PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - TEXTOS - TEMPO E MEMÓRIA

TEMPO E MEMÓRIA


MEMÓRIA

Lembranças, reminiscências, vestígios.
Aquilo que serve de lembrança.

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“A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar de identidade,individual e coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos
e das sociedades de hoje…”
( Jacques Le Goff)

“...A memória dos homens semelha os viajantes fatigados que se desfazem das bagagens inúteis a cada pausa do caminho”.
(Marguerite Yourcenar)


O que sou está no passado, no presente e nos espaços que me rodeiam.
Sou influenciado pelos lugares e pelos outros seres humanos.
O que sou eu aprendi e construí com os meus e guardo em minha memória.
(Carlos Henrique Rangel)

“... O esquecimento ainda é memória.”
   (Carlos Drummond de Andrade).

“Aquilo que a memória ama fica eterno...”
 (Adélia Prado)

“A memória não se realiza no "tomar notas"
num cadernos. Seu lugar é outro.”
   (Rubem Alves)

“... Eu prefiro o conceito biológico de memória: guardar, reter, para em seguida mobilizar e devolver.”
(Alóisio Magalhães).

“Pois de tudo fica um pouco
Fica um pouco de teu queixo
No queixo de tua filha.

Se tudo fica um pouco
Mas por que não ficaria
Um pouco de mim?
No trem que leva ao norte,
no barco
Nos anúncios de jornal”.
(ANDRADE, Carlos Drumond de.Poesias Completas e Prosa/A Rosa do Povo – 1943-1945. R.J. Aguilar, 1975.)

MEMÓRIA E AR
Memória e ar...

Lembrar a natureza
Domada do cotidiano
E ficar bem...

Lembrar o ontem no sorriso da esquina,
no cumprimento da vizinha,
no tombo do amigo
e no riso dos garotos com bola.

Memoriar...
Abraçar o mundo conhecido
e respirar o ar seguro de dias
quase iguais...       
 (Carlos Henrique Rangel)
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A Lembrança dos afetos da alma
(Santo Agostinho)

“De fato, estando agora alegre, recordo-me de ter estado contente. Sem tristeza, recordo a amargura passada.

Repasso sem temor o medo que outrora senti, e, sem ambição, recordo a antiga cobiça. Algumas vezes, pelo contrário, evoco com alegria as tristezas passadas; e com amargura relembro as alegrias.”



O Palácio da Memória (Santo Agostinho)

“Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão tesouros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda espécie. (...)

Quando lá entro mando comparecer diante de mim todas as imagens que quero. Umas apresentam-se imediatamente, outras fazem-me esperar por mais tempo, até serem extraídas, por assim dizer, de certos receptáculos ainda mais recônditos. Outras irrompem aos turbilhões e, enquanto se pede e se procura uma outra, saltam para o meio, como que a dizerem:’Não seremos nós?’



“Ponto fundamental entre o passado e o futuro –
Futuro sintonizado com o passado.
A memória é construída o tempo todo no presente.”
(Lucília Neves)



Memória contempla esquecimentos, deformações, seleções,Ressentimentos, super-valorizações.
A memória alimenta-se de lembranças vagas...
Possibilidade de reconstrução da atmosfera de um outro tempo.
(Lucília Neves)

“Mais que apenas via de acesso ao passado, a memória é uma estrada para a compreensão do Eu”
(Cunha, João Paulo. Editor de Cultura do Jornal
Estado de Minas)



“...Veíci num é tão ruim assim não. A genti veve di sardade. Vai pensano nas coisa qui passô. Vai lembrano di tudo qui asucedeu. Das coisa boa e das ruim tomém.
A genti senta e fica matutano inté passá as hora, fecha os zói e vê divagazim os aconticimento passano, iguá qui fossi num firme. Já fui no cinema. Faz muinto ano. Fui uma veiz só.”
Quando vem as lembrança, gosto di ficá quetinha no meu canto, balangando na cadeira, pra lá, prá cá. Vêjo ieu nova, arrudiada di meus fius piqueno. Aí mi alembro das histora qu’iêu contava pr’êlis. As veiz choro, mi dá um aperto duído aqui no coração. Tão duído qui’as lágrima sartam dos zói qui nem um corgo, moia a cara e desci pelas ruga, os caminho que o tempo abriu. Inxugo cum’as costa das mão, faço força e inxoto a tristeza pra lá.
(PEREIRA, Edgar Antunes. “Casos qu’ieu ôvi”.Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Vol.I. 2006.)



“AS MEMÓRIAS ESTÃO INTERLIGADAS”
                                 (LEONARDO CASTRIOTA)



“A CADA VELHO QUE MORRE, UMA BIBLIOTECA QUE A AFRICA PERDE”  
(Hampaté Bâ)


"Não tem sentido a memória apenas para guardar o passado.
 (...) A tarefa de preservação do patrimônio cultural brasileiro, ao invés de ser uma tarefa de cuidar do passado, é essencialmente uma tarefa de refletir sobre o futuro...”
                                                         (Aloísio Magalhães)



A memória é nossa identidade, nossa alma. Se você perde a memória hoje, já não existe alma; você é um animal.
Se você bate a cabeça em algum lugar e perde a memória, converte-se num vegetal. Se a memória é a alma, diminuir muito a memória é diminuir muito a alma. (Umberto Eco).



