PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

terça-feira, 21 de março de 2017

PATRIMÔNIO CULTURAL E AS COMUNIDADES

  O OUTRO 

Autor: Carlos Henrique Rangel


Vivendo em grupo por necessidade e sobrevivência, o ser humano cedo necessitou de símbolos códigos para se fazer entender e compreender o seu mundo e os seus iguais. Essa necessidade do outro e a convivência com este só foi possível através de um consenso coletivo para se entenderem em relação a tudo. Desde as pequenas como a nominação de um objeto, às regras de convivência. 

Se esse consenso se deu através de lideres carismáticos ou autoritários, ou mesmo de forma democrática, essa não é a questão. O fato é que o consenso existiu para que fosse possível a convivência em grupo e a adaptação a um espaço determinado. 

A identidade desse grupo será definida pelo consenso. Pela crença em valores assimilados por todos ou pelo menos a maioria dos membros do grupo. Os que não aceitam as regras do grupo são excluídos e se tornam os “outros”. 

Também esses, denominados “outros” são necessários para a formação da identidade do grupo e a consolidação de suas crenças, costumes e ideais. A identidade de um ser ou de um grupo é definida pela contraposição à identidade de outro. O outro indivíduo, grupo ou comunidade ou nação será sempre a referência até mesmo para o fortalecimento da identidade.

Ao mesmo tempo, uma comunidade por mais homogênea que seja sempre terá grupos discordantes – “os outros” que também possuem identidade própria, cultura própria, mesmo que identificados de uma forma geral com o grupo dominante. 

Essa minoria dentro de uma comunidade maior ainda assim é parte desta e merecem respeito quanto a sua memória, identidade e suas produções culturais. 

O outro que me acompanha e que produz cultura comigo, o que permite a diversidade cultural merece ser reconhecido, respeitado e valorizado como parte do grupo maior.

Numa sociedade consensual a diversidade deve ser o consenso para que a o grupo se renove culturalmente e sobreviva com a autoestima valorizada e fortalecida.

Esse outro também ele é parte do grupo e mesmo o outro culturalmente diferente, aquele de outro grupo/nação, também esse merece respeito. Ser diferente não é ser pior ou melhor. 

É apenas diferente. Outra forma de ser e de se relacionar com o mundo e seus lugares.
O outro é o meu céu e meu inferno. É o meu contraponto.
O outro sou eu diferente.







domingo, 19 de março de 2017

ENSINO, RELIGIOSIDADE E NATUREZA EM MINAS

ENSINO, RELIGIOSIDADE E NATUREZA EM MINAS 

Autor: Carlos Henrique Rangel

1 –  A Serra do Caraça e o Santuário
Desde que se começa a subir a Serra do Caraça, cresce a beleza da paisagem e do alto descobre-se vastíssimo horizonte e depois uma das mais belas cascatas que conheço em forma de lençóis e tanques e corre em fundo vale, estreitando pelas montanhas (...). Nunca admirei lugar mais graciosamente pitoresco (...). (D. Pedro II – 1881 – Jornal Estado de Minas, 05 de abril de 1981).


É um espetáculo espantoso, aquele “carão”, uma enorme massa de ferro, elevando-se a vários milhares de metros acima das altas chapadas. Suas feições são grotescamente riscadas e marcadas com faixas de quartzo largas e estreitas, traçadas sobre o escuro itacolomito, e, em certos lugares, há traços verticais da jacutinga negra-azulada, marcando a penetrante crosta de ardósia micácea (...). A extremidade do sul onde a camada é quase perpendicular, assume a aparência de uma cabeça de rinoceronte; não faltam os chifres nasais: as partes mais macias da pedra se desgastaram, deixando uma linha denteada de altos picos, como os “órgãos” da Bahia do Rio. (Descrição da Serra do Caraça por Richard Burton em 1867 – BURTON, 1976, p. 263).


A Serra do Caraça localiza-se na mesorregião metropolitana de Belo Horizonte e na microrregião de Itabira, em território dos municípios de Catas Altas – distando trinta e sete (37) km da Zona Urbana do Município de Catas Altas -e Santa Bárbara[2] – distando vinte e cinco (25) km da Zona Urbana de Santa Bárbara - sendo Catas Altas o contraforte da Cordilheira do Espinhaço – Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.

A Unidade Geomorfológica “Quadrilátero Ferrífero” ressalta-se na paisagem mineira por suas alongadas escarpas, de altitudes médias em torno de 1400 – 1600 metros, denominadas de: Serra do Curral; Serra da Moeda, Serra de Ouro Fino e complexo Serra do Caraça o qual apresenta o ponto culminante dessa unidade, 2064 metros.

A geodiversidade desta unidade sempre condicionou os processos de uso e ocupação do solo de forma singular em seu espaço. Marcas de ocupação estão impressas na região desde o século XVII condicionadas pela busca de riquezas minerais, encontradas em abundância. Tais marcas estão concentradas em regiões de rochas metassedimentares, ricas em Ferro, e metavulcânicas, ricas em ouro.

Fisiograficamente, o Quadrilátero Ferrífero se destaca por ser um divisor de duas importantes bacias hidrográficas do Estado de Minas Gerais: Piracicaba e Velhas. Além disso, apresenta marcos geográficos naturais descritos por viajantes dos séculos XVIII e XIX como pontos de referências para as diversas rotas de ocupação do território mineiro como, por exemplo, o Pico do Itabirito e a Serra do Caraça.

 (PIUZANA, Danielle, MENESES, José Newton Coelho, MORAIS, Marcelino, FAGUNDES, Marcelo. Espaços de minerar e caminhos do abastecer: as paisagens, os lugares e o território do quadrilátero Ferrífero. Tarairiú – Revista Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB. Campina Grande, Ano II – Vol.1, n.º02, março de 2011, p.133).


O acesso de Belo Horizonte ao Santuário do Caraça se faz via BR 262, no sentido Vitória. Setenta (70) quilômetros depois de Belo Horizonte entra-se no trevo para Barão de Cocais e Santa Bárbara por estrada estreita até o Arraial de São Bento chegando à estrada do Parque do Caraça.

A área da Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça[3] ocupa cinco mil oitocentos e quarenta e cinco (5.845,00) hectares do município de Catas Altas e outros quatro mil trezentos e quarenta e três(4.343,00) hectares do município de Santa Bárbara.[4] O ponto mais alto da Serra é o Pico do Sol, que possui dois mil e setenta (2.070) metros de altura, existindo outros três picos de destaque: o Pico da Carapuça, o Pico da Cajerona e o Pico do Inficionado que possui vários abismos e cavidades.[5]
  

Sobre a vegetação da Serra do Caraça temos a descrição de Raquel Stauffer Viveros:


A vegetação da Serra do Caraça consiste em um mosaico de formações campestres (...) e florestais (...), sendo que os campos rupestres predominam na paisagem. Em geral, os campos estão ao longo das escarpas e no referido planalto interior. As florestas situam-se nas encostas da serra e ao longo do sistema de drenagem, o que proporciona uma grande diversidade de pteridófitas. Essas formações florestais, segundo a classificação de Veloso et al. (1991), são Florestas Estacionais Semideciduais e Florestas Ombrófilas Densas Montanas. Nestas são observadas as seguintes fitofisionomias: floresta ciliar, floresta de encosta, floresta de galeria e floresta nebular. Quanto às formações campestres, a região apresenta as seguintes variações: campo limpo, campo sujo, campo rupestre e há controvérsias sobre a presença de campo de altitude, por não haver um consenso bem estabelecido sobre a caracterização e limites entre campo rupestre e campo de altitude nessa região. (VIVEROS, Raquel Stauffer. Pteridófitas da Serra do Caraça, Minas Gerais, Brasil. Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Biologia Vegetal. Belo Horizonte, fevereiro de 2010, p.17. Disponível na Internet. <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/TJAS-89BQFL/disserta__o_raquel_2010_vers_o_final.pdf?sequence=1>. Acessado em: 09 de junho de 2014).


Em 1700, a Serra do Caraça foi citada em sesmarias concedidas ao Padre Felipe de Siqueira Távora e aos mineradores Domingos Borges, Antônio e Francisco Bueno e irmãos. Oito anos depois – 1708 - o sertanista Bento Godói Rodrigues, descobriu no alto da Serra, uma arroba e meia de ouro.Neste mesmo ano a serra teria aparecido em mapa da província de Minas Gerais.[6]
Mais tarde, em 11 de setembro de 1711, o governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho concedeu uma sesmaria favorável a Coronel João Raposo Bocarro na área da Serra do Caraça.[7]


Em 1716 – o arraial fundado por Bento Rodrigues é chamado de Arraial do Caraça em documento divulgado pelo historiador José Ferreira Carrato:

É o que testemunha o Códice 541 (Auto n.º 19.594 – Ações Civis. Cartório do 2º Oficio de Mariana – Arquivo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), até agora inédito, nos termos dos dois documentos seguintes: “Diz o Cap. Domingos Nunes da Fonseca morador no Passa dez desta Villa que pelo credito junto se lhe obrigou Joseph Gonzs. Lima a pagar cento e quarenta outavas de ouro em pó, por o supp.te fazer hum caminho ao Inficionado p.a o Caraça,o qualtem ele supp.te feito,  e acabado perfeitamente; e porque lhe nãosatisfaz a ditaquantia o quer fazer citar p.a na primeira audiência deste juízo vir reconhecer o seu signal, e obrigação p.a então serem assignados os dez dias da Ley para nelles alegar e provar o supp. Do paga ou quitação, ou o que de condenação o reteve. P. vista”.

O segundo documento reza: “Devo que pagarei ao Capm. Dom.os Nunes da Afonseca cento e corenta oytavas de ouro, do resto de hum caminho, que mandou fazer o povo do Inficionado p.a o Caraça por lhe ser conveniente a Condução dos mantimentos p.a o mesmo Arraial a qual quantia das cento e corenta oytavas pagarey como divida própria tendome o d.º Camp. Dom.os Nunes acabado o caminho e pagarey a ele d.º ou qm, este me mostrar e por verdade lhe passey este por mim assignado: Inficionado a 17 de Mayo de 1716. Joseph Gonzs.Lima”. (Negrito nosso). (CARRATO, 1963, p.229,230).

Segundo lenda corrente, Bento Godói Rodrigues teria chegado à região quando sua comitiva, que estava a caminho dos descobertos do Carmo foi obrigada a procurar outra rota por se encontrar intransponível o caminho tradicional. Seus índios ao cavarem as terras da serra em busca de água descobriram cascalho aurífero. Atualmente não existem vestígios da existência de um arraial na Serra do Caraça a não ser a ruína de um aqueduto no caminho para Catas Altas nas proximidades do colégio do Caraça.[8]No entanto, ainda hoje existe na região, um antigo lugarejo denominado Bento Rodrigues – atualmente subdistrito do município de Mariana - que em 1833 foi descrito pelo viajante inglês, Henry Bunbury.


Carrato chama a atenção para a toponímia da Serra e do arraial, que em suas primeiras referências aparecia no gênero masculino e apenas duas vezes no gênero feminino: “Serra da Caraça e Arraial da Caraça”. O Viajante francês, Auguste de Saint-Hilaireque estudou alguns vegetais da Serra do Caraça atribuiu o nome aos índios. Caraça seria a corruptela do nome em tupi-guarani: cara e açá ou caa araçapaba, que significaria desfiladeiro. O certo é que o nome já existia antes da chegada do Irmão Lourenço.[9] Por outro lado, o mesmo viajante francês denomina a Serra de “Catas Altas” em sua viagem à região em 1817. A Serra será denominada de “Catas Altas” e “Caraça” por outros viajantes ao longo do século XIX.


Desde muito tempo já tínhamos à esquerda as altas montanhas chamadas Serra de Catas Altas, que parecem cortadas no cume, e apresentam rochedos nús de cor de negrida separados por escassa vegetação. Essas montanhas tomam o nome de uma povoação a que em breve chegamos, e onde passamos a noite. (negrito nosso). (SAINT-HILARE, 1975, p.88).

O Viajante Johann Emanuel Pohl considera a Serra do Caraça como parte da “Serra de Maquiné” em cujas encostas localiza-se o arraial de Catas Altas.[10]


2 – Irmão Lourenço e o Santuário 

“O milagre do Caraça!... É o mais impressionante recolhimento que a fé em Deus levantou em terras do Brasil” (Pedro Calmon, 1934 no “Livro de Ouro” do Caraça. P.33v.).


Segundo a tradição, Irmão Lourenço de Nossa Senhora seria membro de uma família nobre perseguida pela administração pombalina por crime de traição. Carratoinforma a suspeita de que Lourenço era parente do Conde de Sarzedas, General Bernardo José de Lorena e Távora, que foi governador da Capitania de Minas Gerais de 1797 a 1803. A família do Conde de Sarzedas - os Távoras – fora condenada por crime de alta traição pelo Marquês de Pombal em 1759.

Essa semelhança física dos dois homens, o contato frequente entre eles, a consideração do Governador para com o Irmão Lourenço, testemunhada e comentada por toda a gente, como faz crer o depoimento de Saint-Hilaire: - eis os ingredientes que teriam servido para a formulação da lenda de ter o irmão Lourenço nascido também na família dos Távoras, assim como seu amigo Bernardo José de Lorena. (CARRATO, 1963, p. 260).

Em seu testamento datado de 1806, Lourenço se declarava filho de Antônio Pereira e de D. Ana de Figueiredo, sendo natural de Nagoselo – São João da Pesqueira – Bispado de Lamego em Portugal.
Em 1763, Lourenço se encontrava no Arraial do Tijuco onde se vinculou à Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Assis: “O Irmão Lourenço de N.ª Snr.ª, nat.al  da Freguezia de Naguzelo de S. João da Pesqueira Bispado de Lamego, tomou o hábito aos 28 de Fevr.º de 1763.”[11]Seu noviciado durou apenas sete meses.Nessa ordem religiosadedicou-se a função de procurador e zelador correndo os arraiais nas proximidades do Tijuco pedindo esmolas para a Ordem. Poucos anos depois, o Irmão Lourenço, outrora pobre, era proprietário de escravos e minerava diamantes, provavelmente em função do prestígio advindo por pertencer a Ordem Terceira e as supostas ligações com o Contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira.[12]

Em abril de 1770, após a queda do Contratador João Fernandes – chamado a Lisboa para prestar contas de seus atos no Tijuco[13] - o Irmão Lourenço doou seus bens à ordem Terceira da Penitência.

Curiosa essa escritura de doação condicional. Ela merece umas considerações especiais. A primeira delas é essa estranha coincidência do gesto do Irmão Lourenço com a desgraça do segundo João Fernandes; a coisa pode não passar de simples coincidência, mas o fato de estar êle metido na mineração – como tivemos ocasião de ver – implica-o naturalmente na conjuntura financeira e econômica do sexto contrato, essa portentosa pepineira, que, como o cataclisma do “Acaba-Mundo”, do Jequitinhonha, estoura e vai por água abaixo, na ruína final do regime, cuja pá de cal é o advento da Real Extração.(CARRATO, 1963, p.282).

Carrato informa que a doação de Lourenço é recusada pela Ordem Terceira e por esse motivo ele partiu do Tijuco em maio de 1770, para a região de “Mato-Dentro” mais ao sul. Pouco mais tarde, segundo a tradição corrente - já informada em capítulo anterior - encontrou em Caeté, Antônio da Silva Bracarena e após desavença sobre o local da instalação da ermida dedicada a Nossa Senhora, decidiu instalar o seu Hospício de Nossa Senhora da Mãe dos Homens na Serra do Caraça.

Reza a tradição que, antes de chegar ao Caraça, o Irmão Lourenço foi hóspede da família Cota na Fazenda da Alegria, por alguns meses, e então procedia a verdadeiras excursões pelos recantos mais diferentes da Serra. (CARRATO, 1963, p. 311,312).


Durante alguns meses o Eremita percorreu a Serra do Caraça a procura do lugar ideal para a instalação do seu empreendimento.[14]Irmão Lourenço teria arranchado com o sogro de um senhor denominado João Gonçalves,“o Velho”, que minerava no rio que percorria a Serra do Caraça e no dia seguinte descobriu o local ideal para a construção do hospício e capela.[15]

Contou-me o João Gonçalves o Velho que estando o Sogro delle tirando ouro no Rio chegou ali o Ir. Lourenço e que ali ficara com elles, no dia seguinte fora para sima onde está a caza e que por lá andou passeando, vindo pernoitar no rancho: depois fes hum rancho cuberto de capim, e armou hum altar e foi ao Inficionado, trouxe um [padre] disse Missa, e que o Ir. Lourenço com esmollas e dinheiro seu próprio/segundo me disse o Vigario Francisco Xavier, que o Ir. Lourenço tinha de seu oito mil cruzados segundo me disse o mesmo Ir./logo principiara a fundação da caza[...] (ZICO, Tobias C.M. Caraça, ex-alunos e visitantes. Belo Horizonte: Editora São Vicente,1979, p. 177).

Dispondo de oito mil cruzados e mais recursos obtidos com esmolas, Lourenço comprou uma sesmaria de terras onde iniciou a construção do Hospício. Não encontramos o documento de compra e a data correta da aquisição dessa sesmaria. No entanto, sabemos que as sesmarias eram inicialmente doadas e que só podiam ser vendidas se fossem utilizadas, o que nos remete a um antigo ocupante das terras adquiridas pelo Irmão Lourenço.

O Padre Felipe de Siqueira Távora e seu sócio João Gomes da Silva foram os primeiros possuidores de sesmarias na Serra do Caraça adquiridas em 1700 e confirmadas por D. José I em 1761. Em 1777, esta sesmaria passou a João Gomes da Costa e Francisco Gonçalves. [16]Esse Francisco Gonçalves possuía em sociedade com Caetano Gomes da Costa, uma sesmaria de meia légua de terras na Serra do Caraça adquiridas do testamenteiro de João Gomes em 22 de junho de 1758, que atualmente compõe as terras do Santuário[17].

José Antonio (...) de Andrada, Cavaleiro da ordem de Cristo Tenente Coronel da Cavalaria e Governador interino das Cavalarias das Minas Geraes, Rio de Janeiro faz saber aos que esta minha carta de sesmaria virem q’ tendo respeito ame apresentarem possua petição Franco Glz, e Caeto Gomes da Costa, moradores na passagem chamada do Brumadinho das Cattas Altas termo de Villa Nova da Rainha, Comarca do Rio das Velhas, q’ eles erão sócios em hum citio q’ contava de casas de vivenda, senzalas, payol, e posses antigas com umas capoeiras em q. estavão plantando p.a sustentação de sua fabrica q’ houverão por (...) de compra q’ dele fizerão e o testamenteiro do defunto João Gomes de as; e ao R.do Pe Felipe de serqueira Tavora o qual citio era por detrás da serra das Cattas Altas, e nas cabeceiras do rio Sumidouro,(...) Possuir o reffo citio com legitimo, e mais verdro (...).

