PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

quarta-feira, 31 de julho de 2013

CONCEITOS: CENTRO HISTÓRICO, NÚCLEO HISTÓRICO E CONJUNTOS

"CONSIDERAÇÕES SOBRE CENTRO HISTÓRICO, NÚCLEO HISTÓRICO E CONJUNTO URBANO"

"O conceito do centro histórico adquiriu uma abrangência evolutiva, partindo da noção de monumento histórico até atingir a idéia dinâmica do sítio no qual guarda o fazer cultural de uma sociedade / população bem como suas manifestações.

A designação de centro histórico permeia aquelas localidades em que congregam o valor simbólico adquirido; considera-se o espaço da localidade em que recebeu os valores agregados ao longo da história, o legado do povo. O centro histórico, ampliando, concentra as funções urbanas bem definidas: o poder público, o administrativo, o civil; essas se sustentam. E, espacialmente, há a hierarquia dos assentamentos e processos arquitetônicos construtivos.

Enquanto que para o núcleo histórico, adota-se a idéia daquelas localidades que guardam as características da ocupação urbana, das primeiras fases da ocupação, dos primeiros sistemas construtivos, porém, é desprovido das funções públicas e administrativas; essas são exercidas pelo centro histórico polarizador mais próximo.

Já para o conjunto urbano, tem-se a idéia daquele que congrega uma heterogeneidade no espaço, sendo os fragmentos de história dentro do espaço urbano maior, do território urbano mais abrangente.

Ao analisar as cartas internacionais as quais abordam os bens culturais no âmbito urbano: centro histórico, núcleo histórico, conjunto urbano, verifica-se que ocorre o aprimoramento dos conceitos no que tange a conservação, gestão do patrimônio cultural dos centros históricos / cidades históricas.
 
É válido consultar as seguintes : Carta de Quito de 1967; Carta de Veneza de 1964; Carta de Restauro de 1972; Resolução de São Domingo de 1974; Declaração de Amsterdã de 1975; Declaração de Nairobi de 1976; Carta de Washington de 1986; Carta de Petrópolis de 1987."
Fonte: Rosana de Souza Marques - Arquiteta - IEPHA/MG.

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Definição de “Centro Histórico”


"Desde tempos imemoriais que as cidades são produto das sociedades que as fisicamente
construíram e culturalmente edificaram, num processo contínuo e intemporal. De facto, as cidades,
desde as pequenas aglomerações urbanas da antiguidade às actuais metrópoles globais, sempre
polarizaram importantes funções sociais, económicas, patrimoniais e cívicas, constituindo-se um
legado das sociedades passadas e, uma plataforma para as vindouras, sendo um espaço de transição por excelência. Todo esse conjunto de actividades económicas e sociais, funções cívicas, habitacionais e patrimoniais, que se constituem o motor da vida urbana, desempenhadas pelas cidades tinham o seu eixo gravitacional nos seus centros históricos, a sua origem e área mais central. Segundo Teresa Barata

Salgueiro (2005: 259), os centros históricos para além de serem “as partes mais antigas da cidade”,
constituem-se como uma “sucessão de testemunhos de várias épocas, monumento que nos traz vivo o passado, nos dá a dimensão temporal com a sequência dos factos que estruturam as identidades”.

O centro histórico de uma cidade é, regra geral, a área mais antiga que se tornou progressivamente o centro da cidade moderna, e que coincide normalmente “com o núcleo de origem do aglomerado, de onde irradiaram outras áreas urbanas sedimentadas pelo tempo, conferindo assim a
esta zona uma característica própria cuja delimitação deve implicar todo um conjunto de regras
tendentes à sua conservação e valorização” (DGOTDU; 2005, 128). Apesar da delimitação de centro histórico não ser linear, esta é “facilitada no caso das pequenas cidades, que se tenham expandido pouco ou onde o desenvolvimento moderno é periférico” e, mais difícil no caso das “cidades grandes, formadas por períodos históricos múltiplos, e onde os conjuntos urbanos do século XIX podem ser legitimamente considerados como históricos” (Cavém; 2007, 15)."

FONTE: II Parte – Enquadramento temático e metodológico -
Capítulo II – Centros Históricos - Disponivel na Internet: http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/3862/8/igotul000916_tm_3.pdf . Acessado em 31 de julho de 2013.

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MAIS REFERÊNCIAS:
 
 
 
 



 







 



 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A OCUPAÇÃO DO VALE DO JEQUITINHONHA


A OCUPAÇÃO DO VALE DO JEQUITINHONHA


Autor: Carlos Henrique Rangel


Nem preciso falar para quem postei essa foto...



1. OS ÍNDIOS



Os primeiros habitantes dos sertões de Araçuaí e Jequitinhonha foram os índios Tupinaqui, expulsos para o litoral pelos Aimoré.[1] Estes, oriundos do ocidente, dominaram a região do Mucuri, Jequitinhonha e Araçuaí, chegando a descer ao litoral de Porto Seguro e Ilhéus para saquear as colônias portuguesas. Combatidos por Mém de Sá e em seguida pelos Tapajós, dispersaram pelos sertões em pequenos grupos, sendo mais tarde denominados genericamente como Botocudos devido ao círculo de pau que usavam no lábio inferior.[2]


“A primeira denominação que os Botocudos receberam foi de Tapuio, em oposição aos Tupi que habitavam o litoral da Bahia, e com os quais os primeiros colonizadores  tiveram contato. Mais tarde,  vieram Aimoré, Guerén, Cren, kren, Ambaré, Guaimoré, Embaré, Kraknum, Endrejerecnum, Engrekmun, Botocudo. No final  do século XIX, predominaram as auto denominações derivadas dos nomes dos “capitães”( chefes de tribos ou grupos indígenas, assim chamados pelos portugueses) , de acidentes geográficos ou dialetos: Naknenuk, Karkmun, Nakrehé, Etwet, Takruk-Krak, Gut-Krak, Nep-Nep, Jiporok, Pojixá, Minajirum e Borun (homens verdadeiros). Wied registrou o termo Engerecknung ou Endjerkmun (povos corredores)  no Baixo Jequitinhonha.”[3]


Esses índios ocupavam as florestas de mata atlântica dos Sertões do Leste formados pelos vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do rio Doce e se autodenominavam Borun. Possuíam estatura mediana, cor de bronze e pintavam o corpo de preto e vermelho. Os cabelos e sobrancelhas eram raspados, mantendo ao redor da cabeça apenas uma espécie de penacho.


Das florestas do Mucuri e Jequitinhonha, de tempos em tempos, desciam ao litoral para destroçar as povoações. Caio Prado Júnior sugere que estas “incursões intermitentes” que permitiam um certo descanso aos estabelecimentos coloniais do litoral sul da Bahia e do Espírito Santo se deviam ao crescimento vegetativo das nações indígenas que, com a falta de recursos do seu habitat,  debandavam para o litoral. O morticínio advindo das incursões restabelecia o equilíbrio.[4]


Nômades, os Borun viviam em grupos, subgrupos, bandos ou famílias, devido às necessidades de sobrevivência ou disputas pelo poder. São descritos como antropófagos, supersticiosos, sem governo ou religião. A liderança era atribuída aos guerreiros mais habilidosos na caça, pesca e coleta. [5]


Na região de Salto da Divisa nas primeiras décadas dos oitocentos viviam perambulando entre os quartéis do Salto e do Arco a horda do chefe Kerengnatnuk, conhecido pelos soldados como “Capitão June”.


O contato com os colonos e a destruição do habitat vai dizimar estas tribos ao longo do tempo.


2. A COLONIZAÇÃO


 a . Primeiras Expedições



O território compreendido atualmente pelo Estado de Minas Gerais, desde a segunda metade do século XVI, vinha sendo trilhado por grupos de aventureiros litorâneos em busca das riquezas anunciadas pelos índios nativos.

Este processo exploratório iniciado a partir do nordeste da colônia, especificamente dos territórios baianos, propiciou o reconhecimento de boa parte do norte mineiro, sem contudo traduzir a ocupação efetiva destas terras.

A colonização propriamente dita foi desenvolvida de forma gradual, sendo os índios conduzidos para o interior a partir do avanço aleatório das boiadas que subiam o rio São Francisco e seus afluentes. A conquista do interior traduziu-se em um deslocamento não só de efetivos indígenas, fugindo à ganância dos colonizadores, como também de seguimentos menos favorecidos na busca de terras livres da tutela da metrópole.

Dentre as expedições mais importantes, devido aos resultados alcançados ou pelo volume de informações registradas sobre a região, destacaram-se as comandadas por Francisco Bruza Espinosa, Sebastião Fernandes Tourinho, Antônio Dias Adorno, Marcos de Azevedo e Fernão Dias Paes.

Francisco Bruza Espinosa (1554) embrenhou-se pelo sertão com doze brancos, incluindo dentre eles o padre Jesuíta João de Aspilcueta Navarro. Segundo este religioso, o grupo sertanista entrou naquele território à procura de pedras preciosas e de ouro. Partiu de Porto Seguro dirigindo-se para o Jequitinhonha, de onde seguiu rumo noroeste para a Serra Geral, atual Grão Mogol, chegando finalmente às margens do rio São Francisco onde assentaram uma aldeia “junto da qual passa um rio por nome Monail”.[6]

A expedição de Sebastião Fernandes Tourinho (1573) partiu em canoas de Porto Seguro alcançando o rio Doce, de onde retornou com notícias sobre pedras verdes. Tais descobertas iniciaram a lenda das esmeraldas que incentivou sertanistas ao longo das décadas que se seguiram a buscar o interior do país.[7]

Antônio Dias Adorno (1574), contando com cento e cinqüenta portugueses e quatrocentos índios, subiu pelo rio Caravelas descobrindo amostras de pedras verdes que, analisadas em Portugal, não interessaram à Coroa.[8] Parte desta expedição teria regressado pelo Jequitinhonha, sendo que um grupo chegou ao Jequiriça. Marcos de Azevedo, já no século XVII, seguindo o itinerário de Fernandes Tourinho, partiu do Espírito Santo, chegando ao rio Doce e a Barra do Suassuí. Depois de atravessar uma lagoa, penetrou finalmente na região das esmeraldas de onde retirou as pedras que enviou ao Rei.[9]

De todas as expedições que percorreram o território mineiro, a mais importante foi, sem dúvida alguma, a de Fernão Dias Paes.

