma comissão e foram até a mansão do homem rico, pedir para que não destruísse a casa.
- Quanta gente, a que devo a honra desta visita? – Perguntou Luciano.
- Senhor Luciano, Estamos aqui para pedir que em nome da história de nossa cidade não destrua o casarão... – Disse Gabriel.
- Por que não? Ele é muito velho, já deu o que tinha que dar...
- Por isto mesmo. Por que é uma casa do tempo em que a cidade nasceu.
- Quantas coisas aconteceram ali... Alegrias e tristezas. Festas, aniversários... Velórios... – falou o velho senhor Juca.
- Daquelas janelas, quantos olhares viram o tempo passar, a vida passar... – Lamentou outro velho.
- Lembro da Mariazinha sua avó, linda e faceira na janela sorrindo para todos que passavam...Os homens passavam devagar olhando apaixonados... – Continuou o velho senhor Juca.
- Era linda... Olhos brilhantes, lábios vermelhos como morangos... Dançávamos no grande salão nas festas de aniversários... A banda tocava lindas canções de amor e Mariazinha flutuava... Namorei ela, lembra?
- Sim, mas foi o avô do Senhor Luciano que casou com ela...
- Chega de falar em minha avó que já morreu há muito tempo... A casa está abandonada agora... Ninguém mais vive lá... O que passou, passou... – Gritou Luciano com raiva.
- Pode ser usada. Nossa cidade precisa de uma Biblioteca Pública.
- Uma casa de cultura. – Disse um menino.
- Porque não um museu!? Nossa cidade não tem museu...

- Chega! Que engraçado, vocês falam da casa como se fosse de todo mundo...Já decidi, vou construir no lugar um prédio enorme, cheio de lojas. E vocês... Saiam da minha casa, me deixem em paz. – Falou Luciano nervoso.

- Mas Senhor Luciano...
- Chega de mas... O casarão é meu e faço o que quiser... No futuro vocês vão me agradecer...
O grupo foi embora triste por não ter conseguido convencer o homem rico.
- Que atrevimento deste povo vir aqui na minha casa e me dizer o que eu devo fazer com o casarão... Ora bolas, Biblioteca... Vejam só...
Luciano então fechou a porta de sua casa e foi deitar no sofá da sala ainda com raiva.

E dormiu. E sonhou. Sonhou que estava numa rua barulhenta, cheia de carros, onde quase não se via o Sol por causa dos prédios.
Luciano andava pela rua em meio a multidão nervosa. Havia muita gente. Gente triste e suada por causa do calor que fazia. Luciano olhava para um lado e para o outro e não via uma árvore. Os prédios pareciam iguais. As pessoas pareciam iguais. Caminhou então pela rua até chegar em uma praça. Uma praça sem árvores, com uma igreja enorme de concreto.

Luciano a achou feia. Sentou em um banco da praça e ficou vendo todo aquele barulho, sentindo muito calor e muita saudade de sua cidade.
- Que cidade é essa? Que lugar triste e feio. Onde será que estou? – Lamentou sem entender nada.

Resolveu saber perguntando a alguém: Um menino que passava.
- Ei menino, que cidade é essa?

O menino riu.
- Ora senhor Luciano, não reconhece? Essa é a sua cidade.
- Minha cidade? Mas onde estão os casarões? Onde está a Matriz? E a praça?
- Os casarões foram demolidos, eram muito velhos. A Matriz, ora, o Padre quis uma igreja maior.
- E a praça? Onde está aquela bela praça cheia de árvores?
- Está aí, não esta vendo?
- Mas não pode ser... Onde está a casa do Manuel, meu amigo? E a casa da Dona Cotinha...? Onde está a padaria do seu Juca? E o cinema, onde eu costumava ir ver os filmes de aventuras...?

Luciano não conseguia entender. Aquela não parecia a sua cidade.

Não havia mais nada que lembrasse o seu passado.

- Ei você, O que aconteceu com o cinema? – Perguntou a um transeunte.
- Ah... Aquele monstrengo? Foi demolido, Ninguém mais ia assistir filmes lá.
- Mas era tão bonito... E a padaria do seu Juca, o que aconteceu com ela?
- Ora seu Luciano, Todo mundo agora compra pão na padaria moderna lá do Supermercado.
- Eu não entendo mais nada... Onde será que está a minha mansão... Ficava aqui nesta rua...
Saiu andando procurando a sua mansão. Não encontrou.

Em seu lugar havia um feio edifício de vinte andares.
- Nossa Senhora, cadê a minha casa? Quem foi o atrevido que construiu este prédio aqui?
Saiu caminhando triste pela avenida Principal. Barulhenta e cheia de placas, não lembrava em nada a avenida que conhecia, cheia de árvores e casarões coloridos.

Chegou finalmente enfrente a um velho prédio que estava sendo demolido.
- O que está acontecendo?
- Estamos demolindo este prédio. Foi o primeiro da cidade, mas agora não serve mais, vão construir um prédio mais moderno em seu lugar.
- O primeiro?
- É, não se lembra Senhor Luciano? O senhor demoliu o casarão que existia aqui e construiu este prédio.
- Eu? – Perguntou espantado Luciano.
- Sim Senhor. Depois deste vieram os outros.
- O padre gostou da idéia e demoliu a velha igreja...
- O prefeito achou que as árvores da praça e da avenida escureciam a cidade e mandou cortar...

- Ficou melhor não acha?

- Não, não acho... Faz um calor danado aqui... Não tem sombra, nem canto dos pássaros... O povo parece triste e apressado... Os prédios são feios e iguais... Não sobrou nenhum casarão?

- Claro que não. Nossa cidade é moderna. – Disse o homem.

- E ser moderno é isso? Não reconhecer mais nada na nossa cidade? É ficar perdido como se estivéssemos em terra estranha?
Luciano começou a chorar... E foi chorando que acordou. Levantou depressa e correu para a janela. Lá fora a cidade brilhava com seus velhos casarões coloridos. A torre da igreja despontava alta e pássaros cantavam nas árvores da avenida. Luciano limpou o suor da testa aliviado e correu para o casarão. Aquele que ele queria demolir e os velhos e garotos queriam salvar.
Luciano chegou a tempo de impedir a sua demolição.
- Parem os trabalhos. – Gritou com toda sua força.
- O senhor não vai mais demolir o casarão? – Perguntou um operário.
- Não. Este casarão faz parte da nossa história. Vamos transformá-lo em uma biblioteca, ou quem sabe em um museu. O certo é que não será mais demolido e voltará a fazer parte da vida de nossa cidade.
- E o progresso?
- Preservar nosso passado também é progresso. Os nossos casarões, sobrados, casas simples, nossas igrejas... Cheios de suor, lágrimas, alegrias, vivências, esperanças e fé do povo é que diferenciam a nossa cidade das outras. Nossas praças e ruas estão impregnadas das vidas de nossos bisavôs, avós e pais e merecem respeito. Nossas festas são as nossas festas... Diferentes das festas das outras cidades vizinhas. Progresso não é viver em uma cidade sem rosto igual a tantas outras. Progresso é conciliar o velho e o novo, as manifestações tradicionais com as novas tecnologias. Os prédios novos podem ser construídos em outro lugar fora do centro da cidade, sem afetar o nosso passado.
- Isto mesmo Senhor Luciano. Preservar é crescer com identidade... – Gritou um menino todo alegre.
- É continuar com dignidade... – Falou o Senhor Juca.
- Viva o Senhor Luciano! – Gritou um outro senhor.
- Viva ! – Gritaram todos.

E assim, gritando vivas o grupo de preservacionistas, operários e o Senhor Luciano se abraçaram felizes. Alguém trouxe um pandeiro, outros um tambor, uma cuíca e uma viola.

Toda a avenida Principal virou uma grande festa.
FIM



3
UMA ANTIGA BRINCADEIRA


Uma vez por semana José e seus amigos se encontravam na praça.
Andavam de bicicleta, patins ou às vezes jogavam bola.
Neste dia deram muitas voltas de bicicleta pelos canteiros, mas ao contrário dos outros dias, José não achou divertido.
Parou de andar e esperou os amigos.
- Jorge! Júlio! Pedro! – Gritou.



- O que foi José? Porque você parou de andar? – Perguntaram.



- Está chato andar de bicicleta, vamos brincar de outra coisa... – disse José.



- Mas brincar de que? – Perguntou Pedro.



- De bola? – Perguntou Jorge.



- Patins...? – gritou Júlio.



- Não gente, isto agente faz sempre. Vamos brincar de outra coisa.



- Mas de que? – Perguntaram todos.



O Seu Manuel, o pipoqueiro da praça, que ouvia a conversa resolveu ajudar.



- Posso dar uma sugestão? – Perguntou ele.



- Ora Seu Manuel, o que o senhor entende de brincadeiras?



- Perguntou José.

- Já fui criança também.



- Mas foi há muito tempo. – Disse Pedro rindo.



- Criança é sempre criança, não importa o tempo. – Respondeu o Seu Manuel.



- De que o senhor brincava no seu tempo? – Perguntou Jorge.



- Brincava de muitas coisas: ”Pegador de Lata”, “Rouba Bandeira”, de “Artista”...

- Pegador de Lata? – Perguntou Jorge.

- Rouba Bandeira? – Estranhou José.



- Artista? – Exclamou Pedro.



- É, estas e outras brincadeiras, todas divertidas. – Disse o Pipoqueiro.



- Tá bom Seu Manuel, ensina para gente então uma destas brincadeiras. – Pediu José.



- Está bem, hoje vou ensinar a brincar de “Pegador de Lata”... Primeiro para se brincar de “Pegador de Lata” é preciso uma lata.