Por fim, e conclusão de uma p.am (...) mandar e dele passar carta de sesmra de meya legoa de terra em quadra, reservando nella as inúteis e qe  fizessepião onde mais conveniente fosse na Fza da ordens de S Mag.de , ao q atendo eu e a q’ responderão os (...) da Camara da Villa Nova da Raynha, e os D. D. Provor da Fazenda Real, Provos da Coroa, e faz.da desta capnia  a quem ouvi deles não V. (...) da duvida, no concenzo desta sesmr.a , visto terem V. Supp.tes justificado por tes.tos, na forma  nova ordem do sittio Snr, não terem outra sesma , nem pretenderem esta va outra alguá pessoa, e tão bem por não encontrarem inconv.e q’ aprohibisse, pella (...) q.el esttagde.me permite, nessas desordens, eu hinem.de  (...) três de abril de mil setecentos trinta e oito pa conceder Sesmas  de terras desta capp.nia aos moradores desta q. marpedirem: Hey por bem fazer mercê como presente faço de conceder em nome de S. Magde ao dito Fran.co Glz. e (...) sócio Caeto gomes da Costa por sesmaria meya legoa de terra enquadra, q comprehedera o seu sitio (...). (Grifo nosso).(Arquivo Histórico do Caraça – Catas Altas, Caixa 63, Pasta Documentos sobre o Caraça do Irmão Lourenço 1763 – 1819, Confirmação de Sesmaria por parte de Francisco Gonçalves sócio de Caetano Gomes da Costa, 22 de junho de 1758).

Segundo o Ouvidor de Sabará,Dr. Antônio Luís Pereira da Cunha, a sesmaria comprada pelo Irmão Lourenço chegava a duas léguas de extensão tratando-se de uma “grande Vargea de quazi meia légoa.”[18]Sabe-se que ao longo dos anos  o Irmão Lourenço adquiriu mais terras compradas e mesmo doadas. Em quatorze (14) de outubro de 1775, lhe foi permitido a compra de vinte “datas de terras com taboleiros e gupiaras” nos limites das terras da capela. Essa posse foi confirmada no ano seguinte - 1776. Nesse ano, o irmão Lourenço solicitou mais seis datas nas imediações de suas terras. Em cinco (05) de agosto de 1785, Irmão Lourenço comprouterras de Domingos Rois Vieira no valor de duas oitavas.[19]
Digo eu Domingos Rois Vieira que dono senhor e possuidor de uma roça que hove por título de Barganha a Francisco Pinola, cujas rossas para a parte do sul limita com Francisco Duarte Vieria e agora de presente com o irmão Lourenço de Nossa Senhora atualmente com o mesmo Irmão do morro do nascente e Poente fechando a ditos roceiros ao mesmo córrego da parte do Poente que (...) no mesmo morro e por fazer milhor comodo no dito córrego querem em (...) direito ao nascente adonde atrás desse córrego velho de cima passa parte do Brumadinho e pro bem dele vendeu por preço e quantias de duas oitavas (...) no que recebi ao fazer desta e assim dado a favor do dito Irmão Lourenço de Nossa Senhora. Todo direito e domínio e ação ficam depois por diante pertencendo ao dito Irmão e assim peço as virtudes de suas majestades que Deus guarde inteiro valor como que por escritura publica e que não terei duvidas em todo tempo passar se me for pedido e por clareza lhe passei este por mim somente assinado e as testemunhas abaixo assinado Sumidouro quinze de maio de 1785 anno, Domingos Rois Vieira como testemunha este fiz a rogo do sobredito como testemunha que este vi fazer Luiz José Moreira Francisco Rois Vieira José Luiz da Rocha.

Reconheço as letras e afirmas postas ao pé do papel reto serem feitos pelas pessoas mãos e punhos de Domingos Rois Vieira Francisco Rois Vieira José Moreira José Luiz Rocha por ter pleno conhecimento de suas letras e firmas noutras semelhantes que tenho visto dos mesmos em fé do que me assino com publico e raso, Catas Altas 5 de agosto de 1785.
Em testemunho da verdade + José Vaz du PinC.(ARQUIVO Histórico do Caraça. Caixa 63 – Pasta documentos sobre o caraça do Irmão Lourenço 1763-1819. Documento de 1785 – Título de terra de agricultura vendida por Domingos Rois Vieira ao irmão Lourenço).

Em dois (02) de janeiro de 1790, Irmão Lourenço adquiriu de Antônio Ribeiro da Fonseca, pelo valor de quinze oitavas de ouro, as terras situadas na “vertente para o Rio Sumidouro”.[20]
Carrato informa que os primeiros companheiros do Irmão Lourenço no Caraça são seus escravos que trabalharam na obra de construção do Hospício[21] e da capela entre os anos de 1770 e 1774 e posteriormente os Irmãos Custódio Gonçalves e João José e Luís Antônio.[22]
Em abril de 1772, Lourenço e seus “irmãos” fizeram uma petição de confirmação de compromisso referente à instalação do Hospício na Serra do Caraça.[23]No ano seguinte – 1773 - foi emitido o parecer do Ouvidor de Sabará, referente à confirmação do compromisso da Irmandade de Nossa Senhora Mãe dos Homens e de São Francisco das Chagas.[24]Esse Ouvidor deixou a seguinte observação sobre a nascente obra de Irmão Lourenço:

... Está situadano meio de huma Sesmaria de terras compradas pelo Sup.te , que com as mais quelhe tem anexado chegão há duas legoas de extensão em que se compreendem hua grande Vargem de quazi meia legoa, terras, gados, e de cultura, e tão férteis que em um pequeno terreno cultivado, e unido ao mesmo Edificio se axão duas Oliveiras, Nogueiras e outras plantas exóticas e do Paiz, com boas matas que contem muita cassa e hum grande Lago de agoa nativa, que serve de viveiro de peixe (...) mas o sitio em que está assentado o Edificio he, na verdade ameno, abrigado pella mesma Serra, e de hum ar temperado, e sadio conservando duas fontes perenes d’agoa férrea tão boa como as que vi em Portugal. (Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1901,Vol. VI, p. 212,213).

A licença para a ereção da Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens data de 21 de março de 1774, concedidapelo Dr. Francisco Xavier da Rua, Governador, Provisor e Vigário-Geral do Bispado de Mariana, substituindo o titular D. Bartolomeu Manuel Mendes dos Reis.Nessa provisão a Serra aparece com as duas denominações: Caraça e Catas Altas:

Provisor, Vigário Geral e Governador deste Bispadoetc. A todos os fieis saúde em Jesus Christo Nosso Senhor. Faço saber que atendendo eu ao que por sua petiçam me enviou a dizer o Irmão Lourenço de Nossa Senhora hey por bem de lhe conceder licença pela prezente Provisão para que possa erigir hua capela de Nossa Senhora May dos homens e S. Francisco recebendo as chagas, na serra chamada de catas altasou do carassa, a qual será fabricada de matérias perduráveis com boa proporção e architetura e depois de feyta e descentemente paramentada com os ornamentos das coatro cores que mandão as rubricas do missal e de que uza a Igreja e mais cousas necessárias e feyto o Patrimônio suficiente, recorrerá para se mandar visitar e benzer na forma do Ritual Romano, e nela se poderá celebrar sem prejuízo dos direytos parochiaes e da fabrica da Matriz e terá hum livro em estarão encadernados os documentos pertencentes a capela e fará  termo de sujeição ordinária e será registada no livro de registo geral. Dada e passada nesta cidade Mariana sob meo signal e sello das armas de S. Excia. Aos 21 de Março de 1774 e eu o Padre ignacio Lopes da Silva, escrevam da Camara eclesiástica que o subscrevy. (Negrito nosso) (TRINDADE, Cônego Raimundo. Instituições de igrejas no Bispado de Mariana. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1945. SPHAN, N.º 13, p. 77 a 79).

Ainda nesse ano de 1774, o irmão Lourenço solicitou a concessão de águas na Serra do Caraça:
Diz o Irmão Lourenço de Nossa Senhora da Serra de Cattas-Altas, que ele supõe se acha edificando uma capella de invocação de Nossa Senhora Mãe dos Homens e de S. Francisco recebendo as chagas e porque cicuito das mesmas paragens se acham tres correguinhos e alguns lacrimaes, assim como também agua da fonte de Nossa Senhora, quer o supp.e  que, para evitar alguma desordem... conceda as ditas aguas por provisão... das que fazem barra no Ribeirão Sumidouro, dando-se-lhe posse das barras e das cabeceiras na forma do regimento: estes todos têm suas cabeceiras da parte do norte. (BIOGRAPHIA do Irmão Lourenço de N.ª Senhora. Revista do Arquivo Público Mineiro. Bello Horizonte: Imprensa Official de Minas Geraes, 1904, p.743).

Alguns meses após a concessão da provisão - em 10 de agosto de 1774 - foi celebrada a primeira missa na capela provisória de madeira. As obras da capela prosseguiam contando com mão de obra de peregrinos. Segundo Antônio Luiz Pereira da Cunha[25], Ouvidor da Comarca de Sabará, a capela de pedra foi iniciada em 1775.[26]No entanto, segundo documento do vigário colado de Catas Altas - Manoel Moreira de Figueiredo - que rezou a missa do dia 10 de agosto de 1774, a construção já acontecia naquele ano.

Sobre a capela de madeira:
Ilmo e Rer.mo Snr.
Dzi o Irmão Lourenço de Nossa Senhora que ele obteve de V. Snra. Provisão para a ereção da capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens e S. Francisco recebendo as chagas, na serra de Catas Altas Freguesia de Nossa Senhora da Conceição a qual tem dado principio e como levará tempo por ser obra de pedra e carece a mesma de ser feita com perfeição e por insinuação de V. Snra. Fez o suplicante uma capelinha de madeira com toda a decência pra nela se poder dizer missa enquanto se não acaba a dita capela.

Pede a V. Snra. Seja servido por sua benignidade mandar passar licença pra celebrar missa enquanto dura a obra. E. R. Mercê. (ZICO, José Tobias. Caraça, sua igreja e outras construções. Belo Horizonte, FUMARC/UCMG, 1983, P.35).


Sobre a missa de 10 de agosto de 1774:

Manoel Moreira de Figueiredo, vigário colado na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Catas Altas, certifico que a dez do mês de agosto deste presente ano de 1774 fui ao alto da Serra das Catas Altas desta Freguesia e depois de benzer a nova ermida de que se faz menção retro nela celebrei o santo sacrifício da Missa a que assistiu grande numero de povo que concorreu com fervor e devoção e junto à mesma ermida em lugar por mim destinado se vai continuando com a obra da capela que se faz  toda de pedra e para clareza de tudo passei esta por mim feita e assinada. Catas Altas dia e era ut supra.
O vigário Manuel Moreira de Figueiredo. (Grifo nosso). (ZICO,1983, p.35).

Em 16 de janeiro de 1779, cinco anos após a concessão da provisão foi expedida a licença para a bençãoda capela e seus corredores e a permissão para o enterramento no interior da templo. A cerimônia de benção foi oficiada em 02 de março daquele anopelo Padre de Catas Altas, Manuel Moreira de Figueiredo. Ainda em 1779, Irmão Lourenço solicitou a nomeação de um Capelão para o pequeno templo e sua comunidade, obtendo despacho favorável apenas em 10 de fevereiro de 1780. A capela, no entanto, ainda não estava completamente concluída, faltando alfaias e pinturas. Estas serão finalizadas somente em 1783.[28]

A imagem portuguesa de Nossa Senhora Mãe dos Homens chegou ao Caraça no ano seguinte -em 1784 - e ainda hoje é uma das preciosidades da capela.[29]

Em 17 de novembro de 1785 - um decreto do Provincial Franciscano do Rio de Janeiro autorizou o capelão do Caraça a receber irmãos para a Ordem Terceira. Na década seguinte – 12 de agosto de 1791 – o Hospício do Caraça recebeu o Breve do Papa Pio VI que aprovou o sodalício.[30]


Em 1787, Irmão Lourenço recebeu de esmola, vinte e três marcos e cinquenta e duas oitavas de prata para a feitura de uma “alampada[31]” a Nossa Senhora Mãe dos Homens. O Eremita contratou para esse trabalho o ourives natural de Catas Altas - Bento de Araújo Lima -  que, no entanto, não realizou o serviço. Anos mais tarde- provavelmente entre os anos 1807/1808 – Irmão Lourenço contratou Manuel da Costa Ataíde para a pintura e douramento da capela.

Segundo Carrato, as peregrinações ao Hospício do Caraça já ocorriam desde os primeiros anos da construção e foram intensificadas a partir da chegada a indulgência da Porciúncula – 1790 - das relíquias de São Pio- 1797 - e outros objetos espirituais fornecidos por Roma.[32]

No início do século XIX, o Irmão Lourenço solicitou missionários para o Caraça, oferecendo a capela para esse fim. A resposta veio por meio de representação datada de 21 de julho de 1802:

Sendo presente ao Príncipe Regente Nosso Senhor a inclusa representação de Lourenço de Nossa Senhora, em que expõem a necessidade que há muitos tempos experimenta a Capitania de Minas Gerais, de Missionários Apostólicos, para instrução dos habitantes daqueles domínios, oferecendo para residência dos mesmos missionários uma capela, que ele edificou, à custa, na serra denominada do Caraça. É sua Alteza Real servido que o Conselho Ultramarino, à vista do que o suplicante alega, consulte com efeito o que parecer, sobre o modo de se tirar partido, com mais utilidade da Igreja e do Estado, do zelo, que o mesmo suplicante mostra na sua pia fundação. O que V.S. fará presente no referido Conselho para que assim se execute. – Deus guarde a Vossa Senhoria. Palácio de Queluz, em 22 de julho de 1802. Sr. Barão de Mossâmedes. Visconde de Anadia. Cumpra-se e registre-se. Lisboa, 21 de julho de 1802. Com 4 rubricas. (Grifo nosso) (IEPHA/MG, pasta “Levantamento Bibliográfico – Catas Altas/sede, Colégio Caraça e Outros.” Arquivo Histórico Ultramarino. Minas Gerais. Caixa 9 (1730-1805), Documento n.º 431).

Em 13 de agosto de 1802, o Conselho Ultramarino[33] solicitou informações ao Governador e Capitão General de Minas Gerais e Bispo de Mariana, referentes ao pedido de missionários feito pelo Irmão Lourenço.O Bispo de Mariana, D. Frei Cipriano[34] apesar de não ser contra às pretensões do Ermitão, desaprovava que a iniciativa partisse desse irmão leigo.[35]No entanto,nada foi acertado sobre a solicitação,[36]apesar da visita de várias autoridades que inspecionaram e se manifestaram favoráveis à vinda de missionários.[37]

Os habitantes do Hospício erão o Erimitão Lourenço e outros dous velhos estropiados, a quem a necessidade ainda mais que a devoção havia conduzido aquelle Sítio.

Das informaçoens que tomei em três dias de residência vim no claro conhecimento de que aquelles Erimitens sahião a peditórios no tempo das colheitas e atraz deles caminhavão alguns Pretos pertencentes ao Hospício, para conduzirem os mantimentos.

E bem se deixa ver que a Casa não tem fundos que rendão, ou produzão o necessário alimento para a substenção daquelles poucos indivíduos. Isto posto parece-me Sr. Que em taes circumstancias seria muito mais conveniente que aquelle Hospicio fosse povoado por homens Religiosos de Profissão capazes de instruírem os Povos e de os edificarem com as suas pregações e bons exemplos. Porem devo lembrar aqui que somente homens de espirito de penitencia, de desinteresse, homens abrazados em zelo de lucrar para Jesus Christo, sacrificando sua vida, e saúde a favor do próximo são ou devem ser os escolhidos e chamados para huma habitação tão solitária como desabrida e pra trabalhos tão penitentes como penosos. (...) (Grifo nosso). (Resposta do Governador e Capitão General de Minas, documento posterior a 1805. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1901, vol. VI, p.510 a 512).

Nesta primeira década do oitocentos são feitos vários melhoramentos em todo o conjunto e construídos os sete altares dos Passos. A Capela possuía em 1805, um significativo acervo de bens móveis: a imagens de Nossa Senhora Mãe dos Homens, de São Francisco,de Santana, de São João Batista e duas imagens de Cristo Crucificado; o corpo de S. Pio Mártir; um relicário;dois cálices de prata dourados; uma ambula de prata dourada; uma custódia de prata; “um titulo”; um resplendor;dois diademas de prata dourados; duas coroas de prata douradas; doze resplendores pequenos das imagens do Senhor Crucificado dos Altares; um vaso de prata do lavatório; um vaso de estanho; um turíbulo e uma naveta de prata; um para de cortinas com sua sanefa de damasco com galões e franjas de ouro pertencente à boca da Tribuna do Altar mor; sete pares de cortinas de cambraia roxa dos altares dos Paços; dezesseis toalhas de pano de linho; seis castiçais de jacarandá preto; quatorze castiçais de estanho; quatro “manasterjos”; três sacras de esmalte; dois missais; cinco casulas de Damasco de cores e cinco alvas; cinco “amitos” e cinco cordões; uma capa de aspergir; cinco mesas de corporais com suas bolsas dos coros; uma “umbella” de seda branca; um caixão com oito gavetas; dois armários de guardar ornatos; um espelho grande; dois espelhos da capela mor; seis placas de vidro; seis placas de esmalte carmesim; dois painéis grandes; um órgão; um piano forte; um relógio de sino; um sino de doze arrobas[38]; um sino pequeno; duas campainhas; dois pares de galhetas de vidro; duas estantes com suas cobertas de Damasco; uma lâmpada de madeira prateada e vários outros utensílios.[39]

Em 1806, Antônio Luiz Pereira, Ouvidor da Câmara de Sabará, em relatório enviado ao Rei de Portugal diz ter visto “no coro da pequenina capela barroca” um piano Forte e um pequeno órgão tocados por um negro e que enchia de harmonia o lugar. Saint Hilaire menciona-os, ainda na tribuna da capela, porém, calados e tristes.
(SILVA, Sebastião Fonseca. O Órgão da Caraça: Morte e ressurreição de um instrumento secular. Disponível em:<http://www.arteorganistica.org.br/artigos/Orgao_do_Caraca.pdf>. Acessado em: 29 de outubro de 2014).

O Ouvidor da Comarca de Sabará, Antônio Luiz Pereira da Cunha assim descreveu o hospício em 1806:
A cada hum dos Lados da Capella se acha unido hum dormitório com dez cubículos cada hum, Refeitorio, e as officinas correspondentes suposto que hum deles não esteja de todo acabado, facilmente se poderá concluir; assim como o Aterro que serve de Praça e Logradouro ao mesmo Edificio. Sendo mui louvável a eficácia, e constante Zelo com que o supt.e se tem prestado a fins tão meritórios, obtendo pelo seu incalculavel trabalho meios e proporçõens não só para a factura do Edificio, Vazos Sagrados, Imagens, Ornamentos, Pinturas e quanto he preciso para o culto Divino, como para a compra da dita Sesmaria, e terras que lhe tem anexado, para patrimônio, doze Escravos para o Serviço interno, e externo da Caza, e muitas Cabeças de Gado, que possue, e tudo consta no Inventario incluzo. (Officio de Antônio Luiz Pereira da Cunha, Ouvidor da Comarca de Sabará, 28 de janeiro de 1806. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1901, p.513 a 516).


O naturalista francês, Auguste de Saint-Hilaire, que visitou o Caraça em 1817, deixou-nos suas impressões sobre a obra do Irmão Lourenço:

Tendo caminhado durante duas horas, aproximadamente, chegamos enfim, à espécie de planície, quase circular e um pouco desigual, é regada por grande número de córregos e coberta de pastagens entremeadas de pequenos bosques. Se bem que bastante elevada em relação à bacia em que corre o Ribeirão de Brumado, acha-se ela própria rodeada em montanhas elevadas, que não deixam senão uma abertura do lado por onde se chega, quando se vem de Santa Bárbara. Na parte mais baixa, essas montanhas exibem alguns bosques esparsos; mas seu ápice só apresenta rochedos nus entremeados de vegetação pouco abundante.

