PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

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sábado, 16 de junho de 2018

UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE MINAS GERAIS - CHACRINHA DOS PRETOS A RELAÇÃO SIMBIÓTICA DE UMA COMUNIDADE COM O SEU AMBIENTE


CHACRINHA DOS PRETOS A RELAÇÃO SIMBIÓTICA DE UMA COMUNIDADE COM O SEU AMBIENTE

Autor: Carlos Henrique Rangel – IEPHA/MG
Ruínas da Chacrinha dos Pretos - 2012. Fonte: IEPHA/MG.

1 - Introdução
As ruínas da Chacrinha dos Pretos localizam-se no município de Belo Vale – antigo São Gonçalo da Ponte, a cerca de oito quilômetros da sede, nas proximidades do rio Paraopeba e ao trecho da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil.
Trata-se de povoado – Chacrinha – com cento e quarenta pessoas (2009), ocupando uma área aproximada de sete quilômetros quadrados, onde as edificações, as vias e o desenvolvimento das atividades coletivas sobrepõem-se às estruturas antigas de pedra.
2 - Chacrinha dos Pretos - Origens
O povoado denominado Chacrinha dos Pretos localiza-se a oito (08) quilômetros da sede do município de Belo Vale e a duas horas de Belo Horizonte. O nome “Chacrinha” segundo Núcleo de Estudos de Populações Quilombolas e Tradicionais, Departamento de Sociologia e Antropologia, FAFICH, faz referência às quintas portuguesas e aos “sítios com pequenas criações de animais e alguma agricultura”. Mais tarde foi incorporado o termo “dos Pretos”, referência à população de descendente dos escravos[1] que ocupam cerca de 30 edificações nas redondezas das ruínas[2]da antiga fazenda.

Segundo relatos correntes, a fazenda onde se situa a localidade foi construída pelo “Barão do Milhão e Meio” - rico português denominado José de Paula Peixoto - que explorava ouro no rio Paraopeba. Peixoto teria construído a antiga sede da Fazenda da Chácara, possivelmente no século XVIII.
Esse rico fazendeiro teria vivido com uma de suas escravas para quem deixou a propriedade rural. A escrava herdeira alforriou todos os escravos em época incerta e esses viveram isolados ao redor da fazenda até a chegada da Estrada de Ferro. A Ferrovia dividiu a propriedade em duas áreas distintas, sendo uma delas habitada pelos herdeiros desses escravos.
Outra versão informa que foi a esposa do Barão que deixou a fazenda para os escravos.
Os arquitetos Celina Lemos e José Paiva relatam que, a referida esposa do Barão teria passado a dar refúgio aos escravos fugidos.[3]
Segundo a Revista Alterosa datada de 1941, José de Paula Peixoto “alcunhado de Milhão e Meio, dada a sua fabulosa fortuna,” era tido como provável construtor da Fazenda Boa Esperança.
Outro monumento histórico de valor inconfundível é a Fazenda da Bôa Esperança, mandada edificar, segundo uns, pelo Barão de Paraopeba, e, segundo outros por José de Paula Peixoto, alcunhado de Milhão e Meio, dada a sua fabulosa fortuna. Milhão e Meio era o encarregado da cobrança do dizimo e segundo conta a tradição local, o seu numero de escravos era incontável. (REVISTA ALTEROSA, agosto 1941. Ano III, n.º17, p.50).


Não possuímos até o momento, documentação que comprove a existência do título de Barão dado a José de Paula Peixoto. Por outro lado, a revista Alterosa – a mais antiga referência ao denominado “Milhão e Meio” - não o apresenta como barão.[4]
A versão confirmada por testamento datado de três (03) de agosto de 1839 informa que a fazenda pertenceu ao Padre José Nogueira Penido, tendo sido doada por herança, a Manoel José de Castro, a sua esposa Maria Custódia (sobrinha do Padre) e aos escravos. Nesse documento, fica subentendido que os escravos tornaram-se livres. Menciona ainda a presença de uma casa de fazenda, de um engenho e de moradias individuais dos escravos.  A existência de um engenho de açúcar ou de fubá não era incomum às propriedades rurais. No caso de engenhos de açúcar, mesmo com a proibição existente desde 1743, quase todas as fazendas coloniais os possuíam.[5]
Antônio de Resende, historiador local, descreve com entusiasmo o que seria a dinâmica da propriedade rural:

Era uma apoteose aquela fazenda funcionando, eu fico imaginando... Bonita demais! Uma fazenda setecentista com as janelas todas de vidro inclusive com guilhotina, eu creio que seja coisa de rico, ele era rico. Uma capela muito bonita. Aquelas passagens todas ali de cantaria, tanto é que tem uma janela com conversadeira e ela não deveria de ser só uma, ela tinha de ter mais janelas com conversadeiras. A porta da casa deveria ser bonita demais com escadaria chegando! A gente vê o local da escada e dá pra imaginar perfeitamente como é que era. A vida ali seria uma coisa assim: Começar cedo, antes do sol sair. Aí bom, muitos escravos. Cada um saindo pra fazer alguma coisa.
Na época do ouro tinha uma turma que saia cedo pra ir garimpar, lavar o ouro, tirar... E outros iam pra roça pra fazer a manutenção dele. Ali devia de ter um engenho de serra pra serrar madeira. A senzala seria mais na frente da casa. Aquele adendo tem uma janela seteira. Ali seria a senzala...(GUIMARÃES, junho 2013 V.I, ,p.31).


Há ainda uma quarta a versão complementar sobre a propriedade informando que o Barão teria doado a Fazenda ao Padre José Nogueira Penido.

Importante salientar que uma pedra que hoje compõe os alicerces de uma edificação dentro das ruínas possui gravada em relevo a data de 1752.
Maria Clareth Reis informa que a data parece indicar a antiguidade da construção da ermida que existia ou da própria sede da fazenda.[6]
O Sr. Antônio Rezende informou ainda que as estruturas existentes seriam o porão ou pavimento inferior da casa sede. Conforme relatos dos moradores, o Barão José de Paula Peixoto desenvolvia em sua fazenda tanto atividades de mineração como de agricultura de subsistência, possuindo mil e duzentos (1.200) escravos.[7]
Tendo como referência as ruínas do que seria uma capela nas estruturas da fazenda, os pesquisadores do projeto da UFMG[8] levantaram a hipótese de que poderia tratar-se de uma ermida vinculada à Capela Santa Cruz do Salto citada por D. Frei José da Santíssima Trindade em sua visitação realizada em 1825:

O arraial da Boa Morte já no início do século XVIII era pouso de sertanistas paulistas caçadores de índios. O sertanista português Manuel Carvalho da Cunha recebeu em 1755, sesmaria na margem direita do Rio Paraopeba nas paragens da Boa Morte.[9] No ano seguinte, outro sertanista, Manoel Simões recebeu sesmaria em terras vizinhas à de Manuel Carvalho da Cunha. Em fins do setecentos, outras sesmarias foram doadas no entorno da Capela de Nossa Senhora da Boa Morte e da vizinha Fazenda Barra.[10]
Temos como certo que a região era rica em grandes propriedades rurais, o que se deduz das observações do inglês John Mawe nas primeiras décadas do século XIX:
(...) fora a montanha situada na propriedade do capitão Felício [capitão-mor do distrito de Catas Altas] e a Vila de Sabará, há um rico distrito de minas, que se prolonga até Brumado, por um terreno montanhoso. Pertence a vários mineiros opulentos, que aí possuem belas terras, ainda não exploradas. Parte do terreno, de algumas milhas de extensão, é consagrada à agricultura, porque a consideram desprovida de ouro. (MAWE, 1978, p.145).