Entusiasmado com as informações sobre os sertões das esmeraldas, o velho sertanista paulista organizou uma bandeira com o intuito de descobrir as riquezas do sertão de Sabarabuçu. Para esse fim, recebeu do Governador Geral a patente de Governador das Esmeraldas em 30 de outubro de 1672. Contando com a participação de vários familiares, dentre eles o filho Garcia Paes e o genro Borba Gato, além da presença do experiente sertanista Matias Cardoso de Almeida, a bandeira partiu de São Paulo em 21 de julho de 1674.

Por sete anos Fernão Dias percorreu os sertões , estabelecendo postos e plantando roças em diversos pontos, descobrindo finalmente as pedras que julgou serem as esmeraldas. Com esta certeza,  morreu de peste o velho sertanista  com grande parte de seus índios, às margens do rio das Velhas, quando se recolhia para Sumidouro.[10]                                


b. A colonização do Vale do rio Jequitinhonha



A região do Médio Jequitinhonha, trilhada pelas primeiras expedições, ficou esquecida a partir das descobertas auríferas e diamantíferas na região metalúrgica e no Alto Jequitinhonha, em parte pela falta de ouro ou diamante a explorar. Outro fator determinante deste abandono foi a proibição da Coroa, que preocupada com o descaminho das riquezas, contrabando e a grande migração para as minas, vedou a região utilizando-se da barreira natural das matas densas. A ligação com o litoral ficou restrita ao caminho novo que pelo sul levava ao Rio de Janeiro. Assim, as populações nativas do Médio Jequitinhonha reinaram absolutas nas matas até as primeiras décadas do século XIX.[11]

O Alto Jequitinhonha, que abrangia parte da Comarca do Serro Frio, parte de Minas Novas e a demarcação diamantina, foi ocupado efetivamente no século XVIII com os descobrimentos do ouro e diamante. Desde o início, a Coroa monopolizou a extração e o comércio dos diamantes punindo com o degredo os infratores.[12]

Em fins do século XVIII a decadência da mineração forçou a diversificação econômica. Garimpeiros e mineradores voltaram-se para a pecuária, para a lavoura de subsistência e de algodão ou simplesmente abandonaram a região do Alto Jequitinhonha, deslocando-se para a confluência dos rios Araçuaí e Jequitinhonha, região até então esquecida, aproveitando a amenização da intolerância administrativa.

A corrente migratória para o Médio Jequitinhonha à procura de riquezas ou terras para a agricultura iniciou a destruição das matas ocupadas pelos Botocudos. Ainda no século XVIII, o inconfidente José Pereira Freire de Moura, fugindo à prisão, refugiou-se na confluência do rio Araçuaí e Jequitinhonha, fundando o aldeamento de Lorena dos Tocoiós.[13]

No início do século XIX, em 1804, o Capitão-mor de Porto Seguro, João da Silva Santos com uma expedição composta de 66 pessoas, subiu o Rio Grande de Belmonte, de Belmonte a Tocoiós, distante 400 quilômetros, encontrando os índios Maxacali.

Diogo Pereira R. de Vasconcelos assim descreveu a expedição do Capitão-mor Santos :


“Do diário que tenho à mão de João da Silva Santos, Capitão-mor da Vila marítima de Belmonte, aos 15 graus e 5 minutos de latitude e aos 344 graus e 45 minutos de longitude, me informo da facilidade com que se pode navegar o rio grande de Belmonte, como ele lhe chama, ou Jequitinhonha, nome que se lhe dá na capitania de Minas. Começando sua derrota em o 1º de outubro de 1804 na foz daquele rio, chegou a 10 de novembro à barra do Araçuaí com 41 dias de viagem, incluídos neste número o das falhas que teve, já em razão de aproveitar seus mantimentos, já por outros motivos. Descrevendo circunstanciadamente sua derrota, assegura que da foz à serra de São Bruno, 66 milhas e meia, se pode navegar à vela; de São Bruno ao Salto Grande, 96 e meia milhas de barra, bem que trabalhosa, diz ele, não é insuperável a navegação, faz-se apenas preciso atravessar no Salto três quartos de léguas por terra, sem maiores dificuldades. Neste lugar ( entre o Salto e a barra de São Bruno), descobriram os antigos paulistas as minas de ouro da lagoa dourada, segundo as observações do hábil regente dos Tocoiós, José Pereira Freire. Todo o país, entre a serra de São Bruno e outra que corre ao norte, é habitado por patachós ou catachós, que em toda a costa de Porto Seguro e dos Ilhéus nos têm feito hostilidades. Também pela parte de oeste sustentam estes índios contínua guerra contra o botocudo. Vencem-se igualmente os riscos da navegação no lugar em que o ribeirão de São Miguel desemboca no rio Grande, ou Jequitinhonha, a 186 milhas da barra, até onde têm já  penetrado as patrulhas da guarda dos tocoiós. Deste ponto à barra do Araçuaí não achou maiores estorvos, sendo assim que afirma que, desde Belmonte até a aldeia de Lorena dos tocoiós,  um espaço de 271 e meia milhas, puderam ir 20 dias de viagem, logo se facilitem alguns passos mais perigosos; não menos assegura que as margens em geral prometem vantagens à agricultura e são aptas para criação dos gados. Avança, enfim, que a margem do sul admite uma estrada de carro de 80 léguas, contanto que se removam algumas dificuldades e que sempre se vão seguindo as picadas dos índios os, que atalham as voltas e rodeios do rio, especialmente da barra de São João para baixo. O maior perigo que considera nas hostilidades dos catachós, ao mesmo tempo que deixa a temer por esta parte, uma vez que vista sua relação da qual nos consta que, sendo por eles acometida sua bandeira com uma descarga de pólvora aos ares, os pôs em retirada. Menos temíveis inculta os botocudos, que sempre achou de paz nos encontros que com eles teve”[14].


O relatório do Capitão–mor de Porto Seguro determinou a construção do caminho pelo rio, que passou a ser utilizado para transporte de mercadorias e produtos entre Minas Novas e Belmonte.


Dois anos depois, em 1806, o Ouvidor de Porto Seguro, José Marcelino da Cunha, seguindo ordens do Governador da Bahia, Conde dos Arcos, viajou pelo Jequitinhonha visando o reconhecimento do território para um futuro projeto de ocupação e povoamento. Com esse intuito o Ouvidor instalou os quartéis de  Salto Grande e Arcos com o objetivo de garantir a navegação no rio e a defesa contra ataques indígenas. O primeiro, nas proximidades das corredeiras do Salto da Fumaça, o segundo em território baiano.

Subindo o rio Jequitinhonha, a expedição do Ouvidor José Marcelino chegou a Tocoiós onde encontrou com José Pereira Freire de Moura e parentes.

Um importante fator que contribuiu para a efetiva ocupação da região  foi o envolvimento da Coroa instigada pelos ministros interessados no controle da navegação dos rios do Sertão do Leste e motivada pelas constantes denúncias das “atrocidades” cometidas pelos Botocudos nos povoados e aldeamentos de índios aliados.

O Príncipe  D. João, em Carta Régia de 13 de maio de 1808, enviada ao capitão-general Pedro Maria Xavier de Ataide Melo, então governador da Capitania de Minas Gerais, declarou "guerra ofensiva e justa”, visando a destruição e destribalização dos índios.[15]

Para concretização deste intuito a própria Carta Régia determinou a instalação de seis divisões militares ao longo do rio Doce.

A colonização do rio Jequitinhonha teve um tratamento diferenciado devido às suas riquezas diamantíferas. Visando a preservação dos direitos sobre os descobrimentos, a Coroa, a partir de 1811 designou companhias de Dragões para guarnecerem a região.

A Sétima Divisão Militar, comandada pelo Alferes Julião Fernandes Leão se instalou na região em 29 de setembro de 1811 com sessenta soldados e alguns índios Maxacali do aldeamento de Lorena dos Tocoiós, fundando nas margens do rio Jequitinhonha o povoado de São Miguel (atual Jequitinhonha).

A Companhia da Sétima Divisão imediatamente iniciou o trabalho de construção de uma estrada rente à margem direita do rio, que partia do recém fundado povoado de São Miguel até a Vila de Belmonte na província baiana de Porto Seguro.[16]

A partir da construção da estrada, o Alferes Julião foi instalando quartéis ao longo do rio Jequitinhonha, embriões de futuros povoados e cidades como Itinga e Joaíma.

Conforme  sugestão do capitão-mor de Porto Seguro, o rio passou a ser utilizado para transporte de mercadorias entre Minas Novas e Belmonte.

Subiam o rio Jequitinhonha, transportados em canoas, sal e produtos raros. Belmonte recebia as produções mineiras: milho, algodão, toucinho, carne seca, dentre outros. O mencionado Quartel do Salto, instalado nas imediações da Cachoeira do Salto, assegurava esse comércio, impedindo o contrabando de ouro e diamante e os ataques dos índios.[17]

Abandonado pelos baianos em 1808, o Quartel do Salto foi ocupado pelo Alferes Julião cinco anos depois.

“A então denominada oficialmente Guerra Justa teve início efetivamente com a instalação da Sétima Divisão Militar, e teve também um aspecto fratricida, pois, como já foi mencionado, os Maxacali, além de empregados em obras públicas, na abertura de estradas, e como “interpretes ou línguas”, foram utilizados no combate aos Botocudos.”[18]                           

Sob a proteção dos quartéis iniciou-se a ocupação das matas da região. Por outro lado o governo provincial incentivou a instalação de grandes proprietários, permitindo que tivessem o monopólio na construção de estradas.