- Ai, ai, não temos nenhuma lata. – Disse Pedro.



- Serve um tênis? – Perguntou Júlio.

- Serve – Respondeu o Seu Manuel rindo.



- E depois?



- Com a lata na mão ou no nosso caso, com o tênis na mão, escolhemos um pique.



- Pique?



- É, um lugar para se colocar a lata, quero dizer, o tênis. – Falou o Seu Manuel explicando.



- Pode ser o banco? – Perguntou Jorge.



- Pode... Aí, a gente decide quem vai ser o primeiro Pegador...



- Como vamos fazer isto? – Perguntaram.



- Pode se tirar no “Par ou Impar”, ou por livre escolha mesmo.



- Tá bom, e aí? – Perguntou José.



- Aí, alguém joga a lata bem longe...



- O tênis... – Corrigiu Júlio.



- Isto, o tênis... Todos os outros correm para se esconder, de menos o Pegador...



- Por quê? – Perguntou Pedro.



- Oh seu bobo, é porque o Pegador vai ter que buscar a lata...

- O tênis – Corrigiu novamente Júlio.

- Isto mesmo. O pegador vai buscar a lata... Quero dizer o tênis. – Falou o Seu Manuel.



- O que acontece depois? – Perguntou José.



- Agora o Pegador deixa o tênis no pique e vai ter que procurar os outros meninos.



- Quando encontrar um deles, tem que pegar o tênis e bater no banco gritando “um, dois três, no fulano ali atrás da árvore...”



- Se ele estiver atrás da árvore, né? – Perguntou Júlio.



- Claro né mané... – Gritou José.



- Isto mesmo... A brincadeira termina quando o Pegador tiver encontrado todos os participantes ou se um deles salvar todo mundo...



- Salvar? – Perguntaram todos.



- É... Se um dos participantes alcançar o tênis primeiro antes do Pegador, ele tem que gritar “Um, dois, três salvo todo mundo”. Aí começa tudo de novo, com o mesmo Pegador...



- E se ninguém salvar? – Perguntou Jorge.



- Aí o próximo Pegador vai ser o menino que foi pego primeiro.



- Que brincadeira legal... Todos topam brincar de “Pegador de Lata?” – Perguntou José.



- De tênis... – Corrigiu de novo Júlio.



- Tá bom... Todos topam brincar de “Pegador de tênis?”

Todos gritaram sim em uma só voz.



- Então vamos... Quem vai ser o Pegador? – Perguntou José.



- O Júlio, porque é o mais chato. – Disse Pedro.



- Tudo bem, eu topo, mas o tênis tem que ser de marca. – Disse Júlio.



E assim os meninos começaram uma nova brincadeira.

Seu Manuel sabia, na semana seguinte teria que ensinar novas antigas brincadeiras.



FIM

4





A CIDADE DO PRIMO MAURO



O ônibus parou na rodoviária da pequena cidade e Paulo desceu meio sonolento.



Olhou ao redor e prosseguiu em linha reta em direção à rua que parecia ser a principal.



Logo na primeira esquina encontrou um grupo de pessoas que observava alguns homens trabalhando e resolveu se informar.



- Por favor, poderia me dar uma informação? – Perguntou a um rapaz que estava mais próximo.



- Claro, o que você deseja saber?



- Estou procurando a Rua das Flores.

- É a minha rua. Quem você está procurando? Conheço todo mundo que mora lá. – Disse o rapaz.



- Procuro Mauro Junqueira, meu primo.



- Que coincidência, o Maurinho é meu vizinho. Levo-te lá, mas espera só um instante, deixa eu ver eles colocarem aquela janela.



- O que está acontecendo? Estão demolindo esta casa velha? – Perguntou Paulo.



- Estão restaurando.



- Está muito ruinzinha, não seria mais fácil deixar cair?



- Não, esta casa é muito importante para nós.



- É muito velha, neste terreno poderiam construir um prédio que seria muito mais bonito e importante...



- Esta casa faz parte da nossa cultura.



- Cultura?



- É, foi construída pelo fundador da cidade e está cheia de histórias,lembranças e vivências. Nós não conseguimos imaginar a Rua Principal sem ela. É parte da nossa identidade... Nossa memória.



- Tudo bem, mas vocês vão colocar umas portas e janelas modernas, né?

- A obra não é uma reforma. É uma restauração.



- Não vejo a diferença...



- A restauração não muda nada, mantém as mesmas características da construção, até mesmo as janelas e portas.



- Interessante... Mas e depois de concluída, o que vai ser?



- Vai ser a sede do Bispado.



- Pensei que ia ser um centro cultural.



- Nós já temos um centro cultural que ocupa um outro casarão histórico.



- É, eu já notei que a sua cidade é cheia de casas antigas.



- Tentamos preservar nossa história e as casas construídas pelos nossos bisavós e seus avós. Assim conservamos nossas raízes, nosso elo com o passado, nossa origem, nossa identidade coletiva, ou seja, o que nos diferencia das outras cidades.



- Mas desse jeito como fica o progresso?



- Preservar o nosso patrimônio não impede o progresso. Os dois convivem até muito bem.



- Patrimônio?



- É, patrimônio cultural é a nossa herança deixada pelos antepassados, as festas tradicionais, o nosso modo de falar e agir, os monumentos, as imagens, os acervos Arquivísticos, as construções antigas como os casarões e as igrejas e até mesmo as construções mais recentes que têm uma importância pelo estilo e beleza e que também são nossos bens culturais.



- Interessante, mas o progresso...



- É, eu estava te dizendo: nestes casarões do nosso passado, moram famílias que possuem televisão, vídeo e até computadores. É claro que todas possuem banheiros modernos.



- Assim é diferente. Eu pensei que toda casa antiga era como um museu.



- Não são. Elas podem ter várias utilidades: moradia, clubes, associações... Contanto que não sejam alteradas. O nosso centro histórico é todo tombado e nem por isto deixou de ter vida.

- Tombado?



- É, o tombamento é um instrumento legal utilizado para proteger um bem cultural. Quando uma casa, ou uma imagem, documento ou praça é tombado, não pode ser destruído ou mesmo ser modificado sem autorização.



- Qualquer bem cultural pode ser tombado?



- Infelizmente não... Somente os bens culturais tangíveis como as casas, praças, imagens, documentos é que podem ser protegidos pelo instituto do tombamento. Mas os bens intangíveis, ou seja, os que não podemos pegar podem ser preservados através de incentivos e registros.



- É? Mas quem decide isto?



- Ah, existe o órgão federal, o IPHAN que protege aqueles bens culturais que são importantes para o país. No Estado existe o IEPHA, que preserva os bens que são importantes para todo o Estado de Minas Gerais e nos municípios existem os conselhos municipais do patrimônio cultural que tombam os bens de importância local. O nosso centro histórico é tombado por decisão do Conselho Municipal que é formado por representantes de associações, escolas, prefeitura, câmara, igreja etc.



- Esse Conselho decide tudo sozinho?



- Não, a equipe do Departamento de Patrimônio Cultural da Prefeitura faz um estudo para justificar a importância do bem cultural chamado “dossiê de tombamento”, que é encaminhado ao Conselho Municipal de Patrimônio Cultural para ser analisado.



- Departamento de Patrimônio Cultural?



- É... Aqui em nossa cidade existe um departamento que faz estudos sobre os bens culturais. Em outras cidades existem chefias de cultura ou coordenação de patrimônio, mas têm a mesma função. A equipe técnica normalmente formada por historiadores, arquitetos e restauradores, elabora o dossiê com todas as informações sobre o bem cultural que vai ser tombado e encaminha ao Conselho.



- Interessante...



- O Conselho, depois que analisa o dossiê e decide pelo tombamento, encaminha uma notificação ao proprietário que tem quinze dias para se manifestar contra ou a favor. Vencido o prazo, o prefeito publica a decisão através de decreto no jornal da cidade.



- Eu não concordaria...

- Se não concordar tem que justificar. Aí o Conselho em uma nova reunião, decide pela manutenção do tombamento ou não, dependendo do estudo da documentação do proprietário.

- Se fosse minha casa eu não ia concordar... Vê lá se vou concordar em ficar sem minha casa...



- Mas você não fica sem a casa. Ela continua sendo sua.



- Mas não posso mexer nela...



- Você não pode é destruir ou reformar sem a análise e autorização do Conselho...



- Nem vender ou alugar...



- Pode sim, pode vender e alugar.



- Assim é bem melhor... Mas manter uma casa desta é muito caro, não é ?



- É, mas a Prefeitura dá isenção de imposto predial e fornece técnicos para ajudar nas obras de restauração. Em nossa cidade, as empresas ajudam porque também fazem parte da comunidade e a comunidade é a principal responsável por este patrimônio.



- Interessante... Mas vem cá, como é que o Departamento de Patrimônio Cultural e o Conselho decidem o que é importante preservar?



- Primeiro é preciso conhecer, não é? A equipe técnica do Departamento de Patrimônio Cultural faz um inventário de tudo que é importante no município com a ajuda da comunidade. Levanta informações sobre os casarões, sobrados, fazendas, igrejas, imagens sacras, festas, arquivos, sítios naturais, sítios arqueológicos e espeleológicos... Estas informações coletadas sobre os bens são postas em fichas com fotos. Depois de analisadas e discutidas com a comunidade, os bens são selecionados para serem protegidos através do tombamento.



- É muito trabalho... Mas me diga uma coisa, só o tombamento não resolve, não é?