Eschwege, por volta de 1817 encontrou Brumado[11] em processo de recuperação econômica incentivado pelo Sr. José Fernandes que conseguiu convencer os fazendeiros a construírem novas moradias, a plantarem algodão e adquirirem teares.[12]
A equipe do Projeto Antropologia e Arqueologiada “Chacrinha dos Pretos” da UFMG, identificou em um mapa[13] do século XIX, várias propriedades rurais na parte ocidental da Serra da Moeda[14] – Serra da Boa Morte – com destaque para as fazendas Três Barras, D. Bárbara; São José; Caetano José; Padre Silvério; Porto Alegre; Grota; Boa Esperança; Alberto Garcia e a fazenda Santa Cruz[15].
A equipe, ao comparar documentos cartográficos, percebeu que a Fazenda Alberto Garcia – que aparece em mapa de 1821 - localizava-se onde hoje se situa Chacrinha dos Pretos. Mas devido à falta de outras fontes sobre a propriedade não foi possível concluir a relação entre as duas localidades.[16]
Os pesquisadores do referido Projeto da UFMG destacaram outra propriedade - a Fazenda Porto Alegre[17]- em cujas proximidades possuíam sesmarias Manoel Joaquim da Costa e o Padre Agostinho Nogueira Penido em fins do século XVIII:
Na paragem denominada Porto Alegre, possivelmente entre os anos de 1751 e 1789, dos 6 habitantes listados para realizarem o pagamento da derrama destacam-se os nomes de “Manoel Nogueira Penido – 18$815”; “Domingos Lopes – $313”; “Manoel Gomesagregado – $313”; “Domingos Rodrigues Sagores – 3$763”, “Pedro de Souza $470” e “Pedro de Souza filho do dito $470”(GUIMARÃES, junho de 2013.V.II, p. 35).

A família Penido teria chegado à região no início do século XVIII, sendo o patriarca, o português Manoel Nogueira Penido, um dos homens mais ricos da Capitania de Minas Gerais.[18]

Foram onze os herdeiros do casal Manoel Gomes Penido e D. Luíza destacando-se dentre eles o Padre José Nogueira Penido, suposto proprietário da Chacrinha. No entanto, mesmo havendo uma proximidade entre a localidade de Chacrinha e a Fazenda Porto Alegre, não foram encontrados outros documentos que comprovem a ligação entre elas a não ser o já citado testamento do Padre Penido.

Uma fazenda denominada “Xacra” é citada em documento datado de 1831,[19] pertencente a Bento Marques da Costa e sua esposa Maria Francisca.

Os pesquisadores do Projeto da UFMG citam outros documentos datados de 1837 e 1840, que identificam um aumento da população desta fazenda denominada “Chácara” para dezenove membros.

Segundo Solá, a Fazenda da Chácara está relacionada com as Fazendasdo Côco e da Barra, “o que leva a dedução de que todas essas unidades produtivas fizessem parte da antiga fazenda Pedro Pinto.”[20]

Uma fazenda denominada Três Barras na região do Paraopeba,[21]em 1811 era de propriedade do padre Joaquim da Costa Pereira e do alferes Francisco Álvares da Cunha, que possuía um engenho de aguardente.

Por outro lado, o testamento do Padre Penido apesar de se tratar de cópia transcrita de um possível documento original de 1839, parece contradizer as informações das “Relações dos Habitantes” daquele período. O padre deixou a fazenda a sua sobrinha Maria Custódia casada com Manoel José de Castro em conjunto com os escravos:

Certifico que às folhas setenta e oito a setenta e nove do livro de Registros de Testamentos, que se acha em meu poder e cartório, encontrei a cópia do Testamento de teor seguinte: Cópia do testamento com que falecido o Reverendo José Nogueira Penido aos dez dias de julho de mil oitocentos e quarenta e um. Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, cujo nome invoco. Eu, Padre José Nogueira Penido adiante assinado, morador nesta fazenda do Distrito de São Gonçalo da Ponte, (grifo nosso) Termo da Viela de Queluz, Comarca da Imperial Cidade de Ouro Preto e como tal nutrido o meu espírito nos sagrados dogmas da Santa Igreja Católica de Roma, em cuja fé espero viver e morrer e salvar a minha alma seguindo as premissas do meu Senhor Jesus Cristo, e por me temer da morte, estando em meu juízo perfeito, formalizo este meu Testamento, por ignorar quando este Senhor me chamará dirigindo-me na conformidade da minha reta intenção tendo esta profundamente à justiça e verdade. Rogo em primeiro lugar a Padre Manuel Ferreira dos Santos e ao Doutor José Ignácio Nogueira Penido conjuntos sejam os meus primeirostestamenteiros; em 2º a Manoel José de Castro e em 3º ao Capitão Ignácio Nogueira Penido, que por serviços de Deus queiram aceitar este meu testamento, e que por morte ou impedimento ou actual ausência do primeiro nomeado, passe à sua administração ao segundo e deste ao terceiro, por modo e forma substituta, porque a todos juntos, e a cada um de per si ensólido, concedo a todos os meus poderes em direito necessários, como também o tempo de quatro anos seguintes ao meu falecimento, para produzirem as suas contas em juízo competente e correntes, relativos e as completas satisfações de minhas disposições aqui contidas a perceberá qualquer dos sobreditos meus testamenteiros, que aceitar a determinação da minha testamentária, em ação remontaria  cem mil reis do prêmio, outrossim, que se leve em conta o meu testamenteiro, toda e qualquer despesa ordinária ou extraordinária não indicada administração, sem glosa alguma, pois quanto sua identidade e prova conta se deferiu o juramento supletório e debaixo dele se declarará a certeza das mesmas despesas, e deferindo ele se lhe passe quitação de Contas Correntes. (...)
Declaro que deixo a Manoel José de Castro, casado com minha sobrinha e afilhada Maria Custódia esta fazenda com Engenho e os cobres conjuntos com os meus escravos [ilegível], com a diferença, porém, que o dito Castro, poderá plantar lhe com o número de seis escravos em razão ter família e desfrutem os escravos e ele como suas que ficam sendo, e o dito Castro regerá os escravos, para que se conservem e vivam em boa ordem e harmonia entre eles; a saber, ele dito Castro, morará na casa sem ajuntamento dos escravos; pois cada um já tem o seu cubículo; só sim, os pequenos para educá-los, ou os que lhe merecem esta graça; e fica pertencendo a cada escravos as suas ferramentas de roça e os escravos não poderão vender as suas partes e por morte irão descendendo de uns aos outros. (...)
(...) assino. Hoje Chácara, 3 de agosto de 1839 (mil  oitocentos e trinta e nove) (grifo nosso) Padre José Nogueira Penido – Como testemunha que esse fiz a rogo e vi assinar José Joaquim de Santo Antônio,  Está assinado com as testemunhas  Eu Bonifácio Pereira Rangel. Nada mais contem no dito que realmente copiei e juro nos Santos Evangelhos. O vigário Hygino Ferreira Paulino. Nada mais continha na dita cópia de testamento que bem e fielmente extrai esta certidão.... (intelegível).... Senhor Carmelido José Pedro de Alcântara, do que dou fé. Eu, Olympio José da Silva examinei e assino em .... e....
Em testemunho da verdade e...
(selos de trezentos Reis e sobre eles a assinatura de Olympio José da Silva e a data: Congonhas ...... maio de 1913)
(Rubrica do Escrivão)
(TRADUÇÃO da Certidão do Testamento do Pe. José Nogueira Penido. Olympio José da Silva, escriturário vitalício do Officio do Escrivão de Congonhas do Campo, Fórum e Comarca de Ouro Preto, Estado de Minas Gerais ).