A instalação dos quartéis resultou no início do  processo de devastação da mata atlântica objetivando a utilização das terras para o plantio das lavouras e a destruição dos refúgios indígenas. Bastou menos de um século de ocupação para reduzir a cobertura vegetal a um décimo.[19]

O passo seguinte foi a completa extinção dos Botocudos e dos grupos como os Macuni, Panhame, Puri, Koropó e outros, através da destruição cultural, doenças e massacres.

Acossados, devido à destruição do seu “habitat”, os índios foram pouco a pouco se entregando à proteção dos colonos. O resultado desta submissão foi o abandono das antigas atividades como a caça e a pesca e a adoção da agricultura nos moldes impostos pelos colonos. Paralelamente, a diminuição do território aumentou as rivalidades tribais provocando guerras entre os índios, que só favoreceram aos colonos.

Apoiada nos quartéis, a colonização da região se deu inicialmente por duas vias:

do litoral, a partir de Belmonte subiram o rio colonos comerciantes que se instalaram pelas povoações ribeirinhas. Da nascente do rio desceram garimpeiros em busca de novas minas de diamante e lavradores em busca de terra.

No fim do século XIX o Médio Baixo Jequitinhonha recebeu uma segunda leva de migrantes provenientes da Bahia e das cidades mineiras do Alto Norte: Espinosa, Taiobeiras e Salinas.

Cézar Moreno C. Tavares, cita as três origens e sentidos do processo migratório para a região:

“... Primeiro, os migrantes que desceram da região mineradora e penetraram a região através de Araçuaí ,e , depois, desceram o Rio em sentido ao Baixo Jequitinhonha, passando pelo Médio. Segundo, aqueles que foram subindo o Rio Jequitinhonha, oriundos do litoral baiano, na foz do Rio Belmonte, pois o governo baiano vendo a importância do região e quantidade de terras férteis e devolutas, que antes pertenciam aos índios, não pensou muito, cuidou logo de incentivar os colonos a partirem para estas terras novas prontas para a agricultura, essa frente tinha o caráter agropecuário. Por último, foi a migração sertaneja também baiana, que, fugindo das secas no sertão baiano no final do século XIX, se pôs em marcha na direção do Baixo Jequitinhonha, passando por Pedra Azul (antiga Fortaleza), chegando as barrancas do Rio Jequitinhonha, trazendo criadores de gado para formarem as fazendas e faiscadores à procura de ouro e diamantes...”[20]

Considerado por muito tempo como região de grande riqueza, fartura e belezas naturais, o Vale do Jequitinhonha apresenta-se atualmente empobrecido devido à exploração desenfreada do passado. O Médio Jequitinhonha onde se situa o município de Salto da Divisa apresenta o mais alto índice de êxodo rural do vale.  Seu potencial cultural e natural ainda esperam a devida valorização.

Ainda predominam como atividades econômicas do vale do Jequitinhonha, a pecuária, lavoura de subsistência e a mineração. Os índios desapareceram violentamente no processo colonizatório imposto à região. Das tribos guerreiras que povoavam os Sertões do Leste, sobrevivem alguns remanescentes das tribos Maxacali, Patachó e Krenak, nos vales do rio Doce e Mucuri.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



- Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas para sua conservação/ Cláudia M. R.  Costa, ... [ et sl.] organizadores. – Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 1998.


- BRANDÃO, Kildaire de Lima, SILVA , Paulo Roberto De Lauro. Levantamento do Pontencial  Ecoturístico e Paisagístico do Tombo da Fumaça.  Teófilo Otoni: IEF, 1999.


 - CALMON, Pedro. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos. s.d.-1º CENSO Cultural de   Minas Gerais: guia da região Jequitinhonha / Mucuri. Belo Horizonte: Secretaria do Estado da Cultura, 1995. p. 110.


- FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do

       Brasil. Século XVI-XVII – XVIII. São Paulo:  Indústria Grafica Siqueira S / A .1953.

- FREITAS, Mário Martins de. Bacia do Jequitinhonha: Estudos histórico, econômico, social e político dos Municípios da Bacia . In. MINAS GERAIS : Diário do Executivo. Belo Horizonte :Imprensa Oficial.  1960/1961. 15 mai, 14 p. ;18 mai, -11/12 p. ; 29 mai, -15/16 p.; 9 jun, -17/18 p.; 11 de jun., -13/14 p.; 12 jun., -15/16 p.; 16 jun., -21/22 p.; 19 jun., ; -15/16 p.; 23 jun.,- 9/10 p.; 26 jun., -15/16 p.;2 jul., ; -11/12 p.; 8 jul.,- 15/16 p.; 10 jul.,- 9/10 16  jul., - 9/10 p.; 23 jul., - 14 p.; 29 jul., - 19/20 p.; 26 ago., - 15/16p.; 25 ao, 11p.; 30 set. 8 p.; 2  out.-13 p.; 30 out. -12 p.; 31 jan. -11/12/13 p.; 1 fev. -9/10 p.; 2 fev.- 4/5/6 p.


- GUIMARÃES, Alisou P. Estudo Geográfico do Vale do Médio Jequitinhonha. Belo Horizonte: Imprensa Oficial , 1960.


- EMPRESA Petroquímicas Do Brasil S. A. AHE  Itapebi – Estudos de Impacto Ambiental – EIA.


 - POHL, Johann Emanuel. Viagem no interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1996.


 - PRADO JR. , Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 5ª ed. , São Paulo: Brasiliense, 1981.


 - SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem pelas províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. Belo   Horizonte: Itatiaia, 1975.


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- SANTOS, Rafael Souza. Vale do Jequitinhonha temas e problemas. Belo Horizonte: Imprensa       Oficial, 1971.


 - SOL, Otelino Ferreira. Salto da Divisa e outras considerações. Belo Horizonte: UFMG, 1981.


- TAVARES, Cézar Moreno Conceição. A colonização e o povoamento do Baixo

       Jequitinhonha em Minas Gerais, no séc. XIX : a guerra contra os índios. BeloHorizonte: PUC- MG, 1998.


 - VASCONCELOS, Diogo Pereira Ribeiro de. Breve descrição geográfica, física e política

         da capitania de Minas Gerais. Estudo crítico por Carla  Maria Junho Anastasia;. transcrição e pesquisa histórica por Carla Maria Junho Anastasia e Marcelo Cândido  da Silva. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos

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- VASCONCELOS, Diogo de. História Média de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.   

           

 - WIED-NEUWIED, Maximiliano Philipp, Príncipe Von. Viagem ao Brasil. São Paulo: Nacional,  1940.








[1] VASCONCELOS, 1974. p. 124.
[2] Idem, 1974. p.131,132.
[3] TAVARES, 1998. p.34.
[4] PRADO JÚNIOR, 1981. p.49
[5]TAVARES, 1998. p.36, 37.
[6] VASCONCELOS, 1974. p.51,55.
[7] CALMON, 1971. V.1.  p. 313.
[8] Idem, 1971. V. 1. p. 313, 314.
[9] VASCONCELOS, 1974. p. 66, 67.
[10] FRANCO, 1940. V. 181, Cap. 12, 13
[11] PRADO JÚNIOR, 1981.  p.76.
[12] TAVARES, 1998. p.19
[13] Idem, 1998. p. 26.
[14] VASCONCELOS, 1994. p. 150, 151.
[15] TAVARES, 1998. p. 27.
[16] TAVARES, 1998. p. 27, 28.
[17] GUIMARÃES, 1960. p.92.
[18] TAVARES, 1998. p.30
[19] TAVARES, 1998. p. 31 a 33.
[20] TAVARES, 1998. p. 39 a 63.
[21] SANTOS, 1997. p. 2.
[22] SOL, 1981. p. 15
[23] SALTO da Divisa. Enciclopédia dos Municípios brasileiros, 1959. P. 114.
[24] SOL, 1981. p. 16.
[25] Idem, nota n.º 29
[26] TAVARES, 1998. p. 30.
[27] WIED-NEUWIED, 1940. p. 251.
[28] SANIT-HILAIRE, 1975.
[29] WIED-NEUWIED, 1940. p. 236.
[30] POHL, 1976. p. 350.
[31] WIED-NEUWIED, 1940. p. 242.
[32] POHL, 1976. p. 350.
[33]SOL, 1981.p. 18
[34] SOL, 1981. p. 22.
[35] TAVARES,1998. p. 70.
[36] SOL, 1981. p. 28
[37] SANTOS, 1997. p. 3.
[38] SALTO da Divisa, p. cit. p. 114.
[39] SANTOS, 1997. p.10.
[40] 1º CENSO cultural ... ,1995. p. 110.
[41] WIED NEUWIED, 1940. P. 236.
[42] Segundo o príncipe Maximiliano, existiam ao longo do rio, os Quarteis dos Arcos, Estreito, Vigia, S. Miguel e Tucaios de Lorena.(WIED NEUWIED, 1940. p.227.)
[43] POHL, 1976. p. 351.
[44] BIODIVERSIDADE, 1998. p. 46
[45] BIODIVERSIDADE, 1998. p. 46
[46] AHE ITAPEBI – Estudo de impacto ambiental . 1996.  p.7/2.
[47] AHE ITAPEBI – Estudo de Impacto Ambiental . 1996. p. 4/28.
[48] CARTA ABERTA À POPULAÇÃO. 1999.
[49] Biodiversidade em Minas Gerais, 1998. p.59.
[50] BRANDÃO,1999. p. 8.

