PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

DECrETO Nº 45 .850, DE 28 DE DEZEMBrO DE 2011 .
Contém o Estatuto do  instituto Estadual de Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas Gerais – iEPHA-MG .
o GovERNADoR Do EStADo DE MINAS GERAIS, no uso de atribuição que lhe confere
o inciso vii do art . 90, da Constituição do Estado, e tendo em vista o disposto na alínea “d” do inciso ii do art .
113, e no parágrafo único do art . 18, ambos da Lei Delegada nº 180, de 20 de janeiro de 2011,

http://jornal.iof.mg.gov.br/xmlui/handle/123456789/48562

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - TEXTOS

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 


EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: UM CAMINHO À DISCUSSÃO SOBRE A
CIDADANIA A PARTIR DA HISTÓRIA LOCAL
Dra. Carmem G. Burgert Schiavon

MSd. Tiago Fonseca dos Santos

http://www.periodicos.udesc.br/index.php/udescemacao/article/viewFile/2233/pdf_85

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

TOMBAMENTO - TEXTOS

 DA DIFERENCIAÇÃO ENTRE PRESERVAÇÃO 
E TOMBAMENTO


"Comumente costuma-se entender e usar como se sinônimos fossem os conceitos de preservação e de tombamento. Porém é importante distingui-los, já que diferem quanto aos seus efeitos no mundo jurídico, mormente para apreensão mais rigorosa do que seja o ato do tombamento.
Preservação é o conceito genérico. Nele podemos compreender toda e qualquer ação do Estado que vise conservar a memória de tatos ou valores culturais de uma Nação. É importante acentuar este aspecto já que, do ponto de vista normativo, existem várias possibilidades de formas legais de preservação. A par da legislação, há também as atividades administrativas do Estado que, sem restringir ou conformar direitos, caracterizam-se como ações de fomento que têm como consequência a preservação da memória. Portanto, o conceito de preservação é genérico, não se restringindo a uma única lei, ou forma de preservação específica.

O Decreto-lei 25, de 15 de novembro de 1937, é o mais conhecido instrumento legal pátrio de preservação, mas não é o único. Para preservação de monumentos arqueológicos e pré-históricos, e para proteção dos bens históricos , artísticos ou numismáticos oriundos de descobertas fortuitas há a Lei 3.924, de 26 de julho de 1961. Nesse caso, a preservação não se faz através do ato específico de tombamento, pois se trata de instrumento legal de atuação, procedimento e de efeitos diversos do tombamento, embora seja, assim como este, forma de intervenção do Estado na propriedade, exercida por igual pela administração em função do seu poder de polícia.
Não devemos confundir essas formas de intervenção, cujos efeitos jurídicos podem ser diferenciados. No caso específico das jazidas arqueológicas, a proteção se dá ex vi leigs, isto é, imediatamente, por força da própria lei e, por este motivo prescinde de processo e ato administrativo, pois seus efeitos decorrem da vigência da lei.  Outra diferença básica consiste no fato de esta proteção distinguir os elementos materiais da própria coisa - o parágrafo único do art. 1º da Lei 3.924 assim dispõe:

Art. 1º (...)
Parágrafo único - A propriedade da superfície, regida pelo direito comum, não inclui a das jazidas arqueológicas ou pré-históricas, nem a dos objetos nelas incorporados na forma do art. 152 da mesma Constituição.


A preservação das jazidas arqueológicas e pré-históricas, considerada sob o ponto de vista científico, visa também controlar a exploração sistemática desse bem cultural; para tanto será necessária a atuação de pesquisadores na propriedade, usando efetivamente o espaço territorial de domínio de terceiros.(...)"

Extraído de: CASTRO, Sonia Rabello de . O Estado na preservação de bens culturais: o tombamento/ Sonia Rabello de Castro. - Rio de Janeiro: Renovar, 1991.161 p. - páginas: 5 a 6.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

CURSOS EM 2012

CURSOS EM 2012
VII Seminário Nacional do Centro de Memória: 
“MEMÓRIA, CIDADE E EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES”

Dias 13, 14 e 15 de fevereiro de 2012

http://www.cmu.unicamp.br/viiseminario/

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

TOMBAMENTO DE CONJUNTOS E NÚCLEOS URBANOS

" A segunda questão refere-se a elementos inseridos no conjunto que, embora tendo a mesma natureza de todo - móvel ou imóvel - não possuem características de valor cultural individualmente, e nem como parte do todo. É o caso de edifícios novos, inseridos em conjuntos urbanos tombados por seu valor histórico. Estaria tombado o prédio construído no século XX e inserido em conjunto do século XVIII, sujeitando-se aos mesmos efeitos do tombamento?


Claro está que o tombamento do conjunto não se dá pelo valor cultural individualizado de cada parte, mas pelo que elas representam no seu conjunto: é a soma de valores individuais, vistos na sua globalidade; isto porque, tivessem as coisas valores culturais individuais, o tombamento seria individual para cada uma delas - do contrário, sendo o valor um só, formam um bem coletivo. Eventualmente, alguma parte pode não se adequar ao todo; neste caso, ainda sob os efeitos de tutela do tombamento, o grau de modificação ou alteração que será permitido naquela parte poderá ser maior ou menor, mas sempre de modo a adequá-la à composição do todo. As partes que compõem o todo poderão sofrer interferência em maior ou menor grau, em função indiretamente proporcional à adequação e integração contextual do bem jurídico do que se quer proteger.