- É... Você tem razão, só o tombamento não resolve. O inventário auxilia na elaboração do Plano Diretor e na elaboração da Lei de Uso e Ocupação do Solo, que é constituída de um conjunto de leis e diretrizes para normatizar uma política de desenvolvimento urbano, garantindo assim um crescimento mais ordenado da cidade, o bem-estar da comunidade e é claro, preservando o patrimônio.



- Nossa! Esse tal de inventário acaba sendo um registro muito importante...



- É sim. Mas também é importante a participação de todos na preservação, no cuidado constante. A substituição de uma telha quebrada resolve problemas futuros que ficariam muito mais caros. Discutir a preservação do patrimônio nas escolas é outra solução porque assim estaríamos formando novas gerações com outra visão sobre a sua cidade e seu passado.

- Eu gostei disto... E tem as empresas, não é?



- Como eu disse, as empresas podem ajudar muito. Existem as leis de incentivos federal, estadual e municipal que diminuem os impostos das empresas que investem na restauração do patrimônio cultural.



- Que legal...



- As Prefeituras também podem ajudar porque a lei n. º 18.030 repassa mais recursos do ICMS Patrimônio Cultural.



- Não entendi...



- Existe uma lei estadual, a n.º 18.030, que define critérios para o repasse de recursos do ICMS para os municípios. Um dos critérios é a proteção do patrimônio cultural. O município que investe na preservação do seu acervo cultural recebe mais dinheiro. Quanto mais investe, mais recebe.



- Quer dizer que é vantagem para todo mundo?



- Para todo mundo. A preservação da memória, dos marcos do nosso passado, das nossas raízes que nos fazem ser o que somos, nos enche de orgulho, prazer e de dignidade.

- Olha... Como é mesmo o seu nome?



- João.



- Prazer... o meu é Paulo... A gente conversou sobre tanta coisa e nem tínhamos nos apresentado...



- É...



- Olha, é muito legal tudo isto, tenho que saber mais sobre este assunto.



- No Departamento de Patrimônio Cultural o pessoal vai te passar mais informações.



- Vou procurá–lo depois.



- Sabe, Paulo, a coisa é lenta, mas vale a pena. Hoje somos um povo muito mais feliz. A qualidade de vida de nossa cidade é muito boa.

- A sua cidade é muito bonita. Muito legal o que vocês estão fazendo. Quando voltar para minha terra vou discutir isto com os meus colegas de escola.



- Bem, agora vou te levar para a casa do Maurinho.



FIM







EXERCÍCIOS



1- Dê alguns exemplos de bens culturais do povo mineiro.

2- O que uma comunidade pode fazer para proteger o seu patrimônio cultural?

3- Quais os critérios básicos que definem a importância de um bem cultural?

4- Defina Inventário de Proteção ao Patrimônio Cultural. Qual a sua importância?

5- De que maneira o empresariado pode atuar na preservação e quais as vantagens que pode obter?

6- Quais os bens culturais que podem ser protegidos pelo instituto do tombamento?

Porque?

7- Qual o papel do Departamento de Patrimônio Cultural?

8- Quem pode solicitar o tombamento de um bem cultural?

9- Como se inicia um processo de tombamento?

10- Quem pode impugnar o tombamento e como isto pode ser feito?

11- Quais as vantagens do tombamento para a comunidade?

12- Paulo pensou que estavam reformando o Casarão. Diferencie reforma e restauração.

13- Como preservar as manifestações folclóricas de uma comunidade?

14- O que pode ser feito para preservar um bem cultural que se encontra abandonado e em franco processo de arruinamento?

15- Procure em sua casa objetos que você considera patrimônio de sua família para a montagem de uma exposição na sala de aula.

16- Faça uma pesquisa ilustrada com fotografias sobre um bem cultural justificando a sua importância para a sua cidade.

17- Defina: IPHAN - IEPHA - TOMBAMENTO - CULTURA - PATRIMÔNIO CULTURAL

18- Faça um inventário das casas mais antigas de sua rua ilustrando com fotografias e dados sobre sua história (construtor, época da construção, primeiros moradores, usos, etc.)

19- Faça uma entrevista com um parente mais velho sobre a sua vida na infância e adolescência: onde morava, onde estudava, se trabalhava, como brincava, lugares que freqüentava, músicas que ouvia, como se vestia.



5



A PRAÇA DAS MENINAS



Marina e suas amigas estavam brincando na pracinha.



Brincavam de bola.



Brincavam de Amarelinha.



Brincavam de boneca e de Casinha.



Brincavam e se divertiam observado de perto pelo Tio João sentado ali no banco.



- Estou com fome. – Disse Juliana.



- Eu também. – Falou Isabela.



- Então vamos lanchar! – Completou Marina abrindo sua lancheira. De dentro tirou três bombons que dividiu entre as amigas. Desembrulhou o seu e jogou o papel no chão.



Tio João que a tudo assistia se levantou do banco e pegou o papel, jogando-o na lixeira.



- Marina, isto não se faz. Lixo deve ser jogado na lata de lixo. – Disse ele sério.

- Por que Tio João? Por que não posso jogar no chão? – Perguntou a menina curiosa.



- Porque suja a praça, não é Tio João? – Falou Isabela.



- Isto mesmo. Se todos jogassem papéis, cascas de laranjas e outras coisas no chão ou na grama da praça, tudo ficaria imundo. – Disse Tio João.



- Ah, mas os lixeiros catam o lixo... – Falou Juliana.



- Sim, eles pegam o lixo cuidando da limpeza, mas sozinhos eles não conseguem fazer todo o serviço e a praça, Juliana, pertence a todos nós.



- É minha também? – Perguntou Marina.



- Sim senhora, a praça com seus bancos, jardins e brinquedos é de todas as crianças e adultos da cidade.



- Então nós temos que cuidar de tudo para não estragar né? – Perguntou Isabela.



- Isto mesmo. Vocês gostam de vir aqui brincar não é?

- É sim. – Responderam todas.



- Pois é, então temos que cuidar para manter limpos os bancos e o chão e conservar os brinquedos e os jardins. – Falou Tio João.



- Tio João, se a praça é nossa, então o Parque e o Jardim Zoológico também são? – Perguntou Marina.

- Sim, não só o Parque e o Zoológico, mas as ruas também. Por isso devemos cuidar da limpeza dos passeios, deixar tudo limpo. – Disse o Tio olhando em volta.



- Eu não sabia que era rica.



Tio João riu.

- Isso menina, todas essas coisas são as nossas riquezas. São importantes para todos nós.



- Os telefones públicos também? – Perguntou Juliana.

- Os telefones também. – Falou o tio João.



- Outro dia vi uns meninos estragando nosso telefone público. – Disse a menina.



- Isso é muito errado. Os telefones públicos existem para nos ajudar. Para falarmos com amigos, dar recados e avisos e até mesmo para pedir ajuda.



- Se estragarmos o telefone como vamos ligar pedindo ajuda?- Perguntou Marina.



- Eu sempre achei que só a casa onde moro e os brinquedos é que eram meus... – Falou Isabela pensativa.



- Agora você sabe que não é assim.



- Agora sabemos. – Falaram todas ao mesmo tempo.



- Oh gente, eu vi uns papéis caídos ali no nosso jardim. – Falou Marina.

- Então vamos pegá-los. – Gritou Juliana.

- Isso mesmo vamos arrumar a nossa praça... – Falou Isabela.

Assim as três meninas descobriram uma nova brincadeira: cuidar da limpeza da praça.

Tio João voltou para o banco e ficou assistindo.

FIM

6



TATÁ E TOTÓ



Fazia calor naquela manhã de domingo.



Como sempre acontecia nos domingos, quase todas as crianças da cidade se encontravam ali na bela pracinha.



Luna e sua irmã Ananda brincavam de “pegador”.

Corriam para um lado.



Corriam para o outro.



Subiam em árvores.



Escondiam na fonte luminosa.



Corriam, escondiam, subiam, brincavam a valer.



Neste dia, no entanto, havia uma novidade.



Não era um novo brinquedo ou uma nova criança.



Não era uma flor diferente no jardim ou um novo trenzinho musical.



Em um canto da praça, duas figuras chamavam a atenção das pessoas.



A menorzinha era peluda. Um pelo marrom escuro, parecia um cachorro. Estava deitada no chão encolhidinha.



A outra figura, sentada no banco, tinha um nariz redondo bem vermelho e a boca pintada de azul. Os cabelos eram brancos como algodão.

Foi Luna quem viu primeiro aquela novidade e rapidinho chamou a irmã e uma amiga.



- Vejam, um cachorro. – Disse Luna apontando o animal.



- É um gato. – Falou Ananda se aproximando.





- Pode ser um urso. – Completou Reisla.



As três meninas se aproximaram.



- Eu não disse que era um cachorro. – Falou Luna passando a mão no animal deitado.

- Parece doente, nem se mexe. – Disse Ananda.



O homem de nariz vermelho olhou para a menina e não disse nada.



Parecia cansado e os velhos olhos olhavam sem olhar.



- O cachorro é do senhor? – Perguntou Luna.



O velho homem de nariz vermelho balançou a cabeça respondendo sim.



Luna reparou as roupas do homem.



Um terno velho com remendos.



Olhou para o cachorro, um triste animal sujo.



- Como ele se chama? – Perguntou Reisla.



- Totó... – Respondeu o homem.



- O senhor está passeando com ele? – Perguntou Luna.



- Mais ou menos... Na verdade estamos fazendo duas coisas: passeando e trabalhando.



- É mesmo? O que é que vocês fazem?



O homem suspirou cansado.



- Com o que eu pareço? – Perguntou ele às três meninas.