A OCUPAÇÃO DO VALE DO JEQUITINHONHA


Autor: Carlos Henrique Rangel

 

 

1. OS ÍNDIOS


 

 

Os primeiros habitantes dos sertões de Araçuaí e Jequitinhonha foram os índios Tupinaqui, expulsos para o litoral pelos Aimoré.[1] Estes, oriundos do ocidente, dominaram a região do Mucuri, Jequitinhonha e Araçuaí, chegando a descer ao litoral de Porto Seguro e Ilhéus para saquear as colônias portuguesas. Combatidos por Mém de Sá e em seguida pelos Tapajós, dispersaram pelos sertões em pequenos grupos, sendo mais tarde denominados genericamente como Botocudos devido ao círculo de pau que usavam no lábio inferior.[2]

 

“A primeira denominação que os Botocudos receberam foi de Tapuio, em oposição aos Tupi que habitavam o litoral da Bahia, e com os quais os primeiros colonizadores  tiveram contato. Mais tarde,  vieram Aimoré, Guerén, Cren, kren, Ambaré, Guaimoré, Embaré, Kraknum, Endrejerecnum, Engrekmun, Botocudo. No final  do século XIX, predominaram as auto denominações derivadas dos nomes dos “capitães”( chefes de tribos ou grupos indígenas, assim chamados pelos portugueses) , de acidentes geográficos ou dialetos: Naknenuk, Karkmun, Nakrehé, Etwet, Takruk-Krak, Gut-Krak, Nep-Nep, Jiporok, Pojixá, Minajirum e Borun (homens verdadeiros). Wied registrou o termo Engerecknung ou Endjerkmun (povos corredores)  no Baixo Jequitinhonha.”[3]

 

Esses índios ocupavam as florestas de mata atlântica dos Sertões do Leste formados pelos vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do rio Doce e se autodenominavam Borun. Possuíam estatura mediana, cor de bronze e pintavam o corpo de preto e vermelho. Os cabelos e sobrancelhas eram raspados, mantendo ao redor da cabeça apenas uma espécie de penacho.

 

Das florestas do Mucuri e Jequitinhonha, de tempos em tempos, desciam ao litoral para destroçar as povoações. Caio Prado Júnior sugere que estas “incursões intermitentes” que permitiam um certo descanso aos estabelecimentos coloniais do litoral sul da Bahia e do Espírito Santo se deviam ao crescimento vegetativo das nações indígenas que, com a falta de recursos do seu habitat,  debandavam para o litoral. O morticínio advindo das incursões restabelecia o equilíbrio.[4]

 

Nômades, os Borun viviam em grupos, subgrupos, bandos ou famílias, devido às necessidades de sobrevivência ou disputas pelo poder. São descritos como antropófagos, supersticiosos, sem governo ou religião. A liderança era atribuída aos guerreiros mais habilidosos na caça, pesca e coleta. [5]

 

Na região de Salto da Divisa nas primeiras décadas dos oitocentos viviam perambulando entre os quartéis do Salto e do Arco a horda do chefe Kerengnatnuk, conhecido pelos soldados como “Capitão June”.

 

O contato com os colonos e a destruição do habitat vai dizimar estas tribos ao longo do tempo.

 

2. A COLONIZAÇÃO

 

 

 a . Primeiras Expedições


 

O território compreendido atualmente pelo Estado de Minas Gerais, desde a segunda metade do século XVI, vinha sendo trilhado por grupos de aventureiros litorâneos em busca das riquezas anunciadas pelos índios nativos.

 

Este processo exploratório iniciado a partir do nordeste da colônia, especificamente dos territórios baianos, propiciou o reconhecimento de boa parte do norte mineiro, sem contudo traduzir a ocupação efetiva destas terras.

 

A colonização propriamente dita foi desenvolvida de forma gradual, sendo os índios conduzidos para o interior a partir do avanço aleatório das boiadas que subiam o rio São Francisco e seus afluentes. A conquista do interior traduziu-se em um deslocamento não só de efetivos indígenas, fugindo à ganância dos colonizadores, como também de seguimentos menos favorecidos na busca de terras livres da tutela da metrópole.

 

Dentre as expedições mais importantes, devido aos resultados alcançados ou pelo volume de informações registradas sobre a região, destacaram-se as comandadas por Francisco Bruza Espinosa, Sebastião Fernandes Tourinho, Antônio Dias Adorno, Marcos de Azevedo e Fernão Dias Paes.

 

Francisco Bruza Espinosa (1554) embrenhou-se pelo sertão com doze brancos, incluindo dentre eles o padre Jesuíta João de Aspilcueta Navarro. Segundo este religioso, o grupo sertanista entrou naquele território à procura de pedras preciosas e de ouro. Partiu de Porto Seguro dirigindo-se para o Jequitinhonha, de onde seguiu rumo noroeste para a Serra Geral, atual Grão Mogol, chegando finalmente às margens do rio São Francisco onde assentaram uma aldeia “junto da qual passa um rio por nome Monail”.[6]

 

A expedição de Sebastião Fernandes Tourinho (1573) partiu em canoas de Porto Seguro alcançando o rio Doce, de onde retornou com notícias sobre pedras verdes. Tais descobertas iniciaram a lenda das esmeraldas que incentivou sertanistas ao longo das décadas que se seguiram a buscar o interior do país.[7]

 

Antônio Dias Adorno (1574), contando com cento e cinqüenta portugueses e quatrocentos índios, subiu pelo rio Caravelas descobrindo amostras de pedras verdes que, analisadas em Portugal, não interessaram à Coroa.[8] Parte desta expedição teria regressado pelo Jequitinhonha, sendo que um grupo chegou ao Jequiriça. Marcos de Azevedo, já no século XVII, seguindo o itinerário de Fernandes Tourinho, partiu do Espírito Santo, chegando ao rio Doce e a Barra do Suassuí. Depois de atravessar uma lagoa, penetrou finalmente na região das esmeraldas de onde retirou as pedras que enviou ao Rei.[9]

 

De todas as expedições que percorreram o território mineiro, a mais importante foi, sem dúvida alguma, a de Fernão Dias Paes.

 

Entusiasmado com as informações sobre os sertões das esmeraldas, o velho sertanista paulista organizou uma bandeira com o intuito de descobrir as riquezas do sertão de Sabarabuçu. Para esse fim, recebeu do Governador Geral a patente de Governador das Esmeraldas em 30 de outubro de 1672. Contando com a participação de vários familiares, dentre eles o filho Garcia Paes e o genro Borba Gato, além da presença do experiente sertanista Matias Cardoso de Almeida, a bandeira partiu de São Paulo em 21 de julho de 1674.

 

Por sete anos Fernão Dias percorreu os sertões , estabelecendo postos e plantando roças em diversos pontos, descobrindo finalmente as pedras que julgou serem as esmeraldas. Com esta certeza,  morreu de peste o velho sertanista  com grande parte de seus índios, às margens do rio das Velhas, quando se recolhia para Sumidouro.[10]                                

 

 

b. A colonização do Vale do rio Jequitinhonha


 

A região do Médio Jequitinhonha, trilhada pelas primeiras expedições, ficou esquecida a partir das descobertas auríferas e diamantíferas na região metalúrgica e no Alto Jequitinhonha, em parte pela falta de ouro ou diamante a explorar. Outro fator determinante deste abandono foi a proibição da Coroa, que preocupada com o descaminho das riquezas, contrabando e a grande migração para as minas, vedou a região utilizando-se da barreira natural das matas densas. A ligação com o litoral ficou restrita ao caminho novo que pelo sul levava ao Rio de Janeiro. Assim, as populações nativas do Médio Jequitinhonha reinaram absolutas nas matas até as primeiras décadas do século XIX.[11]

 

O Alto Jequitinhonha, que abrangia parte da Comarca do Serro Frio, parte de Minas Novas e a demarcação diamantina, foi ocupado efetivamente no século XVIII com os descobrimentos do ouro e diamante. Desde o início, a Coroa monopolizou a extração e o comércio dos diamantes punindo com o degredo os infratores.[12]

 

Em fins do século XVIII a decadência da mineração forçou a diversificação econômica. Garimpeiros e mineradores voltaram-se para a pecuária, para a lavoura de subsistência e de algodão ou simplesmente abandonaram a região do Alto Jequitinhonha, deslocando-se para a confluência dos rios Araçuaí e Jequitinhonha, região até então esquecida, aproveitando a amenização da intolerância administrativa.

 

A corrente migratória para o Médio Jequitinhonha à procura de riquezas ou terras para a agricultura iniciou a destruição das matas ocupadas pelos Botocudos. Ainda no século XVIII, o inconfidente José Pereira Freire de Moura, fugindo à prisão, refugiou-se na confluência do rio Araçuaí e Jequitinhonha, fundando o aldeamento de Lorena dos Tocoiós.[13]

 

No início do século XIX, em 1804, o Capitão-mor de Porto Seguro, João da Silva Santos com uma expedição composta de 66 pessoas, subiu o Rio Grande de Belmonte, de Belmonte a Tocoiós, distante 400 quilômetros, encontrando os índios Maxacali.

 

Diogo Pereira R. de Vasconcelos assim descreveu a expedição do Capitão-mor Santos :

 

“Do diário que tenho à mão de João da Silva Santos, Capitão-mor da Vila marítima de Belmonte, aos 15 graus e 5 minutos de latitude e aos 344 graus e 45 minutos de longitude, me informo da facilidade com que se pode navegar o rio grande de Belmonte, como ele lhe chama, ou Jequitinhonha, nome que se lhe dá na capitania de Minas. Começando sua derrota em o 1º de outubro de 1804 na foz daquele rio, chegou a 10 de novembro à barra do Araçuaí com 41 dias de viagem, incluídos neste número o das falhas que teve, já em razão de aproveitar seus mantimentos, já por outros motivos. Descrevendo circunstanciadamente sua derrota, assegura que da foz à serra de São Bruno, 66 milhas e meia, se pode navegar à vela; de São Bruno ao Salto Grande, 96 e meia milhas de barra, bem que trabalhosa, diz ele, não é insuperável a navegação, faz-se apenas preciso atravessar no Salto três quartos de léguas por terra, sem maiores dificuldades. Neste lugar ( entre o Salto e a barra de São Bruno), descobriram os antigos paulistas as minas de ouro da lagoa dourada, segundo as observações do hábil regente dos Tocoiós, José Pereira Freire. Todo o país, entre a serra de São Bruno e outra que corre ao norte, é habitado por patachós ou catachós, que em toda a costa de Porto Seguro e dos Ilhéus nos têm feito hostilidades. Também pela parte de oeste sustentam estes índios contínua guerra contra o botocudo. Vencem-se igualmente os riscos da navegação no lugar em que o ribeirão de São Miguel desemboca no rio Grande, ou Jequitinhonha, a 186 milhas da barra, até onde têm já  penetrado as patrulhas da guarda dos tocoiós. Deste ponto à barra do Araçuaí não achou maiores estorvos, sendo assim que afirma que, desde Belmonte até a aldeia de Lorena dos tocoiós,  um espaço de 271 e meia milhas, puderam ir 20 dias de viagem, logo se facilitem alguns passos mais perigosos; não menos assegura que as margens em geral prometem vantagens à agricultura e são aptas para criação dos gados. Avança, enfim, que a margem do sul admite uma estrada de carro de 80 léguas, contanto que se removam algumas dificuldades e que sempre se vão seguindo as picadas dos índios os, que atalham as voltas e rodeios do rio, especialmente da barra de São João para baixo. O maior perigo que considera nas hostilidades dos catachós, ao mesmo tempo que deixa a temer por esta parte, uma vez que vista sua relação da qual nos consta que, sendo por eles acometida sua bandeira com uma descarga de pólvora aos ares, os pôs em retirada. Menos temíveis inculta os botocudos, que sempre achou de paz nos encontros que com eles teve”[14].