O mesmo pode acontecer com relação a tombamento de conjunto de móveis. Tombada uma coleção de um museu, poder-se-ia,posteriormente, desagregar alguma de suas peças? E as peças novas agregadas passariam a ser automaticamente tombadas ao serem incluídas no acervo?



Partindo-se do princípio de que o tombamento de coleções de bens móveis, ou conjunto de bens imóveis, o que se está tombando não é cada bem em si, mas o valor coletivo que possa ter entendemos que a coisa individual que nada some à valorização do conjunto poderá ser dele (conjunto) destacada, alterada ou até mesmo substituída. Esta é a situação análoga àquela no qual se faz alterações na coisa tombada individualmente, quando então é possível destacar, alterar, modificar ou até mesmo retirar qualquer de suas partes que não afete o valor da coisa em si desde que, com esta alteração, a coisa continue a conservar suas características essenciais, motivadoras do tombamento. O fato de o tombamento incidir sobre coisas materialmente individualizáveis não tira o caráter coletivo do bem protegido. Assim, qualquer de suas partes, uma vez destacada do conjunto, perderá a tutela jurídica - um quadro que seja tirado da coleção tombada deixará de ser protegido,pro não pertencer mais àquela coleção; por outro lado, inserida uma nova parte no conjunto, esta passará a ter a proteção que incide sobre o todo. Aplica-se, no caso, o regime jurídico da coisa sub-rogada, de modo a resguardar o efeito principal da tutela."

(O ESTADO NA PRESERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS – SÔNIA RABELLO DE CASTRO


RIO DE JANEIRO: RENOVAR, 1991. Pág. 74 a 76)

TOMBAMENTO DE BENS MÓVEIS - TEXTO

SOBRE TOMBAMENTO DE BENS MÓVEIS


“As partes que constituem a universalidade, objeto da tutela federal, podem ser “bens móveis ou imóveis”. Imediatamente verifica-se que o tombamento só poderá se materializar sobre a coisa, pois só as coisas são móveis ou imóveis. Ficam, portanto, excluídos da proteção, através de tombamento, os direitos ou bens imateriais que ainda que também possam merecer a proteção do Estado, são insuscetíveis de serem tombados, pois não são coisas. Nesta hipótese estão incluídos, por exemplo, as manifestações culturais, as práticas religiosas, os hábitos sociais, as metodologias industriais e outras práticas equivalentes. Não que estes aspectos da produção cultural da sociedade não mereçam a proteção do Estado; ao contrário, é sabido que a formação cultural se faz a partir do conjunto de bens e práticas cotidianamente mantidas, e que só através delas se pode evoluir para a formação da cidadania. Entretanto o tombamento, como instrumento específico de proteção, dirigiu-se para a preservação das coisas móveis e imóveis, pois assim está especificado no art. 1º do Decreto-lei 25/37. O que não se inclui nas categorias jurídicas de bens móveis ou imóveis terá que merecer outra forma jurídica de proteção, prevista em outro diploma legislativo. A Constituição não restringiu as formas e fórmulas legais de proteção; o tombamento é uma delas, aplicável a uma determinada categoria de bens – os móveis e imóveis. Para as outras categorias não materializáveis não é próprio o uso do instrumento do tombamento para protegê-los.

(...)

Não poderá haver tombamento sem a especificação do bem, móvel ou imóvel sobre o qual incidirão os efeitos do ato administrativo. O art. 1º do Decreto 25/37 dispõe que será tombado o conjunto de “bens móveis existentes no país cuja conservação seja de interesse público”. O art. 1º está aí a apontar o primeiro e principal efeito do ato do tombamento, que é a permanência – a conservação – da coisa, por causa de seu valor cultural; necessária, pois se torna a determinação do objeto do tombamento, pelo ato administrativo. Nada obsta, no entanto, que a especificação do objeto do tombamento se faça pelo seu conjunto, nos casos em que é o conjunto, enquanto tal, que tem interesse de ser tutelado, e não cada coisa individualmente considerada. Havendo o tombamento do conjunto de coisas, incidirão os efeitos do tombamento sobre todas as partes. O ato de tombamento que irá definir o bem a ser protegido não necessitará, portanto, de especificar as partes do todo, desde que determine, de forma clara e precisa, o todo. É o todo, o conjunto das partes, que é o bem imaterial, objeto da tutela do Estado. Desta forma, quando o ato de tombamento determinar o valor cultural do núcleo cultural de uma cidade, especificando os limites físicos do objeto tombado, todos os imóveis inseridos naquele espaço passam a fazer parte do todo tombado, como parte do mesmo.

(...)