É justamente à entrada da planície que acabo de descrever, e do único lado em que é aberta, que foi edificada a Ermida de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Fica-se chocado ao avistar assim de repente um edifício tão vasto a tal altitude e tão longe de todas as habitações. Em lá chegando, encontra-se em uma plataforma, em cuja frente se plantou uma fileira de palmeiras que confundem suas elegantes folhagens. Nessa plataforma erguem-se as construções da ermida, separadas em duas partes, que fazem face uma a outra. Uma escada, colocada entre ambas as porções do edifício, conduz a um patamar ao nível  do seu primeiro pavimento, e, além do mais, juntamente com a igreja, construída em plano mais recuado, forma de qualquer modo o corpo principal de um edifício do qual as construções laterais representam as alas.

Toda a fachada do edifício, desde a extremidade de uma das alas até a da outra, mede cerca de vinte três passos, e cada ala apresenta, no primeiro andar, seis janelas bastante separadas umas das outras. A escadaria conta dezoito  degraus que vem em seguida, mais estreitos que os outros, são marginados de ambos  os lados por um corrimão de pedra de bastante bom gosto. À volta do terraço existe um parapeito semelhante ao da escada. (SAINT- HILAIRE, 1975, p.99).


A pequena comunidade dirigida pelo Irmão Lourenço possuía um bom pomar com pereiras, ameixeiras, cerejeiras, marmeleiros, castanheiros oliveiras, nogueiras. O sustento dos ermitões se fazia por doação de esmolas e pela criação de gado e cultivo de centeio.[40]No final dos anos 1810, no entanto, todo o conjunto construído pelo Ermitão encontrava-se em decadência. Irmão Lourenço e seus poucos companheiros restantes encontravam-se velhos, doentes e cansados e sem ânimo para continuarem o empreendimento.

Pelo imperativo do inane convívio dos homens e das tendências do seu próprio temperamento, Lourenço vai se comprazendo cada vez mais numa espécie de ócio contemplativo, que secunda a rotina devocionista da vida comunitária, do qual emerge nos derradeiros anos de lucidez para tentar ganhar a última batalha pela vinda dos missionários. Mas então Lourenço já está praticamente sozinho: a morte, a doença, a preguiça, o dinheiro, a carne e o orgulho devastaram quase toda a comunidade. Dom Frei Cipriano de São José, hierarca arrábido, com a sua experiência dos problemas da vida conventual, sente logo o drama da liderança do Ermitão-mor, que perdeu o controle dos seus homens e somente tem após si dois velhos estropiados, e negros que saem atrás deles para recolher esmolas que lhes atiram. (...) O Hospício de Nossa Senhora Mãe dos Homens é uma tapera, uma casa abandonada, imagem fiel da própria Capitania das Minas Gerais, que amarga naqueles dias crepusculares o trágico destino da agonia do ciclo dourado. (CARRATO, 1963, p. 219,420).

Saint-Hilaire encontrou o irmão Lourenço em 1817, contando então, noventa e dois anos de idade. Descreve-o como um ancião de voz fraca e apresentando sinais de perda de memória.

Contemplei esse ancião debruçado no parapeito do terraço de seu mosteiro; uma palmeira cobria-o com sua sombra; a cabeça inclinava-se sobre o peito, mas seus olhos traiam ainda o fogo que outrora os animou; um bastão de jacarandá, mais negro do que o ébano, servia-lhe de arrimo ao corpo; parecia mergulhado em graves reflexões, e talvez de si para si acusasse menos a rapidez do tempo que a inconstância dos homens. (SAINT-HILAIRE, 1975, p.100).


Também a essa época – 1818 - os naturalistas bávaros, Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius visitaram o hospício do irmão Lourenço e deixaram suas impressões:

O Hospício de Nossa Senhora Mãe dos Homens ostenta-se como triunfo de fé perseverante de um só homem, que começou a obra simplesmente com escassos recursos, no ano de 1771, e foi ornamentando pouco a pouco a igreja com pintura, obra de talha e guarnições de prata, ouro e pedras preciosas, preparando o prédio ao lado para os religiosos, com disposições domésticas, cômodas e perfeitas, e fazendo todo o possível para que a instituição chegasse a condições florescentes. Ainda estava em vidao digno eremita, ancião cego, de mais de cem anos, de origem portuguesa. Ele muito se alegrou de poder entreter conversa, nesta remota solidão, com recém-chegados da Europa. Como ele não está mais em condições de governar, sem auxílio de outros frades, dos quais não existia mais nenhum então, passou a direção a um administrador. Acolheram-nos com amabilidade, e surpreendeu-nos encontrar a abundância de camas, lençóis asseados e outras comodidades. O estabelecimento já recebeu alguns bens por contribuição de fiéis; oito escravos negros cultivam a terra nos arredores, ou se ocupam com a criação de gado vacum, que aqui prospera excelentemente. A manteiga produzida aqui supera em paladar a dos Alpes suíços. Perto do hospício, existe também plantação de diversas frutas europeias, como – cerejas, marmelos, maças, castanhas e azeitonas; entretanto, as oliveiras apesar da situação e frescura deste lugar, nunca frutificaram. (SPIX, J.B.& MARTIUS, K.F.P. von. Viagem pelo Brasil. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1938. p.72).

Na verdade, Irmão Lourenço não tinha a essa época, um século de idade e sim noventa e três (93) anos. Faleceu em 27 de outubro de 1819, assistido pelo Padre José Inocêncio, Conego de Mariana.[41]Segundo o Padre José Tobias Zico, o Irmão Lourenço ao final da vida, lamentava a sina do seu legado. Acalmou-se, no entanto, ao receber a visão de Virgem Mae de Deus e dos Homens que o teria tranquilizado sobre o futuro do Caraça.

Ah! meu Padre, eu tudo vos direi, porque sois o meu confessor. Enchia-me de tristeza o pensamento do abandono, em que ia ficar o nosso Santuário, depois da minha morte... Mas nossa Senhora quis dar-me certeza de que ela não abandonará a sua obra... que em breve, virão padres devotados à salvação do povo e a educação da mocidade. Agora estou contente e vou morrer tranqüilo com esta esperança. (ZICO, Tobias C.M. Caraça, peregrinação, cultura e turismo. Belo Horizonte: Editora São Vicente, 1982, 16).

O Eremita Deixou toda sua obra em doação ao príncipe regente D. João,[42] para que fosse usada como uma casa de educação.

Declaro que a minha vontade sempre foi e é de que todos os referidos bens fossem para estabelecimento e residência de Missionários na forma do dito meo oferecimento a S. A. R. ; e não podendo conseguir-se pare esse fim que em tal caso servisse para um Seminario de meninos, onde aprendessem as primeiras letras e mais artes, sciencias e línguas, como grammatica, Philosophia racional e moral.
E assim instituo meo universal Herdeiro ao príncipe nosso Senhor. Declaro que, emquanto o Principe nosso Senhor não decidir acerca do destino dos ditos meos bens, conforme for sua vontade e do seo Real agrado, é minha vontade que meos Testamenteiros conservem os ditos meos bens no mesmo estado e ser em que se acharem ao tempo de meo falecimento; que igualmente conservem os irmãos pedidores, que a esse tempo se acharem na casa enquanto continuarem com zelo e fidelidade. Instituo e nomeio por meos Testamenteiros: ao Irmão Custodio, ao irmão João José, residentes na dita Casa e Capella; ao Tenente Manoel da Costa Athayde, morador no Bacalháo, todos em primeiro logar; e como não tenho certeza de que me queirão aceitar, digo, fazer a esmola de aceitar, em tal caso nomeio em segundo logar ao Alferes Domingos da Costa Athayde, mordor no Bacalhao, a Antonio Lopes, ao presente tempo morador em casas do Coronel João Batista no Inficionado; a Francisco Vieira da Silva, morador em Cattas Altas; a José Luiz morador no Brumado, aos quaes rogo queirão,por serviço de Deus e por  me fazerem esmola, ser meos Testamenteiros, Procuradores e Adminsitradores dos ditos bens, (...) (BIOGRAPHIA do Irmão Lourenço de N.ª Senhora, 1904, p.760).


Em 31 de janeiro de 1820, D. João VI, por meio de Carta Régia doou o Santuário do Caraça para a Congregação da Missão de São Vicente de Paulo:[43]

D. Manuel de Portugal e Castro, Governador e Capitão General da Capitania de Minas Geraes. Amigo. Eu El-Rei vos Envio muito saudar. Houve por bem acceitar a instituição de herança que Lourenço de N. S. Mãe dos Homens fez das terras e capella que possuia na serra do Caraça pelo testamento, com que falleceu, e foi aberto em 26 de Outubro do anno proximo, passado de 1819, para a Minha Real Pessoa, pedindo-Me a instituição de um Hospicio de Missionarios. E Considerando Eu quanto a Religião de Jesus Christo, que felizmente professamos, e a pura moral que ella ensina, faz feliz os povos, e chama sobre o Rei e seus vassallos as bençãos do Céo; Fui tambem servido Approvar a mesma disposição testamentaria, concendendo as dispensas que pelas leis da amortisação e outras determinações são necessarias para taes fundações; e Determinar que no edificio e Igreja fique estabelecido um Hospicio para os Padres da Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo, afim de que estes não somente n'aquella Igreja administrem a palavra e soccorrosespirituaes, mas d'alli hajam de sahir em missões para os logares da referida Provincia de Minas Geraes, e para as outras Provincias onde possam acudir, e os Ordinarios do logar lh'o pedirem. E para esse effeito Fiz doação da mesma Casa e Igreja, terras, e mais pertences da dita herança á Congregação da Missão, e determinei aos Padres Leandro Ribeiro Peixoto e Castro, e Antonio Ferreira Viçoso que fossem della tomar posse, e estabelecer a sua casa regular na conformidade dos seus Estatutos, e principiar a exercer as missões; com a clausula porém de deverem alli dar hospitalidade a outros quaesquer Missionarios de outra qualquer ordem Religiosa, que se destinam de passagem para essa Provincia, ou por ordem Minha estejam para o mesmo fim. No caso porém que os rendimentos das sobreditas terras não cheguem para a sustentação das Missões, serão soccorridas á custa da Minha Real Fazenda. E vós ordenareis ao Ouvidor da Comarca de Sabará que lhes vá dar judicialmente a sobredita posse, servindo-lhe de titulo esta Minha Real Ordem, do que fará os autos e termos necessarios, que serão entregues aos mesmos Padres, depois de registrados onde convier; e mandareis tambem fazer inventario do que houver, e o remattereis com a cópia do titulo para a Secretaria de Estado dos Negocios do Reino, para s incluir tudo na Carta de doação, a que se há de proceder depois da vossa informação.

     O que Me pareceu participar-vos, para que assim o tenhaes entendido, e executareis. Escripta no Palacio do Rio de Janeiro em 31 de Janeiro de 1820.
REI.
Para D. Manoel de Portugal e Castro.

 (LEGISLAÇÃO. Carta Régia de 31 de Janeiro de 1820. Disponível em:<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/carreg_sn/anterioresa1824/cartaregia-38826-31-janeiro-1820-567875-publicacaooriginal-91242-pl.html> . Acessado em 22 de outubro de 2014).

Os padres portugueses da Congregação da Missão: Leandro Rebello Peixoto e Antônio Ferreira Viçoso chegaram ao Caraçaem 15 de abril de 1820[44] enviados para estabelecer o educandário sonhado pelo Irmão Lourenço. Em quinze (15) de setembro daquele ano, os padres receberam 200$000 de donativos.[45]Em onze (11) de outubro o Caraça recebeu o título de Casa Real.

Quanto à confirmação real do Compromisso da confraria de nossa Senhora Mãe dos Homens relegada a segundo plano durante anos, só obteve o livro de compromisso em 1806. 

Compromisso da Irmandade de N.ª Snr.ª Mãe dos Homens, e de S. Francisco das Chagas da Capella da mesma Senhora, sita na Serra do Carassa Bispado de Mariana.

Como o Objetivo principal desta Irmandade de Maria Santissima May dos Homens, e de S. Francisco das Chagas, seja o serviço de Deus, e bem espiritual das almas, devem todas as pessoas que n’ella entrarem por Irmãos cumprir com zelo e cuidado as obrigações, que se expressarem n’este compromisso.

Implorão primeiramente os suplicantes á Sua Alteza Real se sirva ser perpetuo Protector da dita Capella e Irmandade, p.ª         que o seu progresso se firme e segure, dignando-se Sua Alteza Real Mandar, que todas as Justiças assim Seculares, como Ecclesiasticas cumprão, a fução  cumprir, e guardar neste compromisso sem restricção ou ampliação o que tudo Supplicão por honra e serviço de Deos, e da Senhora May dos Homens e de S. Francisco das Chagas. (REVISTA do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1901,Vol. VI, p.163).


Muitos anos depois – em 20 de outubro de 1823 - o Imperador D. Pedro I concedeu a confirmação da Irmandade que dirigia o Caraça naquele momento – os missionários Lazaristas.[46]Irmão Lourenço deixou aos futuros ocupantes, um conjunto construído ao longo de metade de sua vida.

O edifício anexo, também de pedra, compunha-se de duas alas laterais à capela, em plano avançado em relação a essa com dois pavimentos e seis janelas de cada lado no térreo e a escadaria de acesso ao adro. Completava-se o conjunto arquitetônico empreendido pelo irmão Lourenço com a Casa de Refeitório, edificada ao fundo de um quadrilátero formado ainda por oficinas laterais. O interior destas edificações aparentavam simplicidade e austeridade, como é apropriado de habitações monásticas. (IEPHA/MG. Serra do Caraça – Processo de Avaliação para Tombamento, dez. 1989, p.15).


A partir da vinda dos padres portugueses e posteriormente, dos padres franceses todo esse conjunto foi ampliado e modificado.


3 – O Colégio do Caraça – O sonho realizado
“Só o Caraça paga toda a viagem a Minas”
(D. Pedro II, 1881)

·        Introdução: Os primórdios do ensino no Brasil e em Minas Gerais

O ensino escolar da forma como conhecemos hoje surgiu na Grécia Antiga e tinha como principal objetivo instruir os soldados sobre ações militares, e táticas de guerra. Com o tempo esse ensino foi estendido a outras atividades da sociedade, em particular, aos filhos dos nobres.

Ao dominar a Grécia, a aristocracia romana incorporou o ensino escolar ministrado por escravos gregos nas residências dos interessados. Com a expansão do império teria se difundido pela Ásia, África e Europa.

No Brasil Colônia e mesmo nas primeiras décadas do Império, somente as elites tinham acesso a professores europeus que ensinavam leitura, escrita, cálculos aritméticos. Há, no entanto, a tentativa dos jesuítas de abrirem colégios nos territórios onde atuavam. Os dezessete estabelecimentos de ensino criados por esses religiosos em sua maioria no litoral, ensinavam religião, gramática, aritmética e latim. A Expulsão dos religiosos jesuítas em 1759 deu um fim a essa tentativa de democratizar o ensino.

A primeira iniciativa de se criar um ensino público na colônia partiu de D. João VI. Em 13 de maio de 1803, o príncipe D. João emitiu um alvará que recomendava a criação de uma escola de mineralogia nos moldes de duas escolas alemãs de Freyberg e Chemnitz. No entanto, a recomendação somente foi posta em prática em 1832, com a criação da Escola de Minas de Ouro Preto.

Após a independência do Brasil, em 1822, houve um empenho por parte dos governantes de ampliar o acesso ao ensino para os meninos. Sete anos mais tarde – em 15 de outubro de 1827, o ensino foi estendido também ao sexo feminino.  Em 1834, a Constituição imperial garantiu a educação gratuita para todos os cidadãos. Entretanto, um ato adicional de 12 de agosto de 1834, outorgou às Assembleias Legislativas Provinciais a autonomia para legislar sobre o ensino publico, criando uma diversidade de métodos e currículos em todo Império. Algumas províncias criaram o ensino primário facultativo.

Em Minas Gerais, o ensino das primeiras letras era ministrado em vilas, distritos, freguesias e cidades maiores, por escolas públicas - elementares de 1º grau e média ou de 2º grau - para meninos.

De 1827 a 1860, a instrução em Minas Gerais ficou a cargo da Diretoria Geral de Instrução Pública. A partir dos anos 1860 essa atribuição foi repassada à Agência Geral de Instrução Pública, subordinada à Secretaria de Governo. A partir de 1867, a Diretoria de Instrução foi reinstituída, mudando de nome quatro anos depois – em 1871 – para Inspetoria Geral de Instrução Pública, instituição que perdurou até o fim do Império em 1889. Quanto ao ensino secundário, até 1839, somente existia nos seminários e nos colégios particulares.

O Seminário do Caraça criado na Serra de mesmo nome foi a mais antiga das instituições de ensino do país.[47]



·         O Colégio do Caraça

O Colégio do Caraça começou a funcionar em 1821- com os quatro primeiros alunos naturais do Rio de Janeiro.[48]Na abertura do Colégio, tendo como reitor o Padre Viçoso,[49]somava quatorze (14) o número de alunos do novo estabelecimento de ensino. O Noviciado foi iniciado na “Casa de N. S. Mãe dos Homens” do Caraça, no mesmo período.[50]Nesse ano de inauguração e no seguinte – 1822 - os padres empreenderam a abertura de estradas e a construção de pontes sobre os rios.



A 15 de abril de 1820, apeavam na portaria da Casa de N.ª S.ª Mãe dos Homens da Serra do Caraça, os dois apóstolos destinadospela Providência para continuarem a obra do Irmão Lourenço que há 7 mezes, estava orphã das ternuras de seu pio fundador. Eram os P.es Leandro Rabello Peixoto e Castro e Antonio Ferreira Viçoso.

Recebidos por alguns escravos que foram  do Ir. Lourenço a ½ légua  da caza no lugar denominado Cruz das Almas, hoje Funil, fizeram  sua entrada triumphal de constiuidores pacíficos no logar onde iam consumir seus annos e suas forças, pela causa de seu Deus. Era um acompanhamento digno daquelles que trazem como lema de sua bandeira de guerra as palavras de Isaias que N. S.Jesus Christo o Rei pacifico atribuiu-se a si, e que S. Vicente quis para divisa sua e de seus filhos. Evangelisare pauperibus misit me... (CARAÇA – Apontamentos históricos notas biográficas – Parte I – Revista  do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, imprensa oficial de Minas Gerais, 1905, p.759).


A partir de 1820 até o ano de1834, o novo estabelecimento de ensino recebeu um mil quinhentos e trinta e cinco alunos (1.535).[51]

Em 20 de outubro de 1823, o Imperador D. Pedro I concedeu a confirmação da Irmandade aos missionários Lazaristas.[52]Nesse ano o Colégio adquiriu a Chácara Santa Rita, comprada a João Rodrigues Vieira, para que pudesse abastecer o nascente colégio de cereais, frutas, leites e boi de corte. Pouco mais de um século depois – entre os anos 1926 e 1935 - essa propriedade foi abandonada restando atualmente apenas ruínas.