 

O relatório do Capitão–mor de Porto Seguro determinou a construção do caminho pelo rio, que passou a ser utilizado para transporte de mercadorias e produtos entre Minas Novas e Belmonte.

 

Dois anos depois, em 1806, o Ouvidor de Porto Seguro, José Marcelino da Cunha, seguindo ordens do Governador da Bahia, Conde dos Arcos, viajou pelo Jequitinhonha visando o reconhecimento do território para um futuro projeto de ocupação e povoamento. Com esse intuito o Ouvidor instalou os quartéis de  Salto Grande e Arcos com o objetivo de garantir a navegação no rio e a defesa contra ataques indígenas. O primeiro, nas proximidades das corredeiras do Salto da Fumaça, o segundo em território baiano.

 

Subindo o rio Jequitinhonha, a expedição do Ouvidor José Marcelino chegou a Tocoiós onde encontrou com José Pereira Freire de Moura e parentes.

 

Um importante fator que contribuiu para a efetiva ocupação da região  foi o envolvimento da Coroa instigada pelos ministros interessados no controle da navegação dos rios do Sertão do Leste e motivada pelas constantes denúncias das “atrocidades” cometidas pelos Botocudos nos povoados e aldeamentos de índios aliados.

 

O Príncipe  D. João, em Carta Régia de 13 de maio de 1808, enviada ao capitão-general Pedro Maria Xavier de Ataide Melo, então governador da Capitania de Minas Gerais, declarou "guerra ofensiva e justa”, visando a destruição e destribalização dos índios.[15]

 

Para concretização deste intuito a própria Carta Régia determinou a instalação de seis divisões militares ao longo do rio Doce.

 

A colonização do rio Jequitinhonha teve um tratamento diferenciado devido às suas riquezas diamantíferas. Visando a preservação dos direitos sobre os descobrimentos, a Coroa, a partir de 1811 designou companhias de Dragões para guarnecerem a região.

 

A Sétima Divisão Militar, comandada pelo Alferes Julião Fernandes Leão se instalou na região em 29 de setembro de 1811 com sessenta soldados e alguns índios Maxacali do aldeamento de Lorena dos Tocoiós, fundando nas margens do rio Jequitinhonha o povoado de São Miguel (atual Jequitinhonha).

 

A Companhia da Sétima Divisão imediatamente iniciou o trabalho de construção de uma estrada rente à margem direita do rio, que partia do recém fundado povoado de São Miguel até a Vila de Belmonte na província baiana de Porto Seguro.[16]

 

A partir da construção da estrada, o Alferes Julião foi instalando quartéis ao longo do rio Jequitinhonha, embriões de futuros povoados e cidades como Itinga e Joaíma.

 

Conforme  sugestão do capitão-mor de Porto Seguro, o rio passou a ser utilizado para transporte de mercadorias entre Minas Novas e Belmonte.

 

Subiam o rio Jequitinhonha, transportados em canoas, sal e produtos raros. Belmonte recebia as produções mineiras: milho, algodão, toucinho, carne seca, dentre outros. O mencionado Quartel do Salto, instalado nas imediações da Cachoeira do Salto, assegurava esse comércio, impedindo o contrabando de ouro e diamante e os ataques dos índios.[17]

 

Abandonado pelos baianos em 1808, o Quartel do Salto foi ocupado pelo Alferes Julião cinco anos depois.

 

“A então denominada oficialmente Guerra Justa teve início efetivamente com a instalação da Sétima Divisão Militar, e teve também um aspecto fratricida, pois, como já foi mencionado, os Maxacali, além de empregados em obras públicas, na abertura de estradas, e como “interpretes ou línguas”, foram utilizados no combate aos Botocudos.”[18]

                                                                      

Sob a proteção dos quartéis iniciou-se a ocupação das matas da região. Por outro lado o governo provincial incentivou a instalação de grandes proprietários, permitindo que tivessem o monopólio na construção de estradas.

 

A instalação dos quartéis resultou no início do  processo de devastação da mata atlântica objetivando a utilização das terras para o plantio das lavouras e a destruição dos refúgios indígenas. Bastou menos de um século de ocupação para reduzir a cobertura vegetal a um décimo.[19]

 

O passo seguinte foi a completa extinção dos Botocudos e dos grupos como os Macuni, Panhame, Puri, Koropó e outros, através da destruição cultural, doenças e massacres.

 

Acossados, devido à destruição do seu “habitat”, os índios foram pouco a pouco se entregando à proteção dos colonos. O resultado desta submissão foi o abandono das antigas atividades como a caça e a pesca e a adoção da agricultura nos moldes impostos pelos colonos. Paralelamente, a diminuição do território aumentou as rivalidades tribais provocando guerras entre os índios, que só favoreceram aos colonos.

 

Apoiada nos quartéis, a colonização da região se deu inicialmente por duas vias:

do litoral, a partir de Belmonte subiram o rio colonos comerciantes que se instalaram pelas povoações ribeirinhas. Da nascente do rio desceram garimpeiros em busca de novas minas de diamante e lavradores em busca de terra.

 

No fim do século XIX o Médio Baixo Jequitinhonha recebeu uma segunda leva de migrantes provenientes da Bahia e das cidades mineiras do Alto Norte: Espinosa, Taiobeiras e Salinas.

 

Cézar Moreno C. Tavares, cita as três origens e sentidos do processo migratório para a região:

 

“... Primeiro, os migrantes que desceram da região mineradora e penetraram a região através de Araçuaí ,e , depois, desceram o Rio em sentido ao Baixo Jequitinhonha, passando pelo Médio. Segundo, aqueles que foram subindo o Rio Jequitinhonha, oriundos do litoral baiano, na foz do Rio Belmonte, pois o governo baiano vendo a importância do região e quantidade de terras férteis e devolutas, que antes pertenciam aos índios, não pensou muito, cuidou logo de incentivar os colonos a partirem para estas terras novas prontas para a agricultura, essa frente tinha o caráter agropecuário. Por último, foi a migração sertaneja também baiana, que, fugindo das secas no sertão baiano no final do século XIX, se pôs em marcha na direção do Baixo Jequitinhonha, passando por Pedra Azul (antiga Fortaleza), chegando as barrancas do Rio Jequitinhonha, trazendo criadores de gado para formarem as fazendas e faiscadores à procura de ouro e diamantes...”[20]

 

Considerado por muito tempo como região de grande riqueza, fartura e belezas naturais, o Vale do Jequitinhonha apresenta-se atualmente empobrecido devido à exploração desenfreada do passado. O Médio Jequitinhonha onde se situa o município de Salto da Divisa apresenta o mais alto índice de êxodo rural do vale.  Seu potencial cultural e natural ainda esperam a devida valorização.

 

Ainda predominam como atividades econômicas do vale do Jequitinhonha, a pecuária, lavoura de subsistência e a mineração. Os índios desapareceram violentamente no processo colonizatório imposto à região. Das tribos guerreiras que povoavam os Sertões do Leste, sobrevivem alguns remanescentes das tribos Maxacali, Patachó e Krenak, nos vales do rio Doce e Mucuri.

 

 

 

C - SALTO DA DIVISA – HISTÓRICO DO MUNICÍPIO

 

 

Salto da Divisa situa-se  na microrregião pastoril de Almenara com área  de 1334 km2.  Limita-se ao norte com Jordânia (MG) e Itamarantim (BA), ao leste com Itapebi e Itagimirim (BA) e ao oeste com Jacinto (MG).


 

Os primeiros habitantes de Salto da Divisa foram os índios remanescentes da tribo dos Botocudos, denominação atribuída devido ao uso de botoques de madeira trespassando o lábio inferior e as orelhas.[21]

 

O município integra-se à região abrangida pelo vale do Jequitinhonha, caracterizado por dois momentos de povoação branca nos primórdios da colonização. O primeiro momento remete aos séculos XVI e XVII, tendo a presença dos exploradores: Espinosa, Sebastião Fernandes Tourinho, Dias Adorno, Fernão Dias Pais Leme, que à procura de pedras verdes, chegaram até às proximidades do rio Araçuaí.[22]

 

O segundo momento constitui-se pela transformação do rio Jequitinhonha em via de navegação, para o tráfego de víveres e viajantes, entre os quais muitos contrabandistas de diamantes e ouro. Esse fator levou o governo da província da Bahia a instalar um posto policial  na localidade que se denominou Quartel do Salto. Foi em torno desse quartel que a partir de 1808, surgiu o  povoado  que recebeu o nome de Salto Grande.