A pesquisa do projeto da UFMG conclui: Embora no testamento seja contada a história de doação de terras aos escravos que seriam alforriados após a morte do Reverendo, em nenhum momento aparece o nome das propriedades das quais ele era detentor.”

No entanto, o documento informa que a redação do testamento foi efetuada na sede da fazenda e assinada ao final: “Hoje Chácara, 3 de agosto de 1839 (mil  oitocentos e trinta e nove) Padre José Nogueira Penido.”[22]

Há ainda a possibilidade de que o “Barão Milhão e Meio” fosse o proprietário do Arrojado Lisboa onde existem as ruínas da Fazenda do Barão,[23] situada a seis (6) quilômetros da Chacrinha dos Pretos.

O próprio título de Barão pode ser questionado, haja vista que seria possível a identificação no rol da nobiliarquia brasileira, o que ainda não foi realizado. Assim, a existência deste personagem fica limitada a algumas referências que remetem à tradição oral. (GUIMARÃES, junho 2013. V.II, p. 24).


 Importante ressaltar que nas proximidades da Chacrinha – seis (06) quilômetros - encontra-se dentre outras propriedades, a importante Fazenda Boa Esperança tombada pelo IEPHA/MG e pelo IPHAN, que pertenceu à família Monteiro de Barros[24] sede de uma grande “unidade produtiva” que se compunha de vinte e cinco mil (25.000) alqueires de terras.[25]A Fazenda Boa Esperança era autossuficiente e possui em suas terras, as lavras do Morro de Santo Antônio onde trabalhavam quarenta (40) escravos.[26]

Segundo Victo Freitas, o referidoPadre Pedro Pinto, por não possuir herdeiros, teria libertado os escravos e doado através de testamento, as terras de sua fazenda.  Conforme informações orais, em 1843, após a morte do Padre Silvério a fazenda de sua Propriedade - “Contendas”[27] - foi levada a hasta pública. Os bens foram revertidos em benefício para instituições de caridade e os escravos da fazenda foram alforriados.[28]

Temos então, mais dois padres doadores de terras a ex-escravos: Padre Pedro Pinto da fazenda denominada “do Padre Pedro Pinto” e o Padre Silvério, dono da fazenda Contendas.

Outra importante fazenda da região - a Fazenda da Boa Vista - em 1838 pertencia a Domingos Martins da Silva e a Francisco Martins da Silva.[29] Em 1840, parte da antiga Fazenda Boa Vista foi anexada à Fazenda da Barra. Nesta época, a Fazenda da Barra pertencia a Antônio Francisco Passos também proprietário da Fazenda Taquaraçu.[30]

Em nossas pesquisas encontramos no Registro de Terras Públicas da Freguesia de Congonhas do Campo realizado entre os anos 1855/1859, o registro de terra de Manuel Luís do Nascimento referente à posse de terras denominadas Chacrinhas que pertenceram anteriormente à “Fazenda dos Pintos.” Outro registro de terras denominadas “Chacrinha” aparece logo em seguida, feito por Antônio Ferreira Pinto. Também essas terras pertenciam anteriormente a Fazenda dos Pintos. Essa fazenda provavelmente seria a antiga propriedade do Padre Pedro Pinto mencionada por Victo Freitas e por Maria Elisa Castellanos Solá.
Apresentamos a seguir os dois registros referentes às denominadas terras das Chacrinhas:
M.el.Luis do Nascimento
 Eu M.el Luis do Nascimento possuo humas terras denominadas Chacrinhas q.’ Forão pertencentes à fazenda dos Pintos, sita no distrito de N. S.  da Boa Morte da Freguesia de Cong.as  do Campo q.’ (...) dois alqueires e meio poco mais ou menos, o qual confina pelo nascente com meo tio Ant.º Guilherme, com Cassimiro João Ant.º F.cr e Pinto, pelo sul com Ant.º Zacarias Pinto, do q.’ (...) distrito Boa Morte 20 de desembro d.’ 1855. Manoel Luis do Nascimento. Vig.º Hypolito Fasc.º Paulino. Nada mais continha. (Negrito nosso). (ARQUIVO Público Mineiro. TP -058 – Congonhas do Campo, Nossa Senhora da Conceição das (1855-1859). Livro 58º do Registro Parochial de Terras da Freguesia de Congonhas do Campo. P.000019). 
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Ant.º Ferreira Pinto
Eu Ant.º Ferreira Pinto possuo humas terras denominadas à Chacrinha, q.’ foi pertencente à fazenda dos Pintos, sitta no districto da Sn.ª da Boa Morte da Freguesia de Cong.ª do Campo, q.’ terá de (...) para mais ou menos, q.’ confina pelo nascente com Thomas Pe.do pelo poente com o finado Hipolito Martins pelo norte com Mel Verissimo, Bollina Moreira,  J.eAlves Pen.do (...) Frc.ºAn.tº  Guilherme, pelo sul um meu irmão Me.l Luis (...). F.cºAn.to  Guilherme do q.’ fasso (...) distrito Boa Morte 28 de Desembro de 1855. An.to Ferr.a Pinto. Vigário HyginoF.asc.º Paulino. (...) (Negrito nosso). (ARQUIVO Público Mineiro. TP -058 – Congonhas do Campo, Nossa Senhora da Conceição das (1855-1859). Livro 58º do Registro Parochial de Terras da Freguesia de Congonhas do Campo. P.000019, 20). 

