PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

domingo, 2 de setembro de 2018

MEMÓRIA - POESIAS

1 - INVENTARIAR
Autor: Carlos Henrique Rangel

Inventariei o meu mundo
e o que quero...
Nem tudo importa...
Mas tudo importa à memória...
Me desfaço do que não preciso
mas não esqueço.
Fica o suporte da lembrança
encravado na ficha...
Nem tudo que coleciono, preciso e quero...
Mas não quero esquecer...
Esquecer é não-ser...

2 - COLECIONADOR
Autor: Carlos Henrique Rangel

Eu coleciono coisas...
De gente, de tudo.
Dai-me seus objetos,
Os que não usa mais...
Tudo que foi usado
Tem uso...
Conta histórias...
Suas histórias...
Eu coleciono emoções
Contidas em coisas...
Dai-me suas tristezas
E alegrias...
Suas dores, seus amores.
Eu aprendo com as coisas...
Sou sugador de memórias,
Guardião...
Coleciono tudo:
Pedras no caminho,
Folhas secas, 
Madeira em sépia,
Palavras...
Dai-me suas palavras
Cheias de você...
Eu coleciono tudo:
A telha de um sobrado,
o bilhete de metrô,
A chave que não abre mais...
Lembranças perdidas no ar...
Lágrimas esquecidas em mesas.
Marcas de batom...
Trechos de canção...
Me faço com as coisas dos outros...
Do que pensam não querer mais.
As rachaduras na parede
Eu as tenho.
Tenho as chamas da floresta
E o brinquedo de criança antiga.
Os cabelos brancos do ancião
Eu guardo no bolso
E os seus sorrisos,
No coração...
Dai-me seu olhar
Eu sei guardar...
Sou colecionador
De histórias, de amores,
Dores e emoções.
Sou guardião do que foi
É ou será...



3 - ATLANTES

Autor: Carlos Henrique Rangel

Minha cidade as águas levaram
Deram-me outra de mesmo nome
Mas não há memórias
Não dizem nada suas ruas certas.
Nada significam esses tijolos novos...
Tudo que sou se esconde em águas...
Afogaram minhas memórias...
Quase...
Sobraram as torres da igreja
Essa que resistiu ao canto das águas.
Não se afogou o símbolo de fé.
Eu me afogo em lágrimas...
Vejo-me em torre de igreja
E em sonhos...
Todos os meus sonhos
Acontecem em Atlantes...
No reino agora das águas.


4 - SOBREVIVER
Autor: Carlos Henrique Rangel

Há momentos que esquecer
É a única forma de sobreviver.
Os que foram são lembranças
E vem a dor...
São muitos os que me deixaram
E somente os sei em fotos amarelas
E objetos que os dizem.
Desfilam em minha memória
Os que abandonaram esse mundo.
E sofro a solidão dos que ficaram.
São muitos os sorrisos
Que não vejo.
Quem contará sua odisseia?
Um dia também eu serei lenda de alguém
Amarelado em retrato na parede.
O tempo é meu carrasco.
Esquecer a dor
É a única forma de sobreviver...

Avô Vespúcio morreu...
Tio Ailton morreu...
Tia Zélia morreu...
Vó Mocinha morreu...
Vó Maria morreu...
Vô Ataliba morreu...
Tio Miltinho morreu...
Morreu Vó Carmem.
Tio Lipinho...
Tio Haroldo...
Tio Toninho...
Tio Cilas...
Tio Otaviano...
Tio Jairo...
Morreu Tia Maroca.
Morreu Tia Zaíra...
Tia Adalzira morreu...
Madrinha Eliana morreu...
Pedrinho morreu...
Morreu Tia Eunice.
Morreu Tio Roberto.
Morreu Tia Mariinha...
Tia Zairinha...
Meu Pai morreu...
Um pouco de mim
Com todos eles.


5 - AS VOZES
Autor: Carlos Henrique Rangel

Ouçam as vozes das coisas.
As coisas falam...

SILÊNCIO!