“as quais possuo desempecidas e desembaraçadas e como tais, ou boas ou más, sejam as que forem, em estado em que atualmente estão, porque muitas estão lavradas, as vendo à Casa de Nossa Senhora Mãe dos Homens pela quantia de trinta mil réis, de que o R do.  Pe. Leandro Rebelo Peixoto e Castro, Superior da dita, me passou credito...” (ZICO, Pe. José Tobias. Caraça; Parque Natural e Arquivo do Colégio. Belo Horizonte, Editora O Lutador, 1990, p.21).


No ano seguinte – 1825 - o Educandário recebeu do Imperador, o título Imperial. Ainda durante a década de 1820, ocorreram a construção da casa das Sampaias[53] e o acréscimo da ala esquerda do edifício que passou a contar com mais cinco janelas.Em 1828, Manoel da Costa Ataíde concluiu a tela da Ceia de Cristo[54]. Nesse ano doou ao colégio a pintura do retrato do Irmão Lourenço.

Não se pode deixar de citar a visita ao Caraça, do primeiro imperador do Brasil - D. Pedro I e sua esposa Dona Amélia - no dia 17 de fevereiro de 1831.


A amizade com o padre Leandro Rabelo Peixoto e Castro trouxe o Imperador até a Serra do Caraça, num momento em que Sua Majestade tanto precisava de apoio e conselhos, devido à necessidade de se livrar dos conflitos e revoltas que estouravam no Império e ainda defender o trono português então ameaçado.

Como só partiram no dia seguinte à tarde, houve tempo suficiente para conversar com os Padres e os alunos e ainda assistir a um torneio literário e filosófico, durante o qual muitos aplausos foram dirigidos ao aluno João Jacyntho de Mendonça (1817-1869), que defendeu a tese “Das conclusões da filosofia racional”. Este aluno, nascido em Pelotas – RS, e matriculado no Caraça em 1828, mais tarde foi deputado pela Província do Rio Grande do Sul, em várias legislaturas, e Presidente da Província de São Paulo (1861-1862).

Dom Pedro I ficou tão encantado com o Colégio e com o primor da educação caracense que não se conteve e até participou das brincadeiras dos alunos, que o acompanharam pela estrada até longa distância no dia 18 de fevereiro, quando partiu para Catas Altas, em direção a Ouro Preto.
(Dossiê Caraça – A Pré-História do Santuário do Caraça – Texto. Disponível na Internet:<https://xa.yimg.com/kq/groups/21862049/.../Santuário+do+Caraça+I.doc> . Acessado em: 05 de maio de 2014).


Saint-Adolphe em seu Dicionário Geográfico publicado em1845, assim descreve o Colégio do Caraça:
Nesse Collégio se educarão 170 pensionistas que occupão presentemente os mais distinctos lugares em suas províncias e nas mais do Império; mas por descuido do governo, e por falta de concerto do edifício não pode este collegio receber senão 40 a 50 discipulos. “Foi neste sitio que o Padre Lourenço da Madre de Deos fez edificar de pedra e cal uma igreja elegante, e um mosteiro onde os monges viverão debaixo da sua direção das  esmolas que recebião, e do gado que criavão; e tinha em mui bom estado uma horta e pomar com todas as arvores da Europa e da India. Porem o numero d’estes homens tão interessantes se foi diminuindo, o fundador se fez velho, e morrendo em 1819, deixou a ElRei por legado o seu estabelecimento. (SAINT-ADOLPHE, J.C.R. Milliet, Dicionário Geographico Histórico e Descriptivo do Império do Brazil. Vol. II. Pariz: Em Casa de J.P. Aillaud, Editor. 1845, p 240).

A descrição deve ser posterior à data de publicação do Dicionário, uma vez que, no ano de 1842, o Colégio se transferiu para Campo Belo[55], onde permaneceu durante quatorze (14) anos. Essa transferência se deveu às lutas deflagradas pela Revolução Liberal. Os padres temendo que as hostilidades chegassem ao Caraça transferiram o estabelecimento de ensino para Campo Belo, em 24 de agosto de 1842.[56]

Não sabemos ao certo, conjecturamos que fosse o próprio estado da Congregação então pouco lisonjeiro pela defecção de muitos e alguns dos quaes não eram modelos de virtudes sarcedotaes. Como quer que seja estas razões devião ser graves e ponderozas p.ª determinar uma tal mudança em tempos e circumstancias tão desfavoráveis. E se nos fosse licito misturar cousas sagradas com as profanas diríamos q.efoi um rasgo da Providência que como outrora mandou fugido p.ª o Egyto o menino Deus p.ª salval-o da sanha de Herodes, assim fez agora com o berço da Congregação do Brazil, permitindo que fosse se esconder no sertão da Farinha Pôdre, contra a guerra civil, e as hostilidades de seus falsos filhos.(CARAÇA – Apontamentos históricos notas biográficas – Parte I– Revista  do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1905, p.880 A 881).

Em 1854, o Seminário Maior de Mariana[57] foi instalado na Serra do Caraça.[58] Dois anos depois – em dezembro de 1856 - o Colégio que se encontrava em Campo Belo retornou às suas antigas instalações, agora sob a administração dos padres franceses.[59]

Novas reformas e acréscimos ocorreramdurante toda a segunda metade do século XIX: Em 1858, foiconstruído um salão perpendicular ao refeitório, empreendido pelo Padre Mariano Maller.Nesse ano de 1858, o Padre Domingos Musci adquiriu a Fazenda do Engenho, comprada ao senhor Silvério Gomes de Araújo. A Fazenda logo foi apelidada de “Celeiro do Caraça” devido a sua grande produção de milho, feijão, arroz, café, frutas e cana de açúcar. No século XX, durante os anos de 1935 a 1960, passou a ser utilizada para descanso dos padres e recebeu um novo apelido: “Casa de Férias e Paraíso dos Apostólicos”. A partir de 1977, passou a sediar o Seminário Menor.[60]



A capela do Sagrado Coração de Jesus, foi construída entre os anos 1862/1866,pelo PadreMiguel Sipolis, juntamente com o Cenáculo.[61] Entre os anos de 1863 e 1866, os Padres Miguel Sipolis e Bartolomeu Sipolis, com incentivo e apoio de Dom Viçoso, Bispo de Mariana, construíram também, um prédio de dois andares visando abrigar o Seminário Interno[62] e os padres, com a capacidade para vinte (20) a trinta (30) pessoas. A ala direita do prédio foi ampliada em 1870, recebendo também cinco janelas, se igualando a ala esquerda.Nesse ano de 1870, precisamente em cinco (05) de abril, o Colégio recebeu mais uma propriedade: a Fazenda Capivari, doada pelo Capitão Manuel Pedro Cotta[63]:
... Como me vejo muito incomodado de saúdes, resolvi a passar hoje o papel de doação da Fazenda do Capivari para patrimônio da Casa e Santuário da Senhora Mãe dos Homens que junto acompanha como outros mais antigos bens que tenho na fazenda que também os dou para a Casa, os quais vão aqui relacionados para V. Ver.ma, mandar tomar conta deles a fim de não serem extraviados, os quais são os seguintes: todo o gado que tenho na Fazenda que chamam gado brabo; quatro porteiras; três estão no Retiro e uma no caminho do Capanema, acima do corgo das almas; todas as ferragens de ferro e madeira de candeia..., um jogo de pedras de munho (sic) (moinho); duas moendas de ferro fundido de moer que as houve de Monlevade...(ZICO, 1990,p.24 e 25).

Nos anos de 1871 a 1875, o Padre Clavelin[64] construiu a primeira parte do prédio que quase um século depois seria incendiado. A segunda parte do prédio foi efetuada pelo Padre Luís Gonzaga Boavida,[65] entre os anos 1885 e 1890.

Todo o edifício mede 58m. de comprimento por 14 de largura e 12 de altura. No andara térreo se achavam as salas de aula, a biblioteca, gabinete de física e química, enfermaria, batinaria, rouparia e mais tarde, gabinete dentário, raio X. No primeiro andar: dois grandes salões – um para estudo, comportando 300 estudantes e o outro para as festas e teatro. No último andar: dois grandes dormitórios para 200 camas, com um quarto para o disciplinário e instalações sanitárias. (ZICO, 1988, p.74).



Destacamos como a obra mais radical empreendida pelo Padre Clavelin nesse período – 1876[66]/1883 -a substituição da capela construída pelo Irmão Lourençopor um templo em estilo neogótico, o primeiro do país.[67]A nova igreja teve sua pedra fundamental inaugurada em três (03) de setembro de 1876:

“Aos 3 de setembro do ano do Senhor 1876, ocupando a Cadeira de São Pedro S. S. Pio IX, o Revmo. Silvério Gomes Pimenta, vigário capitular, regendo a Diocese de Mariana, “sede vacante”, D. Pedro II sendo Imperador do Brasil, o Exel.mo  Sr. Dom Luís Antônio dos Santos, Augusto Chefe da Diocese de Fortaleza, acompanhado dos sacerdotes que se achavam na casa do Caraça, e dos alunos do dito Colégio e também duma multidão de devotos fieis da igreja dedicada a Maria Santíssima sob o título de Nossa Sra. Mãe dos Homens e aos sagrados estigmas de São Francisco das Chagas, benzeu e colocou esta primeira pedra.
Em testemunho do que, foi lavrada esta ata e carimbada com o selo do Exel.mo Sr. Bispo, na casas de Nossa Sra. Mãe dos Homens, 3 de setembro de 1876.
+ Luis Bispo de Fortaleza
L=S.
Júlio Clavelin, Congreg. Sup. Do Caraça.
(ZICO, José Tobias. Caraça, sua igreja e outras construções. Bleo Horizonte, FUMARC/UCMG, 1983, p. 68.69).

D. Pedro II, que visitou a Serra entre os dias 11 a 13 de abril de 1881, contribuiu com a nova construção,doando o vitral central do altar-mor dedicado a Nossa Senhora Mãe dos Homens.[68] D. Pedro e sua esposa, Dona Teresa Cristina, chegaram à Serra do Caraça na noite do dia onze (11) de abril. No dia seguinte o Imperador visitou todo o conjunto e principalmente as salas de aulas onde teria arguido os alunos para testar seus conhecimentos. Os alunos fizeram discursos em nove línguas, apresentaram poesias e executaram músicas.[69]

Antes de partir para Catas Altas, D. Pedro II forneceu quinhentos mil réis (500$000) de esmolas para as obras do novo templo e mais quatrocentos mil réis (400$000) para serem distribuídos aos pobres de Barão de Cocais. Encantado com a ambiência da Serra do Caraça o Imperador prometeu enviar um artista para pintar a paisagem.[70] O artista, Georg Grimm pintou a paisagem do Santuário do Caraça em 1885.[71]
O novo templo construído pelo Padre Júlio Clavelin, foi sagrado em 27 de maio de 1883, pelo Bispo Dom Pedro Maria de Lacerda, estando presentes também os bispos D. Antônio Maria Correia de Sá e Benevides, pelo Primaz Dom Luiz Antônio dos Santos e o Bispo do Rio de Janeiro.[72]



O Santuário do Caraça tem vários altares, além do altar principal dedicado a Nossa Senhora Mãe dos Homens e do altar da Celebração Eucarística, onde está depositada a relíquia do corpo de São Pio Mártir.

Ainda da antiga Ermida do Irmão Lourenço mantêm-se dois altares barrocos, ricamente pintados, entre 1806 e 1807, pelo Mestre Ataíde, o célebre pintor marianense. Esses altares estão logo na entrada da atual Igreja. Em um deles, à direita, encontra-se a imagem de Nossa Senhora da Piedade. No outro, à esquerda, está a imagem do Sagrado Coração de Jesus.

Ao longo da Igreja, encontram-se outros 10 altares, 5 de cada lado. Do lado direito, estão os altares de São Francisco de Sales, de Santo Antônio, embaixo do qual se encontra uma lápide indicando a proximidade do local onde foi enterrado o Irmão Lourenço de Nossa Senhora, de São Paulo, de São Francisco e de São José.

Do lado esquerdo, estão os altares de São João Batista, de São Luis Gonzaga, de São Pedro, de São Vicente de Paulo e do Sagrado Coração de Jesus.

Uma curiosidade presente na disposição dos altares da Igreja neogótica do Caraça é que todos eles são dedicados a um Santo do sexo masculino, com exceção do altar principal, dedicado a Nossa Senhora, invocada como Mãe dos Homens. Essa disposição planejada e organizada pelo construtor mostra elementos culturais do final do século XIX, quando o templo foi construído, especialmente elementos culturais da formação presbiteral, marcada pelo celibato e pela ascese necessária à busca do conhecimento.
(Dossiê Caraça – A Pré-História do Santuário do Caraça – Texto. Disponível na Internet:<https://xa.yimg.com/kq/groups/21862049/.../Santuário+do+Caraça+I.doc> . Acessado em: 05 de maio de 2014).

O ensino do Colégio do Caraça priorizava as matérias de humanidades e seguia a linha pedagógica francesa dos institutos como Bouges e Saint Sulpice.[73]Sob a direção dos Padres franceses o Caraça teve a sua fase mais importante. Os filhos da elite agrária passaram a estudar no importante educandário, recebendo aulas de oratória, francês e latim do curso de humanidades. Durante o período em que o Padre Clavelin foi Superior do Colégio – dezesseis (16) anos – o Colégio teve entre trezentos (300) a quatrocentos (400) alunos.

Sobre o estudo escreveu Dom Silva nos seus “Apontamentos para a História do Caraça”: (...)“O Curso de Humanidades era de 7 anos completos. O latim era estudado quase em excesso. Cinco anos o aluno tinha que manejar a língua do Lácio, travar relações com quase todos os autores, desde SulpícioSevero até Tácito, passando por Ovídio, Virgílio e Horácio que eram aprendidos de cor. O 6º ano era empregado no estudo da história, retórica, matemática, literatura; o 7º, no da filosofia e ciências naturais.

“ O sistema de promoções era feito pelos próprios lentes que, no fim do ano, davam ao Superior a lista dos que julgavam aptos para o curso seguinte. Como corretivo da fragilidade humana de que não estavam isentos os professores de cada ano, os do ano superior podiam dar baixa aos alunos que lhes mostrassem pouco  preparo, e isto obrigava os lentes a só darem por aprovados os que estavam realmente habilitados” (ZICO, Pe. José Tobias. Caraça, peregrinação, cultura, turismo. 5ed. Belo Horizonte, Ed. Líttera Maciel, 1988, p.64,65).

Os alunos eram preparados para serem futuros acadêmicos e lideres do país como presidente e vice-presidentes, deputados e senadores da Republica. Destacamos dentre essa elite de alunos do Caraça,os senhores: Afonso Penna e Arthur Bernardes[74] – Presidentes da República e Fernando Melo Vianna[75] – Vice-presidente.Presidentes ou governadores de Minas Gerais foram sete: Quintino José da Silva, Antônio Augusto de Lima, Afonso Augusto Moreira Pena, Joaquim Cândido da Costa Sena, Arthur da Silva Bernardes, Fernando Melo Vianna, Olegário Maciel.[76]Outros alunos se destacaram no magistério, medicina, engenharia, ciências e na religião: quinhentos (500) padres e vinte e um (21) bispos.

Segundo Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), o sistema de ensino do Caraça era “admirável código de educação, um modelo de verdadeiro humanismo pedagógico, em que a autoridade harmoniosamente se combina com a personalidade e a suavidade”. De fato, como lugar de ensino humanístico, o Colégio sempre se esmerou pela excelência acadêmica (o que contrastava radicalmente com a decadência da educação primária no país, o que forçava os abastados a estudarem na Europa), coerência e seriedade pedagógica dos professores, séria disciplina (muitas vezes, por demais rígida), absoluta pontualidade e cadência ritualística dos dias e das atividades.

No período áureo francês (fim do século XIX), no Caraça, unido ao curso de Teologia e Filosofia do Seminário Maior de Mariana, estudavam-se 25 matérias. Um ritmo verdadeiramente universitário, visto que os meninos, neste período, ficavam internos em média sete anos! (Santuário do Caraça. Disponível na Internet: <http://www.santuariodocaraca.com.br/o-colegio-e-seminario/>. Acessado em: 29 de maio de 2014).



O Colégio do Caraça teve longa duração, de 1820 a 1912, apesar de um período de interrupção (1842-1856) e das constantes crises que rondaram sua trajetória. Foi um empreendimento simbolicamente próspero e financeiramente viável, pois em sua fase áurea (entre as décadas de 1870 e 1890) chegou a ter mais de 300 alunos (ao contrário da média geral de 60 alunos nos demais colégios), que pagavam caras mensalidades, além de várias outras despesas, o que configurava um alto investimento dos seus pais. Em média, o custo anual de um aluno interno nos anos 1870 era de 680$000 (seiscentos e oitenta mil-réis). Para se ter uma idéia desse montante, os serviços médicos de atendimento anual a 100 alunos pensionistas, pagos pela instituição, eram no valor de 720$000 em 1873. O colégio deveria atender os herdeiros das elites constituídas de fazendeiros – com seus negócios diversificados em forjas, comércio, fabricação do couro, compra de escravos, construção de estradas – que tinham alguma idéia da importância, também política, da instrução.
(ANDRADE, Mariza Guerra de. À porta do céu. Revista de História. Disponível na Internet: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/a-porta-do-ceu. Acessado em 02 de maio de 2014).


A partir de 1880, ocorreram mudanças significativas no ensino da instituiçãoque visavam acompanhar as transformações do país. Passaram a ensinar inglês, ciências naturais, química, geometria, literatura, latim e retórica. Em 1882, o Seminário Maior retornou à sua sede original em Mariana. Três anos depois – em 1885 – foi aberta no Caraça, a Escola Apostólica para futuros Padres Lazaristas.[77]
O gaúcho Artur de Oliveira, matriculado no Colégio do Caraça em 1868, aos 16 anos, em carta de lá ao pai, diz-se impressionado com o “ninho de religião e ciência” e com seus professores linguistas: “[...] há um que sabe 10 línguas muito bem, outro que escreve a história do Brasil em verso latino, outros se aplicam no estudo das ciências naturais [...]; fiquei pasmo quando entrei na biblioteca do Caraça, há livros que talvez não exista segundo exemplar no Brasil”. O jovem tornou-se boêmio, jornalista e viajador, e morreu de tísica aos 31 anos, mas viveu pelo gesto de Machado de Assis, que o indicou patrono da cadeira da Academia Brasileira de Letras ocupada hoje por Carlos Heitor Cony. No curto período em que passou pelo Caraça, tornou-se um estudante rebelde e chamava o colégio de “cárcere insensível e mudo”. Acabou expulso dali para outra vida que não era a prometida por aquela educação, mas que era a que ele, provavelmente, sonhara: a sociedade das letras, das ruas e das tabernas da cidade. (ANDRADE, Mariza Guerra de. À porta do céu. Revista de História. Disponível na Internet: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/a-porta-do-ceu. Acessado em 02 de maio de 2014).

Importante mencionar a grande biblioteca do colégio que chegou a ter trinta (30) mil volumes antes do incêndio de 1968, sendo uma das duas melhores bibliotecas do Estado. Ainda hoje possui exemplares raros do século XVII, XVIII e XIX.[78]

“Estive na biblioteca, onde achei bons livros e edições antigas, chamando minha atenção a “Crônica de Eusébio”(3), de 1483; Veneza, impressor Arnoldt Augustensis. Há aí uma pequena coleção de minerais, quase todos de Minas. Altura do Caraça sobre o nível do mar 1.300m, pelo ipsômetro(4) de Gorceix. Aqui dizem que são 1.600.” (D. Pedro II. A viagem de D. Pedro II a Minas Gerais. Disponível em:<http://www.estamosassim.com.br/a-viagem-de-d-pedro-ii-a-minas-gerais/>. Acessado em: 20 de outubro de 2014).