“Há ainda, dois outros registros de terras datados de 1856, com referências ao “lugar denominado Chácara”, no distrito de Redondo da Freguesia de Congonhas do Campo:
Eu João Gomes Veado (...)declaro q.’ possuo (...) campos e culturas q.’ (...)quarenta alqueires de plantação ou mais ou menos, no lugar denominado Chacara, neste distrito do Redondo, Freguesia de Cong.as do Campo, q.’ divisam comterras do (...) Casmo Mauricio e por outro lado com falecido L(...) e por outro lado com terras de (...) Siabra Pinheiro, e por outro com o quintal do Sen.º Fran. Co Nogueira e por me achar (...) pedi a Joaq.m Marques q.’ este por mim fizesse (...). Distrito de Redondo 3 de janeiro d.’ 1856. João Gomes Veado. Vig.º Hypolito Fasc.º Paulino. Nada mais continha. (Negrito nosso). (ARQUIVO Público Mineiro. TP - 058 – Congonhas do Campo, Nossa Senhora da Conceição das (1855-1859). Livro 58º do Registro Parochial de Terras da Freguesia de Congonhas do Campo. P.000011).
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Eu P.e Mel. Joaq. m Fran.co da Costa (...) declaro q.’ (...) huma porção de terras denominada Chacara na Freguesia do Cong.as do Campo distrito de Cong.as q.’ terão para mais ou menos três (...) alqueires de campos, q.’ divisão com Ant.o Soares e com os Monteiros athé a praia do córrego do S.to. Ant.o(...) Sette de Jan.º de mil oito centos cincoenta e seis (...)
(Negrito nosso). (ARQUIVO Público Mineiro. TP - 058 – Congonhas do Campo, Nossa Senhora da Conceição das (1855-1859). Livro 58º do Registro Parochial de Terras da Freguesia de Congonhas do Campo. P.000011).   


Os registros de Manuel Luís do Nascimento e de Antônio Ferreira Pinto são os únicos que possuímos referente a um lugar denominado “Chacrinha” na segunda metade do século XIX. Nessa época eram proprietários da Fazenda dos Pintos, José Hipólito Veríssimo, Claudina Fonseca Pinto, Antônio Zacarias de Farias e sua mãe D. Anna Rosenda Pinto.[31] A Fazenda dos Pintos aparece em mapa datado de 1855, onde também são identificadas as fazendas “das Contendas”, “de Caetano José”, “Boa Esperança”, “Santa Cruz” e “Redondo.”[32] No mapa de 1855, assim com em outros levantados pelos pesquisadores da UFMG, não há referências a um lugar chamado Chacrinha. A localidade somente será representada em mapa a partir de 1929, quando aparecer em base cartográfica bem próxima à também identificada Fazenda da Chácara.[33] Este mapa de 1929, alimenta as nossas suspeitas de que Chacrinha seria parte de terras de uma grande fazenda: ou dos Pintos - “do Padre Pedro Pinto”- como informam os registros de terras do século XIX, ou da Fazenda Chácara.

Economicamente ocorreram mudanças significativas na região durante o século XIX. A decadência aurífera que já se fazia sentir a partir da segunda metade do setecentos desvia as atenções dos grandes proprietários para a exploração do minério de ferro. O Coronel Romualdo José Monteiros de Barros - dono da Fazenda Boa Esperança - em 1811 criou com a Sociedade Patriótica de Vila Rica comandada pelo Barão de Eschwege,[34] a Fábrica de Ferro Patriótica. Monteiro de Barros possuía uma lavra de xisto argiloso com quartzo contendo ouro. A Fazenda Boa Esperança ligava-se à Fábrica Patriótica[35] por caminho que seguia para a região do Rodeadouro.[36]

O minério de ferro, a partir do oitocentos passou ser a mais nova riqueza das Minas Gerais e um dos fatores que irão justificar a instalação de ferrovias no território mineiro.
Esse primeiro empreendimento de sucesso na produção de ferro nas Minas Gerais justificou o tombamento das ruínas da Fábrica Patriótica pelo IPHAN - Processo nº 031-T-38; Inscrição nº 72, Livro Histórico, Volume 1, folha 14, de 30 de Junho de 1938.

3 - Chacrinha dos Pretos e as Ruínas
“São nas ruínas de coisas e homens que vislumbro a eternidade”
                                                                                       (PROTEUS)



Ruínas da Chacrinha dos Pretos - 2013. Fonte: IEPHA/MG.



A Chacrinha dos Pretos[37] - parte de propriedades maiores como as fazendas dos Pintos ou Chácara - provavelmente teve durante o século XVIII, uma rotina típica das fazendas da região, explorando ouro e se dedicando a uma agricultura de subsistência. No século XIX, já não se explorava ouro e as atividades agrícolas variaram pouco, antes e depois da doação das terras.

Maria Elisa Castellano Solá informa que os negros da Chacrinha, assim que obtiveram a alforria permaneceu no local com medo de serem novamente escravizados e teriam permanecido isolados até 1912 quando chegaram os funcionários da EFCB – Estrada de Ferro Central do Brasil.[38] Segundo Solá esse isolamento teria fortalecido as tradições e costumes da comunidade:
Durante o período em que estiveram isoladas as pessoas que lá permaneceram cultivaram tradições e costumes, construindo uma verdadeira comunidade. Havia danças cantos, histórias e os mais velhos contavam aos mais novos como eram os dialetos africanos. Com o passar do tempo, a maior parte desses registros foi se perdendo e, com a chegada das interferências externas, o processo de perda das tradições intensificou-se rapidamente. Atualmente pouco se sabe sobre as histórias, cantos e costumes dos primeiros moradores. (SOLÁ, 2008, Cap.14, p.146).

Apesar das famílias negras terem adquirido o direito de propriedadereconhecido pelo testamento do Padre Penido, aconteceu um processo contínuo de espoliação fundiária por fazendeiros que pagaram impostos territoriais,apossando-se das terras.[39] Vários moradorestiveram que comprar do fazendeiro “dono das terras” as propriedades que já habitavam e só assim conseguiram o título de propriedade.[40]

Em paralelo à espoliação das terras da antiga fazenda ocorre o distanciamento mental e – de certa forma - físico da população nativa com as estruturas arquitetônicas coloniais, acelerando o processo de arruinamento destas. Consequentemente, há uma tendência à mistificação da história das ruínas, alimentada pelo fascínio exercido. As ruínas e seus mistérios reais ou inventados repelem e atraem seus vizinhos de tempo e espaço.

Maria Aparecida Dias (Tuquinha) em entrevista concedida aos pesquisadores do projetoAntropologia e Arqueologiada “Chacrinha dos Pretos” deixou a sua versão da história da antiga fazenda:

“Minha avó conta que seu pai era escravo e sofreu muito aqui”, afirma Maria Aparecida Dias. Segundo ela, o lugar pertencia a um fazendeiro muito rico, que morreu, doando suas terras a um padre. “O religioso quis dividir tudo com os escravos. Porém, assim que ele morreu, veio um outro fazendeiro e tomou tudo”, lamenta. Assim, os negros tiveram que comprar o que já era deles. “Com a morte do dono das terras, parte da fazenda foi destruída, sobrando apenas ruínas”, diz. Hoje, os destroços representam para a comunidade um templo sagrado, onde são comemoradas as festas e ritos tradicionais. Formada por 35 famílias, a Chacrinha dos Pretos tem como missão repassar de geração em geração histórias e tradições. (GUIMARÃES, Junho de 2013. V.I, p. 17).