Ainda com relação ao tombamento de bem imóvel, é interessante destacar o caso em que, por exceção, poder-se-ia compreender que o ato de tombamento, ao estabelecer sua tutela sobre coisa desta natureza, estaria também se estendendo sobre algumas coisas móveis que o guarnecem, ainda que não o mencione expressamente. O órgão federal do Patrimônio Histórico e Artístico muitas vezes tombou igrejas unicamente pelo nome que era chamado o templo religioso, não fazendo qualquer menção a bens móveis nele contidos, tais como alfaias, os santos e tudo mais relacionado ao culto.Discutiu-se se poder-se-ia ou não considerar tombados estes bens móveis, já que o ato de tombamento a eles não se referia expressamente. Houve decisões do Poder Judiciário acerca do assunto; em algumas foi mencionado claramente que o bem, objeto da tutela por parte do poder público, era o valor imaterial da coisa. Ao efetivar o tombamento de templo religioso parece evidente que o que se quer conservar é tudo aquilo que o caracteriza como tal. Assim, caracteriza um templo religioso não só o prédio, bem imóvel com suas características próprias de construção e os objetos que a ele aderem, permanentemente, chamados de bens integrados, mas também os objetos do culto religioso que, embora destacáveis do imóvel sem dano físico, completam sua feição enquanto templo religioso. Quanto aos bens integrados não há dúvida, pois estes, uma vez fixados ao prédio, a ele aderem materialmente. Estes tornaram-se imóveis por força do inciso II do art. 43, do código Civil, quando especifica que se torna imóvel:

Art. 43 – (...)

II – Tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, (...) os edifícios e construções, de modo que se não possa retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano.

Contudo, com relação aos bens móveis, como os santos, estes podem ser retirados sem dano material, mas não sem dano imaterial. Parece correto o argumento de que estes inserem-se perfeitamente na hipótese prevista no inciso III, do art. 43, do Código Civil, que prevê a chamada acessão intelectual.

Art. 43 – (...)

III – Tudo quanto no imóvel o proprietário mantiver intencionalmente empregado na sua exploração industrial, aformoseamento ou comodidade.

Na acessão intelectual que se opera na imobilização da coisa móvel feita pelo proprietário de modo a colocá-la a serviço da destinação do imóvel, fica estabelecido um vinculo “meramente subjetivo” entre o imóvel e seus móveis, passando ambos a formar um só complexo.

A regra daí decorrente é que, pela acessão intelectual, os bens imóveis nestas situações atraem para “as relações de que a coisa se torna objeto, a unidade das regras jurídicas aplicáveis aos bens imóveis”. (...) A coisa móvel que é colocada no prédio de modo permanente, a serviço de seu destino de utilidade específica, a ele se agrega, passando a captar os efeitos das regras e relações jurídicas que atingem o próprio prédio. É inescapável desse raciocínio o tombamento aventado. Certamente, os bens móveis religiosos que guarnecem os templos enquadram-se, de forma exemplar, na hipótese de acessão intelectual. Não há como conceber templo religioso sem os objetos dos seus serviços – nestes casos o tombamento não seria da “Igreja tal ou qual”, mas do prédio de número tal. Quando se tomba uma igreja, e não o prédio, o sentido jurídico deste ato se estende não só ao imóvel, mas também a todos os objetos móveis que “por destino” lhe acedem intelectualmente. Há de se acrescentar ainda que, do ponto de vista do ato administrativo, é relevante o fato de que a designação do bem como “igreja” e não como “prédio” revela o objetivo do ato de vontade do administrador quando de seu tombamento, como especificação do bem cultural a ser protegido.”

" A segunda questão refere-se a elementos inseridos no conjunto que, embora tendo a mesma natureza de todo - móvel ou imóvel - não possuem características de valor cultural individualmente, e nem como parte do todo. É o caso de edifícios novos, inseridos em conjuntos urbanos tombados por seu valor histórico. Estaria tombado o prédio construído no século XX e inserido em conjunto do século XVIII, sujeitando-se aos mesmos efeitos do tombamento?


Claro está que o tombamento do conjunto não se dá pelo valor cultural individualizado de cada parte, mas pelo que elas representam no seu conjunto: é a soma de valores individuais, vistos na sua globalidade; isto porque, tivessem as coisas valores culturais individuais, o tombamento seria individual para cada uma delas - do contrário, sendo o valor um só, formam um bem coletivo. Eventualmente, alguma parte pode não se adequar ao todo; neste caso, ainda sob os efeitos de tutela do tombamento, o grau de modificação ou alteração que será permitido naquela parte poderá ser maior ou menor, mas sempre de modo a adequá-la à composição do todo. As partes que compõem o todo poderão sofrer interferência em maior ou menor grau, em função indiretamente proporcional à adequação e integração contextual do bem jurídico do que se quer proteger.



O mesmo pode acontecer com relação a tombamento de conjunto de móveis. Tombada uma coleção de um museu, poder-se-ia,posteriormente, desagregar alguma de suas peças? E as peças novas agregadas passariam a ser automaticamente tombadas ao serem incluídas no acervo?