“...não se deve viver no passado, porque o passado está vivo no presente.”
(Paris na zona do crepúsculo - Roberto de Sousa Causo – crítica ao filme “Meia-Noite em Paris”)

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
   De tanto ser, só tenho alma.”                                        
                           FERNANDO PESSOA



“A história social e pessoal, pode qualificar as coisas, os objetos, os lugares da casa, os lugares de um bairro. Até  mesmo a natureza vira memória.”
(GONÇALVES FILHO, José Moura. 1991)



“...Não seria possível compreender que pudéssemos recuperar o passado, se ele não se conservasse, com efeito, no meio material que o cerca.”
(Maurice Halbwachs)




MEMÓRIA, ESPAÇO E PASSADO

Todo Ser  É em um lugar
E nesse lugar deixa sua marca
E sua essência,
Moldada e influenciada pelo lugar.
O Ser está no lugar
O lugar faz o Ser
O Ser também faz o lugar.
               Carlos Henrique Rangel




ESPÍRITO DO LUGAR, UM NOVO CONCEITO
 " ...O espírito de cada lugar resultará de uma complexa teia que o Tempo, a Terra e o Homem, engenhosamente vêm tecendo.
(...)
O Tempo, a Terra e o Homem serão os criadores do espírito de um lugar.”
(Maria Júdice Borralho)

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“São essas rugas culturais que tornam o rosto dessa comunidade um rosto fortemente expressivo. Nele está gravada a luta dessa comunidade para preservar o que de melhor ficou de um passado distante: Sua diversidade cultural.
 Não com o sentido de deter o tempo, pois este, com o impreciso de seu traço, vai esculpindo novas linhas, tanto na cultura visível quanto na espiritual, desenhando um patrimônio tangível e outro intangível, sempre com a convicção consciente de que nessas linhas, que não devem ser apagadas ou escondida, está a revelação do segredo de sua própria sobrevivência como grupo cultural atuante.
 Rugas culturais: Espelho da identidade cultural.”
 (Odalice Miranda Priosti – Por uma Pedagogia Patrimonial de libertação e Inclusão – 2001)




“Cada ser humano é o que deve ser. E pode ser mais.
E o que é se relaciona com o que foi, com os que foram. Com o que eles construíram ... O que é se relaciona com as coisas do passado. Com o que foi feito no passado e continua presente. 
 O ser é fruto  e construção  de outros seres. Somatória, complemento,continuidade.  
 Cada ser humano carrega em si o seu mundo. Para onde for, onde estiver, sua família, sua rua, sua igreja, sua praça, seu bairro, sua crença, sua terra, lá estarão. 
Cada ser é um representante vivo de sua cultura.
Do seu patrimônio. Cada ser humano é um ser plural.
O produto de uma cultura diversa e rica. De um modo de ser, fazer e viver.” (Carlos Henrique Rangel)
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O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Por que o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
                                                   (Fernando Pessoa)




LEMBRAR
Autor: Carlos Henrique Rangel

Lembrar é pensar o acontecido
Como se fosse o acontecido.
Contar o lembrado é ordenar
O acontecido conforme pensado.
Lembrar não é o acontecido.
É o pensar sobre o acontecido
Que lhe é dado lembrar.
Muitas vezes o que se lembra
É distorção do que foi.
Do que aconteceu...
Fragmento do que foi...
Então...
A narração do lembrado
É como um sonho completado.
Pode ser uma ficção que se pensa real.
É sempre bom lembrar
Para não esquecer.
Mesmo que a lembrança seja reconstrução
Ou mesmo recriação...
Lembrar sempre é a construção do Ser.



CLARO ESCURO
Autor: Carlos Henrique Rangel

Vem a escuridão...
No fim sempre haverá luz.
Eterno será o retorno.
Nada...
Nada dura para sempre.
Paz...
Ciência...




LUGARES QUE FALAM
Autor: Carlos Henrique Rangel

A Praça fala:
Falam os bancos.
Os jardins.
Falam as pedras.
Falam as Fontes.
E as Estátuas...
E os bustos...

As ruas Falam:
As pedras falam.
O asfalto fala.
As esquinas... Estas também falam.
Falam as árvores.
Os postes...
Os faróis... Os sinais...
A Igreja fala:
Falam as escadas.
Falam as portas.
Falam os vitrais.
E os bancos.
E os altares.
E as Imagens... Estas falam muito... E ouvem.

A Escola fala:
E suas carteiras.
E seus quadros negros...
A cantina...
E o Sino?
Esse fala, quase berra.
As casas falam:
Os telhados falam.
As paredes...
As janelas...
Os quartos...
As salas...
As cozinhas também falam.
E como falam...

A natureza fala:
Fala para os homens.
Também canta.
Também chora...
E como chora:
por causa dos homens...
Pelos homens...
As coisas falam:
De homens.
De homens do passado.
De homens do presente...

As coisas falam de vidas:
Tristezas, alegrias, sonhos...
Amores, dores, perdas...
As coisas falam dos passos dos homens.
 Das construções dos homens.
 Da construção de homens.
 destruição de homens.
 De homens entre homens.
De homens versos homens...

Todas as coisas falam...

TODAS!
 De homens entre coisas.
De coisas de homens...
De coisas transformadas por homens.
De espaços modificados por homens...
As coisas falam...
Os lugares falam...

Ouçam...
Ouçam...
Ouçam...
 (Estão ouvindo?)


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