A senhora Maria Domingas da Conceição - antiga moradora falecida em 2009 - em entrevista concedida à pesquisadora MariaClareth em abril de 2002, informava que, quando criança a fazenda ainda estava de pé:

Nós ia lá pra fazenda brincar, cantava roda. Era muito menino naquele tempo. A fazenda era grande, mas não tinha nada, nem um banco, nem uma mesa, nem fogão, nem cama, não tinha nada. Ficou parado, aí começou a cair. Aí tinha um que morava lá: o Beijo, casado com a Jacinta. Desmancharam a casa, tiraram as telhas: ‘Ah, vamos repartir essas telhas’. Tirou pro Vô Chagas, pro Beijo, pro Ramiro. Sei que cada um fez sua casa. (REIS,2003. p.25. Entrevista nº16, 09/04/02. Disponível na Internet em: http://www.ufjf.br/ppge/files/2009/06/Disserta%C3%A7%C3%A3o-de-Maria-Clareth-Gon%C3%A7alves-Reis.pdf . Acessado em 20 de setembro de 2013).

Novamente citando a senhora Maria Domingas, temos os instigantes “causos” de fantasmas que enriquecem a relação dos habitantes com a localidade:

 “Quando eu tava passando na parada ou esperando o trem, aparecia um cachorrinho. O povo o chamava de Branquinho. Ele aparecia, atravessava a linha. Uma hora atravessava a linha pra-cima. Outra hora atravessava a linha pra baixo... E aparecia ali também um fantasma, ali na porteira, sabe? Assim, parecendo um lençol. O cumpadre João vinha cá pra chácara. Quando ele vortava, ele sempre vinha gritando pra trás com medo que esse fantasma aparecia pra ele aqui na parada. Na porteira, ali do lado de cima não tem uma vala, lá? Pois é, naquela vala ali que aparecia o fantasma. Lá chegando ali. Diz -ele. - e abria assim, de repente. Eu nunca vi. O pessoal é que via e contava pra gente. Eu vi assombração aqui em casa, numa casa da minha avó. Meu avô era escravo, chamava Miguel Chagas, da fazenda aqui. A gente via ele sair pra trabalhar todo dia, mas não sabia pra onde ele ia não. A gente era pequena, né?”
“Aí, um dia... A nossa casa era de pau a pique. A casa de tão velha… Era de noite, nóistava tudo assim, sentado. A minha avó acendia o fogo, fazia aquela calheira. Fazia muito frio naquele tempo, aí nóis ficava tudo ali. Um dia a parede da casa caiu direitinho, tudo pra fora. Foi Deus, né? Eu alembro como se fosse hoje. Assim, quase na cantada do galo, passou aquela voz falando assim: Humm... humm... As minissaias tá tudo durmino. Nóis não tavadurmino, nóistava na beira do fogo. Como é que as minissaias tavadurmino? Quer dizer que nóis era minissaia. Eu, mais Valentina, mais Nelsinho. Nóis ficou na cozinha, na beira do fogo, mas aquilo puxou mesmo: Humm... humm... As minissaias tá tudo durmino. Nóis não tavadurmino.” Obs: Minissaias quer dizer menina pequena. (Causos e Lendas - “Os Fantasmas de Chacrinha dos Pretos”. Disponível na internet: http://institutoculturando.com.br/index_arquivos/Page562.htm  . Acessado em 07 de janeiro de 2014).


Os moradores ao longo dos anos foram utilizando telhas e pedras das antigas construções para as construções de novas residências.

É nesse contexto que, em 1917 foi inaugurada a Estação de Arrojado Lisboa, cujo nome homenageava um dos diretores da Estrada de Ferro Central do Brasil. Naquela época, a empresa estendeu parte de seus trilhos pelo Vale do Paraopeba de forma a atingir a capital do Estado. Na mesma data foi implantada a Parada da Chacrinha na Comunidade, o que se evidencia em alguns mapas da região onde a ferrovia está registrada. A cidade de Brumadinho também teve sua origem ligada à construção da ferrovia e da estação ferroviária inaugurada em 20 de junho de 1917. O mesmo sucedeu com a sede municipal de Moeda, que se desenvolveu no entorno de sua estação a partir de 1919. (GUIMARÃES, Junho, 2013. V.II, p. 46).


D. Noemia,[41] antiga moradora entrevistada por Maria Clareth conta que seu pai teria achado uma panela de ouro nas ruínas:

Fui nascida e criada aqui. Os antigos que colocaram o nome “Chacrinha”, aqui. Quando nasci, a fazenda já não existia mais (...) foi tudo acabando, tudo porque os véios morreram. Aí ficou só o muro. Na igreja velha que desmanchou, tinha muito santo. Quando a igreja começou acabar, eles levô tudo para Lagoinha. Tinha ouro naquela casa onde o meu avô morava. O meu pai achou uma panela de ouro. Eles iam para o moinho, onde moía milho. O moinho era do meu bisavô. Moia para todos da Chácara. Um dia tava dando uma chuva fina, o meu avô tava indo para o moinho com a minha tia.

Quando ele ia descer o muro, ele viu uma goteira pingando em cima de uma coisa que parecia uma tampa de panela. Aí ele disse: ´O que será aquilo?` A minha tia disse: ´Pode ser uma panela`. Ele foi e voltou e cavacou; era uma panela de barro com esmeril por cima. Aí ele pegou a panela e foi levar para a bica para lavar o pó. O filho dele chamado Ozório disse: ´Pai, não lava não, isso é ouro!` O pai dele respondeu: ´Que nada, menino! Você não sabe de nada!` Aí ele pegou a panela e colocou debaixo d’água e o pó se espalhou... Estava anoitecendo... Só viram aquela coisa brilhando descendo água afora, levando o ouro. Ele ficou muito sentido, quando viu aquilo. Quando o fazendeiro Valeriano ficou sabendo, veio doido para ver a panela e saber onde estava o ouro, porém só restava a panela. O fazendeiro ficou muito nervoso. (REIS. 2003. p. 25, 26. Entrevista nº 03, 12/12/01).

Foi relatado, ainda, que à época da construção da ferrovia deu-se início à pilhagem de artefatos, e objetos pertencentes à antiga fazenda. A linha férrea teria sido implantada sobre as ruínas da casa-grande. A passagem dos trens também teria contribuído para comprometer as estruturas arruinadas. Segundo Lemos & Paiva, “o trajeto da linha férrea foi alterado intencionalmente para passar pelas proximidades da fazenda, pois se desconfiava que ainda houvesse riquezas escondidas, apesar de não existirem registros que atestem se tais tesouros foram de fato encontrados”.[42]

Segundo Marina Naufel, os construtores da estrada de ferro teriam tentado afastar os moradores da antiga sede, por estarem interessados “em objetos e peças de valor, como as alfaias, móveis, portas e janelas.”[43]

A comunidade, ainda hoje, sofre com a falta de segurança nas proximidades da linha férrea e do Rio Paraopeba, por causa das inundações frequentes e da poluição.