Partindo-se do princípio de que o tombamento de coleções de bens móveis, ou conjunto de bens imóveis, o que se está tombando não é cada bem em si, mas o valor coletivo que possa ter entendemos que a coisa individual que nada some à valorização do conjunto poderá ser dele (conjunto) destacada, alterada ou até mesmo substituída. Esta é a situação análoga àquela no qual se faz alterações na coisa tombada individualmente, quando então é possível destacar, alterar, modificar ou até mesmo retirar qualquer de suas partes que não afete o valor da coisa em si desde que, com esta alteração, a coisa continue a conservar suas características essenciais, motivadoras do tombamento. O fato de o tombamento incidir sobre coisas materialmente individualizáveis não tira o caráter coletivo do bem protegido. Assim, qualquer de suas partes, uma vez destacada do conjunto, perderá a tutela jurídica - um quadro que seja tirado da coleção tombada deixará de ser protegido,pro não pertencer mais àquela coleção; por outro lado, inserida uma nova parte no conjunto, esta passará a ter a proteção que incide sobre o todo. Aplica-se, no caso, o regime jurídico da coisa sub-rogada, de modo a resguardar o efeito principal da tutela."



(O ESTADO NA PRESERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS – SÔNIA RABELLO DE CASTRO

RIO DE JANEIRO: RENOVAR, 1991. Pág. 69 A 75)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - TEXTOS - MIOPIA CULTURAL

MIOPIA CULTURAL

A pior das miopias é a cultural... 


Eu detesto gente com viseira ... 


Sem visão. 


É necessário deixar que as coisas fluam. 


É necessário sensibilizar e não intimidar e punir... 


Minas só continuará como referência se aprender que não se 


deve burocratizar a produção cultural.


(Carlos Henrique Rangel)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - TEXTOS - TEMPO E MEMÓRIA

TEMPO E MEMÓRIA


MEMÓRIA

Lembranças, reminiscências, vestígios.
Aquilo que serve de lembrança.

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“A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar de identidade,individual e coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos
e das sociedades de hoje…”
( Jacques Le Goff)

“...A memória dos homens semelha os viajantes fatigados que se desfazem das bagagens inúteis a cada pausa do caminho”.
(Marguerite Yourcenar)


O que sou está no passado, no presente e nos espaços que me rodeiam.
Sou influenciado pelos lugares e pelos outros seres humanos.
O que sou eu aprendi e construí com os meus e guardo em minha memória.
(Carlos Henrique Rangel)

“... O esquecimento ainda é memória.”
   (Carlos Drummond de Andrade).

“Aquilo que a memória ama fica eterno...”
 (Adélia Prado)

“A memória não se realiza no "tomar notas"
num cadernos. Seu lugar é outro.”
   (Rubem Alves)

“... Eu prefiro o conceito biológico de memória: guardar, reter, para em seguida mobilizar e devolver.”
(Alóisio Magalhães).

“Pois de tudo fica um pouco
Fica um pouco de teu queixo
No queixo de tua filha.

Se tudo fica um pouco
Mas por que não ficaria
Um pouco de mim?
No trem que leva ao norte,
no barco
Nos anúncios de jornal”.
(ANDRADE, Carlos Drumond de.Poesias Completas e Prosa/A Rosa do Povo – 1943-1945. R.J. Aguilar, 1975.)

MEMÓRIA E AR
Memória e ar...

Lembrar a natureza
Domada do cotidiano
E ficar bem...

Lembrar o ontem no sorriso da esquina,
no cumprimento da vizinha,
no tombo do amigo
e no riso dos garotos com bola.

Memoriar...
Abraçar o mundo conhecido
e respirar o ar seguro de dias
quase iguais...       
 (Carlos Henrique Rangel)
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A Lembrança dos afetos da alma
(Santo Agostinho)

“De fato, estando agora alegre, recordo-me de ter estado contente. Sem tristeza, recordo a amargura passada.

Repasso sem temor o medo que outrora senti, e, sem ambição, recordo a antiga cobiça. Algumas vezes, pelo contrário, evoco com alegria as tristezas passadas; e com amargura relembro as alegrias.”



O Palácio da Memória (Santo Agostinho)

“Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão tesouros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda espécie. (...)

Quando lá entro mando comparecer diante de mim todas as imagens que quero. Umas apresentam-se imediatamente, outras fazem-me esperar por mais tempo, até serem extraídas, por assim dizer, de certos receptáculos ainda mais recônditos. Outras irrompem aos turbilhões e, enquanto se pede e se procura uma outra, saltam para o meio, como que a dizerem:’Não seremos nós?’



“Ponto fundamental entre o passado e o futuro –
Futuro sintonizado com o passado.
A memória é construída o tempo todo no presente.”
(Lucília Neves)



Memória contempla esquecimentos, deformações, seleções,Ressentimentos, super-valorizações.
A memória alimenta-se de lembranças vagas...
Possibilidade de reconstrução da atmosfera de um outro tempo.
(Lucília Neves)

“Mais que apenas via de acesso ao passado, a memória é uma estrada para a compreensão do Eu”
(Cunha, João Paulo. Editor de Cultura do Jornal
Estado de Minas)



“...Veíci num é tão ruim assim não. A genti veve di sardade. Vai pensano nas coisa qui passô. Vai lembrano di tudo qui asucedeu. Das coisa boa e das ruim tomém.
A genti senta e fica matutano inté passá as hora, fecha os zói e vê divagazim os aconticimento passano, iguá qui fossi num firme. Já fui no cinema. Faz muinto ano. Fui uma veiz só.”
Quando vem as lembrança, gosto di ficá quetinha no meu canto, balangando na cadeira, pra lá, prá cá. Vêjo ieu nova, arrudiada di meus fius piqueno. Aí mi alembro das histora qu’iêu contava pr’êlis. As veiz choro, mi dá um aperto duído aqui no coração. Tão duído qui’as lágrima sartam dos zói qui nem um corgo, moia a cara e desci pelas ruga, os caminho que o tempo abriu. Inxugo cum’as costa das mão, faço força e inxoto a tristeza pra lá.
(PEREIRA, Edgar Antunes. “Casos qu’ieu ôvi”.Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Vol.I. 2006.)