- Eu acho que o senhor é um palhaço. – Falou Reisla.



- Eu acho que o senhor está gripado. – Falou Ananda mostrando o nariz vermelho.



- Mas você é boba mesmo em Ananda, não está vendo que ele é um palhaço... – Ralhou Luna.



O homem balançou a cabeça.



- Isto mesmo sou Tatá, “o Palhaço Andarilho”. – Respondeu.



- E o que o senhor faz? – Perguntou Ananda.



- Ai meu Deus, que menina bobona... Palhaço faz palhaçada, não é seu Totó ? – Perguntou Reisla.



- O nome dele é Tatá. Totó é o cachorro. – Falou Luna.



O palhaço piscou os olhos tristes.



- Eu e Totó fazemos arte. – Disse ele olhando para o cachorro.



- Totó está fingindo de morto? – Perguntou Ananda passando a mão no animal.



- Não, ele está descansando.



- Mas seu Tatá, onde esta o Circo? Todo palhaço tem um circo. – Perguntou Luna.



- Totó e Tatá não pertencem a nenhum Circo...Já pertencemos... Agora somos sós. – Disse Tatá de cabeça baixa.

- Por quê? – Perguntou Reisla.



- Ah menina, fiquei doente e fui mandado embora, agora eu e Totó corremos o Brasil mostrando nossa arte.



As meninas olharam para as duas tristes figuras e tentaram imaginar o que faziam.



- Mostra para a gente a sua arte. – Pediu Luna.



O palhaço não disse nada. Levantou com dificuldade e puxando de uma perna caminhou até o centro da praça.

Totó se levantou e o seguiu de cabeça baixa.



O homem e o cachorro chamaram a atenção das pessoas da praça que curiosas começaram a se aproximar:Casais de namorados.Meninos e meninas.Senhoras e senhores.Luna, Ananda e Reisla.



Tatá deu uma lenta olhada em seu público e abriu um triste sorriso de velho palhaço.



- Respeitável público, meu nome é Tatá e aqui temos Totó. Somos artistas andarilhos e vivemos da nossa arte. Peço apenas uma ajuda para o nosso sustento.



Estralou os dedos e Totó se pôs a caminhar com as patas traseiras dando voltas. O público delirou aplaudindo. Depois Tatá pediu que Totó pulasse dando cambalhotas e o animal que antes parecia doente obedeceu ao dono. Passava pelas pernas doentes de Tatá, rolava, latia...

Luna olha admirada a arte dos dois. Notou de repente que algo estava acontecendo. O velho palhaço e o cachorro sujo e feio, diante de seus olhos começaram a brilhar.



- Veja Ananda, olhe o que está acontecendo... – Gritou a menina assustada. Ananda e Reisla estavam de bocas abertas.



Uma mágica aconteceu. O velho palhaço triste, aleijado e de roupas emendadas não existia mais. Em seu lugar , um jovem e dinâmico palhaço de roupas coloridas pulava ao lado de um Totó de pêlos brilhantes e cheio de energia. Totó brincava com as crianças, fazia piruetas e saltos mortais... Pulava argolas, pulava e latia...

Quando o show acabou uma chuva de moedas cobriu os dois artistas.

Luna, Ananda e Reisla correram para a dupla agora cercada de crianças.

Os adultos admirados observavam o bando de crianças ao redor do velho palhaço pobre e do cão sujo.

Não entendiam nada.

Fim

7



A HISTÓRIA DO VOVÔ







Paulinho é um menino como tantos outros. Tem um pai trabalhador, uma mãe carinhosa e uma irmã mais nova com quem nem sempre se dá bem...



Durante o dia o pai e a mãe ficam fora trabalhando. Paulinho e Rita, sua irmã, estudam de manhã.



A tarde ficam com os avós.



Somente a noite a família se reuni, assistindo televisão após o jantar.



Nesta noite estavam todos reunidos assistindo novela. Mas uma mudança aconteceu na rotina da família: Em um dos melhores momentos da novela a luz acabou.



- O que foi isto? - Perguntou o Sr. Manuel o pai de Paulinho.



- Deve ser algum fio que rebentou... Vou buscar as velas. – Disse a vovó Maria.



- Que chato, logo agora... – Reclamou Rita.



- Logo, logo volta, você vai ver... – Falou o Vovô Carlos tranqüilizando a menina.



Vovó Maria acendeu uma vela e a sala se iluminou.



- O que vamos fazer agora enquanto a luz não volta? – Perguntou Paulinho.



- Eu vou dormir. – Disse o Senhor Manuel.



- Eu também. – Disse a Vovó.



- Meninos, vocês deveriam fazer o mesmo... – Disse a Mamãe Lúcia.



- Ah mãe, ainda é cedo... – Choramingou Rita.



- Deixa Lúcia, agorinha mesmo a energia volta... Enquanto isso vou contar uma história para os meninos. – Disse o Vovô.



- Uma história? – Perguntou Paulinho.



- Sim.

- Mas que história? – Perguntou Rita.

O vovô Carlos ficou pensativo por alguns segundos...

- Vou contar para vocês a história do Brasil.



- História do Brasil? – Perguntou Rita.



- É, sua boba, a história do nosso país. – Completou Paulinho.



- Isso mesmo... Posso começar? – Perguntou Vovô Carlos.



Os meninos concordaram.



- Bem, no início só existiam aqui nesta terra, as florestas, os animais das florestas e o homem da terra e suas aldeias...



- Homens da terra? – Perguntaram as crianças quase ao mesmo tempo.



- Sim, meninos, as terras do Brasil eram ocupadas por vários povos de pele avermelhada chamados mais tarde de índios. Viviam em aldeias, caçavam os animais das florestas, plantavam seus alimentos...



- Então os índios já viviam aqui? – Perguntou Rita.



- Sim, os índios são os primeiros moradores do Brasil. – Respondeu o Vovô.

- Eu já vi um índio na televisão. Ele não usava roupas, tinha o corpo todo pintado... – Falou Paulinho.



- Esses índios que viviam aqui eram como este que você viu. – Completou o Vovô.



- Existem muitos índios, Vovô? – Perguntou Rita curiosa.



- Existem muitos índios de diferentes tribos. Mas antes existiam muito mais. – Respondeu o avô das crianças.



- Por que não tem mais tantos índios como antes? – Perguntou novamente a menina.



- Vou continuar a história e logo você vai saber... Bem, como eu estava contando, os primeiros moradores foram os índios. Depois... Depois vieram outros homens chamados portugueses. Homens brancos de terras distantes, de um lugar chamado Portugal...



- Portugal? – Perguntou Rita.



- É um país, não é? – Quis saber Paulinho.



- Sim, Portugal é um país que fica do outro lado do Oceano Atlântico. Esses homens brancos, os portugueses, atravessaram o Oceano em barcos grandes, as Caravelas.



- Eu já vi um navio desses em um livro. Tem uns panos grandes com o desenho de uma cruz. – Gritou Paulinho.



- São as velas. Quando o vento bate nelas, empurra o navio para frente... – Falou o Vovô.



- Que legal – Exclamou Rita com os olhos brilhando com o novo conhecimento.



- É sim, Com ajuda dos ventos os portugueses chegaram às praias da nossa terra. Foram recebidos pelos homens da terra a quem deram o nome de índios.



- Foram bem recebidos? – Perguntou Rita.



- Ah, foram sim. No início viraram amigos. O homem branco presenteava os índios com colares de contas e espelhos e estes davam aos portugueses uma madeira vermelha chamada Pau Brasil, que servia para tingir as roupas. – Explicou o velho senhor.



- O nome do nosso país... – Disse Paulinho.



- Isso mesmo. A terra que se chamou Ilha de Vera Cruz, depois Santa Cruz, onde havia Pau Brasil, passou a se chamar Brasil...



- Então no início eles achavam que o Brasil era uma ilha? – Perguntou Paulinho admirado.



- O que é uma ilha? – Perguntou a menina com ares de quem não entendeu nada.



- Ilha é uma terra cercada de água por todos os lados. O Brasil não é uma ilha. – Respondeu Paulinho todo superior.



- Muito bem menino... Bem, continuando a nossa história, na terra onde antes existiam as florestas e aldeias dos índios, surgiram os povoados dos portugueses e as plantações de cana–de-açúcar, e os engenhos para fazer açúcar.



- Os portugueses só faziam açúcar? – Perguntou Paulinho.



- É porque eles gostavam de doce, né Vovô? – Falou Rita se ajeitando no sofá.



Vovô Carlos riu.

- Eles plantavam outras coisas, mas plantavam mais cana –de –açúcar e faziam açúcar para levar lá para o outro lado do Oceano, para os outros países europeus.



- Vovô e o que aconteceu com os índios? – Perguntou a menina lembrando dos primeiros habitantes da terra.

- Ah, os portugueses passaram a obrigar os índios a trabalharem nas plantações de cana – de – açúcar. Os índios viraram escravos dos portugueses.



- O que é um escravo, vovô? – Perguntou a menina franzindo a testa.



- O escravo é uma pessoa que é obrigada a trabalhar de graça para outra.



- Nossa, que ruindade! – Exclamou a menina assustada.



- Era uma coisa muito ruim sim. – Falou o avô das crianças.



- E os índios deixaram? Eu não deixaria. – Disse Paulinho revoltado.



- Os índios não aceitaram não. Brigaram com arcos e flechas, mas os portugueses, mais fortes, com suas armas de fogo, venciam quase sempre. Então os índios fugiam para as matas, para longe do homem branco e suas plantações e seus povoados e suas cidades.



- Então foi isso que aconteceu, os índios morreram nas lutas com os portugueses. – Falou Rita pulando no sofá.