Assim, o processo de destruição e desmonte das ruínas da Chacrinha, acelerado com a instalação da ferrovia intensificou-se a partir da segunda metade do século XX, quando as pedras foram utilizadas na construção de novas edificações. Segundo a moradora Maria Domingas, as telhas da casa da fazenda foram divididas entre os moradores do povoado.[44]
“A própria comunidade que ficou morando na Chacrinha depois da destruição ajudou a acabar de destruir a fazenda. Por quê? As casas eram todas de sapé. O que eles fizeram? As primeiras casas que tiveram telha foram cobertas com as telhas da fazenda. E muita pedra para fazer alicerce, madeira”...(DIAS, Março de 2013, p. 17,18).


Esse processo de mudança e destruição ao mesmo tempo, causa e consequência da perda de identificação com o passado foi percebida pela pesquisadora Marina de Paiva Naufel em seu trabalho de 2009:
Durante os trabalhos a campo, esta perda de identificação com o passado foi evidenciada em conversa com adolescentes, que se referiam às ruínas como uma antiga construção feita pelos escravos, como se eles não pertencessem àquela história. Diferentemente desta relação, Dona Domingas a moradora mais antiga do povoado, se refere ao passado de forma vinculada àquele povo que formou a Chacrinha, se referindo aos seus avós como integrantes da história. Porém, devido a sua idade avançada, alguns preciosos registros estão sendo perdidos. (NAUFEL, 2009, p.44).


A comunidade, de forma geral até há pouco tempo não se reconhecia como descendente de escravos ou com algum vínculo com as ruínas. Essa negação derivava da própria situação do negro na nossa sociedade e da necessidade de se afastar do estigma da escravidão.[45]
“Você chamava as pessoas pra conversar, elas diziam: não, eu não sou descendente de escravo, não. Tinham vergonha. Chamava os meus tios, meus amigos, meus parentes pra conversar, não gostavam, se sentiam constrangidos. Como se: ‘ah não, eu falar que sou escravo?, Todo mundo vai rir de mim, vai ser a coisa mais vergonhosa do mundo eu assumir que sou descendente de escravo’. Então, por isso que eu falei, teve que ter um trabalho de conscientização.” ( DIAS, Rafael. Março 2012. GUIMARÃES, Junho 2013, V.I, p.20).

A comunidade de Chacrinha passou a ser estudada por pesquisadores a partir da década de 1990 devido à riqueza de elementos culturais congregados em um só lugar: ruínas de uma fazenda colonial e uma comunidade isolada descendente dos escravos da fazenda.

Em 2003, os alunos da localidade realizaram um importante trabalho de resgate da história da Chacrinha. Orientado pela professora Maria Aparecida Gloria Maia e com grande participação do morador Rafael Dias, o “Inventário de proteção do acervo cultural, histórico e arqueológico das ruínas da fazenda Chacrinha dos Pretos, no município de Belo Vale – Minas Gerais” tornou-se um marco para a comunidade de Chacrinha dos Pretos. Os alunos entrevistaram os moradores e colheram importantes depoimentos sobre a desconhecida história local, despertando sentimentos até então restritos aos meios familiares.[46]

Em um país em que as desigualdades entre brancos, negros, mulatos e outras minorias são ainda enormes, a valorização dos elementos culturais destes segmentos tornou-se de crucial importância para a elevação da sua autoestima. O “Brasil Branco” ocuparia a 65ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) enquanto o Brasil de negros e pardos estaria na 102ª posição. Mesmo havendo uma progressiva melhora das condições dos negros e pardos nos últimos anos, estes significam 96,8 milhões de pobres do país.[47] Soma-se a essa desigualdade o desrespeito aos lugares habitados pelos negros[48] por parte do poder público e dos grupos recém-chegados. O não entender o espaço do outro enquanto legítimo, enquanto lugar de viver e criar história e memória, há séculos vem dizimando comunidades tradicionais. Esses grupos são expulsos de seus territórios de origem pelos governos e grupos econômicos em nome de uma visão desenvolvimentista que exclui as culturas que não se encaixam no ideário cultural e social da elite.
Chacrinha ressurge então, como um lugar de resistência da cultura negra – um quilombo e um lugar de memória e identidade cultural.[49] A visão antropológica atual considera quilombolas os grupos que surgiram de fazendas falidas, de doações de terras para ex-escravos, de terras compradas por escravos alforriados ou recebidas de ordens religiosas. Na análise atual leva-se em conta o modo de vida do grupo e a participação dos indivíduos no cotidiano da comunidade.

Em vinte e sete (27) de fevereiro de 2007, a Comunidade de Chacrinha dos Pretos recebeu a “Certidão de Auto-reconhecimento” pela Fundação Palmares[50] como remanescente das comunidades dos quilombos, entendendo que se tratava de comunidade descendente de negros alforriados, que se mantiveram unidos para preservarem e cultivarem as suas tradições e costumes.

A partir do grande interesse dos pesquisadores e do reconhecimento enquanto quilombo, o que se percebe é que a comunidade iniciou um novo relacionamento, agora de respeito às ruínas da antiga fazenda, como parte de sua origem.

Há uma relação simbiótica[51] entre as famílias e as ruínas. A transformação da sede da fazenda em ruínas ocorrendo simultaneamente à construção da identidade da comunidade quilombola em um processo de entrelaçamento e fundição. Esse entrelaçamento moldado em séculos de convivência vinculou a existência de um à permanência da outra. Não se entende a comunidade sem as ruínas e não se compreende as ruínas, se não com a proximidade com a comunidade negra.

Segundo o cadastro do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEF) existem na região outras dez (10) comunidades quilombolas: Córrego do Feijão e “Sapé”[52] em Brumadinho; Coqueiros em Moeda; Bananal, Mato Felix, Casinhas, Cachados, Sesmaria e Tartária em Jeceaba e em Belo Vale, além da Chacrinha dos Pretos, a Comunidade de Boa Morte. Existem outras localidades que não foram oficialmente reconhecidas: as comunidades de Lajes, Capão, Grota, Vargem de Santana e Queirós em Belo Vale; as localidades de Candeias, Coronel Eurico, Colégio e Ribeirão Marinhos em Brumadinho e em Moeda a comunidade de Taquaraçu.[53]
A localidade de Chacrinha dos Pretos é atualmente um povoado com uma pequena malha viária e cerca de trinta (30) edificações divididas em lotes com quintais onde seus moradores plantam hortas e árvores frutíferas e criam galinhas e porcos.[54]
Segundo o historiador de Belo Vale - Antônio de Resende - estão sendo realizados trabalhos de conscientização para que a comunidade de Chacrinha consiga caminhar sozinha, de forma a garantir o resgate e a consequente preservação da cultural do povoado como comunidade quilombola, além das práticas de turismo, baseadas na continuidade e divulgação.
Existe na comunidade uma igreja católica dedicada a Nossa Senhora do Bom Parto e São Sebastião[55], uma escola de ensino primário - Valeriano José da Silva - bares, campo de futebol e a sede de um Ponto de Cultura criado em 2009.[56] Desde 2006 um grupo de teatro local encena temas voltados para a história da comunidade e da situação do negro no Brasil.
Realizada geralmente na última semana do mês de agosto, a festa dedicada a São Sebastião é muito concorrida e envolve grande número de devotos nas várias etapas de seu planejamento.