Aprenda a ouvir
o que dizem as casas...
e essas ruas...
e essas igrejas...
e essa carteira de escola...
Olha como o silêncio
Não há.
As coisas te gritam
O que você não lembra...
E você ouvirá
Se quiser lembrar.

Deixa eu te ouvir
Coisa que fala.
Conte-me o que esqueci
Humano que sou...
Ensina-me sua língua
Para que eu seja mais Homem.
Que sua sabedoria
Feita de coisas de homens
Faça-me mais...

Ouçam as vozes das coisas...

Silêncio...
Silêncio...
Estão ouvindo?

 Nossa pobre memória nos obriga a depositar lembranças em coisas...
Um pedaço de papel com imagens pode nos fazer chorar ou sorrir.
Um pano colorido de verde, amarelo, azul e branco, me emociona e remete à minha terra...
Um cheiro de comida lembra minha mãe...
As coisas falam...
E como falam...
E sempre de nós mesmos.

6 - -DESCARTÁVEL MUNDO NOVO
Autor: Carlos Henrique Rangel

Oh descartável Mundo Novo
“Que tem criaturas assim...”
Que desfaz do passado
Como inútil.
Que produz o presente
Com prazo de valor...
Já nasce velho
O novo consumido
E o nada que é
Dura eternamente entre detritos
Ao lado do que devia ser...
E, no entanto não é...

Oh descartável Mundo Novo,
Destruidor de memórias.
Consolidador do vazio...
O que sobrará serei eu?
Descartável serei?
E o Mundo?

Oh descartável que sou...
Só o descartável ficará?

7 - EXISTÊNCIA
Autor: Carlos Henrique Rangel

Monótona existência
Essa que lembra
Para não esquecer.
Passo as horas no passado
Vendo o que foi
Para entender o que sou.
Sou um poço de memórias
E mergulho diariamente
Nas vozes das coisas.
Há almas
Nessa materialidade cotidiana
E eu as tateio
E as observo
Para me entender...
Monótona existência
Essa que lembra
Para se construir...
Para não esquecer.


8 - LEMBRANÇAS
Autor: Carlos Henrique Rangel

De tanto lembrar sou lembrança.
Pois lapidei minhas lembranças
Para lembrar melhor...
O essencial...
Concentrei tudo o que sou
Em um momento...
Síntese de todas as histórias...
Para lembrar melhor...
Não esquecer me motiva a vida
Mesmo que seja
Uma memória pasteurizada
Compactada em meu ser.
De tanto lembrar
Sou lembranças...
Mesmo que recortadas...
Sintetizadas...
Reinventadas em suas simplicidades...
Eu sou porque  lembro...
Por que lembro sou.

9 - SER
Autor: Carlos Henrique Rangel

Porque sou esse homem que pensa
Carrego as angustias de viver.
Pedaços de memórias
Habitam os caminhos que trilho...
Labirintos domésticos
Impregnam meu ser.
Há movimento
Nessas coisas envelhecidas
Carcomidas pelos dias
Que berram minha alma
Fazendo-me crer.
Porque sou esse ser que pensa
Carrego a crença que sou mais
Do que posso ver.
Mas sempre haverá
A angústia das horas contadas
Do entardecer.

10 - HOMEM QUE SOU
Autor: Carlos Henrique Rangel
Sou eterno
Homem que sou...
Ficarão pedaços, cicatrizes, rastros
Mesmo sem nome
Mesmo sem dados
Eu estou.
Homem que sou.
Ficarão rancores
Dores, amores...
Frutos queridos...
Dissabores...
Ficarão vazios, Lembranças...
Falsas memórias...
Horrores...
Sou eterno
Homem que sou...
Ficarão rastros
Cicatrizes, pedaços...
Na eternidade o encontro
O lugar comum...

11 - O FIM DAS COISAS
E DOS DONOS DAS COISAS...
Autor: Carlos Henrique Rangel

Então caiu...
Não porque quis...
Não porque o tempo quis...
Caiu pelas mãos dos homens.
Canibais da memória...
Mutiladores suicidas...
Adoradores do agora.
Mas como fica o amanhã?
Alguém vai chorar
Sobre foto envelhecida...
A mesma triste história...
Mar de Espanha...
Cidade mineira...
Sem mar.
Sem sobrado.
Sem memória...
A amnésia lhe custará caro...
Alguém já disse no passado:
“Perdoai-os eles não sabem o que fazem...”