- Muitos morreram nas guerras. A maioria morreu por causa das doenças dos brancos. – Continuou o avô.



- Como? – Perguntaram as crianças.



- Certas doenças que para o homem branco eram quase uma bobagem faziam muito mal aos índios. A gripe, por exemplo.



- Eram fraquinhos né? – Exclamou Rita.



- Estas doenças não existiam na nossa terra, por isso não agüentavam e morriam. – Completou o Vovô Carlos.



- Que coisa triste... - Lamentou Paulinho abaixando a cabeça.



- Mas eles lutaram e fugiram para o interior das matas. Não deixaram as coisas fáceis para os portugueses não... – Falou o Vovô.



- Que povo ruim esses portugueses... Os índios eram seus amigos... Eu também fugiria deles. – Comentou Paulinho.

- Assim os portugueses foram ocupando as terras com suas plantações e cidades...



- Mas se os índios fugiram, quem ficou para trabalhar para os portugueses? – Perguntou Rita.



- Vai ver que criaram vergonha na cara e resolveram trabalhar eles mesmos – Falou Paulinho.

O Vovô Carlos sorriu com a indignação do menino.



- Os portugueses precisavam de gente para trabalhar de graça para eles. O que fizeram? Continuaram a caçar os índios, mas buscaram mais gente para trabalhar... De um lugar chamado África, trouxeram os homens negros, que passaram a trabalhar nas plantações...



- Eu não trabalhava... – Disse Paulinho.



- Se não trabalhasse apanhava de chicote. – Disse o avô.



- Nossa, que covardia... – Gritou Rita.



- Era uma coisa muito feia a tal da escravidão... Bem, por muito tempo viveram os brancos portugueses nas terras perto do mar, onde plantavam suas verduras e legumes e criavam gado.



Das suas cidades saiam de vez em quando para as matas caçando índios, procurando ouro. – Continuou o Vovô Carlos.



- Eles também procuravam ouro? – Perguntaram os meninos.



- Sim, Queriam encontrar ouro e pedras preciosas para enriquecer Portugal. Achavam muitos índios, mas encontravam pouco ouro.

Em um lugar depois da Serra, havia uma vila fundada por padres Jesuítas, chamada São Paulo. Seus moradores, os paulistas gostavam de entrar nas matas para caçar índios. Ficavam muitos meses nas matas procurando as aldeias dos índios. Um dia, um grupo destes bandeirantes paulistas, como eram conhecidos, resolveu parar de caçar índios para procurar pedras preciosas e ouro.

Depois de muito tempo encontraram muito ouro no interior do Brasil.



- Devem ter ficado muito felizes, né? – Disse Rita.



- Ficaram sim. A notícia espalhou e muita gente foi para o interior procurar ouro. Ao redor das minas de ouro, construíram suas casas.



- Minas de ouro? – Perguntou Rita.



- É, são os buracos cavados para retirar o ouro das montanhas. No início os homens lavavam o cascalho da beira dos rios procurando o ouro. – Explicou o atencioso avô.



- Como eu estava dizendo, ao redor das minas surgiram as casas, uma capela pequena, depois uma igreja e nasceu um povoado que virou uma vila e depois uma cidade. Todos queriam vir para as Minas Gerais, como ficou conhecida as terras do interior onde encontraram o ouro. – Continuou Vovô Carlos.

- Minas Gerais é aqui. – Gritou Paulinho espantado.



- Isso mesmo, menino, foi assim que Minas Gerais foi ocupada. Vinha gente de Portugal. Vinha gente das cidades perto do mar...



- É ? E quem trabalhava nas Minas? – Perguntou Rita.



- Quem você acha bobona? ... Claro que eram os escravos. -

Ralhou Paulinho, olhando bravo para a menina.



- Isso mesmo. Os escravos índios e negros. Os brancos buscaram muitos homens negros lá da África para trabalhar nos rios e minas a procura do ouro e depois do diamante.

Muitas cidades nasceram: Ouro Preto, Sabará, Diamantina, Serro, São João Del Rei, Tiradentes e muitas outras.



Muitos homens ficaram ricos. Portugal ficou rico...



Estes homens construíram grandes casarões e igrejas decoradas de ouro e trabalhos bonitos dos artistas mineiros que ainda hoje existem.



- Eu queria conhecer. – Disse Rita.



- Eu também. – Disse Paulinho.



- Ora, vamos fazer o seguinte. No fim de semana vamos fazer uma viagem para uma destas cidades. Que tal? – Perguntou o Vovô.



- Viva! – Disseram os meninos.



- - Bem, assim pouco a pouco o homem branco foi se espalhando pelo interior, plantando, criando gado, procurando tesouros. Junto com os índios e os negros, construíram muitas cidades. Construíram um país chamado Brasil.



- Que legal! – Exclamou Paulinho se levantando do sofá.



- Mas ainda não acabou. Estes homens, mistura das três raças: índios negros e brancos eram brasileiros e conseguiram a independência de Portugal.



- Independência? – Perguntou o Menino.



- È, as terras ainda estavam ligadas a Portugal, aquele país lá do outro lado do mar. Os brasileiros conseguiram ser donos da terra que passou a ser um país livre. – Continuou o Vovô.



- O Brasil se tornou um império. Teve dois imperadores: D. Pedro I e depois seu filho, D. Pedro II.



- Igual aos contos de fadas, com castelo e tudo?



Vovô Carlos sorriu.



- Mais ou menos... Possuíam um palácio... Uma corte com Duques, Viscondes e Condes...

- O país ficou livre, mas e a escravidão dos homens? - Perguntou Paulinho cortando o avô.



- A escravidão acabou um pouco depois, porque nenhum homem deve escravizar outro homem. Depois o Brasil virou uma república...



- Na república quem governa é o presidente, não é Vovô? – Perguntou Paulinho.



- Isso mesmo Paulinho... O país chamado Brasil cresceu, construiu indústrias, recebeu mais gente de outros lugares e de outras raças. Novos brasileiros. O Brasil de hoje é uma grande nação com 500 anos de idade.

- Nossa, é bem velhinho... – Disse Rita.



- Não é não. Para um país é ainda uma criança. Existem países bem mais velhos. O Brasil é uma terra de grandes e lindas cidades, lindas praias, grandes rio, florestas, cerrados, caatingas, onças capivaras, araras... E o mais importante de tudo: Terra de um povo de várias raças, alegre e forte que constrói seus futuro no presente sem esquecer seu passado...



- Nossa terra... – Disse Paulinho.



- Isto mesmo, nossa terra, Paulinho.



- Acabou a história Vovô? – Perguntou Rita.



- Não minha filha, essa história não acaba nunca. Eu ajudei a fazer, seus pais estão fazendo e vocês vão continuar fazendo. Sempre, sempre, para construir uma país melhor, com justiça, trabalho, escola e saúde para todos.



Enquanto o Vovô Carlos falava, a energia voltou, iluminando toda a sala.

Alguém apagou a vela e ligou a televisão.

Vovô levantou e foi se deitar...

FIM



8



Maria e o Patrimônio





Maria estendia a roupa no seu afazer diário quando Josefina chegou.



- Oh Maria, você não vai à reunião lá na igreja? – Perguntou Josefina.



- Que reunião é essa Josefina? Não estou sabendo de nada... – Exclamou Maria.



- Ora, a reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural.



- Eu hem...? Que Conselho é esse?



- O Conselho Municipal do Patrimônio Cultural é uma entidade formada por representantes de associações, escolas, prefeitura, câmara, igreja... Ele é responsável pela preservação do patrimônio cultural da nossa cidade.



- Patrimônio cultural? – Espantou-se Maria.



- É...Patrimônio cultural: nossa herança deixada pelos nossos pais, a nossa maneira de falar e agir, as nossas festas tradicionais, os monumentos, as imagens, os documentos dos arquivos, as casas antigas e também as novas que têm uma importância para nossa história...Enfim, nossa Cultura. A nossa igreja, por exemplo, é um bem cultural.



- Bem cultural?



- É Maria, bens culturais são todas esta coisas que o nosso povo vem produzindo desde os primeiros tempos da nossa cidade.



- A folia de Reis é um bem cultural? – Perguntou Maria.



- É sim, um bem cultural imaterial ou intangível...



- Não complica Josefina, que negócio é esse de imaterial?



- Imaterial é aquele bem que não podemos pegar, por exemplo: uma festa, o modo de falar de um povo... Agora, um bem material é o que podemos pegar: um quadro uma imagem, a nossa igreja...



- Que coisa... Mas Josefina me explica melhor esse negócio. O conselho cuida do patrimônio cultural...



- Isto...Em nível federal existe o IPHAN que é o órgão responsável pela preservação do patrimônio que tem importância para a memória do país. No Estado existe o IEPHA/MG, responsável pelo patrimônio cultural de importância estadual. Aqui na nossa terra existe o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, que cuida dos nossos bens culturais através do tombamento.

- Tombamento...Josefina, que coisa doida é essa? Como é que se protege alguma coisa tombando?



- Calma Maria – Disse Josefina rindo.



- Não é o que você esta pensando. Tombar não é derrubar. O tombamento é um instrumento utilizado para proteger um bem cultural. Quando uma casa, ou uma imagem, documento ou praça é tombado, não pode ser destruído ou ser modificado sem autorização.



- Puxa, você me assustou...Quer dizer que quando o Conselho tomba uma casa a pessoa não pode mexer consertar, vender...