A divisão entre “mordomos” e “festeiros”, distingue aqueles que contribuem financeiramente com a Festa daqueles que além de contribuírem com maiores doações em dinheiro, tem uma maior atuação nas tarefas que antecedem o evento.
Dentre os festeiros e mordomos, existe também uma divisão de responsabilidades que se expressa em termos de uma ordenação “hierárquica” que não denota comando ou posição de destaque, mas um maior compromisso pessoal em “fazer a festa acontecer”. Como sublinha Marlene Dias, “na reunião ali um fala: não, eu vou ser o primeiro, você vai ser o segundo. Nós vamos estar reunindo pra fazer mas não fica escrito que um vai ser o primeiro, um vai ser o segundo não,entendeu?
Uma das principais atribuições dos festeiros é a arrecadação de contribuições em dinheiro para a realização das festas. Essa arrecadação é feita por meio da distribuição de uma lista para cada um dos festeiros que fica incumbido de passar de casa em casa, na Chacrinha e nas comunidades vizinhas para recolher doações. Cada uma destas listas, é identificada com o nome de um festeiro e este deve prestar contas dela ao fim do período de arrecadações. Caso a renda arrecadada com as listas não cubra todos os gastos da festa, os festeiros ficam incumbidos de dividir o restante das despesas. (GUIMARÃES, junho, 2013, V. I, p. 44,45).


Há por parte da comunidade da Chacrinha, uma forte tendência para o resgate das tradições coletivas reforçada a partir do Auto reconhecimento enquanto comunidade quilombola. A população utiliza parte da área das ruínas hoje denominada “Terreiro”, como local de encontro e de apresentações de danças e peças teatrais que ocorrem preferencialmente durante a Festa de São Gonçalo e no dia vinte (20) de novembro, dedicados à consciência negra.
Em vinte e oito (28) de fevereiro de 2011, em reconhecimento da importância do Sítio, o município de Belo Vale por meio da lei n.º 1249 - assinada pelo prefeito municipal Wanderlei de Castro - determinou “o tombamento do Sítio Arqueológico da Chacrinha dos Pretos como área de proteção ambiental, cultural, artística e histórica...”[57]
No mesmo ano, em cinco (5) de setembro de 2011, o IEPHA/MG iniciou o processo de avaliação para tombamento do Sítio Arqueológico Chacrinha dos Pretos com a emissão do “Termo de Abertura e Autuação do Processo Administrativo de Tombamento do Sítio Arqueológico Chacrinha dos Pretos” devido à solicitação da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico - Promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda - oficio n.º 1295/2011 de 16 de agosto de 2011.


Ruínas da Chacrinha dos Pretos - 2013. Fonte: IEPHA/MG.