 

Nas suas imediações, o transporte de  mercadorias e viajantes era feito margeando-se o curso do rio por terra, desde que nas proximidades do quartel a navegação do rio era inviável, devido ao “Salto”, queda d’água de grande importância do rio Jequitinhonha, na divisa da capitania de Minas com Bahia,  que  deu a denominação ao Quartel.[23]

 

“Em Salto Grande, dada a existência de um trecho encachoeirado do rio, o carregamento das canoas era transportado por tropas, dos portos de cima, Cruz, portão e porto de areia, para o porto do meio.”[24]

 

 

Mais tarde o quartel foi abandonado pelo regimento baiano. Sabendo desse abandono, em 1813, as autoridades mineiras incumbiram o Alferes Julião Fernandes Leão da ocupação do quartel, o que possibilitou a abertura de uma estrada à margem direita do Jequitinhonha, entre Salto Grande e São Miguel.[25]

 

A ocupação do quartel pelas autoridades mineiras determinou a ligação administrativa da região a Minas, através de Minas Novas (antiga Vila do Fanado). Em 1811, o Alferes Julião já havia instalado o Quartel de São Miguel, delineando a povoação de São Miguel, atual Jequitinhonha.

 

Esses dois quartéis instalados pelo Alferes “serviam para guarnecer o rio para impedir o contrabando de ouro e diamante; combater, aldear e “civilizar” os índios Botocudo”[26].

 

O Príncipe Maximiliano que esteve no Brasil entre os anos de 1815 a 1817, conheceu o Quartel dos Arcos e o Quartel de Salto, quando de sua viagem pelo Rio Grande de Belmonte.

 

“O Quartel do Salto fica à margem do rio (Belmonte), num trecho mais largo do Vale, onde, estando baixo o nível d’água, numa rocha nua e plana emergia, orlando de ambos os lados a corrente estreita. As construções são de barro, cobertas com grossas e compridas placas da casca do “pao d’arco”. O comandante, um cabo (oficial subalterno) homem de cor, recebeu-me bem, dando-me um quarto num dos edifícios,. Tinha somente dois soldados consigo, o resto partira em canoas para Minas; todos os quartos vazios estavam ocupados pelos botocudos, a quem se permitia habita-los no intuito de conservar-lhes as bôas disposições”.[27]

 

 

Através dos relatos de viajantes (Saint-Hilaire[28], Wied[29], Pohl [30]) que passaram pela região abrangida pelo rio Grande Belmonte, compreende-se como os índios Botocudos do Belmonte conheciam bem as matas e a região, pois eram hábeis caçadores e grandes conhecedores de plantas e ervas; sem contar que superavam os obstáculos naturais em áreas de difícil acesso. Os brancos (soldados, viajantes e aventureiros) buscavam uma aproximação com eles, para melhor conhecer e facilitar a vida dos quartéis.

 

Essa relação de troca e aprendizado pode ser entendida pela localização isolada dos quartéis, o difícil acesso e a manutenção dos caminhos. A criatividade e sabedoria dos índios tornavam-se imprescindíveis para uma melhor relação com uma natureza extremamente difícil.

 

Os Botocudos “aprenderam por experiência própria, que nos “quartéis” os mantimentos são às vezes parcos, motivo pelo qual alguns dêles fizeram plantações “[31].

 

O viajante João Emanuel Pohl, mineralogista, médico e botânico que esteve no Brasil entre 1817 e 1821, no seu percurso pelo rio Jequitinhonha discorreu sobre o que presenciou no Quartel de Salto Grande:

 

 “Salto Grande forma os limites da capitania de Porto Seguro. É edificado sobre uma pequena elevação, próximo à margem do rio. O lugar é insignificante e consta apenas da casinha coberta de telha do cirurgião- Ajudante Cunha, onde ficamos, e quatro pequenas cabanas de palha, que constituem  o chamado quartel, habitação dos soldados aqui estacionados, dos quais só havia três. Todavia estavam em construção na margem do rio, dois armazéns de sal cobertos de telha”.[32]

 

 

Pela Lei n.º 185 de 4 de abril de 1840 o povoado foi elevado a distrito de paz, subordinado a Minas Novas, recebendo a denominação de São Sebastião do Salto Grande. Neste período, o comerciante Carlos José Esteves, detentor do monopólio de transporte de cargas e do comércio de  sal e cereais,  foi o grande empreendedor do povoado construindo um casarão no Porto da Cruz  e várias casas e armazéns na Rua de Baixo.

 

Ainda na primeira metade do século XIX, foram construídos entre a Rua de Baixo e o Porto de Areia, três calçadões, espécie de cais, que facilitavam o transporte de mercadorias, protegiam a povoação contra enchentes e serviam de base para construção de armazéns.[33] Atualmente existem ruínas de apenas um destes calçadões.

 

No ano de 1870, o Distrito de Salto integrou-se ao município de Araçuaí. Nesta época, Salto e Araçuaí em Minas Gerais e Belmonte na Bahia, eram os principais centros comerciais do rio Jequitinhonha.[34] No final dos oitocentos, Salto possuía 1.776 habitantes.[35]

 

O século XX assistiu o declínio da navegação no rio Jequitinhonha, principalmente após a construção da Estrada de Ferro Bahia – Minas, que facilitou o transporte de mercadorias entre dois Estados. A cidade de Araçuaí, antes um grande entreposto comercial do nordeste de Minas, teve sua importância reduzida. Salto substituiu gradativamente o comércio e a lavoura pela pecuária.

 

Em 1913, Salto passou a fazer parte do município de Jequitinhonha, então criado. Pertenceu em seguida aos municípios de Almenara e de Jacinto.

 

Na década de 20, os grandes latifundiários e suas boiadas ocuparam as matas do distrito de Salto e conviveram  com as roças de milho, arroz, mandioca, feijão e cana de açúcar. O surto de progresso se refletiu no aumento da população incentivando o comércio e a construção de armazéns.

 

“O comércio através de canoas pelo Rio Jequitinhonha, de Salto a Pedra Branca (hoje Itapebi) e a Belmonte ganhou notável impulso. Salto passou a produzir e a exportar cereais, carne, toucinho, peles, poaia, recebendo em troca, do litoral, via Belmonte, sal, querosene, bebidas e produtos manufaturados. Ainda não havia estrada de rodagem. As tropas de burros eram o único meio de transporte entre Salto e localidades vizinhas. Dezenas de animais carregados entravam e saíam de Salto todos os dias. Com os seus cincerros, bonecas e penachos à cabeça as tropas davam à localidade um colorido especial. Toda cidade do interior, em sua história, deve ter experimentado coisa semelhante.”[36]

 

 

Pelo decreto-lei n.º 1.058 de 31 de dezembro de 1943, Salto Grande passou a pertencer ao recem-criado município de Jacinto.[37]

 

Em 27 de dezembro de 1948, pela  Lei n.º 336, Salto Grande é  elevado à categoria de município com a denominação atual .[38]

 

A pecuária ainda é preponderante, caracterizando o município como grande criador e exportador de gado bovino. A criação de equinos, suínos e muares acompanham essa atividade. Além disso, Salto da Divisa sobrevive através do fundo de participação dos Municípios, da pecuária extensiva e do comércio varejista. A mão-de-obra é locada no campo, na administração pública e no comércio.[39]

 

Atualmente a população de Salto da Divisa soma 5.408 habitantes na área urbana e  2.380 habitantes na área rural.[40]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

D – AS CACHOEIRAS DO TOMBO DA FUMAÇA

 

 

Situado na divisa entre os Estados de Minas Gerais e Bahia, o conjunto de quedas denominadas Cachoeiras do Tombo da Fumaça determinou a ocupação da região devido ao entrave que significou à navegação e transporte de mercadorias.

 

Nos primeiros anos do século XIX,  o Ouvidor  de Porto Seguro instalou um Quartel nas imediações do Salto com o intuito de garantir a ocupação e navegação do rio Jequitinhonha bem como  inibir o contrabando  e ataques indígenas. Segundo o naturalista Maximiliano, príncipe de Wied Von Neuwied, o primeiro destacamento instalado em Salto era formado por cerca de sessenta homens. Devido ao descontentamento dos soldados indígenas, o destacamento foi transferido para o Quartel dos Arcos na ilha de Cachoeirinha (Bahia).

 

O Quartel do Salto foi então ocupado pelo Alferes Julião (comandante da Sétima Divisão)com mais dez  a doze homens. [41]

 

A julgar pelas informações dos viajantes, os índios da região relacionavam-se bem com os poucos soldados do Quartel. Nas primeiras décadas do século XIX, a horda do chefe Kerengnatnuk, conhecido por “Capitão June”, vivia  entre os quartéis do Salto e dos Arcos, sendo bem recebido em ambos.

 

 

O príncipe Maximiliano percorrendo o trecho do caminho entre o Quartel dos Arcos na Bahia e Salto, no ano de 1816, assim o descreve :

 

 

“Perto desse posto militar, uma grande cascata torna o Rio todo inavegável, sendo necessário saltar nesse ponto e prosseguir em terra por sobre uma montanha; acima do “Quartel”, embarca–se novamente em outras canoas. Minha Bagagem foi descarregada e transportada para o “destacamento”. O caminho galga uma ribanceira íngreme, onde se construiu um alpendre para os produtos vindos de Minas, aí desembarcados. Em cima, entra–se em um mato alto, onde as bromelias atapetam o solo, formando um balsedo impenetrável;

 

 

Um dos seis quartéis[42] instalados ao longo do rio Jequitinhonha, o Quartel do Salto cumpriu sua função como guardião do caminho fluvial e como polo colonizador. Ao redor das cabanas dos soldados, surgiu o povoado de Salto Grande, atual cidade de Salto da Divisa.

 

 

 

 

 

O conjunto das Cachoeiras

 

 

Conforme relatório elaborado no final do século XIX, o rio Jequitinhonha se dividia em duas partes, rio de pedra e rio de areia. O trecho onde se situa as corredeiras configuram o ponto extremo do rio de pedras. O afunilamento causado pelos rochedos, obrigando grande volume d’água a seguir pelo estreito corredor, forma uma série de corredeiras e cachoeiras  que assombram os observadores pela violência e beleza.