“AS MEMÓRIAS ESTÃO INTERLIGADAS”
                                 (LEONARDO CASTRIOTA)



“A CADA VELHO QUE MORRE, UMA BIBLIOTECA QUE A AFRICA PERDE”  
(Hampaté Bâ)


"Não tem sentido a memória apenas para guardar o passado.
 (...) A tarefa de preservação do patrimônio cultural brasileiro, ao invés de ser uma tarefa de cuidar do passado, é essencialmente uma tarefa de refletir sobre o futuro...”
                                                         (Aloísio Magalhães)



A memória é nossa identidade, nossa alma. Se você perde a memória hoje, já não existe alma; você é um animal.
Se você bate a cabeça em algum lugar e perde a memória, converte-se num vegetal. Se a memória é a alma, diminuir muito a memória é diminuir muito a alma. (Umberto Eco).



“...não se deve viver no passado, porque o passado está vivo no presente.”
(Paris na zona do crepúsculo - Roberto de Sousa Causo – crítica ao filme “Meia-Noite em Paris”)

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
   De tanto ser, só tenho alma.”                                        
                           FERNANDO PESSOA



“A história social e pessoal, pode qualificar as coisas, os objetos, os lugares da casa, os lugares de um bairro. Até  mesmo a natureza vira memória.”
(GONÇALVES FILHO, José Moura. 1991)



“...Não seria possível compreender que pudéssemos recuperar o passado, se ele não se conservasse, com efeito, no meio material que o cerca.”
(Maurice Halbwachs)




MEMÓRIA, ESPAÇO E PASSADO

Todo Ser  É em um lugar
E nesse lugar deixa sua marca
E sua essência,
Moldada e influenciada pelo lugar.
O Ser está no lugar
O lugar faz o Ser
O Ser também faz o lugar.
               Carlos Henrique Rangel




ESPÍRITO DO LUGAR, UM NOVO CONCEITO
 " ...O espírito de cada lugar resultará de uma complexa teia que o Tempo, a Terra e o Homem, engenhosamente vêm tecendo.
(...)
O Tempo, a Terra e o Homem serão os criadores do espírito de um lugar.”
(Maria Júdice Borralho)

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“São essas rugas culturais que tornam o rosto dessa comunidade um rosto fortemente expressivo. Nele está gravada a luta dessa comunidade para preservar o que de melhor ficou de um passado distante: Sua diversidade cultural.
 Não com o sentido de deter o tempo, pois este, com o impreciso de seu traço, vai esculpindo novas linhas, tanto na cultura visível quanto na espiritual, desenhando um patrimônio tangível e outro intangível, sempre com a convicção consciente de que nessas linhas, que não devem ser apagadas ou escondida, está a revelação do segredo de sua própria sobrevivência como grupo cultural atuante.
 Rugas culturais: Espelho da identidade cultural.”
 (Odalice Miranda Priosti – Por uma Pedagogia Patrimonial de libertação e Inclusão – 2001)




“Cada ser humano é o que deve ser. E pode ser mais.
E o que é se relaciona com o que foi, com os que foram. Com o que eles construíram ... O que é se relaciona com as coisas do passado. Com o que foi feito no passado e continua presente. 
 O ser é fruto  e construção  de outros seres. Somatória, complemento,continuidade.  
 Cada ser humano carrega em si o seu mundo. Para onde for, onde estiver, sua família, sua rua, sua igreja, sua praça, seu bairro, sua crença, sua terra, lá estarão. 
Cada ser é um representante vivo de sua cultura.
Do seu patrimônio. Cada ser humano é um ser plural.
O produto de uma cultura diversa e rica. De um modo de ser, fazer e viver.” (Carlos Henrique Rangel)
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O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Por que o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
                                                   (Fernando Pessoa)




LEMBRAR
Autor: Carlos Henrique Rangel

Lembrar é pensar o acontecido
Como se fosse o acontecido.
Contar o lembrado é ordenar
O acontecido conforme pensado.
Lembrar não é o acontecido.
É o pensar sobre o acontecido
Que lhe é dado lembrar.
Muitas vezes o que se lembra
É distorção do que foi.
Do que aconteceu...
Fragmento do que foi...
Então...
A narração do lembrado
É como um sonho completado.
Pode ser uma ficção que se pensa real.
É sempre bom lembrar
Para não esquecer.
Mesmo que a lembrança seja reconstrução
Ou mesmo recriação...
Lembrar sempre é a construção do Ser.



CLARO ESCURO
Autor: Carlos Henrique Rangel

Vem a escuridão...
No fim sempre haverá luz.
Eterno será o retorno.
Nada...
Nada dura para sempre.
Paz...
Ciência...




LUGARES QUE FALAM
Autor: Carlos Henrique Rangel

A Praça fala:
Falam os bancos.
Os jardins.
Falam as pedras.
Falam as Fontes.
E as Estátuas...
E os bustos...