12 - SER
Autor: Carlos Henrique Rangel

Por que sou
Esse homem que pensa
Carrego as angustias de viver.
Pedaços de memórias
Habitam os caminhos que trilho...
Labirintos domésticos
Impregnados do meu ser.
Há movimento
Nessas coisas envelhecidas
Carcomidas pelos dias
Que berram minha alma
Me fazendo crer.
Por que sou esse ser que pensa
Carrego a crença que sou mais
Do que posso ver.
Mas sempre haverá
A angustia das horas contadas
Do entardecer.

13 - SONÂMABULO
Autor: Carlos Henrique Rangel

Como era mesmo o meu mundo?
Olho a praça tento e não consigo...
Existia um lago ali?
Havia um coreto?
Tudo está nublado como um sonho.
Será que alguma coisa ocorreu aqui?
O mundo parece que sempre foi assim.
Mas ontem, tenho quase certeza,
Havia um sobrado ali...
Pareço viver uma amnésia constante...
Nada me parece ser.
A igreja
 Acho que nem sempre foi assim...
Lembro de duas torres mas algo aconteceu...
Algo mudou... Mas quando?
Ninguém mais importa
Se é que algum dia...
Tudo que desmancha parece normal.
Serei o único sonâmbulo
Vasculhando uma pseudomemória?
Mas parecem felizes assim...
Agem como se nascido hoje...
Eu sei que não foi assim.
Como foi também não sei.
Tenho vislumbres, mas estou caindo
Nesse sono sem ontem.
Meu Deus! Já não sei dos avós...
Quase não tenho nome...
Estou me desfazendo na felicidade
Dos alienados...
Estou dormindo...
Vou dormir...

14 - FRAGMENTOS
Autor: Carlos Henrique Rangel
Eu sou filho dessas sobras...
Desses restos do que parecia eterno.
Minha memória fragmentada 
Tem a dimensão dos segundos
E pouco sei desses alicerces ruídos...
No entanto, estou aqui...
Esse ser menor
Arremedo do que podia ser...
Caminho pelas pedras
Qual zumbi alienado.
Ainda assim, feliz...
Sou filho esquecido dessas sobras
A que reduzi minha memória.
E, no entanto, estou aqui...

15 - EXISTÊNCIA
Autor: Carlos Henrique Rangel

Dinâmica existência
Essa que lembra
Para não esquecer...
Passo as horas no passado
Vendo o que foi
Para entender o que sou.
Sou um poço de memórias
E mergulho diariamente
Nas vozes das coisas.
Há almas nessa materialidade
Cotidiana
E eu as tateio
E as observo para me entender.
Dinâmica existência
Essa que lembra
Para se construir...
Para não esquecer.
Há verdades nessas sobras...
Nessas pegadas dos meus.
Eu as tateio para saber de mim.
Dinâmica existência
Essa que me faz lembrar
Para ser.



16 - GUARDIÃO
Autor: Carlos Henrique Rangel

De saudades vivo
Percorrendo os dias.
Lembrar é o meu calvário
E minha redenção.
Sou guardião de memórias
E do que me faz lembrar.
Sigo pelos caminhos
Que parecem novos
Procurando as coisas que falam
De mim
Para mim
E para os meus.
Nada me parece mudo
Mesmo que em constante mudança.
De saudades vivo
Percorrendo os dias...
Sou máquina de lembrar.



17 - MUITOS QUE SOU
Autor: Carlos Henrique Rangel

 Descobri cedo
Que minha memória
Não cabe em mim.
Sou um ser em retalhos
Que se lembra em coisas...
Aprendi cedo a transmitir
O que me dizem as coisas
Para que fossem memórias
De outros...
De todos...
Minha memória fragmentada
Soma-se a outras...
Assim lembro melhor.
Aprendi cedo
que o indivíduo que sou
Tem muito de coletivo.
Sou único...
Sou muitos...
Sou.