Em 1893, o Caraça foi servido de telégrafo, conectando-se ao mundo exterior. Nesse mesmo ano, passou a ser iluminado pela energia elétrica produzida pela barragem do Tanque Grande, sendo o segundo local de Minas a ser servido por energia elétrica.[79]Em 1949 a AEALAC - Associação de Ex-Alunos e Amigos do Caraça instalou uma nova usina de 20 hp a baixo da barragem do Tanque Grande que melhorou a energia fornecida desde 1893.[80]Em 26 de setembro de 1960, o Caraça passou a receber energia elétrica fornecida pela CEMIG[81] – Companhia Energética de Minas Gerais.[82]
Das dependências do Caraça, destaca-se também a área chamada de Pinacoteca,[83] que abriga quadros e diversos objetos litúrgicos como rosários, castiçais e pequenos livros. Existe ainda, o espaço considerado “Museu” onde são expostos objetos do cotidiano do colégio que pertenceram a alunos e padres: objetos de cama, mesa e banho, batinas, imagens sacras e maquinas de costura.[84]

 4 – O Santuário do Caraça nos séculos XX e XXI – Novos Rumos.

“Vivi de perto com a alma transfigurada de emoção a santa trilogia do Caraça: o silêncio – a solidão – a santidade”. (Tristão de Ataíde, 1938, no “Livro de Ouro” do Caraça, p.37v.).



No século XX o Colégio foi equiparado ao Ginásio Nacional pelo Decreto n.º 3.701, de dezesseis (16) de julho de 1900,[85] tendo o curso de humanidades a duração de cinco anos. Estudavam então, com algumas variações: Religião, Literatura Brasileira, Português, Literatura Portuguesa e universal, Grego, Latim, Francês, Inglês Aritmética, Matemática, Cosmografia, Geografia, História do Brasil e Universal, Desenho, Caligrafia, História Natural e Ciências: física e química.

A diretoriada Congregação da Missão fechou as portas do Colégio em 1912, devido ao isolamento da instituição, à concorrência com novos estabelecimentos de ensino surgidos em todo país e principalmente, devido à incidência da doença Beribéri que assustava os pais de prováveis alunos. A partir de então, passou funcionar apenas o Seminário e a Escola Apostólica.

Houve uma tentativa de reativar o Colégio em 1928, pelo Superior, Padre Jerônimo Pedreira de Castro. A tentativa durou apenas até o ano seguinte – 1929 – devido a problemas disciplinares, queda da qualidade de ensino e à doença “beribéri”[86]:

Em 1928 abre-se o Colégio com 120 alunos. Ano de adaptação. Mas o ano de 1929 é cheio de problemas e decepções. Entre os 104 alunos, alguns são “marmanjões expulsos de outros Colégios” que a bondade do Superior recebe. Cai a disciplina. O ambiente está carregado. Um aluno enlouquece, justamente “o protegido do Presidente do Estado”. Dois conseguem fugir; foram capturados e entregues aos pais. Outros são expulsos... E o beribéri continua fazendo suas vítimas... obrigando-as a passar vários dias de tratamento, na Chácara de Santa Rita. (ZICO,1988, p.106).

Quanto às terras, a Congregação sempre manteve o plantio de roças e criação de gado visando o sustento dos seus ocupantes. A venda de madeira e carvão permitiu a construção da estrada de rodagem para o Caraça em 1926.[87]
(...) o Pe. Jerônimo lançou seus operários, na serra, no dia 2 de março de 1926. Logo depois, o Presidente do Estado, Melo Viana, que muito se interessava pelo Colégio, enviou um engenheiro, Dr. Eduardo Malheiros, para examinar a viabilidade da construção da estrada. Talvez este fato deu origem à frase, conhecida e sempre repetida quando se trata deste assunto: “O que os doutores, os engenheiros, não conseguiram e até decretaram irrealizável, um simples operário, um motorista em Barão de Cocais, o Sr. Minervino, o fez: a estrada.”(ZICO, 1988, p.103).

Em 1930, terras foram desmatadas para a produção e venda de carvão aos construtores de estrada de rodagem. Mais tarde, nas décadas de 1950 e 1960[88], a Congregação vendeu parte das matas para pagamento de empréstimo ao Governo Federal e alimentação dos alunos.[89]
A Escola Apostólica continuou até o dia 28 de maio de 1968[90], data do incêndio que pôs um ponto final nas atividades escolares do Santuário.
Às 03 h da madrugada, um aluno, que dormia na enfermaria, sentiu o cheiro de fumaça e, mais que depressa, foi avisar o Padre disciplinário, que dormia no prédio do Colégio. Constatado o incêndio, provocado por um fogareiro elétrico deixado aceso na sala de encadernação, o Padre subiu ao terceiro andar, onde os 90 alunos de então dormiam, e fez com que todos descessem. Os meninos ainda tiveram tempo e coragem de descer do terceiro andar, com cordas, uma imagem de Nossa Senhora das Graças que ficava no dormitório. Muitos ainda se arriscaram, antes que o fogo dominasse tudo, a salvar alguns livros da grande biblioteca do Colégio, que tinha, no mínimo 30000 livros.
O fogo, iniciado na sala de encadernação, passou logo para o Museu de História Natural, onde havia muito materialinflamável, e para outros cômodos do primeiro andar, inclusive salas de aula. Indo para o segundo andar, o fogo atingiu a sala do teatro, onde havia vestuários e cenários usados para as apresentações dos alunos. Daí foi passando para os salões de estudo. Chegando ao terceiro andar, o fogo atingiu os dormitórios.

Quandoos bombeiros chegaram, no dia seguinte pela manhã, depois da quase impossível subida, devido às dimensões dos caminhões,pela antiga estrada de terra, o fogo estava praticamente no rescaldo. A Igreja, ligada ao prédio do Colégio, foi preservada porque logo pensaram em tirar as telhas da sacristia para evitar a passagem do fogo.

Terminava ali, em cinzas, o célebre Colégio do Caraça, o mais importante e duradouro Colégio que o Brasil conheceu.
(Dossiê Caraça – A Pré-História do Santuário do Caraça – Texto. Disponível na Internet:<https://xa.yimg.com/kq/groups/21862049/.../Santuário+do+Caraça+I.doc> . Acessado em: 05 de maio de 2014).

“Nunca voume esquecer daquela madrugada fria de maio. Todas as noites, por volta das 21h, todos ouvíamos as palavras do padre antes de dormir. O problema é que um dos alunos esqueceu o fogareiro elétrico com 500ml de cola de couro de boi, de cheiro muito forte, usada na recuperação dos livros. Aquilo transbordou e o fogo se propagou no primeiro andar. As paredes eram de pedra, mas tudo lá dentro, de madeira”

(MENEZES FILHO, Sylvio. Incêndio que destruiu parte do Santuário do Caraça ainda vive na lembrança. Jornal Estado de Minas. Disponível em:<http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/07/27/interna_gerais,428101/incendio-que-destruiu-parte-do-santuario-do-caraca-ainda-vive-na-lembranca.shtml>. Acessado em 27 de outubro de 2014).

“O Colégio Caraça foi quase completamente destruído, ontem, por um incêndio que durou oito horas e deu prejuízos de quase dois bilhões de cruzeiros antigos. O fogo começou às 3 horas da madrugada e foi debelado com o concurso de 100 homens do Corpo de Bombeiros. Somente a coleção de livros da biblioteca do educandário, destruída pelas chamas, estava avaliada em mais de um bilhão de cruzeiros antigos. Outros danos foram provocados pela destruição dos laboratórios, dormitórios e salas de aula. Apenas a ala de residência dos padres, o refeitório e a igreja não foram atingidos”.


Assim terminou a vocação educacional do complexo do Caraça que passou a focar as atenções na religião, e atividades ligadas à peregrinação, cultura e alternativa eco turísticacentrada na preservação do meio ambiente.

A importânciahistórica, arquitetônicado conjunto construído durante os séculos XVIII e XIX foi reconhecida pelo IPHAN por meio do tombamento ocorrido em 27 de janeiro de 1955, Processo 0407 –T- 49,inscrição no Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico 015-A eno Livro Histórico, inscrição 309.
Em nove (09) de dezembro de 1971, foi decretado uma ação de usucapião no Fórum de Santa Bárbara, referente às terras da Bacia do Caraça, Chácara de Santa Rita, Fazenda do Engenho e Fazenda do Capivari - somando onze mil e duzentos e trinta e três hectares (11.233 ha.) - em favor da Província Brasileira da Congregação da Missão.[91]Segundo a Certidão de Imóvel a área atual da propriedade da Congregação é de 12.444,0375 hectares, com perímetro de 69.553, 78 metros.[92]
A partir de 1971, iniciaram-se os estudos visando à transformação da área pertencente à Congregação da Missão, em Parque Natural. Esses estudos foramrealizados pela Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN) com apoio da CNPQ, Universidade Federal de Minas Gerais e CETEC.[93]Nessa década de 1970, o Caraça já era um grande atrativo turístico da classe média, recebendoem 1978, vinte e sete mil (27.000) visitantes.[94]Esses turistas não se demoravam no Conjunto devido à falta de alojamentos adequados para estadias mais prolongadas.

Em 1982, como resultado de um convênio firmado em 1975, a FBCN, elaborouum Plano Diretor para o Parque do Caraça denominado Projeto Caraça I, que estabelecia uma proposta de zoneamento com diretrizes específicaspara a área. Nesse ano de 1982, a Província Brasileira da Congregação da Missão, assinou um novo convênio com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, atualmente IBAMA, para transformar a área do Caraça em Parque Natural. No entanto não foi possível a criação do parque por se tratar de área particular.[95]

Anos depois, a Constituição Estadual de Minas Gerais de 1989, em seu artigo 84, tombou a Serra do Caraça e a elevou a Monumento Natural juntamente com outros conjuntos naturais do Estado de Minas Gerais definindo um prazo para a regulamentação da sua demarcação[96]:

Art. 84 – Ficam tombados para o fim de conservação e declarados monumentos naturais os picos do Itabirito ou do Itabira, do Ibituruna e do Itambé e as serras do Caraça, da Piedade, de Ibitipoca, do Cabral e, no planalto de Poços de Caldas, a de São Domingos.

§ 1º – O Estado providenciará, no prazo de trezentos e sessenta dias contados da promulgação de sua Constituição, a demarcação das unidades de conservação de que trata este artigo e cujos limites serão definidos em lei.
§ 2º – O disposto neste artigo se aplica à bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha e aos complexos hidrotermais e hoteleiros do Barreiro de Araxá e de Poços de Caldas. (Negrito nosso). (Constituição Estadual De Minas Gerais, 1989, Ato Das Disposições Constitucionais Transitórias - Art. 84).

Finalmente, em 30 de março de 1994, uma área de 10.187,89 hectares da Serra do Caraça pertencente à Província Brasileira da Congregação da Missão foi reconhecida como Unidade de Conservação de uso Sustentável, na categoria de Reserva Particular Natural – RPPN – por meio da Portaria do IBAMA n.º 32, publicada em quatro (04) de abril daquele ano,no Diário Oficial da União nº 62.[97]Da área de 2.256,147 hectares que ficaram fora da RPPN, 44 hectares são de servidão da CEMIG e do DER/MG. A área restante é mantida pela Congregação para uso, manejo e autossutentação.[98]
Evidentemente a Serra do Caraça possui uma área bem maior - 31.521 hectares - envolvendo os municípios de Barão de Cocais, Santa Bárbara, Catas Altas, Mariana, Itabirito e Ouro Preto, sendo um dos marcos geográficos mais importantes de Minas Gerais,impregnado de valores - paisagístico, geográfico, histórico, ambiental e turístico - além de ser uma área prioritária para a preservação e conservação da biodiversidade do Quadrilátero Ferrífero.[99]



A RPPNSC tem um passado histórico peculiar, pois uma área excepcional de 12.403 hectares foi mantida em posse de apenas dois proprietários, o Irmão Lourenço de Nossa Senhora e a Congregação da Missão, por mais de 240 anos. A área da Reserva foi constituída pela fusão de quatro propriedades: a original, adquirida pelo Irmão Lourenço por volta de 1770, na qual se acham as edificações principais do Caraça; a Fazenda da Chácara[100], comprada em 1823, cuja antiga sede não mais existe e que foi, durante muito tempo, o celeiro do Colégio, no antigo caminho de Catas Altas; a Fazenda do Engenho, comprada em 1858, localizada nas proximidades da Portaria de acesso à Reserva; e a Fazenda do Capivari, doada pelo Coronel Manoel Pedro Cotta e por sua esposa, que, pornão terem descendentes, legaram sua propriedade ao caraça em 1870.

Devido ao seu contexto histórico, a RPPN recebeu o nome de Santuário do Caraça. (PLANO de manejo da RPPN “Santuário do Caraça” Minas Gerais.Província Brasileira da Congregação da Missão. Catas Altas / Santa Bárbara, Minas Gerais, abril 2013, p. 23 e 24).


A função daRPPN[101] – Santuário do Caraça é a proteção da biodiversidade, dos recursos hídricos nas cabeceiras do Rio Doce e proteger as várias espécies endêmicas existentes na região, como as antas, lobos-guarás, esquilos, onças pardas e outros.

O acesso legal à Reserva se faz via Santa Bárbara por estrada asfaltada. Nas proximidades da RPPN existem três comunidades – os subdistritos de Santa Bárbara: Santana do Morro, Sumidouro e o distrito de Brumal tombado pelo IEPHA/MG.

São comunidades mais próximas da RPPNSC, e em parte dependência econômica, religiosa e culturalmente de maneira marcante, de geração em geração.

Essas comunidades, além do distrito de Barra Feliz, identificadas carinhosamente como comunidades da - baixada caracense, são atendidas pelos padres da Congregação da Missão (PBCM) / Santuário do Caraça, através do Curato Nossa Senhora das Graças, com sede no distrito de Brumal.
(...) São José de Sumidouro ou como é mais conhecido, Sumidouro, fica praticamente encostado em Brumal e perto de Santana do Morro. Todos os que visitam o Caraça passam por Sumidouro, pois a rua principal é também a rodovia de acesso ao Caraça.

O povoado de Sumidouro é longo: uma rua/rodovia atravessa a linha de casas no sentido mais comprido. A rodovia foi identificada como Pe. Jerônimo, mas, popularmente é conhecida como rodovia do Caraça.

É uma região com casas antigas, sítios ou casas de campo de moradores sazonais e algumas fazendas pequenas cobertas de hortas e de café.(...).

A comunidade de Santana do Morro (Arranca–Toco) situa-se a 2 km após Sumidouro, à esquerda da Rodovia Pe. Jerônimo. Entrando à esquerda, a uns 300 metros, está a ponte de concreto sobre o Rio Caraça. Numa grande rua de terra, constitui-se a comunidade com casas dos dois lados em terrenos de grandes dimensões. O povoado finda no final desta rua ao encontrar o rio Quebra-Ossos ou Brumadinho. Nesse local, existe apenas uma ponte pênsil para passagem de pedestre. (PLANO de manejo da RPPN “Santuário do Caraça” Minas Gerais.Província Brasileira da Congregação da Missão. Catas Altas / Santa Bárbara, Minas Gerais, abril 2013, p. 157 e 159).

Em 26 de julho de 2001, a Lei Estadual n.º 13.960, criou a Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte - APA Sul RMBH – unidade de conservação, com extensão de 1625,32 Km2 envolvendo os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara e consequentemente a área do Caraça.[102]Quatro anos depois- em 2005 - a RPPNSC foi incorporada as áreas destinas às Reservas da Biosfera pela UNESCO - Mata Atlântica e Serra do Espinhaço/MG.

Por estar em uma área de transição, o parque possui uma vegetação rica, com grande variedade de flores. Estas atraem várias espécies de beija-flor, dentre eles o beija-flor-de-gravatinha, um dos menores do mundo. É um local reconhecido internacionalmente como um dos melhores no Brasil para a observação de pássaros.

O Parque também abriga espécies animais raras como o sauá, a onça parda, o quati, esquilos e o habitante mais famoso, o lobo-guará, símbolo do Parque. Para aqueles que passam a noite no Caraça, uma das principais atrações é aguardar a chegada dos lobos-guarás que se aproximam do Santuário e comem nas mãos de um dos padres da Província.

As matas abrigam lindas bromélias e mais de 200 espécies de orquídeas. Existem excelentes opções de passeios para aqueles que apreciam a natureza. Há trilhas mais fáceis para os que não estão acostumados a caminhadas e trilhas mais radicais para os que não dispensam uma boa aventura. Para alcançar as cachoeiras, cascatas, piscinas naturais e grutas[103], há trilhas sinalizadas. A mais difícil leva ao Pico do Inficionado (2032m) e a gruta do Centenário, uma das maiores grutas de quartzito do mundo, com 400 m de profundidade e curso d'água com 80 m de desnível.
(Governo de Minas Gerais. Parque Natural da Serra do Caraça. Disponível na Internet:<http://www.mg.gov.br/governomg/portal/c/governomg/conheca-minas/turismo/parques-e-grutas/10250-parque-natural-da-serra-do-caraca/25081-parque-natural-da-serra-do-caraca/5146/5044>. Acessado em: 15 de maio de 2014). 


O título oficial de “Santuário do Caraça” foi concedido por decreto de quatro (04) de março de 2005, assinado pelo Arcebispo de Mariana, Dom Luciano P. Mendes de Almeida.


A área da reserva do Caraça e seu entorno, ainda hoje sofre ameaças devido à riqueza mineral. Por outro lado, intensificam-se os projetos de proteção desse rico patrimônio em nível internacional com a criação do Geopark[104]Quadrilátero Ferrífero e a transformação da RPPNSC em Geosítio.

Diante de várias ações em defesa da conservação da Serra do Caraça, e precisamente da RPPNSC, e cientes do modelo de gestão de uma APA, a Reserva encontra-se inserida em uma região cobiçada pela exploração do ouro, minério de ferro, bauxita e outros minerais de valor no mercado internacional.
A valorização exorbitante de minerais para abastecer o mercado de consumo da humanidade moderna, faz com que a região vivencie situações de conflitos entre o preservar e o minerar, ou seja, a extração dos recursos naturais não-renováveis, a descaracterização da paisagem da região, além da perda de biodiversidade local e peculiar do rebaixamento do lençol freático e também da mudança na cultura local.
Por causa da presença de minerais na região, existe um Projeto em análise na UNESCO, para aprovar a criação do Geopark Quadrilátero Ferrífero, onde a RPPNSC está inserida na proposta, como Geosítio Caraça.
Para a UNESCO, criadora do conceito, o geoparque consiste em um território com limites definidos que apresente sítios geológicos de especial valor científico. Além da significância geológica, um geoparque deve apresentar também valores ecológicos, arqueológicos, históricos ou culturais inseridos em um processo de desenvolvimento sustentável que fomente projetos educacionais e de valorização do patrimônio cultural local. Entre as atividades compatíveis com a proteção do patrimônio geológico a UNESCO destaca o geoturismo. (PLANO, abril 2013, p. 165 e 166).