As ruas Falam:
As pedras falam.
O asfalto fala.
As esquinas... Estas também falam.
Falam as árvores.
Os postes...
Os faróis... Os sinais...
A Igreja fala:
Falam as escadas.
Falam as portas.
Falam os vitrais.
E os bancos.
E os altares.
E as Imagens... Estas falam muito... E ouvem.

A Escola fala:
E suas carteiras.
E seus quadros negros...
A cantina...
E o Sino?
Esse fala, quase berra.
As casas falam:
Os telhados falam.
As paredes...
As janelas...
Os quartos...
As salas...
As cozinhas também falam.
E como falam...

A natureza fala:
Fala para os homens.
Também canta.
Também chora...
E como chora:
por causa dos homens...
Pelos homens...
As coisas falam:
De homens.
De homens do passado.
De homens do presente...

As coisas falam de vidas:
Tristezas, alegrias, sonhos...
Amores, dores, perdas...
As coisas falam dos passos dos homens.
 Das construções dos homens.
 Da construção de homens.
 destruição de homens.
 De homens entre homens.
De homens versos homens...

Todas as coisas falam...

TODAS!
 De homens entre coisas.
De coisas de homens...
De coisas transformadas por homens.
De espaços modificados por homens...
As coisas falam...
Os lugares falam...

Ouçam...
Ouçam...
Ouçam...
 (Estão ouvindo?)


domingo, 11 de dezembro de 2011

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - POESIA - A VIDA NAS COISAS

A VIDA NAS COISAS
Autor: Carlos Henrique Rangel

As coisas têm Vidas...
“Vidas impregnadas das vidas dos que as fizeram, manusearam, habitaram.

Nas paredes das casas, nos lustres, no ranger de cada porta, um pouco dos habitantes permanece.

A alma de um tempo... 
De vários tempos... 
Seus amores, suas dores, 
seus modos de viver e ver o mundo...

As coisas são vivas porque abrigam vidas... Muito mais que isto, abrigam memórias...”

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - TEXTOS



Rugas culturais: "Espelho da identidade cultural.”
 Autora: Odalice Miranda Priosti – Por uma Pedagogia Patrimonial de libertação e Inclusão – 2001 

“São essas rugas culturais que tornam o rosto dessa comunidade um rosto fortemente expressivo. Nele está gravada a luta dessa comunidade para preservar o que de melhor ficou de um passado distante: Sua diversidade cultural.
 
Não com o sentido de deter o tempo, pois este, com o impreciso de seu traço, vai esculpindo novas linhas, tanto na cultura visível quanto na espiritual, desenhando um patrimônio tangível e outro intangível, sempre com a convicção consciente de que nessas linhas, que não devem ser apagadas ou escondida, está a revelação do segredo de sua própria sobrevivência como grupo cultural atuante. "
 

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - O SER E O LUGAR

O SER E O LUGAR
Autor: Carlos Henrique Rangel
Todo Ser  É em um lugar
E nesse lugar deixa sua marca
E sua essência,
Moldada e influenciada pelo lugar.
O Ser está no lugar
O lugar faz o Ser
O Ser também faz o lugar.
                                           

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - MEMÓRIA

MEMÓRIA
O Palácio da Memória (Santo Agostinho)
“Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão tesouros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda espécie. (...)
Quando lá entro mando comparecer diante de mim todas as imagens que quero. Umas apresentam-se imediatamente, outras fazem-me esperar por mais tempo, até serem extraídas, por assim dizer, de certos receptáculos ainda mais recônditos. Outras irrompem aos turbilhões e, enquanto se pede e se procura uma outra, saltam para o meio, como que a dizerem:’Não seremos nós?’ ”

MEMÓRIA
“...Veíci num é tão ruim assim não. A genti veve di sardade. Vai pensano nas coisa qui passô. Vai lembrano di tudo qui asucedeu. Das coisa boa e das ruim tomém.
A genti senta e fica matutano inté passá as hora, fecha os zói e vê divagazim os aconticimento passano, iguá qui fossi num firme. Já fui no cinema. Faz muinto ano. Fui uma veiz só.”
Quando vem as lembrança, gosto di ficá quetinha no meu canto, balangando na cadeira, pra lá, prá cá. Vêjo ieu nova, arrudiada di meus fius piqueno. Aí mi alembro das histora qu’iêu contava pr’êlis. As veiz choro, mi dá um aperto duído aqui no coração. Tão duído qui’as lágrima sartam dos zói qui nem um corgo, moia a cara e desci pelas ruga, os caminho que o tempo abriu. Inxugo cum’as costa das mão, faço força e inxoto a tristeza pra lá.
(PEREIRA, Edgar Antunes. “Casos qu’ieu ôvi”.Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Vol.I. 2006.)

CARTILHA - MEMÓRIA

MEMÓRIA

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - JOGOS

JOGOS E APOIOS PARA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

sábado, 10 de dezembro de 2011

CARTILHA - A CIDADE DO SONHO

A CIDADE DO SONHO

 Autor: Carlos Henrique Rangel

Antiga Cadeira - Atual Casa de Cultura de Januária 



Em uma cidade não muito distante, havia um homem que era muito rico, dono de muitas casas e lojas chamado Luciano. Um dia Luciano resolveu demolir uma velha casa que ficava no centro da cidade.