 

O viajante austríaco Johnn Emanuel Pohl, em sua passagem pela região em 1820, descreve suas impressões sobre esse fenômeno natural :

 

“Nesse canal rochoso se encontram as três principais cataratas do Jequitinhonha, que, merecidamente, têm o nome de Salto Grande, sendo que cada uma delas se divide em várias quedas de água. A  primeira cachoeira tem três interrupções, numa extensão de 90 metros de comprimento, caindo da altura de onze metros. As águas precipitam-se aqui com estrondoso ruído, espumando entre massas de rocha, num abismo insondável e a sua espuma verde-amarelada ressalta como uma coluna de pouco mais de dois metros de altura. A violência deste rio estreitado, que antes corria com a largura de 450 metros, esculpiu nos rochedos as formas bizarras que agora admiramos. Mesmo a considerável distância da cachoeira, ainda se nota a violenta erosão do rio que, durante a estação das chuvas, inunda as margens pedregosas deixando as massas de granito ora irregulares, ora arredondadas, e com inúmeras cavidades umbilicadas que a água produz pelo atrito das pedrinhas arrastadas que rodopiam sobre as massas de pedras, formando assim aquelas escavações. A segunda cachoeira, a mais violenta, está a uns 100 metros a leste da anterior. Se já estávamos encantados com a visão das outras quedas de água, muito mais iríamos ficar agora com a contemplação desse majestoso e sublime espetáculo da Natureza, que se pode ver, mas não descrever. Aqui acampamos à margem e ficamos admirando as maravilhas da Natureza que diante de nós se apresentavam em seu máximo esplendor. Cercados por águas, com múltiplos arco-íris difundindo as suas cores, entregamo-nos, mudos e estupefatos, a essa soberba paisagem natural”[43]

 

 

Tal descrição, feita a 179 anos atrás, não poderia ser mais exata. O conjunto natural extasia o observador ainda hoje, quando se sabe que o volume de água já não é mais o mesmo devido a degradação do meio ambiente.

 

Para se chegar à  grande cachoeira do “Tombo da Fumaça” é necessário andar sobre o leito de pedras, procurando sempre um lugar mais adequado para o próximo passo. Anda-se uns duzentos metros até o local da queda. A caminhada no entanto compensa.

 

A cachoeira denominada atualmente de “Tombo da Fumaça”, a mais impressionante das quedas d’água, localizada no trecho em que o rio estrangulado pelas pedras força a passagem numa velocidade e força assustadoras, provoca com seu impacto uma névoa de vapor como uma cortina de fumaça. O rio prossegue o seu curso transpondo as barreiras ou se moldando em curvas e  saltos,  acalmando-se um pouco perto da pedra do “Canta Galo”, uma ilha rochosa situada logo após a última cachoeira que possui uma significativa cobertura vegetal, composta de cactos e bromélias.

 

Outras formações rochosas se destacam na paisagem como: a “pedra do Jacaré” que se assemelha a esse réptil e a “Pedra do Bode” que tem esse nome por ter abrigado  bodes que tentavam escapar de uma enchente. A “Garganta do Diabo”, outro local apreciado pelos moradores, apresenta uma forte corredeira devido ao desnível e estreitamento do rio.

 

Destaca-se também o “Buraco”, uma reentrância na rocha que acumula peixes e crustáceos na época de menor volume d’água , local muito procurado pelos pescadores.

 

 

A cobertura vegetal e a fauna

 

Nas primeiras décadas da colonização a região apresentava uma cobertura vegetal expressiva de mata atlântica, que constituía um obstáculo para o transporte de produtos. Atualmente existem fragmentos de mata atlântica com trechos bem preservados no lado baiano. Entretanto predominam nas margens “gramíneas formadoras de pastagens” e a ocorrência menor de vegetação de clima úmido e seco.

 

Quanto à fauna, os peixes constituem a grande riqueza do município, sendo encontradas as espécies : piau, roncador, piabanha, bagre, caçari, carpa, timboré, piampara, surubim, robalo, dentre outros. Esta incidência de peixes favorece a ocorrência de lontras, pacas, cutias, capivaras e cobras. A riqueza da fauna de peixes do rio Jequitinhonha e consequentemente do trecho estudado de Salto da Divisa, determinou a sua inclusão nas áreas de prioridade para conservação da biodiversidade do Estado de Minas Gerais, como área de importância biológica extrema.[44]

 

A cidade de Salto da Divisa

 

O núcleo urbano de Salto da Divisa mantém sua fisionomia marcada pela implantação em sítio elevado desfrutando da privilegiada posição em relação à paisagem dominada pelo rio Jequitinhonha. A povoação concentra-se junto à sua margem direita, enquanto na margem esquerda localiza-se a ilha conhecida como “da Marinha”, formada por um braço secundário do rio que se junta ao curso principal no trecho ocupado pelas cachoeiras do “Tombo da Fumaça”. Esta ilha praticamente desocupada recebe o uso ocasional de pastagem e constitui-se em área de importância paisagística para a ambiência local, determinada pelo Jequitinhonha e suas cachoeiras, junto à Salto da Divisa.

 

A arquitetura civil da cidade compõe-se em grande parte de seu conjunto, de construções de pequenas dimensões e sem maior apuro arquitetônico. Em meio a esse casario, veem-se algumas edificações tipicamente antigas, raros exemplares dos primeiros tempos do arraial de Salto Grande. Do período inicial da ocupação do Salto da Divisa existem como remanescentes as ruínas do cais, construído em pedra, hoje tomadas pelo mato e duas construções na rua do Cais, que funcionavam como depósitos de sal, atualmente em processo de arruinamento.

 

Apesar das construções mais recentes, a maioria do casario conserva a simplicidade de um partido construtivo tradicional onde predominam as casas térreas. Destaca-se uma única edificação assobrada do século XIX, de dois pavimentos, sede da Filarmônica 1º de Maio, localizada à rua Direita esquina de rua Sabino Pinheiro. Apresenta características de uma construção colonial, quer pelas linhas arquitetônicas, quer pelo material empregado. Suas duas fachadas principais trazem uma equilibrada composição de vãos com quatro portas no pavimento térreo, duas em cada fachada, e oito janelas, quatro em cada fachada. Os vãos tem enquadramento em madeira, bem como os cunhais. A cobertura é em 04 águas de telhas coloniais, arrematada por beirais em cachorro. Merece, sem dúvida, ser amparado por medida legal de proteção pelo município.

 

Dentre os vários elementos de grande autenticidade que marcam a harmonia da paisagem local aparece o verde dos quintais com seus pequenos arvoredos e os jardins.

 

 

A cobertura vegetal

 

Nas primeiras décadas da colonização a região apresentava uma cobertura vegetal expressiva de mata atlântica, que constituía um obstáculo para o transporte de produtos. Atualmente existem fragmentos de mata atlântica com trechos bem preservados no lado  baiano. Entretanto predominam nas margens “gramíneas formadoras de pastagens” e a ocorrência menor de vegetação de clima úmido e seco.

 

 

A fauna

 

Quanto à fauna, os peixes constituem a grande riqueza do município, sendo encontradas as espécies : piau, roncador, piabanha, bagre, caçari, carpa, timboré, piampara, surubim, robalo, dentre outros. Esta incidência de  peixes favorece a ocorrência de lontras, pacas, cutias, capivaras e cobras.

 

A riqueza da fauna de peixes do rio Jequitinhonha e consequentemente do trecho estudado de Salto da Divisa, determinou a sua inclusão nas áreas de prioridade para conservação da biodiversidade  do Estado de Minas Gerais,  como área de importância biológica extrema.[45]

 

 

O patrimônio edificado

 

Do período inicial da ocupação do Salto da Divisa existem como remanescentes as ruínas do cais, construído em pedra, hoje tomadas pelo mato e duas construções na rua do Cais, que funcionavam como depósitos de sal, atualmente em processo de arruinamento. A sede da Filarmônica 1º de Maio, única construção assobradada  do século XIX, está em bom estado de conservação.

 

As edificações na margem do rio, situadas nas ruas Beira Rio, Boa Vista, Angelina Nascimento, Sabino Pinheiro, são despojadas.

 

A população

 

A população de Salto da Divisa em sua maioria apresenta a tez morena, cobreada  que  remete a uma ascendência  indígena.Um bom número dos habitantes ribeirinhos vivem da pesca e da fabricação de brita (processo rudimentar de quebra das pedras do leito do rio transformando-as em britas). As mulheres lavam roupas utilizando as águas do rio e o leito pedregoso.

 

 

A barragem e reservatório de Itapebi

 

A  construção da Usina Hidrelétrica de Itapebi  a 118 km da foz do rio Jequitinhonha, próximo a Cachoeirinha, Estado da Bahia, segundo as Empresas Petroquímicas do Brasil S. A., têm como objetivo a geração de 375 MW de energia elétrica  no prazo de 5 anos a partir do início das obras. Esta energia gerada, contribuiria para suprir os “déficits energéticos previstos para os Estados de Minas Gerais e Bahia servindo como ponte de interligação dos sistemas  sul-sudeste com o nordeste.”[46] O reservatório previsto, terá 65 km2, abrangendo os municípios de Itapebi, Itagimirim e Itarantim no Estado da Bahia e Salto da Divisa no Estado de Minas Gerais.

 

As conseqüências deste empreendimento para o município de Salto da Divisa são calamitosas. Além de afetar a vida de cerca de 235 pessoas ameaçando as suas atividades econômicas e a destruição de 50 moradias, as águas represadas ameaçam cobrir o conjunto de cachoeiras do Tombo da Fumaça, referencial histórico, cultural e paisagístico da cidade  e do Estado de Minas Gerais.[47]

 

Para  conter as ameaças do projeto de construção da barragem, a comunidade de Salto da Divisa liderada pelo Movimento de Cultura Popular Saltense – MCPS – criou o Movimento S.O.S. Tombo da Fumaça, que vem se mobilizando junto às instâncias federais e estaduais, visando a proteção do conjunto paisagístico das Cachoeiras do Tombo da Fumaça :

 

“O Movimento S.O.S. Tombo da Fumaça surgiu a partir da constatação dos elevados custos sócio-econômicos, culturais e ambientais que a construção da Barragem de Itapebi trará para nossa região, em particular Salto da Divisa. Constituído por cidadãos cônscios, o Movimento entende que não é justo que o Vale do Jequitinhonha e o Estado de Minas Gerais paguem com a descaracterização de uma de suas paisagens mais belas, que é o conjunto das cachoeiras do Tombo da fumaça. A descaracterização do Tombo da Fumaça, e a não-garantia  dos direitos sociais da população diretamente e indiretamente atingida, é um preço que não estamos dispostos a pagar pela construção da barragem.