[1]“Caraça porta do Céu” é o nome do filme produzido pela Empresa Cinematográfica “Orbis Film” presidida pelo Sr. José W. Carsalade entre os anos 1949 e 1950. Roteiro do norte-americano Edmond Bernoudy e dirigido depois por Teodoro Lutz. (ZICO, 1988, P.141).
[2]A denominação Serra do Caraça corresponde a parte da Serra do Espinhaço entre os municípios de Santa Bárbara e Catas Altas.
[3]A reserva particular do patrimônio natural – Santuário do Caraça é uma unidade de conservação de âmbito federal, gravada com perpetuidade, através da portaria do IBAMA, nº 32, de 20 de março de 1994.
[4]PLANO de Manejo da RPPN “Santuário do Caraça” Minas Gerais.Província Brasileira da Congregação da Missão. CatasAltas / Santa Bárbara, Minas Gerais, abril 2013,p. 25.
[5]Destaca-se dentre as grutas da Serra do Caraça, a Gruta do Centenário que teve esse nome devido ao centenário da independência do Brasil em 1922. A gruta foi visitada e mapeada pela primeira vez pelos padres do Caraça. Em 1996, uma expedição de espeleólogos despreparados tentou conhecer a gruta. Até 1998 a gruta possuía 454 metros de desnível, 3.730 metros de projeção horizontal e 4.630 metros de desenvolvimento linear. (HORTA, Lília Senna. Gruta do Centenário o maior presente do Bambuí. O Carste, abril de 1998, vol.10 n.º2, p.44 a 49). A gruta da Bocaina foi descoberta entre os anos 1996/98. A entrada possui 100 metros de profundidade. a primeira expedição atingiu a profundidade de 130 metros e identificou várias galerias. Em 2000, duas novas expedições chegaram a 404 metros. (RUBBIOLI, Ezio Luiz. Gruta Bocaina o desafio continua. O Carste, abril de 2001). Segundo o Plano de Manejo, a Gruta Centenário possui 3.800 metros de desenvolvimento e desnível de 484 metros. Existem ainda a Gruta Centenário II, de 18 metros de projeção; a Gruta Centenário III, 100 metros de projeção horizontal; a Gruta do bloco suspenso de 2020 metros de projeção horizontal e 172 metros de desnível; a Gruta Alaouf de 1.200 metros de projeção horizontal e 1.710 metros de desenvolvimento linear. (Plano, abril de 2013, p.38 a 41).
[6]SANTUÁRIO do Caraça. Disponível na internet:<http://www.santuariodocaraca.com.br/primordio-do-caraca/>. Acessado em: 27 de junho de 2014.
[7]CARRATO, 1963, p. 228,229.
[8]CARRATO, 1963, p.231.
[9] Para o dicionarista Antônio Morais Silva, “Caraça” significaria máscara pequena, fisionomia, carão, cara, rosto.  (CARRATO, 1963, p.232,233).
[10]POHL, 1976, p.381 a 382.
[11]Arquivo da Venerável Ordem Terceira de São Francisco (igreja de São Francisco de Assis, em Diamantina, Minas Gerais) Livro das profissões da Venerável Ordem Terceira da Penitência, n. 26. (CARRATO, 1963, p. 268).
[12]CARRATO, 1963, p.279,280. OJoão Fernandes de Oliveira nasceu em Mariana em 1720. Herdou o nome de seu pai e vô. Em 1752 foi nomeado desembargador do paço. No ano seguinte mudou-se para Diamantina (Arraial do Tijuco) para cumprir a função de contratador que o pai o pai ocupara a partir de 1740.Em 1770, o contratonão foi renovado por Pombal devido às pressões do Conde de Valadares, Governador das Minas. João Fernandes foi obrigado a voltar para Portugal. (D’ ANDRÉA,Carlos F. João Fernandes de Oliveira. Cidades Históricas Brasileiras. Disponível na Internet:<http://www.cidadeshistoricas.art.br/hac/bio_jfo_p.php>. Acessado em: 23 de abril de 2014).
[13]João Fernandes é intimado pelo Rei a seguir para Lisboa onde perde o contrato sobre os diamantes. (CARRATO, 1963, p.281).

[14]Segundo um manuscrito anônimo, Irmão Lourenço teria se hospedado com dois mineiros que ainda  faiscavam ouro em um dos rios da Serra. (CARRATO, 1963, p. 312,313).
[15] BIOGRAPHIA do Irmão Lourenço de N.ª Senhora. Revista do Arquivo Público Mineiro. Bello Horizonte: Imprensa Official de Minas Geraes, 1904, p.746.
[16] BIOGRAPHIA do Irmão Lourenço de N.ª Senhora. 1904, p.746. CARRATO, 1963, p. 314.
[17]Esse documento original encontra-se no Arquivo Histórico do Caraça.
[18]CARRATO, 1963, p.313,314.
[19]Arquivo Histórico do Caraça. Caixa 63 – Pasta Documentos sobre o Caraça do irmão Lourenço 1763-1819. Documento n.º 16 de 1775.
[20]Arquivo Histórico do Caraça. Caixa 63 – Pasta Documentos sobre o Caraça do irmão Lourenço 1763-1819. Documento de 1790. Título de terra de agricultura vertente para o rio Sumidouro vendida por Antônio Ribeiro da Fonseca ao irmão Lourenço.
[21]Os hospícios eram estabelecimentos que abrigavam pessoas pobres ou doentes. Uma hospedaria.
[22]o Irmão Custódio chega ao Caraça em 1776. (CARRATO, 1963, p. 323 A 349).
[23]iepha/mg, pasta “Levantamento Bibliográfico – Catas Altas/sede, Colégio Caraça e Outros”. Arquivo Histórico Ultramarino. Minas Gerais. Caixa 14 (1733-1807), Documento n.º 429.
[24]iepha/mg, pasta “Levantamento Bibliográfico – Catas Altas/sede, Colégio Caraça e Outros”. Arquivo
Histórico Ultramarino. Minas Gerais, cod. 458 – fls.80v.
O Caraça possui em seus arquivos dezoito cadernos onde acham-se o nome de 23.226 irmãos devotos entre os anos de 1791 a 1885de 1791 a 1885. Esse irmãos pagavam  anualmente uma pequena contribuição ao Caraça. (Santuário do Caraça. Disponível na Internet: <http://www.santuariodocaraca.fot.br/textos/ultimosdias.htm>. Acessado em: 28 de maio de 2014).

[25]Antônio Luís Pereira da CunhaMarquês de Inhambupe, nasceu na cidade da Bahia a 06 de abril de 1760. Em 0 4de fevereiro de 1803 tomou posse na vila de Sabará como Ouvidor.
[26]Officio de Antônio Luiz Pereira da Cunha, Ouvidor da Comarca de Sabará, 28 de janeiro de 1806. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Imprensa oficial de Minas Gerais, 1901, p.513.
[27]Hospício é uma pequena casa religiosa. Espécie de convento pequeno que recebe hospedes da mesma religião. (CARRATO, 1963, p. 335,336).
[28]No ano de 1780, a Ordem Terceira da Penitência de Diamantina expediu o diploma de irmão terceiro de São Francisco a Lourenço de Nossa Senhora e aos seus irmãos radicados no Caraça ou ligados à fundação do Santuário. (CARRATO, 1963, p. 321,322).
[29]Em 17 de maio de 1784, a imagem da Senhora Mãe dos Homens é abençoada pelo Padre Manuel Coelho dos Reis da freguesia de Catas Altas. (sarnEEL, Padre. Guia Sentimentaldo Caraça. Belo Horizonte, Impresa Oficial de Minas Gerais, 2005, p.101). durante a restauração da imagem – em 1998 - o restaurador encontrou uma oração datada provavelmente de fins do século XVIII e início do XIX assinada por certo Alexandre: Ó MariaSantíssima, Mãe de Misericórdia e dos pecadores, aqui está a vossos pés o menor de todos eles e o mais indigno filho – Alexandre – escravo vosso. lançai, minha mãe e senhora, sobre a alma deste enorme pecador, a vossa santíssima bênção e ponde-me os vossos piíssimos olhos e intercedei por nós a vosso santíssimo filho, meu Deus de amor e misericórdia”
[30]Sodalício:sociedade de pessoas que vivem juntas ou em comum. (CARRATO, 1963, p. 343).
[31]Alampadas são arranjos florais, que incluem frutos, destinados a ornamentar. Alampada também podem significar lâmpadas.
[32]A indulgência da Porciúncula foi concedida pelo Papa Pio VI em 28 de fevereiro de 1790. As relíquias do denominado “Pio Mártir” chegaram ao Caraça em 1797. Na verdade tratavam-se de relíquias de cristão anônimo -um pio mártir - morto nos primeiros séculos do cristianismo que se encontrava nas catacumbas de Roma. Os fiéis é que denominaram esse cristão anônimo de São Pio Mártir. (CARRATO, 1963, p. 366). A relíquia de São Pio é composta de corpo do santo revestido de cera, um cálice com sangue misturado a areia, unhas e dentes.
[33]O Conselho Ultramarino foi fundado em 1642, na cidade de Lisboa e começou a funcionar em 1643.Sua criação se deveu a inexistência de um tribunal próprio para tratar dos assuntos referentes às índias e às colônias  portuguesas. (InfoEscola. Disponível em:<http://www.infoescola.com/brasil-colonia/conselho-ultramarino/> Acessado em 28 de outubro de 2014).
[34]Dom frei Cipriano de São José nasceu em Lisboa, Portugal em 12 de novembro de 1743.Em 24 de julho de 1797 foi nomeado Bispo de Mariana, sendo sagrado em 31 de dezembro de 1797 peloCardeal de BartolomeuPacca. Chegou em Marianaem 1799.
[35]CARRATO, 1963, p. 393,394.
[36] IEPHA/MG, Pasta “Levantamento Bibliográfico – Catas Altas/sede, Colégio Caraça e Outros.” Arquivo Histórico Ultramarino. Minas Gerais.
[37]Carrato encontrou no arquivo público mineiro o códice de n.º 341-SG, datado de 10 de novembro de 1809, em que o Príncipe Regente, D. João “manda ao Governador da Capitania de Minas Gerais informar um curioso Requerimento da Câmara da Vila Real do Sabará, que solicitava ‘o estabelecimento de um hospício, e a missão de 12 Padres que vão habitar o que já se acha feito na Serra do Caraça pelo Irmão Lourenço de N.a Sr.a’ ”.(CARRATO, 1963, p.410).
[38]Esse seria provavelmente o sino denominado “ Sino Grande” ou “Sino Maior” datado de 1782, que repicou à chegada do corpo de São Pio em 1797. (SARNEEL, 2005, p.120).
[39]O Inventário descreve minuciosamente todos os bens do Hospício.    Ver cópia na Figura 73. (Nossa Senhora, Irmão Lourenço. inventário das Alfaias e Bens Patrimoniaes da Capella da Snr.ª May dos Homens – Escriv.m Paula,1805. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1901, p. 519,520).

[40] BIOGRAPHIA do Irmão Lourenço de N.ª Senhora,1904, p.748.
[41]CARRATO, 1963, p. 424,425.
[42]Irmão Lourenço deixou sua sesmaria de terras, e capela com todos os ornamentos, alfaias, imagens, relíquias para o príncipe Dom João.BIOGRAPHIA do Irmão Lourenço de N.ª Senhora, 1904, p.759.
[43]A Congregação da Missão foi fundada por São Vicente de Paulo no dia 17 de abril de 1625, Seus membros são conhecidos como padres e irmãos vicentinos ou lazaristas.
[44]A carta régia datada de 31 de janeiro de 1820, expedida por D. João VI, doou o conjunto do Caraça à Congregação da Missão.
[45]Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Imprensa  Oficial de Minas Gerais, 1901, p.497.
[46]CARRATO, 1963, p.378.
[47]COSTA, LeopoldoHistória do Ensino em Minas Gerais. Disponível em<http://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/2011/06/historia-do-ensino-em-minas-gerais-no.html>.  Acessado em 20 de outubro de 2014.
[48]Os alunos Francisco de Paula, José Duarte, Manuel Maria de Lacerda e João Dinis foram matriculados em novembro de 1820 (SARNEEL, 2005, p297).
[49]Mais tarde, em 1843, o padre Viçoso se tornou D. Viçoso, o 7º bispo de Mariana. Existe um processo para sua  canonização em andamento aberto em 2007(Santuário do Caraça. Disponível na Internet: <http://www.santuariodocaraca.com.br/processo-de-beatificacao-de-dom-vicoso/>. Acessado em: 02 de maio de 2014).
[50]Até 1834, 49 candidatos haviam se apresentado para a irmandade. (CARAÇA – Apontamentos históricos notas biográficas – Parte I– Revista  do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1905p.772 a 842).
[51]O Santuário do Caraça. Disponível na Internet:<http://www.santuariodocaraca.com.br/os-padres-da-missao/>. Acessado em: 28 de abril de 2014.
[52]CARRATO, 1963, p.378.  A Congregação da Missão foi fundada por São Vicente de Paulo em Paris, no ano de 1625. O nome “Padre Lazaristas” foi dado aos irmãos da Congregação da Missão a partir de 1632 quando a Congregação se transferiu para uma construção que fora  sede de um antigo leprosário denominado “Casa de São Lázaro”. (SARNEEL, 2005, p.243).
[53]As Sampaias eram senhoras piedosas que trabalhavam no Caraça. No início era lavadeiras de Catas Altas e Brumal. O Superior da época construiu a grande casa para abriga-las. Trouxe do Bonfim duas devotas para servirem de Superiora e Mestra das ajudantes dos padres. Segundo a tradição, as primeiras Sampaias pertenciam à família Sampaio ou eram parentes do Padre Serafim Sampaio, um amigo dos padres do Caraça. O documento mais antigo sobre as Sampaias data de 1850. Em 1980, existiam sete Sampaias. (ZICO, 1990, p.143 a 150).
[54]Segundo O Padre Sarneel, o quadro da Ceia foi comprado pelo Padre Jerônimo Gonçalves de Macedo. (SARNEEL, 2005, p. 150).
[55]Por volta de 1827, João BatistaSiqueiraBento e sua esposa doaram as terras da fazenda Campo Belo para a Congregação da Missão. Os Lazaristas instalaram um Colégio na fazenda, origem da atual cidade de Campina Verde no Triângulo Mineiro.Devido principalmente ás dificuldades de comunicações o colégio dosLazaristas em Campina Verde foi fechado em 1887.(BIBLIOTECA do IBGE. Disponível em:. Acessado em: 23 de outubro de 2014).
[56]Transferiram-se para Campo Belo o Padre Antônio, os Padres Moraes, Farias e Villa Verde com 20 escravos e todos os livros e bens que podiam transportar. (CARAÇA – Apontamentos históricos notas biográficas, 1905, p. 881). Campo Belo situa-se a 232 Km de Belo Horizonte por rodovia.
[57]Fundado em 20 de dezembro de 1750, pelo primeiro Bispo Dom Frei Manuel da Cruz, o Seminário de Mariana foi desmembrado em dois institutos – Seminário Menor Nossa Senhora da Boa Morte e Seminário Maior São José. No episcopado de Dom Antônio Ferreira Viçoso sua direção foi confiada à Congregação da Missão dos irmãos Lazaristas, que a dirigiram de 1853 a 1966. (Breve Histórico do Seminário de Mariana. Arquidiocese de Mariana. Disponível em:<http://www.arqmariana.com.br/seminario/>. Acessado em: 20 de outubro de 2014).
[58] A mudançado seminário de Mariana para o Caraça  teria ocorrido devido a uma epidemia de varíola na cidade.  o seminário do Caraça formou cerca de 500 padres durante a sua existência.
[59]IEPHA/MG, Processo, dezembro de 1989, p.16.
[60]ZICO, 1990, p. 24.
[61] Inicialmente a Capela estava dedicada à Nossa Senhora das Vitórias e mais tarde ao Coração Imaculado de Maria. O nome foi mudado para o atual em data imprecisa. O Cenáculo seria uma casa para noviços e missionários dedicada a exercícios espirituais, mas não chegou a ser inaugurado. Abandonado acabou sendo demolido e muitas de suas pedras foram usadas para a construção do prédio da biblioteca e museu.Restam hoje, apenas ruínas desta obra.  (SARNEEL, 2005, p.190 e 298).
[62]O seminário é uma instituição das igrejas católicae protestante dedicada à formação de seus candidatos ao ministério sagrado. os estudantes são os seminaristas e recebem preparação cultural (principalmente filosofia, eteologia) bem como espiritual.
[63]A transmissão de propriedade ocorreu em 1º de julho de 1877 e custou ao Colégio doze mil Réis. Além da sede foram adquiridos três mil hectares.  A fazenda não existe mais restando apenas ruínas. (ZICO, 1990, P.25).
[64]Durante o primeiro ano sob a direção do Padre Clavelin, o Colégio contou com 113 alunos. (SILVEIRA, Victor. Minas Gerais em 1925, Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, p.585).
[65] Padre Boavida também construiu o órgão de 628 tubos portugueses, franceses e produzidos no Caraça. Foi inaugurado em 27 de maio de 1883. (SARNEEL, 2005, p.111). O
[66]O ano de 1876 foi demolida a capela construída pelo Irmão Lourenço.
[67]O Santuário do Caraça. Disponível na Internet:<http://www.santuariodocaraca.com.br/os-padres-da-missao/>. Acessado em: 28 de abril de 2014.
[68]Osvitrais do presbitério são de origem francesa.
[69]O Caraça possuía uma banda de música. (Dossiê Caraça – a pré-história do santuário do caraça – texto. disponível na internet: <https://xa.yimg.com/kq/groups/21862049/.../santuário+do+caraça+i.doc>. acessado em: 5 de maio de 2014.)
[70]Os quinhentos mil réis foram usados para confeccionar o vitral do altar-mor. (Dossiê Caraça – A pré-história do santuário do caraça – texto. disponível na internet:<https://xa.yimg.com/kq/groups/21862049/.../santuário+do+caraça+i.doc> . acessado em: 5 de maio de 2014.)
[71] O artista plástico, professor e decorador Johann Georg Grimm, nasceu em Kempten – Alemanha em 1846 e faleceu na Itália em 1887. Chegou ao Brasil em 1878 onde realizou estudos de paisagens e fazendas de café. Entre os anos 1882/1884 foi professor interino da Academia Imperial  de Belas Artes, onde ministrava  aulas de paisgem, flores e animaisPor divergir dos métodos da Academia, se desliga da instituição e monta o grupo conhecido como “Grupo Grimm”, formado pelos pintores Castagneto, Caron, Garcia Y Vasquez, Francisco Ribeiro Antônio Parreiras, França Júnior e Thomas Driendl. Passa a realizar pinturas ao ar livre e pelo interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em 1887 retorna à Europa. (Enciclopédia Itaú Cultural. Disponível em:. Acessado em: 22 de outubro de 2014).
[72]TRINDADE, 1945, p. 77 a 79.
[73]TEIXEIRA, Flávio Augusto de. MARTINS, Karla Denise. A preservação e divulgação  do patrimônio histórico da RPPN – Santuário do Caraça. Revista Elo Diálogos em Extensão. Vol.  02, n.º 01, julho de 2013, p. 142.
[74]Afonso Moreira Penna entrou no Caraçaem1892.Arthur da Silva Bernardes,entrou em 1887.
[75]Fernando Pereira de Mello Vianna,entrou no Caraça em 1890.
[76]zico, 1990, p.101.
[77]Essa Escola Apostólica destinava a formar padres. Foi fechada em data indeterminada e retornou em 1905, funcionando até 1968, ano do incêndio que destruiu parte do Colégio. Durante seus 63 anos a Escola Apostólica abrigou 2.322 alunos. 178 destes alunos chegaram ao sacerdócio. (ZICO, José Tobias. Caraça Nossa Senhora e a História do Colégio. Belo Horizonte,  Editora São Vicente, 1980, p.41).
[78]Essa biblioteca começou a se formar com maior vigor a partir de 1860. (ANDRADE, Mariza Guerra de. À porta do céu.Revista de História. Disponível na Internet: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/a-porta-do-ceu. acessado em 02 de maio de 2014).
[79]Juiz de Fora foi a primeira cidade mineira a receber energia hidroelétrica. O Tanque Grande foi construído no final nesse final do século XIX. (ZICO, 1988, p.74,75 e 147). O Tanque Grande possui 400 metros de comprimento. O outro tanque – “Tanque São Luís” ou “Tanque da Cozinha” – possui 100 metros de comprimento. (ZICO, 1990, p.41).
[80]A AEALAC -Associação de Ex-Alunos e Amigos do Caraça - foi fundada em 20 de julho de 1945.(ZICO, 1988, p.74,75 e 147).
[81]A cemig foi constituída em 22 de maio de 1952.  atua em 23 estados brasileiros, no Distrito Federal,  e no Chile. Controla a Light e possui participação na distribuição de energia para várias cidades do Estado do Rio de Janeiro. Possui participação em outras empresas transmissoras de energia: TBE e TAESA; investimentos em gás natural: GASMIG; E telecomunicações: CEMIG TELECOM. (CEMIG, Disponível na Internet:<http://www.cemig.com.br/pt-br/a_cemig/quem_somos/Paginas/default.aspx> . Acessado em: 17 de junho de 2014).
[82]Com a vinda da energia da CEMIG,  usina de 1949 foi desativada em 1959. (ZICO, 1988, p.147).
[83]Em 3 de agosto de 1983, essa Pinacoteca foi reinaugurada pelo Governador Tancredo Neves.(Jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, 04 de agosto de 1983).
[84]TEIXEIRA, Flávio Augusto de. MARTINS, Karla Denise. A preservação e divulgação  do patrimônio histórico da RPPN – Santuário do Caraça. Revista Elo Diálogos em Extensão. Vol.  02, n.º 01, julho de 2013, p. 140
[85]Decreto Federal n.º 3701, de (dezesseis) 16 de julho de 1900. Disponível na Internet: <http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:federal:decreto:1900-07-16;3701> . Acessado em: 05 de maio de 2014.
[86] “o beribéri é doença caracterizada por perturbações cardíacas, polineurite periférica, hidropisia e paralisia. Descobriu-se, mais tarde, que a causa é a avitamitose, falta de vitamina B1. O beribéri só foi erradicado do Caraça , em 1935...” (ZICO, 1988, p. 94).
[87]A estrada construída tinha 26 km e foi inaugurada em 1º de outubro de 1926 com a chegada do primeiro caminhão ao Colégio. (ZICO, 1988, p.104).
[88]No ano de 1960 ocorreu uma grande reforma em todo o conjunto. As alas laterais sofreram algumas reconstruções e reformas que alteraram a composição e tratamento dos vãos. Três anos antes – 1957 – ocorreu a substituição do piso de madeira da igreja pelos ladrilhos hidráulicos. (CATAS ALTAS. Sede. Caraça. Projeto de Restauração, Reconstrução e Revitalização. 1981. Vol. 1, 3/6).
[89]PLANO de Manejo da RPPN “Santuário do Caraça” Minas Gerais.Província Brasileira da Congregação da Missão. Catas Altas / Santa Bárbara, Minas Gerais, abril 2013, p.21.
[90]Segundo o IPHAN, mais da metade dos 30.000 volumes da biblioteca compostos de livros do século XVII e XVIII se perdeu no incêndio.
[91]ZICO, 1990, P.26,27. Essa ação de usucapião englobou em um só documento, 17 documentos existentes sobre propriedades na Serra desde o século XVIII.
[92]PLANO de manejo da RPPN “Santuário do Caraça” Minas Gerais.Província Brasileira da Congregação da Missão. catasAltas / Santa Bárbara, Minas Gerais, abril de 2013,p. 22 e 29.
[93]jornal Minas Gerais, Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 05 de junho de 1982, p.11.
[94]Nos anos 1970 uma pousada foi instalada no Conjunto para receber visitantes.  FUNDAÇÃO João Pinheiro. Belo Horizonte. Assessoria Técnica da Presidência. Circuito de Santa Bárbara; organização espacial e preservação de Sítios Históricos. Belo Horizonte, 1980 6v. p.34.
[95]PLANO de manejo da RPPN “Santuário do Caraça” Minas Gerais.Província Brasileira da Congregação da Missão. Catas altas / Santa Bárbara, Minas Gerais, abril de 2013,p. 22.
[96]Esse prazo não foi cumprido no caso da Serra do Caraça.
[97]A criação de uma RPPN é um ato voluntário do proprietário. A rppn do caraça compreende 5.845,00 hectares do município de Catas Altas e 4.343,00 hectares do município de Santa Bárbara.Barão de Cocais é outro município próximo que influenciaaRPPN. (PLANO de manejo da RPPN “Santuário do Caraça” Minas Gerais.Província Brasileira da Congregação dMissão. CatasAltas / Santa Bárbara, Minas Gerais, abril 2013,p. 23 a 25). As RPPN foram regulamentadas pela Lei Federal n.9.985/2000 de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de unidades de Conservação da Natureza e regulamentou o art. 225 da Constituição Federal, incisos I,II,VII. O Artigo 14 define a composição do Grupo das unidades de Uso Sustentável: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. (Lei Federal n.º 9,985/2000 de 18 de julho de 2000. Disponível na Internet:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm>. acessado em:07de maio de 2014).
[98]PLANO de manejo da RPPN “Santuário do Caraça” Minas Gerais.Província Brasileira da Congregação da Missão. CatasAltas / Santa Bárbara, Minas Gerais, abril de 2013,p. 22 e 29.
[99]PLANO, abril 2013, p. 160.
[100]a Chácara foi esquecida a partir dos anos 1926-1927, quando se abriu a estrada de automóvel que passa pela Fazenda do Engenho. Em 22 de maio de 1935 foi rezada a última missa em suas dependências e recolhidas todas as imagens e objetos de valor que foram transferidos para a Fazenda do Engenho. Abandona, o imóvel se arruinou existindo apenas vestígios. (ZICO, 1990, p. 22).
[101]O Santuário é a maior RPPN do Estado de Minas Gerais.
[102]Compõe essa unidade de uso sustentável, os municípios de Barão de Cocais, Belo Horizonte, Brumadinho, Caeté, Catas Altas, Ibirité, Itabirito, Mário Campos, Nova Lima, Raposos, Santa Bárbara, Sarzedo,Rio Acima. (Santuário do Caraça. Disponível na Internet: <http://www.santuariodocaraca.com.br/apa-sul-rmbh/>. Acessado em: 08 de maio de 2014.
[103]As grutas do Padre Caio estão na base da “Carapuça e foram descobertas pelo padre Francisco Rodrigues Caio na segunda metade do século XIX. Em 1922, uma caverna foi descoberta por dois excursionistas no Pico do Inficionado e recebeu o nome de Gruta Centenário sendo a mais profunda do mundo em quartzito. Cerca de 3250 metros em extensão e 405 metros em profundidade já foram mapeados pelo Grupo Bambuí de Espeleólogos. Existe ainda a Gruta do Irmão José, atualmente denominada de Gruta de Lourdes. (SARNEEL, 2005, p. 201 a 203).
[104]“Os principais parâmetros para a criação de um geoparque podem ser encontrados nas características e no valor patrimonial do quadrilátero ferrífero.O Geopark do Quadrilátero Ferrífero conta com sítios geológicos representativos da história geológica da região, associada à evolução global da terra, e da história da mineração do ouro e do ferro no brasil. a seleção dos sítios foi baseada nas recomendações do SIGEP (Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos).” (GEOPARK Quadrilátero Ferrífero. Disponível na Internet:<http://www.geoparkquadrilatero.org/?pg=conteudo&id=96&L=PTBR&_Definicao>. Acessado em: 26 de maio de 2014).


