PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

CATAGUASES - RESGATANDO UMA ENTREVISTA DE 11 DE JUNHO DE 2006

RESGATANDO UMA ENTREVISTA 
DADA AO JORNAL CATAGUASES EM 11 DE JUNHO DE 2006:

CATAGUASES: Por outro lado, a cidade também cresce... Qual é o lugar do novo? Temos que preservar tudo?


Carlos Henrique Rangel - Sempre existem espaços urbanos mais bem elaborados e representativos de determinados momentos e com valores que ultrapassam a própria época. Quem vai dizer o que deve ser preservado ou não nestas áreas são os moradores. O maior patrimônio de um povo é sua memória, sua história. E se os moradores entendem que é importante conservar estilos arquitetônicos que identificam seus momentos históricos, então esse desejo deve ser respeitado. Isso não quer dizer que não há lugar para o novo e nem que a cidade não possa crescer. O novo e o antigo podem coexistir. Mas também não são os investidores imobiliários que vão dizer para onde a cidade vai crescer, é a  população quem vai responder isso, e aí está a importância do envolvimento direto da comunidade na definição do seu Plano Diretor, (...).

CATAGUASES: De que forma a população de Cataguases pode se conscientizar para a importância da política de preservação do Patrimônio tombado?


Carlos Henrique Rangel - Em Minas Gerais existe uma noção equivocada de Patrimônio que sempre remete a Ouro Preto ou Mariana. Patrimônio não é apenas o passado colonial. Pode ser o passado mais recente, do estilo arquitetônico moderno, do século vinte, como existe em Cataguases. A história de Cataguases não é melhor nem pior do que as outras. Ela é única. O Santuário de Santa Rita só existe em Cataguases. Qual cidade mineira não possui sua estação ferroviária? Mas a de Cataguases é inédita em sua história, é exclusiva na memória de sua gente. Esse ineditismo é o que dá riqueza a um Patrimônio. É este o olhar que o cataguasense deve lançar para a sua cidade, para ter estima de si mesmo, de sua memória. Na preservação do Patrimônio está muito mais do que a conservação material de um imóvel tombado. O que mais importa é a certeza de que o cataguasense tem identidade cultural porque sabe preservar seu passado.

CATAGUASES: Quais são os principais agentes na degradação do Patrimônio Histórico e quais os instrumentos para conscientizar as pessoas da importância de preservar?

Carlos Henrique Rangel - Ao contrário do que se possa imaginar, não são o tempo e a ação do clima os principais agentes de deterioração do Patrimônio. O maior responsável pela degradação patrimonial é o próprio homem, seja através do vandalismo ou fazendo intervenção inadequadas. (...).

Para que a preservação dê certo é fundamental, acima de qualquer coisa, a cumplicidade e participação da população. É necessário também que aconteçam acordos ou parcerias entre órgãos governamentais, empresas e o terceiro setor. Mas, o mais importante é que a população compreenda que esta zelando por aquilo que é de todos. E isso deve ser repetido o quanto for necessário. 
Patrimônio não pertence a elites intelectuais ou especialistas. Patrimônio é de todos. Ao mesmo tempo, é necessário que se dê vida aos espaços preservados. Se isso não acontece as pessoas não se apropriam desses lugares. Então, é preciso passar e transmitir essa noção de que o Patrimônio Cultural é um bem de todos. 

O sujeito que picha ou destrói alguma coisa está destruindo a sua própria casa. O Patrimônio é a vida das cidades, a vida das pessoas. Temos que vitalizar o Patrimônio senão ele morre. É por isso mesmo que a ideia de restaurar vem sempre acompanhada  da ideia de preservação, pois restaurar e estragar continuamente não adianta, não faz sentido, não educa ninguém. Ou o Patrimônio Cultural faz parte da vida dos municípios ou então estamos sendo apenas teóricos.  
Agora, para fazer parte desse dia-a-dia das pessoas, não basta conhecer conceitualmente o valor de uma praça ou de uma casa antiga, com se ensina nas escolas. É muito mais que isso, muito mais que sala de aula e professor, é importante que o cidadão comum sinta intimidade com o Patrimônio, tenha o mesmo sentimento com que ele guarda a receita do doce da avó ou a joia da família.  (...). O Patrimônio tem que carregar esse sentimento na vida dos cidadãos para que todos aprendam a fazer uso dele. (...).

E é claro que os maiores aliados também se organizam na sociedade, divulgando os conceitos e práticas de Educação Patrimonial e de valorização da identidade cultural. Acho que o processo de conscientização passa necessariamente pelas escolas, mas não pode ficar apenas em sala de aula. (...).



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