O que o S.O.S. Tombo da Fumaça quer é que o projeto de construção seja reformulado de forma a preservar as CACHOEIRAS DO TOMBO DA FUMAÇA E GARANTIR OS DIREITOS SOCIAIS DE NOSSA GENTE. Somos por um desenvolvimento com justiça social e que traga benefícios reais para nossa região, pois estamos cansados de ser usados como cobaias de projetos que, ao invés de desenvolver, atrasam e aprofundam a miséria do Vale do Jequitinhonha.”.[48]

 

 

 

E - A PROTEÇÃO DO CONJUNTO

 

 

A Bacia do rio Jequitinhonha, devido ao seu valor natural, foi tombada pela Constituição Estadual de 1989, nos Atos das Disposições Transitórias, artigo 84, estendendo a proteção ao Conjunto das Cachoeiras de Salto da Divisa.

 

Por outro lado, a Lei n.º 080/98 de 27 de abril de 1998, do Prefeito Joaquim Abagaro de Oliveira, declarou a Cachoeira do Tombo da Fumaça e adjacências como “Área de Paisagem Natural Notável”, ficando vedada qualquer obra ou serviço que viesse a alterá-la.

 

Infelizmente, no dia 26 de abril de 1999, a Câmara Municipal de Salto da Divisa, ignorando os protestos da comunidade, aprovou através da Lei n.º 092/99, a revogação da Lei n.º 080/98.

 

A região de Salto da Divisa está relacionada como “Reserva Particular do Patrimônio Natural Federal” – RPPN – por ser considerada de relevante importância para a proteção da biodiversidade.[49]

 

O IEF, no relatório denominado “Levantamento do Potencial Ecoturístico e Paisagístico do Tombo da Fumaça”, realizado em abril de 1999, concluiu :

 

 

Levando em consideração principalmente os aspectos paisagísticos da área conhecida como “Tombo da Fumaça”; os vários pontos de belezas cênicas notáveis; o aspecto sócio - histórico - cultural do município de Salto da Divisa, e mais especificamente, da importância que representa o Rio Jequitinhonha para a população local, pode-se afirmar com absoluta convicção que a Cachoeira do “Tombo da Fumaça”e áreas adjacentes, apresentam um grande potencial para o desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo ecológico, aliado à programas e trabalhos de educação ambiental .

(...)

Finalizando, observa-se grande potencialidade para criação de uma Unidade de Conservação no município. Sugere-se então, a criação e implantação de uma Área de Proteção Ambiental – APA, devido aos usos diretos e indiretos a que são atribuídos pela ocupação atual da área, abrangendo todas as atrações descritas acima, no item “Potencial Ecoturismo”.[50]

 

 

 

 

Em que pese o inegável valor de todo o conjunto, reconhecido no nível federal e estadual pelos órgãos da área de  meio ambiente e pela Constituição Estadual, o seu tombamento pelo IEPHA/MG vem de encontro aos anseios da comunidade local preocupada em preservar para as gerações futuras as belezas naturais do seu município.

 

No momento em que paira a ameaça do desaparecimento do Conjunto Paisagístico das Cachoeiras do Tombo da Fumaça, devido a construção da barragem de Itapebi no Estado da Bahia, o seu  reconhecimento como Patrimônio Cultural dos mineiros é mais que pertinente. A   proteção de todo o conjunto pelo instituto do tombamento é a sua salvaguarda, impedindo o seu desaparecimento sob as águas que o moldaram.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

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- BRANDÃO, Kildaire de Lima, SILVA , Paulo Roberto De Lauro. Levantamento do Pontencial  Ecoturístico e Paisagístico do Tombo da Fumaça.  Teófilo Otoni: IEF, 1999.

 

 - CALMON, Pedro. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos. s.d.-1º CENSO Cultural de   Minas Gerais: guia da região Jequitinhonha / Mucuri. Belo Horizonte: Secretaria do Estado da Cultura, 1995. p. 110.

 

- FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do

       Brasil. Século XVI-XVII – XVIII. São Paulo:  Indústria Grafica Siqueira S / A .1953.

- FREITAS, Mário Martins de. Bacia do Jequitinhonha: Estudos histórico, econômico, social e político dos Municípios da Bacia . In. MINAS GERAIS : Diário do Executivo. Belo Horizonte :Imprensa Oficial.  1960/1961. 15 mai, 14 p. ;18 mai, -11/12 p. ; 29 mai, -15/16 p.; 9 jun, -17/18 p.; 11 de jun., -13/14 p.; 12 jun., -15/16 p.; 16 jun., -21/22 p.; 19 jun., ; -15/16 p.; 23 jun.,- 9/10 p.; 26 jun., -15/16 p.;2 jul., ; -11/12 p.; 8 jul.,- 15/16 p.; 10 jul.,- 9/10 16  jul., - 9/10 p.; 23 jul., - 14 p.; 29 jul., - 19/20 p.; 26 ago., - 15/16p.; 25 ao, 11p.; 30 set. 8 p.; 2  out.-13 p.; 30 out. -12 p.; 31 jan. -11/12/13 p.; 1 fev. -9/10 p.; 2 fev.- 4/5/6 p.

 

- GUIMARÃES, Alisou P. Estudo Geográfico do Vale do Médio Jequitinhonha. Belo Horizonte: Imprensa Oficial , 1960.

 

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 - POHL, Johann Emanuel. Viagem no interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1996.

 

 - PRADO JR. , Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 5ª ed. , São Paulo: Brasiliense, 1981.

 

 - SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem pelas províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. Belo   Horizonte: Itatiaia, 1975.

 

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 - SANTOS, Maria de Fátima Pereira , SILVA, Irma Mirlane Moreira. Monografia Didático   Pedagógica do município de Salto da Divisa. Belo Horizonte:

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- SANTOS, Rafael Souza. Vale do Jequitinhonha temas e problemas. Belo Horizonte: Imprensa       Oficial, 1971.

 

 - SOL, Otelino Ferreira. Salto da Divisa e outras considerações. Belo Horizonte: UFMG, 1981.

 

- TAVARES, Cézar Moreno Conceição. A colonização e o povoamento do Baixo

       Jequitinhonha em Minas Gerais, no séc. XIX : a guerra contra os índios. BeloHorizonte: PUC- MG, 1998.

 

 - VASCONCELOS, Diogo Pereira Ribeiro de. Breve descrição geográfica, física e política

         da capitania de Minas Gerais. Estudo crítico por Carla  Maria Junho Anastasia;. transcrição e pesquisa histórica por Carla Maria Junho Anastasia e Marcelo Cândido  da Silva. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos

         e Culturais, 1994.

 

- VASCONCELOS, Diogo de. História Média de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.   

           

 - WIED-NEUWIED, Maximiliano Philipp, Príncipe Von. Viagem ao Brasil. São Paulo: Nacional,  1940.

 

 

 

 

 



[1] VASCONCELOS, 1974. p. 124.
[2] Idem, 1974. p.131,132.
[3] TAVARES, 1998. p.34.
[4] PRADO JÚNIOR, 1981. p.49
[5]TAVARES, 1998. p.36, 37.
[6] VASCONCELOS, 1974. p.51,55.
[7] CALMON, 1971. V.1.  p. 313.
[8] Idem, 1971. V. 1. p. 313, 314.
[9] VASCONCELOS, 1974. p. 66, 67.
[10] FRANCO, 1940. V. 181, Cap. 12, 13
[11] PRADO JÚNIOR, 1981.  p.76.
[12] TAVARES, 1998. p.19
[13] Idem, 1998. p. 26.
[14] VASCONCELOS, 1994. p. 150, 151.
[15] TAVARES, 1998. p. 27.
[16] TAVARES, 1998. p. 27, 28.
[17] GUIMARÃES, 1960. p.92.
[18] TAVARES, 1998. p.30
[19] TAVARES, 1998. p. 31 a 33.
[20] TAVARES, 1998. p. 39 a 63.
[21] SANTOS, 1997. p. 2.
[22] SOL, 1981. p. 15
[23] SALTO da Divisa. Enciclopédia dos Municípios brasileiros, 1959. P. 114.
[24] SOL, 1981. p. 16.
[25] Idem, nota n.º 29
[26] TAVARES, 1998. p. 30.
[27] WIED-NEUWIED, 1940. p. 251.
[28] SANIT-HILAIRE, 1975.
[29] WIED-NEUWIED, 1940. p. 236.
[30] POHL, 1976. p. 350.
[31] WIED-NEUWIED, 1940. p. 242.
[32] POHL, 1976. p. 350.
[33]SOL, 1981.p. 18
[34] SOL, 1981. p. 22.
[35] TAVARES,1998. p. 70.
[36] SOL, 1981. p. 28
[37] SANTOS, 1997. p. 3.
[38] SALTO da Divisa, p. cit. p. 114.
[39] SANTOS, 1997. p.10.
[40] 1º CENSO cultural ... ,1995. p. 110.
[41] WIED NEUWIED, 1940. P. 236.
[42] Segundo o príncipe Maximiliano, existiam ao longo do rio, os Quarteis dos Arcos, Estreito, Vigia, S. Miguel e Tucaios de Lorena.(WIED NEUWIED, 1940. p.227.)
[43] POHL, 1976. p. 351.
[44] BIODIVERSIDADE, 1998. p. 46
[45] BIODIVERSIDADE, 1998. p. 46
[46] AHE ITAPEBI – Estudo de impacto ambiental . 1996.  p.7/2.
[47] AHE ITAPEBI – Estudo de Impacto Ambiental . 1996. p. 4/28.
[48] CARTA ABERTA À POPULAÇÃO. 1999.
[49] Biodiversidade em Minas Gerais, 1998. p.59.
[50] BRANDÃO,1999. p. 8.