-          Uma cidade precisa crescer... E para crescer é preciso fazer coisas novas e modernas. O futuro é o concreto e os arranha-céus. Cidade progressista é aquela que tem grandes edifícios de concreto. Progresso, progresso, é disto que precisamos, uma cidade que acompanha o seu tempo...Por isso vou demolir esta velha casa e construir um lindo prédio. Nossa cidade não pode parar no tempo. Temos que acompanhar o progresso do mundo... – Dizia a todos o senhor Luciano com orgulho.

Muitas pessoas não se importaram. Alguns garotos e velhos não gostaram.

-          É um absurdo o que o Senhor Luciano vai fazer. Ele não pode demolir o casarão. – Disse o menino Gabriel.

-          Bobagem existem tantos... Um não vai fazer falta...- Falou um homem.

-          Vai sim... É assim que começa, primeiro derrubam um, depois outro... Uma casa ali outra acolá... E ai lá se vai a nossa memória... – Rebateu o velho senhor Juca.

-          Deixem que ele faça o que quiser, a casa é dele... – Disse uma moça.

- Não acho isto certo, com a destruição do casarão toda a cidade perde... – Falou o menino Gabriel.

-          Isto mesmo, temos que defender a nossa cidade. Se nós que moramos aqui não fizermos nada, ninguém mais fará. – Disse Pedro, o dono do cinema local.

-          Vocês deviam é cuidar das suas vidas, deixem o homem fazer o que quiser. – Falou novamente a moça.

- Isto não está certo... Ele não tem o direito de destruir parte da história de nossa cidade...

-          Tudo bem, mas o que vamos fazer?... O que podemos fazer? – Perguntou o senhor Juca.

- Não há nada a fazer... A não ser que vocês tenham muito dinheiro para comprar o casarão... – Disse um homem rindo.
-          Vamos falar com o Senhor Luciano, quem sabe conseguimos convencê-lo. – Falou Gabriel.

-          Boa idéia menino. Vamos lá na mansão falar com o Senhor Luciano, tenho certeza que ele vai mudar de idéia.

-          Isto mesmo temos que defender a nossa cidade. Se nós que moramos aqui não fizermos nada, ninguém mais fará.... Estranho, acho que alguém já disse isto...

Montaram uma comissão e foram até a mansão do homem rico, pedir para que não destruísse a casa.

-   Quanta gente, a que devo a honra desta visita? – Perguntou Luciano.

-  Senhor Luciano, Estamos aqui para pedir que em nome da história de nossa cidade não destrua o casarão... – Disse Gabriel.

-          Por que não? Ele é muito velho, já deu o que tinha que dar...

-          Por isto mesmo. Por que é uma casa do tempo em que a cidade nasceu.

-          Quantas coisas aconteceram ali... Alegrias e tristezas. Festas, aniversários... Velórios... – falou o velho senhor Juca.

- Daquelas janelas, quantos olhares viram o tempo passar, a vida passar... – Lamentou outro velho.

-          Lembro da Mariazinha sua avó, linda e faceira na janela sorrindo para todos que passavam...Os homens passavam devagar olhando apaixonados... – Continuou o velho senhor Juca.

-          Era linda...  Olhos brilhantes, lábios vermelhos como morangos... Dançávamos no grande salão nas festas de aniversários... A banda tocava lindas canções de amor e Mariazinha flutuava... Namorei  ela, lembra?

-    Sim, mas foi o avô do Senhor Luciano que casou com ela...

-          Chega de falar em minha avó que já morreu há muito tempo... A casa está  abandonada agora... Ninguém mais vive lá... O que passou, passou... – Gritou Luciano com raiva.

-          Pode ser usada. Nossa cidade precisa de uma Biblioteca Pública.

-          Uma casa de cultura. – Disse um menino.

-          Porque não um museu!? Nossa cidade não tem museu...
-          Chega! Que engraçado, vocês falam da casa como se fosse de todo mundo...Já decidi, vou construir no lugar um prédio enorme, cheio de lojas. E vocês... Saiam da minha casa, me deixem em paz. – Falou Luciano nervoso.
-          Mas Senhor Luciano...

- Chega de mas... O casarão é meu e faço o que quiser... No futuro vocês vão me agradecer...

O grupo foi embora triste por não ter conseguido convencer o homem rico.

-          Que atrevimento deste povo vir aqui na minha casa e me dizer o que eu devo fazer com o casarão... Ora bolas, Biblioteca... Vejam só...

Luciano então fechou a porta de sua casa e foi deitar no sofá da sala ainda com raiva.
E dormiu. E sonhou. Sonhou que estava numa rua barulhenta, cheia de carros, onde quase não se via o Sol por causa dos prédios.

Luciano andava pela rua em meio a multidão nervosa. Havia muita gente. Gente triste e suada por causa do calor que fazia. Luciano olhava para um lado e para o outro e não via uma árvore. Os prédios pareciam iguais. As pessoas pareciam iguais. Caminhou então pela rua até chegar em uma praça. Uma praça sem árvores, com uma igreja enorme de concreto.
Luciano a achou feia. Sentou em um banco da praça e ficou vendo todo aquele barulho, sentindo muito calor e muita saudade de sua cidade.
 