- Não é bem assim. Como eu estava te dizendo, o Conselho é que decide o que deve ser tombado, mas isto não quer dizer que não se possa mexer no bem. Se sua casa for tombada, toda intervenção deverá passar pelo Conselho. O tombamento não toma o seu bem. Você pode vender, alugar emprestar... O que você não pode é destruir porque agora a sua casa é importante para toda a cidade.



- Nossa!... Que Conselho poderoso... Decide isto tudo sozinho...



- Sozinho não. A equipe do Departamento de Patrimônio Cultural da Prefeitura faz um estudo para justificar a importância do bem cultural chamado “dossiê de tombamento” que é encaminhado ao Conselho Municipal de Patrimônio Cultural para ser analisado.



- Complicou de novo... Que departamento é esse? E esse Dossiê, o que é?



- Vou te explicar. Aqui na nossa cidade nós temos o Departamento de Patrimônio Cultural, em outras cidades existem as chefias ou coordenações de Patrimônio Cultural. O nome não importa, o importante é que esse órgão tenha como principal função, fazer estudos sobre a cultura das cidades. É a equipe do Departamento que, através do inventário define o que é importante preservar...



- Espera aí, você ainda não me explicou o que é dossiê e já vem com esse tal de inventário...



- Calma, eu vou explicar tudo. Primeiro é preciso conhecer, não é? A equipe técnica do Departamento de Patrimônio Cultural faz um inventário de tudo que é importante no município com a ajuda da comunidade. Levanta informações sobre os casarões, sobrados, fazendas, igrejas, imagens sacras, festas, arquivos, sítios naturais, sítios arqueológicos e espeleológicos... Estas informações coletadas sobre os bens são postas em fichas com fotos. Depois de analisadas e discutidas com a comunidade, os bens são selecionados para serem preservados através do tombamento.

- Espera um pouco... Deixe-me ver se entendi. O inventário ajuda na seleção do que deve ser preservado e aí eles montam o tal do Dossiê?



- Isso mesmo. O Dossiê é um trabalho mais complicado, elaborado pela equipe técnica do Departamento do Patrimônio Cultural, para justificar a importância do bem cultural. Tem fotografias, plantas, escrituras...Toda a história e descrição do bem.



- Agora entendi. Feito isto o que acontece? – Perguntou Maria interessada.



- O dossiê é encaminhado ao Conselho. E o Conselho decide pelo tombamento ou não.



- Se for sim...



- Se decidir a favor, ele vai comunicar ao proprietário e o bem fica sob tombamento provisório.



- Provisório?



- É... O tombamento provisório tem a mesma força do tombamento definitivo, só que o proprietário pode recorrer da decisão dentro do prazo de quinze dias.



- Então ele pode não aceitar o tombamento?



- É, mas tem que justificar porque não acha que seu bem é importante.



- E o que acontece?



- O Conselho vai analisar as argumentações e vai decidir...



- Tá, e se decidir a favor, o que acontece?



- O bem está tombado definitivamente. O prefeito então publica a decisão do tombamento no nosso jornal local.



- Ufa!...Aí o bem está tombado, não pode ser demolido e vai durar para sempre...



- Calma Maria, só o tombamento não resolve. O inventário além de ajudar no tombamento auxilia na elaboração do Plano Diretor e na elaboração da Lei de Uso e Ocupação do Solo, que é constituída de um conjunto de leis e diretrizes para normatizar uma política de desenvolvimento urbano, garantindo assim um crescimento mais ordenado da cidade, o bem-estar da comunidade e é claro, preservando o patrimônio. Agora, os bens imateriais não podem ser tombados e sim registrados como patrimônio cultural do município. A preservação deles também é muito importante.

- Agora pronto tudo vai durar para sempre...



- Não é bem assim. Para que um bem cultural seja preservado é importante a participação de todos no cuidado constante. A comunidade tem que ajudar na conservação deste patrimônio para que ele permaneça. Afinal ele agora pertence a todos. É um marco da nossa cultura, da nossa história.



- Concordo, se agente cuidar: limpando, trocando vidros quebrados ou telhas evitamos que o problema piore, né?



- Isto mesmo se não cuidarmos a restauração vai ficar mais cara.



- Lá vem você com estas palavras difíceis...



- A restauração não muda nada no bem cultural, mantém as mesma forma da construção, até mesmo as janelas e portas.



- Entendi. Agora, fazendo tudo isto o nosso bem está preservado?



- Falta mais uma coisa. É necessário discutir a questão da preservação com todo mundo. É importante levar estas idéias para dentro das escolas para que as nossas crianças cresçam com uma nova visão sobre a sua terra e sua história.



- Josefina, que coisa importante isto. Se eu tivesse aprendido estas coisas na escola estava defendendo o patrimônio há muito tempo.



- É verdade... Sabe Maria, muitas pessoas não percebem como é importante a preservação do patrimônio cultural. Nossos empresários, por exemplo, poderiam ajudar muito na restauração e divulgação dos bens culturais e com isto teriam redução de impostos através das leis de incentivo a cultura.



- Que coisa boa... – disse Maria com a mão no queixo.



- Tem mais Maria. A Prefeitura dá isenção de imposto predial aos proprietários de bens tombados e fornece técnicos para ajudar nas obras de restauração.

Além disso, tem a lei n.º13. 803 que repassa mais recursos do ICMS para o município.



- Como?



- Existe uma lei estadual, a n.º 13 803, que repassa mais dinheiro do ICMS para o município que investir na preservação da sua cultura. Quanto mais investe, mais recebe.



- Assim fica bem mais fácil...

- É mesmo. A preservação da memória, e dos marcos do nosso passado é muito importante. Preservar é crescer com identidade. Assim conservamos nossas raízes, nosso elo com o passado, nossa origem, nossa identidade coletiva.

- Nossas diferenças também...



- Isto mesmo Maria. Preservar é continuar com dignidade...



- Josefina me espera um pouquinho. Vou trocar de roupa e vou com você nesta reunião.



- Espero sim Maria. A sua presença é muito importante. – disse Josefina.



Maria entrou em casa e pouco depois as duas amigas estavam a caminho da igreja.

FIM



EXERCÍCIOS



1 – Dê alguns exemplos de bens culturais do povo mineiro.

2 – O que define a importância de um bem cultural?

3 – Defina: IPHAN – IEPHA – TOMBAMENTO – CULTURA – PATRIMÔNIO CULTURAL – BEM MATERIAL – BEM IMATERIAL.

4 – O que é o Inventário de Proteção do Patrimônio Cultural e qual a sua importância?

5 – Qual o papel do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural?

6 – Qual o papel do Departamento do Patrimônio Cultural?

7 – Como se inicia um Processo de Tombamento?

8 – O que é um Dossiê de Tombamento?

9 – Quem pode impugnar o tombamento e como isto pode ser feito?

10 - Quais as vantagens do tombamento para a comunidade?

11 – O que uma comunidade pode fazer para proteger o seu patrimônio Cultural?

12 – Escreva sobre: Patrimônio Cultural X Progresso X Qualidade de vida.



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A CIDADE DE “NOVA VIDA”





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(escreva seu nome)



e sua mãe estavam fazendo compras no pequeno armazém da cidade. Era a primeira compra do primeiro dia de sua família na Cidade de Nova Vida. Haviam se mudado na noite anterior e a nova casa como toda a Cidade pareciam novidades a serem exploradas.



Enquanto sua mãe corria as prateleiras enchendo o carrinho,..............................

(Escreva o seu nome)



foi para a porta do velho casarão que servia de sede ao Armazém admirar e conhecer a paisagem. Um garoto que passava sorriu lhe amigavelmente.



- Olá, como vai você?

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- Meu nome é Paulo, moro ali na esquina. Você é novo (a) aqui não é?

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- Eu já sabia, conheço todo mundo aqui na cidade. Então, você está passeando?

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- Ah, que bom... Você vai gostar daqui. Nossa Cidade é muito agradável. Mas me conta, onde você morava antes de vir para cá?

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- Infelizmente eu não conheço a sua cidade. A nossa cidade, como você já notou, é muito antiga. Foi fundada pelos bandeirantes paulistas em 1700. E a sua cidade, quem foram os primeiros moradores e quando foi fundada?

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- Aqui em “Nova Vida” temos muitas coisas interessantes. Temos esta praça que você está vendo. Temos um parque municipal, temos uma igreja... O que a sua cidade tem de legal? Têm Igrejas antigas, prédios antigos? Fale-me sobre eles.

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- Que legal! Sabe, a nossa cidade já teve muito ouro no passado, mas agora nossa economia gira em torno da agricultura e da pecuária. Qual era a atividade econômica de sua Cidade no Passado?

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- E agora, quais são a suas atividades mais importantes?



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- Como eu estava te dizendo, o ouro é que foi a primeira riqueza de nossa cidade. Ele permitiu que nossos antepassados construíssem a bela matriz e a dezena de casarões que cercam a praça. São os nossos bens culturais. Existem outros bens culturais espalhados pela cidade e é claro, aqueles bens imateriais como as festas, a nossa comida típica o nosso jeito de falar que é diferente do seu jeito de falar. Na sua cidade tem festas? Quais são?



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- São muitas. Temos algumas iguais as suas...Aqui temos vários pratos típicos que adoramos comer aos domingos... Qual a comida mais comum na sua terra? Como ela é feita?



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- Legal esse prato, parece gostoso. Você podia me convidar um dia desses para comer em sua casa...

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- Ah, mas temos um rio também. O nosso rio, onde antes os bandeirantes tiravam ouro, é um lugar de lazer da nossa população. Ele já foi poluído, mas a população percebeu que estava errado jogar o esgoto em suas águas. Hoje as águas são tratadas, o rio é limpo e podemos até pescar.