18 - SINOS
Autor: Carlos Henrique Rangel

Os que destroem não são maus.
Apenas sabem que o fim dos suportes da memória
Fragilizam a alma.
Cortam elos.
Extinguem um povo.
Os preservacionistas não preservam coisas antigas.
São guardiões de coisas que “falam”.
E o que falam?
Falam para nós.
Falam de nós.
Do que fomos,
Do que somos
Do que queremos ser.
Os preservacionistas protegem a humanidade.
“E por isso
Não perguntes por quem os sinos dobram;
Eles dobram por ti". (Meditações VII, John Donne).

19 - MEMÓRIA QUEBRADAS
O triste fim da memória de Pitangui.
Autor: Carlos Henrique Rangel

Esse calor que chega tão perto...
Eu que vi tanto pelas mãos de tantos.
Olhos de letras contando histórias...
Memórias quebradiças.
Essa chama que queima palavras
Que falaram tanto por séculos.
Já não sou essa tinta bordada.
Sou carvão.
O que lembrava, não lembro mais.
Não lembrarão os que choram a fumaça.
Ninguém mais saberá o que sei.
Esse calor.
Essa fumaça.
Esse fogo que queima...
Queima... Queima...
Já não sou.
Menores estão os que choram a fumaça.

20 - MEMÓRIAS
Memória tem gosto de chuva,
De pores do Sol,
De beijo de avó.
Memória tem gosto de café quentinho no silêncio da manhã,
De mensagens amigas esperadas, esperadas...
E chegou...
                                                                (Proteus).
21 - CONTANDO
O que tenho para contar
Vem de um tempo que já não é mais
Mas está aqui.
Vejo nos seus olhos de jovem ser
O que ficou.
Você sou eu diferente...
E vai ser melhor.
A imagem envelhecida do casarão
Ainda suporta as lembranças e suores
Dos que nele sofreram e festejaram a vida.
E tudo – criança – se resume a vida
E suportes da memória.
Que bom que você seja ouvidos
E eu, a boca do passado presente aqui.
Para não esquecer
Eu guardei dentro de mim e de minhas coisas
O que pode me fazer lembrar
E a você...
Continuar.
                                       (Proteus).

22 - MESTRES
Autor: Carlos Henrique Rangel

Ao mestre o carinho
Esse dedicado doador de saber.
Poucos percebem a entrega
Desse ser abarrotado de memórias,
Vivencias e histórias...
Que não são suas... E são.
Estão ali os milhares de fazedores de homens
Os que ajudaram a humanidade a caminhar.
E a esse mestre carregador de mestres
O carinho...
E os Homens que precisam aprender
Para Homens serem
Muito devem a esse mestre.
Ao mestre o carinho
Sempre.


23 - MEMÓRIA DO MUNDO
Autor: Carlos Henrique Rangel

Tenho a memória do mundo.
A memória do meu mundo
Esquecido em tijolos quebrados.
Em fotos amarelas de velhos álbuns...
Tenho a memória em meu sangue
Tão velho como a Serra
Carregado de sobrenomes pomposos.
Tenho a memória do mundo nos sons do sino
Aquele velho sino da igreja chamando para a missa.
Em tantas coisas carrego essa memória...
Naquele banco do jardim onde te vi...
A escola que ainda ensina...
O cheiro de comida de domingo...
Os velhos casarões cheios de fantasmas...
O calçamento irregular da rua Direita,
Tão torta como a vida...
Carrego essa memória do mundo.
A parte que me cabe das lembranças
E das leituras das coisas que falam.
Outros também suportam fragmentos da memória.
Outros tantos.
Dezenas.
Milhares...
Todos.
E quando lembramos juntos
Temos a grande memória do mundo.
Do nosso mundo.
E quando repassamos aos outros
Somos jograis...
Um coro de lembrar...
E há tristezas e muitas alegrias.
Há saudades, ressentimentos e remorsos.
E então sabemos que somos especiais
Porque lembramos.
Guardiões que somos de nossas memórias.
Especiais.










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