5 – A restauração do Conjunto Arquitetônico do Caraça

“Com saudade deixo estes majestosos, estes admiráveis sítios do Caraça, esta Casa de piedade, de dedicação católica, Escola de Civilização e de Brasileirismo” (Afonso de Taunay, 1927 no “Livro de Ouro” do Caraça, p.9v.).


Em vinte e três (23) de setembro de 1975, a Fundação Brasileira para Conservação da Natureza – FBCN[1] – assinou um convênio com a Província Brasileira da Congregação da Missão. O Termo de convênio assinado pelo Padre José Elias Chaves CM, visitador da Província da PBCM e pelo Presidente da FBCN, Luiz Emygdio de Mello Filho tinha como objetivo desenvolver “atividades culturais, técnicas e científicas relacionadas com a Conservação da Natureza, visando inclusive a manutenção de uma reserva natural na área do Colégio do Caraça”[2] Cinco anos depois da assinatura do Convênio -1980 - iniciaram-se os contatos da FBCN com o IPHAN, com o objetivo de empreender a restauração do Conjunto Arquitetônico e principalmente do prédio incendiado em 1968.

O Conjunto arquitetônico, de valor histórico incalculável, necessita reparos urgentes; o prédio incendiado em 1968 precisa ser restaurado e adaptado às exigências do projeto do Centro. É o único local que permitirá abrigar o museu histórico, a biblioteca e pinacoteca, museu ecológico e laboratórios de botânica e zoologia, além de um pequeno auditório e limitado número de alojamentos para visitantes e pesquisadores.

As tentativas para atingir esses objetivos têm sido muitas e vêm se arrastando por vários anos sem resultados concretos, vítimas dos conhecidos meandros burocráticos.
 (IEPHA/MG – Pasta de Levantamento Bibliográfico Catas Altas/Sede – Colégio do Caraça – Outros. Oficio PRESI -140/80 do Presidente José Candido de Melo Carvalho, Ph.D, de 02 de janeiro de 1980, p.01).

Desde o incêndio de 1968, a grande demanda da Congregação dos Padres do Caraça e mesmo da comunidade era a restauração dos prédios arruinados.Em 1973, O presidente militar General Emílio Garastazu Médici assinou um decreto de auxílio financeiro especial de quatrocentos e noventa mil cruzeiros (Cr$ 490.000,00), ao Ministério da Educação e Cultura para a reconstrução do prédio. A reforma não se concretizou. Dois anos depois – em 14 de maio de 1975 – o Governador de Minas Gerais - Dr. Aureliano Chaves – escreve ao Ministro Ney Braga solicitando empenho na restauração do prédio:
(...)
Sendo o imóvel tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional, os recursos foram liberados para aquele órgão, que preferiu dar outra solução ao problema, apresentando um estudo de recuperação de uma das alas existentes.
Assim, os recursos liberados não foram ainda aplicados, tendo ficado no fundo do IPHAN, aguardando nova solução do problema, em face da alta constante do custo de obra e do desejo do Governo Mineiro da inclusão do Colégio do Caraça nos roteiros turísticos, já estando, para isto, sendo construída a estrada que liga o local à rodovia principal.[3]
Na certeza de que Vossa Excelência, com o seu elevado espírito público e atento aos problemas da Cultura, dará a Minas a sua valiosa colaboração, aproveito a oportunidade para renovar-lhe os protestos da minha elevada estima e distinta consideração. (ZICO, 1988, p. 180,181).

Somente em dezembro de 1980 foi firmado um convênio para a restauração, reconstrução e revitalização do Conjunto do Caraça assinado pelo IEPHA/MG, Fundação Pró – Memória e a Província Brasileira da Congregação da Missão com interveniência da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN e Secretaria de Estado de Governo. A partir de 1981, com a criação de uma comissão especial criada pelo Governador Francelino Pereira, iniciaram-se os procedimentos para a restauração do conjunto do Caraça. Essa comissão, formada por Wilson chaves, Coordenador de Cultura de Minas Gerais; Luciano Amedé Peret, presidente do IEPHA/MG; Roberto Lacerda, representante do SPHAN[4]; Padre José Tobias Zico[5], diretor do Caraça; Padre Alfeu Custódio Ferreira, representante da Província Brasileira da Congregação da Missão; Galileu Reis, diretor executivo do IEPHA/MG e Geraldo de Souza, presidente dos Ex-Alunos[6] e Amigos do Caraça, se reuniramem maio de 1982 decidindo pela reconstrução do prédio destruído no incêndio.[7]Essa comissão, infelizmente não teve continuidade.

Pouco mais de um ano depois, em três (03) de agosto de 1983 - o Governador Tancredo Neves assinou a criação de um novo grupo de Trabalho[8]com o mesmo objetivo da Comissão criada em 1982: restauração do Santuário do Caraça e sua revitalização conforme projetos existentes no IEPHA/MG.[9]No dia vinte (20) de setembro,o Grupo de Trabalho, em reunião realizada na sede da Coordenadoria de Cultura do Estado de Minas Gerais, decidiu a instalação de um canteiro de obras e de um escritório técnico de projetos para o início imediato das obras de restauro do conjunto do Caraça. Para esse fim contariam inicialmente com quarenta (40) milhões de cruzeiros para a implantação do canteiro e andamento das obras, havendo previsão de recursos da iniciativa privada. Decidiu-se que o anteprojeto elaborado pelo IEPHA/MG seria avaliado pela SPHAN- Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.[10]

O escritório técnico começou a funcionar em janeiro de 1984, tendo como principal objetivo o levantamento de intervenções urgentes para a salvaguarda do conjunto arquitetônico.[11]No dia vinte (20) de fevereiro, o Governador de Minas Gerais, Tancredo Neves e o Secretário de Cultura, José Aparecido de Oliveira assinaram um convênio para o prosseguimento das obras, com a Fundação Roberto Marinho, com a Fiat Automóveis e com o diretor do Caraça, Padre José Tobias Zico.[12]

Mais de duzentas pessoas estiveram presentes na solenidade acontecida na manhã de ontem no Colégio do Caraça para assinatura do convênio entre a Fiat e o governo do Estado, através do qual a empresa se compromete a realizar a recuperação das áreas do colégio destruídas pelo incêndio de 1968 e que até hoje, após quase 16 anos,permanecem se deteriorando ao tempo. O veterano escritor Austregésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira de Letras, trazido do Rio pelo secretário José Aparecido de Oliveira, foi um dos oradores do acontecimento que emocionou os padres do colégio,  principalmente, seu diretor, o padre José Tobias Zico. O general Golbery, que antes tinha batalhado pela recuperação do Caraça, não compareceu devido estar ainda em fase de recuperação, mas mandou um telegrama justificando a ausência. O presidente da Fiat, Amaro Lanari Jr, e o diretor superintendente, Silvano Valentino, representaram a empresa na solenidade, que contou também com a presença do presidente da Vale do Rio Doce, Eliezer Batista. (No Caraça. Jornal Diário da Tarde. Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 1984).




A Companhia Vale do Rio Doce[13], se vinculou ao projeto de restauro do Caraça a partir da assinatura de um convênio no dia vinte e três (23) de agosto de 1984, destinando setenta (70) milhões de cruzeiros para as obras dos dormitórios situados no lado direito do Conjunto Arquitetônico do Caraça.[14]
No projeto, coordenado pelo arquiteto Paulo Hermínio Guimarães, do IEPHA, está prevista a instalação de quartos e apartamentos na ala nobre, onde, no século passado, hospedaram-se nossos imperadores.

Alguns quartos, que ficarão no andar superior, terão banheiros coletivos. No térreo, que possivelmente já foi até depósito para presos, serão construídas outras acomodações. Nesse andar ficarão também as alas que servirão para as reuniões das ordens religiosas e outras atividades.

O local mais afetado pelo incêndio de 68 será destinado ao museu, biblioteca e a uma grande sala, onde funcionará um centro de convenções. As ruínas de incêndio serão consolidadas para servir de registro histórico. Alguns elementos da construção, como a sacristia, que há alguns anos passou a servir de museu, voltarão a ter suas funções originais. A capela será novamente reativada. Já as construções recentes, como os bangalôs/apartamentos e banheiros, serão demolidos porque interferem de modo inadequado na leitura do conjunto.

A equipe do IEPHA que trabalha neste projeto e que, inclusive, se instalou temporariamente no local, é composta pelo arquiteto Paulo Hermínio Guimarães, na coordenação, arquiteto Elias Fernando, o desenhista Roberto Santos, os pedreiros Luís Nonato, José Santos e o carpinteiro José Clemente. (PIGNATARO, Iolanda. Caraça vai nascer de novo aguardem. Jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, 11 de setembro de 1984).

Em janeiro de 1986, foi elaborado um Projeto de Restauração de Elementos Artísticos do Santuário, prevendo a restauração dos vitrais, retábulos, púlpitos, castiçais, e as telas da Via Sacra. Santa Ceia e Paisagem do Caraça.[15]

Depois de uma paralização de cerca de dois anos, ocorrida a partir de 1987, um novo convênio assinado entre a Secretaria de Estado de Cultura, a Secretaria de Obras Públicas e IEPHA/MG resultou em recursos no valor de sessenta milhões de cruzados, para a continuidade das obras a partir de 1988. Novos parceiros foram incorporados aos financiadores iniciais- a CENIBRA,Celulose Nipo-Brasileira – fornecendo oitocentos mil cruzados para as obras[16]; a Soeicom S.A e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.[17]

Em vinte e nove (29) de setembro de 1989 foi reaberta à população uma das alas do edifício, com dezenove (19) apartamentos.[18]

O Bloco A: Casa dos Padres foi construída para abrigar os inúmeros religiosos que o Irmão Lourenço imaginou que viessem a viver no Santuário. Hoje, esse número foi reduzido a 3 padres e 2 irmãos da Congregação da Missão, com isso a Casa dos Padres passou a se restringir ao pavimento superior, junto ao Museu/Capela do Irmão Lourenço e ao Claustro.

Todo o pavimento inferior dessa ala foi reaproveitado e adaptado para atender a demanda da pousada, com quartos mais simples e banheiros no corredor. Sob o trecho da casa construído ainda pelo Irmão Lourenço, até a sexta janela, localiza-se a adega[19], que vem a ser o cômodo mantido mais próximo ao original do séc. XVIII.
(ABREU, Patrícia Campos. Caraça: a casa dos padres e o claustro. Projeto de restauração. Disponível na Internet: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.010/910 . Acessado em 29 de maio de 2014).

A maior parte das obrasforam concluídas em dezoito (18) de abril de 1990, quando foi inaugurado pelo Governador Newton Cardoso, mil metros quadrados de edificações e mil e quinhentos de jardins externos, além da entrega de um posto telefônico e de melhoramentos na estrada que dá acesso ao Conjunto do Caraça. O destaque da inauguração, sem dúvida alguma foi o antigo prédio da biblioteca incendiado em 1968, que recebeu tratamento inovador em matéria de revitalização de bem cultural protegido.[20] O projeto consolidou as ruínas e reaproveitou os espaços internos do edifício com a construção de um “esqueleto de concreto” que sustenta os três pisos construídos.
A restauração das ruínas foi iniciada em outubro de 85, sendo paralisada em novembro de 87. Neste período foram executados os serviços de fundação, superestrutura e cobertura. As obras foram retornadas em setembro do ano passado, com a participação do BDMG Cultural, que canalizou para a restauração recursos da ordem de US$ 1 milhão, O projeto de restauração – de autoria do arquitetoRodrigo Meniconi com orientação IEPHA/MG – permitiu a construção de um prédio interno às ruínas, utilizando elementos modernos, como vidro temperado e alumínio, sem alterar as características do antigo colégio.