Na sua cidade tem rio? Como ele se chama? Quais são as condições dele hoje?



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- Nós aqui prestamos muita atenção às coisas de nossa terra. Temos um museu onde as peças antigas e objetos do passado são guardados para que as gerações futuras as conheçam. Sua terra tem museus? Quais?



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- Mas aqui em “Nova Vida” nem sempre foi assim. Antes, nosso povo destruía as coisas antigas por acharem que eram feias e velhas e que a cidade precisava ser moderna, ter prédios... Foi um período muito chato. Custaram a perceber que estavam destruindo a memória de seus avós e de seus pais. Porém perceberam há tempo. Como a sua cidade trata os prédios e as coisas do passado?



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- É... Aqui na nossa terra criamos o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural formado por representantes da sociedade, que protege o nosso patrimônio Cultural. Como você sabe, o tombamento é um instrumento usado para proteger os bens culturais materiais para que não sejam destruídos ou sofram intervenções que possam prejudicar a sua forma. Para os bens imateriais utilizamos o Registro que é uma lei nova em nossa cidade. Na sua Cidade tem Conselho Municipal do Patrimônio Cultural? Tem bens tombados ou registrados? Quais são?

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- A nossa Igreja Matriz é tombada com todo o seu acervo, a Estação de Trem, a Praça, os Casarões... Ah! E tem o Inventário. A equipe do Departamento de Patrimônio Cultural...Não te falei dele não? É, aqui nós temos também um departamento dentro da prefeitura que faz os trabalhos sobre os bens culturais. Esse departamento é que está fazendo o inventário de Proteção do Patrimônio Cultural da Nossa Cidade. O inventário é que permite que conheçamos o nosso Patrimônio Cultural. A equipe visita todo o Município levantando todas as informações sobre os bens culturais e colocando em fichas com fotos. Depois deste trabalho pronto, é selecionado aqueles bens que devem ser preservados e protegidos através do instrumento do tombamento ou pelo registro do imaterial. Na sua cidade já foi feito o Inventário? Quando?



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- Legal...É por causa destes trabalhos que temos esta cidade assim tão bem cuidada. Temos orgulho de nosso passado e da nossa história. Quando um bem cultural está precisando de restauração nós contratamos técnicos especializados para fazer o trabalho. Você sabe o que uma restauração?

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- Pois é, aqui agimos assim. Tudo fica bem conservado e os proprietários recebem isenção de impostos e ajuda através de um fundo do Patrimônio Cultural. A sua cidade tem leis de incentivos fiscais ou alguma isenção para os proprietários de um bem tombado?

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- Muita gente acha que o tombamento impede o progresso. Na verdade, a preservação de nossas raízes, de nossos marcos do passado, permite que continuemos a viver com dignidade e com sentimento de que fazemos parte de algo maior. Adoramos nossa herança cultural e as belezas de nossa terra. Temos problemas, mas tentamos resolvê-los. Quais são os problemas de sua cidade?

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- Como você acha que eles podem ser resolvidos?

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- Está vendo, existe solução para tudo. O importante é a gente lutar pela valorização das nossas coisas. Muitas vezes o nosso povo não valoriza o que tem por não conhecer. O que a sua cidade vem fazendo para valorizar a cultura e o Patrimônio Cultural?

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- É, tem muita forma de divulgar o patrimônio. Aqui na nossa cidade uma vez por semana um dos nossos habitantes mais velhos visita a escola para contar alguma história de sua época para os meninos. É interessante ver como nossos avós se divertiam há 50 anos atrás. Você já perguntou à sua avó ou seu avô como eram as brincadeiras deles? Conte uma brincadeira do tempo deles que não existe mais.

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- Que legal essa eu não conhecia. Sabe, ali no Museu... Você precisa ir lá... Tem um acervo enorme de fotos antigas da nossa terra. Mostram as transformações da cidade ao longo do tempo... Você tem fotos antigas da sua cidade? E fotos novas? Quero ver.

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- Eu te falei da escola? É, provavelmente, você vai estudar na minha escola. É muito antiga. Tem 80 anos. A escola em que você estudava foi fundada quando?

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- Também tem história. A verdade é que tudo tem história, né? Antigamente as pessoas escreviam a mão, depois em máquinas de escrever e agora em computador. Como era o meio de transporte na sua terra há cem anos atrás?

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- Aqui também era assim. Depois vieram os carros, ônibus... Fico pensando como seria a vida sem a televisão... Você sabe o que as pessoas faziam a noite antes, quando não existia o rádio e a TV?

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- Eu não sabia... Depois vou perguntar para os meus avós também. E você, o que você faz a noite?

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- É tão diferente do que eles faziam, né? Tudo muda o tempo todo e o que a gente percebe é que algumas coisas podem ficar mais tempo, seguindo conosco, fazendo parte do nosso dia a dia sem que precisemos parar no tempo. A vida continua, mas tem que continuar com dignidade e identidade. O que você pensa sobre isto?

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- Pois é, espero que goste muito de nossa Cidade que agora também é sua. A sua mãe está vindo com as compras... Foi um prazer conversar com você. Tenho certeza que vamos nos encontrar lá na escola. Deixa-me ir se não minha mãe me pega...



A mãe de............................................................. chegou e os dois novos moradores de “Nova Vida” foram para casa cuidar da arrumação da mudança.



FIM



10



A MATRIZ



Em uma cidadezinha não muito distante, igual a tantas existentes neste nosso Brasil, vivia uma comunidade pacífica e ordeira, feliz com seus pequenos prazeres: a conversa na calçada, a missa na Matriz, o passeio que se seguia após o culto e é claro, as festas regionais. Praticamente a vida do lugar acontecia na praça da Matriz onde todos se encontravam. A Matriz, com suas duas torres era a presença mais marcante há quase trezentos anos. Símbolo da religiosidade local acompanhava a vida de todos com sua grandiosidade e imponência.



Esse símbolo adorado e reverenciado por todos tinha o seu benfeitor. Na verdade uma família de benfeitores que há cem anos cuidava da Matriz, trocando telhas quebradas, pintando, limpando. O ultimo membro desta antiga e rica família de comerciantes era o Sr. Israel Ferreira do Amaral Neto, conhecido por todos pelo carinhoso apelido de IFAN. E este rico e respeitado senhor durante cinqüenta anos cuidou da Matriz como se fosse um filho que nunca teve. No entanto a riqueza acumulada em décadas pela família Ferreira do Amaral, que parecia inesgotável foi se dissipando em negócios mal feitos e o Sr. IFAN chegou à velhice praticamente pobre.



Essa pobreza seria apenas um drama familiar se não houvesse um grande porém: a Igreja Matriz... Com recursos limitados que mal davam para o sustento de sua casa, o Sr. IFAN não pôde mais cuidar da Igreja. As telhas não eram mais trocadas, a pintura não era renovada, os vidros quebrados continuavam quebrados.



A pacata comunidade assistia à degradação do seu bem mais precioso sem entender o que acontecia.



- Olha mamãe, o vidro está quebrado – disse um menino mostrando a janela da fachada principal da Matriz.



- É, isso é horrível meu filho. Onde está o Sr. IFAN que não resolve este absurdo? – Exclamou Dona Maria escandalizada com a situação do velho templo.



- Está toda se perdendo... Coitada da nossa Igreja... – resmungou o velho Sr. Manuel que passava com uma de suas netas.



O padre José que estava na porta ouviu o comentário e balançou a cabeça triste.



- O telhado está todo cheio de furos... Quando chove, a igreja vira uma piscina... – Disse olhando para a janela.



- Isto não está certo, o Sr. IFAN não podia ter deixado isto acontecer... – Protestou Jorge, o pipoqueiro da Praça.

- Concordo com o senhor... Isto é desleixo. Temos que fazer alguma coisa. – Disse Dona Maria.

- Vamos lá na casa dele agora resolver isto de uma vez por todas. – Disse o Sr. Manuel.

- Isso mesmo vamos todos nós até a casa dele. – Falou o Padre José se adiantando.



E assim o pequeno grupo se dirigiu à mansão dos Ferreira do Amaral para tomar satisfação do solitário Sr. IFAN.

Foram recebidos pela velha criada da família que se assustou com a visita inesperada.



- Padre José, Sr. Manuel, Dona Maria... Já ficaram sabendo? – Espantou-se a Tia Nenê.



- Sabendo de que mulher? – Perguntou o padre sem entender.



- Ih... O Sr. IFAN, coitado, está doente há cinco dias... Não sai da cama... – Disse ela abrindo a porta para que a comitiva entrasse na sala.



- Não sabíamos... A verdade é que viemos por outro motivo. Precisamos falar com ele...



- Calma Manuel... O pobre homem está doente... – Disse o Padre colocando a mão no ombro do homem.



- Olha, se a coisa é urgente, eu vou falar com ele para ver se pode recebê-los. – Disse Tia Nenê aflita.



- Não sei não... Será que agente não poderia resolver isto outro dia... – Lamentou o Padre José.



- Não, nada disso. Vamos resolver tudo agora mesmo, ou o senhor esqueceu do estado triste em que está a nossa querida Matriz? – Falou o Sr. Manuel um pouco alterado.



- Olha, eu vou falar com ele e volto já. – Disse Tia Nenê saindo rapidamente.

Voltou logo depois pedindo que todos subissem ao quarto do velho Sr. IFAN.

O grupo o encontrou deitado, com o rosto branco como cera e os finos cabelos brancos desgrenhados.



- Oh meus amigos, desculpem recebê-los assim... A gripe me derrubou... Nada muito grave... A que devo a honra dessa visita? – Perguntou o polido Sr. IFAN.



