O INVENTÁRIO
Autor: Carlos Henrique Rangel
Antônio e José foram contratados para fazer o inventário do acervo cultural da cidade. Não tinham muita experiência mas muita vontade.
Pararam na primeira casa admirados.
Essa é boa. – Disse Antônio no alto de sua sabedoria de arquiteto recém-formado.
Eu converso com o proprietário enquanto você fotografa a casa. –Disse o historiador José.
Antônio concordou balançando a cabeça.
Os dois atravessaram o portão e bateram à porta.
Uma senhora de cabelos despenteados os atendeu.
- Bom dia senhora... – Desejou José.
- Bom dia. – Disse a mulher.
-Meu nome é José e este é o Antônio. Estamos fazendo um inventário para a Prefeitura. Podemos conversar um pouco?
-Podemos sim. – Disse a desconfiada senhora. Antônio se afastou para olhar a casa e José começou o seu questionário.
-Essa casa é muito antiga, né? – Perguntou José.
- É...
-Quantos anos? – Perguntou novamente José.
- Muitos... – Falou a mulher laconicamente.
-Hum... Quem construiu?
-Foi o Zé.
- Sei... O Zé era seu pai?
- Não...
-A senhora comprou a casa do Zé?
-Não... Meu pai deixou prá mim...
-Então o pai da senhora comprou do Zé?
-Não.
-Seu pai comprou de quem?
-Do Lalau...
-Tem muito tempo?
A mulher pensou um pouco...
-Tem...
-E a senhora herdou do seu pai?
-Herdei...
-Quando foi? – Perguntou José se encostando na parede da casa.
-Quando ele morreu.
-Sei... – Disse José olhando para o papel e suas anotações.
A casa passou por alguma mudança? – Perguntou o rapaz.
-Só uma.
-Qual?
-A pintura.
-A pintura?
-É... Era azul, agora é verde.
-A senhora que pintou?
-Meu marido.
-Posso falar com ele?
-Não.
-Por quê?
- Tá não...
-Volta logo?
-Espero que não...
-Por quê? – Perguntou José curioso.
-Morreu... – Disse a mulher.
José ficou sem graça.
-Ah...Desculpa... Acho que é só isto... Muito obrigado. – Disse o rapaz apertando a mão da senhora.
De nada. – Disse ela.
A mulher fechou a porta e José foi procurar o Antônio.
- E aí! Foi boa a entrevista? – Perguntou Antônio ao companheiro.
-É, sô, a mulher não sabe de nada...
-Deixa. Vamos para a outra casa.
Os dois companheiros seguiram para a casa ao lado.
FIM
Popularmente conhecida como a “cidade dos palacetes”, Oliveira acaba de ter seu centro histórico tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), órgão vinculado ao Sistema Estadual de Cultura. Estudo elaborado pelo instituto para o tombamento foi apresentado, votado e a proteção foi aprovada pelo Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep), durante reunião do colegiado na manhã desta segunda-feira (12/03), em Belo Horizonte.
O tombamento do Centro Histórico de Oliveira vem em meio a uma fase de notável substituição de seu casario histórico, em função de grandes pressões imobiliárias na área central da cidade, tendo acontecido importantes perdas para o patrimônio nos últimos anos, com alguns casarões demolidos e outros em precário estado de conservação.
Um dos poucos centros urbanos coloniais mineiros cuja fundação não se deveu à presença de ouro, a origem do povoado, por volta de 1737, esteve unicamente ligada às vantagens de sua localização, em meio a uma importante encruzilhada de caminhos. Com uma ocupação sob moldes tipicamente portugueses - com divisão entre cidade alta e cidade baixa – mantiveram-se registrados os estilos arquitetônicos e a evolução da sociedade local, de forma muito didática em Oliveira. Em seu voto, o relator do processo no Conep, Carlos Henrique Rangel destacou exatamente como, no município, ainda é possível observar o traçado original da primitiva povoação, os elementos arquitetônicos mais característicos de sua trajetória ao longo dos séculos 18, 19 e 20, como os casarões e sobrados oitocentistas em pau-a-pique e adobe e as edificações em tijolo e concreto ao gosto neoclássico, ecléticas, art déco e modernos.
O tombamento do Centro Histórico de Oliveira vem em meio a uma fase de notável substituição de seu casario histórico, em função de grandes pressões imobiliárias na área central da cidade, tendo acontecido importantes perdas para o patrimônio nos últimos anos, com alguns casarões demolidos e outros em precário estado de conservação.
Um dos poucos centros urbanos coloniais mineiros cuja fundação não se deveu à presença de ouro, a origem do povoado, por volta de 1737, esteve unicamente ligada às vantagens de sua localização, em meio a uma importante encruzilhada de caminhos. Com uma ocupação sob moldes tipicamente portugueses - com divisão entre cidade alta e cidade baixa – mantiveram-se registrados os estilos arquitetônicos e a evolução da sociedade local, de forma muito didática em Oliveira. Em seu voto, o relator do processo no Conep, Carlos Henrique Rangel destacou exatamente como, no município, ainda é possível observar o traçado original da primitiva povoação, os elementos arquitetônicos mais característicos de sua trajetória ao longo dos séculos 18, 19 e 20, como os casarões e sobrados oitocentistas em pau-a-pique e adobe e as edificações em tijolo e concreto ao gosto neoclássico, ecléticas, art déco e modernos.
FONTE: IEPHA/MG.