-          Que cidade é essa? Que lugar triste e feio. Onde será que estou? – Lamentou sem entender nada.
Resolveu saber perguntando a alguém: Um menino que passava.
 
-          Ei menino, que cidade é essa?
O menino riu.

-          Ora senhor Luciano, não reconhece? Essa é a sua cidade.
 
-          Minha cidade? Mas onde estão os casarões? Onde está a Matriz? E a praça?
 
-          Os casarões foram demolidos, eram muito velhos. A Matriz, ora, o Padre quis uma igreja maior.
 
-          E a praça? Onde está aquela bela praça cheia de árvores?
 
-          Está aí, não esta vendo?

-          Mas não pode ser... Onde está a casa do Manuel, meu amigo? E a casa da Dona Cotinha...? Onde está a padaria do seu Juca? E o cinema, onde eu costumava ir ver os filmes de aventuras...?
Luciano não conseguia entender. Aquela não parecia a sua cidade.
Não havia mais nada que lembrasse o seu passado.
- Ei você, O que aconteceu com o cinema? – Perguntou a um transeunte.

-          Ah... Aquele monstrengo? Foi demolido, Ninguém mais ia assistir filmes lá.

-          Mas era tão bonito... E a padaria do seu Juca, o que aconteceu com ela?

-          Ora seu Luciano, Todo mundo agora compra pão na padaria moderna lá do Supermercado.

-          Eu não entendo mais nada... Onde será que está a minha mansão... Ficava aqui nesta rua...

Saiu andando procurando a sua mansão. Não encontrou.
Em seu lugar havia um feio edifício de vinte andares.

-          Nossa Senhora, cadê a minha casa? Quem foi o atrevido que construiu este prédio aqui?

Saiu caminhando triste pela avenida Principal. Barulhenta e cheia de placas, não lembrava em nada a avenida que conhecia, cheia de árvores e casarões coloridos.
Chegou finalmente enfrente a um velho prédio que estava sendo demolido.

-          O que está acontecendo?

-          Estamos demolindo este prédio. Foi o primeiro da cidade, mas agora não serve mais, vão construir um prédio mais moderno em seu lugar.

-          O primeiro?

-          É, não se lembra Senhor Luciano? O senhor demoliu o casarão que existia aqui e construiu este prédio.

-          Eu? – Perguntou espantado Luciano.

-          Sim Senhor. Depois deste vieram os outros.

-          O padre gostou da idéia e demoliu a velha igreja...

-          O prefeito achou que as árvores da praça e da avenida escureciam a cidade e mandou cortar...
-          Ficou melhor não acha?
-          Não, não acho... Faz um calor danado aqui... Não tem sombra, nem canto dos pássaros... O povo parece triste e apressado... Os prédios são feios e iguais...  Não sobrou nenhum casarão?
-          Claro que não. Nossa cidade é moderna. – Disse o homem.
-          E ser moderno é isso? Não reconhecer mais nada na nossa cidade? É ficar perdido como se estivéssemos em terra estranha?

Luciano começou a chorar... E foi chorando que acordou. Levantou depressa e correu para a janela. Lá fora a cidade brilhava com seus velhos casarões coloridos. A torre da igreja despontava alta e pássaros cantavam nas árvores da avenida. Luciano limpou o suor da testa aliviado e correu para o casarão. Aquele que ele queria demolir e os velhos e garotos queriam salvar.
 
Luciano chegou a tempo de impedir a sua demolição.
 
-          Parem os trabalhos. – Gritou com toda sua força.
 
-          O senhor não vai mais demolir o casarão? – Perguntou um operário.
 
-          Não. Este casarão faz parte da nossa história. Vamos transformá-lo em uma biblioteca, ou quem sabe em um museu. O certo é que não será mais demolido e voltará a fazer parte da vida de nossa cidade.
 
-          E o progresso?
 
-          Preservar nosso passado também é progresso. Os nossos casarões, sobrados, casas simples, nossas igrejas... Cheios de suor, lágrimas, alegrias, vivências, esperanças e fé do povo é que diferenciam a nossa cidade das outras. Nossas praças e ruas estão impregnadas das vidas de nossos bisavôs, avós e pais e merecem respeito. Nossas festas são as nossas festas... Diferentes das festas das outras cidades vizinhas.  Progresso não é viver em uma cidade sem rosto igual a tantas outras. Progresso é conciliar o velho e o novo, as manifestações tradicionais com as novas tecnologias. Os prédios novos podem ser construídos em outro lugar fora do centro da cidade, sem afetar o nosso passado.
 
-          Isto mesmo Senhor Luciano. Preservar é crescer com identidade... – Gritou um menino todo alegre.
 
-          É continuar com dignidade... – Falou o Senhor Juca.

-          Viva o Senhor Luciano! – Gritou um outro senhor.
-    Viva ! – Gritaram todos.
E assim, gritando vivas o grupo de preservacionistas, operários e o Senhor Luciano se abraçaram felizes. Alguém trouxe um pandeiro, outros um tambor, uma cuíca e uma viola.
Toda a avenida Principal virou uma grande festa.

FIM