- Olha Sr. IFAN lamentamos muito incomodá-lo neste momento, mas temos algo muito sério para tratar. – Disse o Padre José com o semblante carregado.



- Por favor, sentem–se estou doente, mas não estou morrendo. – Falou o Sr. IFAN.



O grupo se acomodou nas cadeiras espalhadas pelo quarto e um pequeno silêncio ocupou o espaço por alguns segundos. Foi Dona Maria que o quebrou.

- É sobre a Matriz... Sabe Sr. IFAN, ela está terrível com furos no telhado, vidros quebrados, imagens com cupim... – Disse ela timidamente.



- É... Ela está horrível, daqui a pouco cai. – Exagerou o Sr. Manuel.



- É isto mesmo, Está suja quebrada e o que o senhor vai fazer? – Perguntou o Pipoqueiro.



- Olha meus amigos, o que eu posso fazer?- disse ele mostrando a cama.

- O que o senhor pode fazer? Ora Sr. IFAN, o Senhor tem que dar um jeito nisto. – Disse o Padre José.



- Eu? Olhem para mim. Olhem para minha casa... Estou velho, velho e pobre. Mal, mal tenho recursos para sustentar-me e a esta pobre Tia Nenê... – Lamentou IFAN.



- Mas o senhor sempre cuidou da Igreja. O senhor e toda a sua família... – Rebateu o Sr. Manuel.



- Eu sei disso. E olha que é com muito pesar que admito que não tenho condições de cuidar mais dela. – Falou o velho e doente senhor.



- Mas isto não está certo. Tem que cuidar sim senhor – Gritou o Sr. Manuel.



- Meu amigo, você mais do que eu sabe do amor que minha família sempre teve pela igreja, mas ela nunca foi nossa. A Matriz é de toda a cidade. – Disse IFAN.



- A onde o senhor quer chegar? Perguntou Dona Maria.



- À verdade. A Matriz é responsabilidade de todos nós, não de uma família...



- Mas vocês sempre fizeram tudo sozinhos... – Disse o Padre.



- É verdade, foi um grande erro e só agora nesta situação difícil que percebi isto. – Disse IFAN.



- Mas se o senhor não pode cuidar, quem vai cuidar? – Perguntou o pipoqueiro.



- Ela não é de todos? Então todos vão cuidar...- Falou o doente com a voz rouca.



- Mas não temos dinheiro... – Falou o Sr. Manuel levantando-se.



- É verdade, individualmente somos todos pobres e o conserto da nossa querida Igreja é caro...Mas juntos... Juntos podemos muito. – Disse o Sr. IFAN.



- Como? Não entendi. – perguntou o Padre José.



- É simples, vamos buscar os recursos na comunidade. – Falou IFAN sentando-se na cama.



- Buscar como? – Perguntou Dona Maria.



- Ora, vamos criar comissões... O Padre José pode organizar um leilão...



- Leilão de que Sr. IFAN, a Igreja não tem nada para leiloar... – Riu o Padre.



- Leilão das coisas que vamos recolher da comunidade... Um leitão do Sr. Pedro fazendeiro, um cesta de frutas do pomar da Dona Maria, uma toalha bordada da Dona Rita...



- Que ótima idéia Sr. IFAN, Eu conheço muita gente que pode oferecer coisas interessantes. – Falou radiante o Padre José.



- Podemos fazer barraquinhas... Vender pastéis após a missa. – Disse Dona Maria sorrindo.



- Isto mesmo gente. Dona Maria fica encarregada de montar a comissão das barraquinhas, Jorge conhece muita gente e pode ficar encarregado de recolher objetos para o leilão junto com o Padre...- Falou o Senhor Manuel.



- E o senhor, o que vai fazer? – Perguntou José.



- Vou procurar os pedreiros e marceneiros e explicar o problema... Pedir o apoio deles. – Falou o Senhor Manuel.

- Que ótimo. Então vamos logo resolver isto. – Gritou o Padre José levantando-se. Os outros o seguiram radiantes. O grupo se despediu do doente e foi tratar dos assuntos.

O Padre José aproveitou a hora da missa para convocar voluntários e o apoio de toda a comunidade. Não demorou muito para que todos contribuíssem com alguma coisa ou com alguma atividade. O Senhor Haroldo da Gráfica fez os convites que foram espalhados por toda parte convocando para o leilão em prol da Matriz e para as barraquinhas na Praça. Em dez dias tudo estava pronto. No domingo de manhã aconteceu o leilão regado à fogos de artifício e balões. À noite as barraquinhas fizeram a festa como nunca havia se visto na cidade. Na Praça toda colorida de bandeirinhas multicores e de toldos brancos das barracas oferecia-se de tudo um pouco: pastéis da Dona Nhonhô, toalhas de renda da Dona Rita, bijuterias da Martinha... E tinha bebidas: refrigerantes e cervejas... Uma festa. Tudo e todos pela Matriz era o lema.

Praticamente todo mundo participou, até mesmo o senhor IFAN, coitado, ainda gripado.

O dinheiro arrecadado não foi muito, mas permitiu o início da obras realizadas por técnicos especializados. Logo alguém teve a idéia de vender santinhos e postais para conseguir mais dinheiro. O Sr. Alfredo do mercado ofereceu camisetas com estampas da igreja, um sucesso. Os pastéis de Dona Nhonhô viraram mania da cidade... Mas ainda era pouco.

- Gente do céu! E os santos? Como ficam os santos?- Perguntou Zé do Peixe na reunião semanal da Comissão.
- É mesmo, a Santa Rita está toda carunchada, coitada! – Disse Ritinha.

- Não é só ela não, o São José parece um queijo suíço de tão esburacados. – Falou o Padre José.
- Oh gente! Está aí a solução. – Falou Dona Maria levantando com os olhos brilhantes de euforia.

- Que solução? – Perguntou Padre José.
- Ora, não estão vendo? Muitas meninas, moças e senhoras chamam-se Rita por causa da Santa Rita...
- É mesmo. Muitos homens chamam-se José por causa do São José... – Falou o Padre José.
- Entendi. Vamos procurar as Ritas e os Josés. – Falou o Sr. IFAN.
E assim a Comissão dos santos saiu pelas ruas da cidade visitando as Ritas e os Josés pedindo ajuda para restaurar as imagens.

- Olá Dona Rita, como vai? – Perguntavam:
- Vou bem...
- Sabe Dona Rita, A senhora chama Rita por causa da imagem de Santa Rita, não é?
- É sim...
- Pois então, a Coitada da Santa está lá toda cheia de cupim... Precisa ser restaurada. Quanto a senhora pode dar para ajudar a Santa?
E assim fizeram com o São José, com o Santo Antônio, com tantos outros santos. Restauraram as imagens com a ajuda das Marias, dos Joãos, das Ritas e dos Josés.

A igreja vivia cheia de gente querendo ajudar ou assistir as obras. Os professores das escolas levavam os alunos para verem os trabalhos em horários pré-determinados e os restauradores prestativos explicavam tudo. Todos ajudavam e aprendiam ajudando.

Mas havia o forro. O belo forro rococó da Matriz fora muito danificado pelos anos de goteira.
- Gente! Agora é o forro, olha só o estado dele. – Disse o Sr. Manuel apontando para o alto.
- Agora ficou difícil, não conheço ninguém que se chama forro... – Brincou um rapaz.

- Engraçadinho. Se não tem ninguém tem todo mundo... – Disse Dona Maria.

Pensaram um pouco em silêncio e o próprio rapaz que fizera a brincadeira teve uma idéia.

- E se a gente fizesse um desenho do forro e dividisse em pedaços iguais. Podíamos vender os pedaços...
- Que idéia ótima. – Gritou o Padre José.
E isto foi feito. Fizeram o desenho do forro e saíram oferecendo a todos.

Conseguiram restaurar o forro com a ajuda de todos.
No dia da inauguração as pessoas apontavam para certos lugares no forro sorrindo.
- Está vendo aquele pedaço ali, foi eu que ajudei a restaurar. – Disse Zé do Peixe.

- Grande coisa, aquele outro ali foi eu. – Falou Dona Maria rindo.

Foi uma grande festa na cidade quando as obras terminaram. A igreja brilhava de tão bonita. A Praça estava toda enfeitada... Fogos de artifício coloriam o céu. As mulheres vestiram suas melhores roupas. Os homens pareciam noivos de tão elegantes. O Padre José parecia o rei da festa de tão feliz. A pacata cidade que sempre fora muito calma e feliz estava mais unida do que nunca. A Igreja que sempre fora adorada por todos, agora era de fato de todos. E este sentimento se espalhou para todos os lugares da cidade. Agora os casarões eram de todos, a praça era de todos, as cachoeiras, as árvores, as festas...Um sentimento comunitário de respeito por tudo imperava.

O Sr. IFAN?

Sarou da gripe e passeava todas as tardes de braços dados com Tia Nenê. Continua muito respeitado por todos.

FIM
GLOSSÁRIO

- Benfeitor

O que faz bem; aquele que faz benfeitoria.

- Comissão

Conjunto de pessoas encarregadas de tratar juntamente um assunto.

- Imponência

Altivez; magnificência; grandiosidade; suntuoso.

- Pacata

Pacífica; sossegado; tranqüila.

- Símbolo

Objeto a que se dá uma significação moral.

- Semblante

Rosto; aparência; fisionomia.

- Restaurar

Recuperar; reintegrar; renovar; por em bom estado.

- Rococó

Estilo de ornamentação que vigorou em Minas Gerais a partir da segunda metade do século XVIII.