O complexo restaurado funcionará como um centro cultural, abrigando um museu, uma biblioteca – com cerca de 15 mil livros pertencentes à Congregação da Missão – e uma salão para realização de reuniões e seminários. (COLÉGIO é restaurado e entregue à população. Hoje em Dia. Belo Horizonte, 19 de abril de 1990).


O Calvário[21] do irmão Lourenço foi restaurado em março de 1994, pela Associação dos Ex-alunos do Caraça.A Via Sacra, doada pelo ex-aluno, Professor Antônio Lara Resende e inaugurada em 16 de setembro de 1951foi “renovada” em 15 de março de 2010.[22]

Subida ao pequeno morro de pedra do Calvário, de onde a vista é belíssima, sobretudo do lado da montanha da Carapuça, com matizes róseos e violáceos do por do sol. Olhei bem para todas as montanhas que cercam o edifício. Ontem, mostraram-me o pau de jacarandá a que se arrimava o irmão Lourenço e não Fr.(7), quando Saint-Hilaire(8) o viu aqui. Fui depois por um caramanchão onde está o chamado quiosque, até a represa de água em que espelhava a lua. A noite está belíssima. (D. Pedro II. A viagem de D. Pedro II a Minas Gerais. Disponível em:<http://www.estamosassim.com.br/a-viagem-de-d-pedro-ii-a-minas-gerais/>. Acessado em: 20 de outubro de 2014).


 Em 2000, o CECOR – Centro de Conservação e Restauração de bens culturais móveis da escola de belas artes da UFMG realizou a entrega ao Caraça, das 14 telas da via sacra completamente restauradas após dois anos de trabalho.[23]A igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens também passou por restauração em todo seu interior e fachadas, sendo inaugurada em janeiro de 2002.Nesse ano, a Congregação da Missão e o IEPHA/MG demonstravam interesse em pleitear o reconhecimento do Santuário como patrimônio da Humanidade junto a UNESCO.[24]Ainda em 2002, foi elaborada pelo IEPHA/MG a planilha orçamentária para restauração da capela do Sagrado Coração de Jesus. O projeto arquitetônico para as obras da capela foi elaborado em 28 de agosto de 2003, pela arquiteta Marilia Alice Zeitone e a obra foi concluída ainda esse ano. No ano seguinte a Prefeitura Municipal de Catas Altas tombou a capelinha do Sagrado Coração de Jesus por meio do Decreto n.º 406/2004 de dois (02) de abril de 2004.[25]Quanto ao acervo da biblioteca do Caraça[26], um projeto foi elaborado visando a sua restauração e revitalização. Os livros passaram por higienização, encadernação, congelamento de alguns livros para desinfestação de alguma praga e fungos e pequenos reparos.


Um dos grandes atrativos do Santuário - tradição iniciada pelo Padre Tobias Zico - é a alimentação dos lobos-guarás[27] que ocorre a partir das 19 horas:

O mais fascinante de uma estada no antigo colégio é a comprovação de que é possível a convivência entre o homem e o animal selvagem. Todas as noites, às 19 h, os lobos-guarás, uma espécie em extinção, se aproximam do velho colégio, para receber das mãos do diretor-administrativo, o padre José Tobias Zico, o seu jantar.

Com um prato de carne a seus pés, o padre estica o braço segurando um pedaço de carne e um a um os dois casais de lobo sobem  a escadaria para abocanhar um pedaço . O mais interessante é que  quando os lobos demoram, o padre grita “guará” e eles aparecem, saindo da mata e caminhando em direção à escadaria.

O espetáculo é fascinante. Os lobos permanecem no local por cerca de 30 minutos. Mas apesar da convivência do padre Zico, eles se mostram bastante ariscos e a todo instante ficam atentos à parte de baixo da escadaria, isso segundo o padre, para ver se não há alguém cercando a sua passagem. DRUMMOND, Ivan. Guará, um hospede fiel do Caraça. Até quando? Estado de Minas, Belo Horizonte, 12 de setembro de 1988).

A bacia do Rio Caraça[28] abastece os municípios, distritos e povoados vizinhos e é fonte de lazer para seus habitantes.Nessas localidades predominam ainda hoje, a agropecuária e a mineração.

No entorno da RPPN do Caraça os usos predominantes são a agropecuária, a mineração, a urbanização e o turismo. O uso agropecuário é o mais expressivo na região e é constituído, principalmente, por pastagens e monoculturas de eucalipto, estas últimas, concentradas em grandes propriedades da empresa de celulose CENIBRA. A atividade de exploração mineral também é relevante, ocorrendo em manchas pontuais, margeando as áreas de serras, onde se localizam as principais jazidas de ferro e ouro. Apesar de ser pontual, a mineração é considerada uma atividade altamente poluidora, gerando danos ambientais, principalmente aos recursos hídricos. Já o uso urbano é marcado por cidades de médio e pequeno porte, distritos e povoados de caráter predominantemente rural que contêm um rico patrimônio histórico e cultural oriundos da ocupação inicial da região. Este patrimônio, aliado ao patrimônio natural formado pelas áreas serranas, cachoeiras, vegetação etc. são responsáveis pela intensa atividade turística no local. (COIMBRA, 2006, p. 153).

Atualmente todo o complexo do Caraça,[29]formado pelos prédios que circundam a igreja neogótica e pelas fazendas do Engenho e do Capivari é considerado um centro de espiritualidade, de cultura, de educação e de conservação ambiental voltado também para o lazer e turismo.[30] O turista que visita o Caraça, além de ter acesso ao conjunto arquitetônico construído entre os séculos XVIII e XIX, poderá fazer “trekkings” até aos Picos do Inficionado[31], da Verruginha, do Campo das Antas, do Cajerana, do Sol e também conhecer a Cachoeira do Campo Grande. Mais próximo do Caraça, poderá seguir a trilha da Cascatinha[32], com acesso a quatro piscinas naturais. Outras trilhas, o levam à Cascatona[33], e à Grutae Cachoeira da Bocaina.[34]

O Conjunto do Caraça possui uma estrutura que envolve pousada,[35]restaurante, lanchonete e lojas gerando emprego para cerca de setenta (70) moradores da região.[36] Sua importância histórica, arquitetônica, geológica, arqueológica e natural para o Estado e para o país justificam as diversas proteções aplicadas visando a sua preservação e conservação.



[1]A FBCN foi criada em agosto de 1958, por um grupo de preservacionista, visando a proteção e conservação da natureza. (Rema. Disponível em:<http://www.remabrasil.org/links-institucionais/FBCN/>. Acessado em 27 de outubro de 2014).
[2] Umtermo aditivo desse convênio foi assinado em 03 de maio de 1978. (IEPHA/MG – pasta DE Levantamento Bibliográfico Catas Altas/sede – Colégio do Caraça – Outros. Termo de Convênio que celebram a Província Brasileira da Congregação da Missão e a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, 23 de setembro de 1975.
[3]em02 de agosto de 1974, Dr. Rondon Pacheco presidiu a solenidade do início das obras de implantação e pavimentação do acesso da mg/5 ao caraça. A estrada asfaltada ligando São Bento ao Caraça com 7 metros de largura e 19 Km. foi inaugurada em 10 de agosto de 1976. (ZICO, 1988, p185, 186).
[4]sphan, Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atual IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
[5]Natural de Perdigão/MG, padre Tobias foi ordenado sacerdote em  05 de outubro de 1947. Dirigiu o Santuário do Caraça por 20 anos. Faleceu em 09 de fevereiro de 2002. Padre Tobias foi um dos maiores responsáveis pela restauração do Caraça e sua transformação em atração turística.
[6]A Associação dos Ex-Alunos dos Lazaristas e Amigos do Caraça foi criada em 20 de julho de 1945, tendo como primeiro presidente Vicente W. Carsalade. (ZICO, José Tobias. Caraça Ex-Alunos e Visitantes. Santa Bárbara, Ed. São Vicente, 1979, p.19).
[7]O CARAÇA vaiseguir sua vocação histórica. Estado de Minas, Belo Horizonte, 24 de maio de 1982.
[8]O Grupo de Trabalho foi criado pelo Decreto n.º 22.840 em 03 de agosto de 1983. (Grupo de Trabalho vê a situação doa Caraça. Estado de Minas. Belo Horizonte, 26 de setembro de 1983). O Grupo de Trabalho presidido pelo professor Edgar de Godói da Mata Machado era formado pelo ex-ministro Golbery do Couto e Silva; Austregésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira de Letras; Antônio de Lara Resende, Marcos Vinícius Rodrigues Vilaça, Secretário de Cultura do MEC; Eliezer Batista, Geraldo José de Souza, Antônio de Pádua Rocha Diniz, Amaro Lanari Júnior, Galba Magalhães Veloso, padre José Tobias Zico, Rodrigo Ferreira Andrade e Mauro Guimarães Werkema. (Enfim, GT estuda a restauração do Santuário do Caraça. Jornal Diário de Minas. Belo Horizonte, 03 de agosto de 1983).
[9]Em 1981, o IEPHA/MG fez olevantamento prévio dos problemas do Caraça “no que se refere aos aspectos tipológicos e alterações arquitetônicas, bem como ao estado de conservação...” O Projeto Executivo começou a ser elaborado pelo IEPHA/MG em 1984. (IEPHA/MG. Catas Altas – sede. Caraça. Projeto de Restauração, Reconstrução e Revitalização. 1981, Vol.s 1,2,3,4,5,6).
[10]Esses quarenta milhões iniciais foram fornecidos pela Fiat Automóveis. A empresa prometia outros cento e vinte a cento e quarenta milhões.  (Caraça restaurado. Jornal Última Hora. Belo Horizonte, 06 de fevereiro de 1984).
[11]Caraça restaurado. Jornal Última Hora. Belo Horizonte, 06 de fevereiro de 1984.
[12]tancredo hoje em S. João Del Rei e amanhã no Caraça.Jornal Diário de Minas. Belo Horizonte, 19 de fevereiro de 1984.
[13]A Companhia Vale do Rio Doce foi criada em 1942 pelo Presidente Getúlio Vargas. Em 2008 a cvrd mudou de nome para Vale e se tornou a 33° maior empresa do mundo. (ADVFN. Disponível na Internet:. Acessado em 27 de outubro de 2014).
[14]dormitório do Caraça vão ser restaurado. jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, 24 de agosto de 1984.
[15]A tela da ceia de Ataíde saiu do refeitório em 1970 sendo emprestada ao governo de Minas para a inauguração do Palácio das Artes. Ficou três anos fora, voltando para a Igreja do Caraça em 3 de fevereiro de 1973, após a restauração empreendida por Jair Inácio Afonso. (SARNEEL, 2005, p.150).   A restauração da telada Santa Ceia de Ataíde foi concluída em 1995 após 16 meses de trabalho tendo como referência um projeto datado de 1991. (IEPHA. Catas Altas. Sede. Caraça. Projeto de Restauração de Elementos Artísticos do Santuário, Jan. 1986. Conservação/ Restauração).
[16]RECUPERAR o Caraça através de doações, a nova campanha. Jornal Diário de Minas. Belo horizonte, 21 de agosto de 1988.
[17]IEPHA revê projeto do Caraça para fazer redimensionamento. JORNAL Diário de Minas. Belo Horizonte, 19 de janeiro de 1989.
[18]CARAÇA: sob os ares da restauração. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 28 de setembro de 1989, p.21.
[19]O caraça fabricava vinho e licores desde o século XIX. O vinho branco e o tinto ganharam prêmios na Exposição do Rio de Janeiro em 1900. (SARNEEL, 2005, p.141,142).
[20]NEWTON resgata patrimônio histórico e cultural de Minas. Minas Gerais. Belo Horizonte, 19 de abril de 1990, p.1 e 2.
[21]O Calvário é a representação do sofrimento de Jesus Cristo desde a condenação à crucificação Monte Calvário. A paixão é representada pela tradição católica em 14 estações da cruz. O caminho do Calvário ainda é reapresentado em diversas procissões anuais na sexta-feira santa em países católicos, algumas das quais incluem atores representando os principais personagens e uma cruz. (Brown, David Alan, Pagden, Sylvia ferino, Anderson, Jaynie eds., Bellini, Giorgione, Titian, and the renaissance of venetian painting (exhibition at the national gallery of art (Washington) and kunsthistorisches museum wien, Yale University Press, 2006, ISBN 0300116772, 9780300116779, Google Books).Até por volta de 1100, Simão aparecia mais carregando a cruz do que Jesus e, a partir desta época, diversas outras figuras começaram a aparecer na cena. Nasrepresentações bizantinas, provavelmente influenciadas por peças da paixão, uma grande multidão de personagens cercam Jesus, mostrando uma grande variedade de sentimentos, de desprezo a alegria. (Schiller, Gertrud, Iconography of Christian art, Vol. II, 1972. (english trans from german), Lund Humphries, London, ISBN 0853313245).
[22]A via sacra em sua inauguração foi benta pelo Frei Zacarias Van Der Hoeven.  Trabalho de renovação foi financiado pelo ex-aluno Celso Martins da Costa, realizado pelos artistas Cristiano da Silva “Tafe” e Iris Pereira. (Conforme placas no local).
[23](ASSIS, Júlio. Cecor entrega telas de igreja do Caraça. O Tempo, Belo Horizonte, 08 de janeiro de 2000, p.4).
[24] ROSE, Francis.Santuáriodo Caraça quer título da UNESCO. Estado de Minas. Belo Horizonte, 13 de setembro de 2002, p.21.
[25]Segundo o Guia Sentimental do Caraça,aPrefeitura de Catas Altas assinou em 2003, um contrato para a restauração da capela. (SARNEEL, 2005, p.190). O tombamento (Catas Altas. Prefeitura Municipal da Catas Altas. Dossiê de Tombamento da Capela Sagrado Coração de Jesus, 2004).
[26]A biblioteca é composta por 1400 volumes do século XVI, XVII, e XVIII, destacando dentre eles o acervo, o livro "história natural", de Plínio - OVelho -impresso em 1489, o pequeno livro “Imitação de Cristo” datado de 1851, o livro do Pai – Nosso – Oratio Dominica – datado de 1870, com  a oração feita por Cristo em 250 idiomas.(Santuário do Caraça. Disponível na Internet:<http://www.santuariodocaraca.fot.br/textos/historia.htm> . Acessado em: 12 de maio de 2014). Em 2005, o acervo já recomposto continha 22.000 volumes. (SARNEEL, 2005, p.154).
No arquivo Histórico do Caraça o livro mais volumoso é o de matrícula que contem o nome dos 4.243 alunos que frequentaram o Colégio de 1854 a 1910.(SARNEEL, 2005, p.133).
[27] “Este animal se chama Chrysocyon brachyurus que quer dizer “animal dourado de cauda curta”. É chamado Guará porque em tupi-guarani, a língua dos indígenas, guará significa “vermelho”. Tem o corpo todo dourado; as patas e os pelos da nuca pretos; a cauda, o papo e um pouco do rosto brancos. É branco também o pavilhão das orelhas, que se movimentam como um radar, captando todos os sons e movimentos.
É o maior canídeo da América do Sul, sendo encontrado desde o sul da Amazônia até o Uruguai, excetuando-se o litoral, os picos de altitude e a Mata Atlântica. É canídeo, ou seja, da família do cachorro, do cachorro-do-mato, do coiote, do chacal, da raposa e do lobo europeu, estadunidense e canadense, o Canis lupus. E é o maior canídeo da América do Sul porque a fêmea mede 90cm e o macho, 95cm, aproximadamente. E da ponta do focinho até a ponta do rabo, 1,45m.” (Santuário do Caraça. Disponível na Internet: http://www.santuariodocaraca.com.br/lobo-guara/ . Acessado em 23 de junho de 2014).
oS lobos-guarás começaram a ser alimentados pelo Padre Tobias a partir de maio de 1982.
[28]Rios e córregos que formam a Bacia do Rio Caraça: Tanque São Luís (antigamente denominado tanque da cozinha), córrego da Capela, Córrego da Cascatinha, Córrego da Bocaina, Córrego da Veruguinha, Córrego do Banhado, Córrego do Belchior, Córrego da Canjerana, Córrego do Tanque Grande, Córrego dos Cascudos e dos Taboões. Afluentes depois da cascatona: Córrego da Chácara, de Santa Rita, do Buraco da Boiada, e do Engenho. Recebe depois da “Porteira da Santa” pela direita, o rio Brumadinho, e pela esquerda o rio da Conceição em Brumal e o Córrego São João em São Bento. (ZICO, 1990, p.41).
[29]Desta área, dez mil cento e oitenta e sete (10.187) compõe a RPPN.
[30] a Reserva do Caraça recebe uma média de 60.000 visitantes por ano. Importante ressaltar a grande festa religiosa de Corpus Christi  que ocorre uma vez por ano com procissões que atraem ainda hoje, muitos romeiros. (SARNEEL, 2005, P.209,210).
[31]“Com 2.046 metros de altitude, localiza-se a 5 horas de caminhada.
No pico há uma gruta denominada Gruta do Cantenário a mais profunda do mundo em formação quartzito”.(Serra do Caraça. Disponível em:<http://www.serradocaraca.tur.br/serra_do_caraca>. Acessado em: 17 de outubro de 2014).
[32]“A cascatinha está localizada a 2 km do colégio do caraça. seu acesso se dá por uma trilha bem leve e sinalizada. parte de suas nascentes estão localizadas na região do pico do sol, que ao longo do caminho formam várias cachoeiras e piscinas naturais.” (Serra do Caraça. Disponível em:<http://www.serradocaraca.tur.br/serra_do_caraca>. Acessado em: 17 de outubro de 2014).
[33]Localizada a 6 km do colégio do caraça está a cascatona, com mais de 80 metros de queda d'água. seu acesso é feito por uma trilha bastante arborizada, sendo comum a companhia de esquilos, macacos e aves ameaçadas de extinção e endêmicas da região.(Serra do Caraça. Disponível em:<http://www.serradocaraca.tur.br/serra_do_caraca>. Acessado em: 17 de outubro de 2014).
[34] “A Bocaina encontra-se entre o Pico do Inficionado e a Caraça. É um grande desfiladeiro, neste contraforte da Serra do Espinhaço. É a Bocaina que propriamente nomeou o Caraça como tal.
Sua trilha mede em média 5 Km e se vai até lá tomando o caminho da Cascatinha, no estacionamento dos visitantes.”(Serra do Caraça. Disponível em:<http://www.serradocaraca.tur.br/serra_do_caraca>. Acessado em: 17 de outubro de 2014).
SANTUÁRIO do caraça. Disponível na Internet: <http://www.revistamuseu.com.br/naestrada/naestrada.asp?id=2511>. Acessado em: 12 de maio de 2014.
[35]A pousadalocalizada na sede do santuário do caraça, possui 50 apartamentos, 04 casas, com capacidade para 180 leitos.
[36] SANTUÁRIO do Caraça. complexo Santuário do Caraça – o que é? Disponível na Internet:<http://www.santuariodocaraca.com.br/complexo-santuario-do-caraca-o-que-e>/. Acessado em: 08 de maio de 2014.