[1] A escravidão dos nativos africanos no Brasil teve início com as plantações de cana-de-açúcar no nordeste na primeira metade do século XVI. O tráfico de negros tornou-se um negócio lucrativo. Cerca de 11 milhões de africanos foram trazidos para as colônias americanas entre os séculos XVI e XIX. Em Minas Gerais, logo após os primeiros descobrimentos levas de escravos negros foram importados para os trabalhos nas minas, inicialmente em parceria com índios. Os negros africanos contribuíram com várias técnicas no cultivo, na criação de gado e mineração de ferro.
[2]Ruínas são restos, destroços, fragmentos ou vestígios de uma edificação. “A ruína é uma dádiva que nos leva à transformação” (do filme: “Comer, rezar e amar” - Eatpraylove - dirigido por Ryan Murphy lançado em 2006).
[3] GUIMARÃES, CarlosMagno. Coord. Projeto Antropologia e Arqueologiada “Chacrinha dos Pretos”. Belo Horizonte: Núcleo de Estudos de Populações Quilombolas e Tradicionais da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Laboratório de Arqueologia da FAFICH/UFMG. Junho de 2013.v.II, p.24.Segundo Naufel, o primeiro trabalho realizado sobre as ruínas da chacrinha foi o inventáriode proteção doacervo cultural feito pelos alunosda 8ª série do ensino fundamental da Escola Estadual Gama Cerqueira em 1996.
[4]Durante boa parte do século XVIII, existiam cerca de cinquenta (50) famílias nobres em Portugal e a Coroa controlava a nomeação de títulos. Apenas na última década do setecentos é que novos títulos de barão e visconde foram concedidos chegando a sessenta e oito (68) em 1807. (MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Os Rendimentos da aristocracia portuguesa na crise do Antigo Regime. Análise Social, vol. XXVI , 1991 (2º) P.362. Disponível na internet em: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223038836M1eET5bl7Uo99XM9.pdf. Acessado em 3 de outubro de 2013). Em 1863 existiam no Brasil seis marqueses, cinco condes, vinte quatro viscondes e cento e dez barões. (TSCHUDI, Johann Jakob Von. Viagens Através da América do Sul. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro. Centro de Estudos Históricos e Culturais. 2006, p. 167.
[5]Pela ordem de 12 de junho de 1743 se proibiu debaixo de penas graves a fatura de novos engenhos na capitania de minas e ainda a mudança dos que existissem dentro das mesmas fazendas, e se recomendou aos ouvidores que perguntassem nas correições se se faziam engenhos de ovo e que procedessem contra os culpados” (COELHO, José João Teixeira. Instrução para o governo da Capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1994, p.250,251).
[6]REIS, Maria Clareth Gonçalves. Reflexões sobre a Construção da Identidade Negra num Quilombo pelo viés da História Oral. in: Anais do27º Encontro da ANPED, Caxambu, 2004, p. 04.
[7]ARAÚJO, Maria Luiza Grossi. Ciência, fenomenologia e Hermenêutica: Diálogos da Geografia para os Saberes Emancipatórios. 2007. P.175.
[8]Os dois volumes de Relatórios do ProjetoAntropologia e Arqueologiada “Chacrinha dos Pretos”compõem esse processo de tombamento.
[9]A comunidade Boa Morte, constituída por remanescentes de escravos possui um Ponto de Cultura desde 2007.
[10]GUIMARÃES, 2013. Vol.II, p. 27. A Fazenda Barra é mencionada por Eschwege em sua viagem de 1816. (ESCHWEGE, 1996, p. 65).
[11]Seria o embrião do atual município de Brumadinho.
[12]ESCHWEGE, 1996, p. 65.
[13]A equipe do Projeto Antropologia e Arqueologia da “Chacrinha dos Pretos” pesquisou mapas do século XVIII: 1775, 1778; século XIX: 1800, 1821, 1840, 1855, 1862 e mapas do século XX: 1919, 1923, 1939, 1944, 1976.
[14]Além destes municípios, o Sinclinal de Moeda também atinge o território do município de Rio Acima. estandosituado principalmente nos municípios de Nova Lima e Itabirito (...)”.(SOLÁ, 2008, P.34). A Serra da Calçada compreende o primeiro trecho norte da Serra da Moeda se estendendo estende desde o bairro Jardim Canadá – Município de Nova Lima(a norte) até a região da RepresaCapitão do Mato, a sul. A Serra da Calçada encontra-se tombada pelo IEPHA/MG:- Tombamento Provisório aprovado pelo CONEP na 2ª Reunião Extraordinária em 30 de junho de 2008. Deliberação CONEP 04/2008 publicada no Diário Executivo, Legislativo e Publicações de Terceiros – Minas Gerais - de 30 de julho de 2008, Caderno 1, pág.1 col.2.
[15]Essa fazenda de Santa Cruz foi citada pelo Barão de Eschwege em sua viagem a caminho de Abaeté no ano de 1816. (ESCHWEGE, 1996, p.63).
[16]Aparece em mapa de 1821. (GUIMARÃES, CarlosMagno coord. ProjetoAntropologia e Arqueologiada “Chacrinha dos Pretos”Núcleo de Estudos de PopulaçõesQuilombolas e Tradicionais da Faculdade de Filosofia e CiênciasHumanas, Laboratório de Arqueologia daFAFICH/UFMG. Junho de 2013. V. II, p. 30,31).
[17]Essa fazenda também aparece me mapa de 1821.
[18]GUIMARÃES, junho 2013. V.II, p. 36.
[19]Relação dos habitantes do distrito de São Caetano da Moeda, termo da cidade de Ouro Preto. 1831. Microfilme 01, caixa 01, documento 02. Coleção Mapas de População. Acervo APM.
[20]SOLÁ,2008, Cap.14, p.178.
[21]Situada na freguesia de São José do Paraopeba. Essa fazenda possuía um engenho de aguardente. Entre os anos 1795 a 1807, fabricava 364 barris.
[22]GUIMARÃES, junho 2013. V.II, p. 42.
[23]Segundo a tradição local, D. Pedro I, teria visitado a fazenda de José de Paula Teixeira em março de 1822, quando esteve em Minas buscando apoio para a independência do Brasil.
[24]A família Monteiro de Barros descende do português José Monteiro de Barros, natural de Barcelos, que se transferiu para as Minas na década de 1740.
[25]A fazenda teria sido construída pela família Mendonça. Foi adquirida pela família Monteiro de Barros por volta de 1790. O Conjunto da Fazenda Boa Esperança foi tombado pelo IEPHA/MG - Decreto Estadual nº 17.009, de 27 de fevereiro de 1975. publicado no Minas Gerais – Diário do Executivo em 28 de fevereiro de 1975, pág. 7, col.1. livros do Tombo I,II,III. Foi tombada pelo IPHAN - Processo nº 569-T; inscrição nº  450, Livro Belas-Artes, volume 1, folha 84, de 27 de agosto de 1959. A Fazenda foi iniciada no século XVIII e concluída por volta de 1822.
[26]ESCHWEGE, 1979.
[27]O Padre Silvério era filho do capitão Simeão Ribeiro de Carvalho e de Joana Tereza de Oliveira, que implantaram e foram os primeiros moradores da Fazenda Contendas.(GUIMARÃES, Junho 2013. V. II, p. 34.
[28]GUIMARÃES, junho 2013. V. II, p. 34.
[29]Relação dos habitantes do distrito de São Caetano da Moeda, freguesia de N. S. da Boa Viagem de Itabira do Campo. 1838e 1840. Microfilme 04, caixa 07, documento 14. Coleção Mapas de População. Acervo APM. Destaca-se quena dita Fazenda da Barra viviam além de Antônio Francisco Passos, “preto, casado, lavrador, 25 anos”; sua esposachamada Ana Dias da Cunha, “preta, casada, serviços domésticos, 26 anos”; o pequeno José de sete meses, outrosagregados (15 moradores) e um total de 6 escravos.
[30]Relação dos habitantes do distrito de São Caetano da Moeda, freguesia de N. S. da Boa Viagem de Itabira do Campo. 1838e 1840. Microfilme 04, caixa 07, documento 14. Coleção Mapas de População. Acervo APM. Destaca-se quena dita Fazenda da Barra viviam além de Antônio Francisco Passos, “preto, casado, lavrador, 25 anos”; sua esposachamada Ana Dias da Cunha, “preta, casada, serviços domésticos, 26 anos”; o pequeno José de sete meses, outrosagregados (15 moradores) e um total de 6 escravos.
[31]ARQUIVOPúblico Mineiro. TP -058 – Congonhas do Campo, Nossa Senhora da Conceição das (1855-1859). Livro 58º do RegistroParochial de Terras da Freguesia de Congonhas doCampo. p.000023 e 000025.
[32]GUIMARÃES, Junho 2013. V. II, p. 38.
[33]ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. AS-239 - GUIMARÃES, junho 2013. V. II, p. 56.
[34]O alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege, nasceu em Eschwege, Hesse em 15 de novembro de 1777 e faleceu em 1855. Veio para o Brasil em 1810. (GUIMARÃES, Ricardo Salgado (Org). Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Alto Rio das velhas, Nova Lima: Atividade 920, Vol. I, p. 316).
[35]Conhecida também como Fábrica de Ferro de Congonhas do Campo ou usina Patriótica, a fábrica ainda estava em funcionamento em 1831contrariando a suspeita de que teria sido fechada em 1821, quando da partida do Barão Von Eschwege para a Europa.
[36]Rodeadouro da Itatiaia ou Rodeio da Itatiaia atual distrito de Miguel Burnier  no município de Ouro Preto.
[37]A segunda parte do nome: “dos Pretos” foi acrescentada pela população urbana de Belo Vale ao se referir aos habitantes da localidade.
[38]SOLÁ, 2008.Cap.14,  p.146. Importante lembrar que a Rede Ferroviária chegou a Belo Vale no ano de 1914.
[39]Esses fazendeiros utilizavam as terras para plantar eucalipto e ou criar gado.
[40]SILVA Joaquina Dias. Entrevista informal concedida em nove de agosto de 2013.
[41]Não temos o seu sobrenome.
[42]LEMOS&PAIVA, 2010, p.10,11.
[43]NAUFEL, Marina de Paiva. Ruínas da Chacrinha: Plano de uso e preservação. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura da UFMG, 2009. p.28
[44]Naufel, Marina de Paiva. Ruínas da Chacrinha – Plano de uso e Preservação. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura da UFMG, 2009, p.32.
[45]“Mais do que a rejeição da cor da pele de um povo, o racismo se constitui na negação da história e da civilização desse povo...” (NASCIMENTO, Abdias do. NASCIMENTO, Elisa Larkin. Enfrentando os termos: O significado de raça, racismo e discriminação racial. Revista para além do racismo: Abraçando um futuro interdependente. Estados unidos, Brasil e África do Sul, jan. de 2000, p.18). “O racismo surge ,(...), na cena política brasileira, como doutrina científica, quando se avizinha à abolição da escravatura e, consequentemente, à igualdade política e formal entre todos os brasileiros, e mesmo entre estes e os africanos escravizados. (GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Preconceito de cor e racismo no Brasil. Rev. Antropol. vol.47, no.1 São Paulo, 2004. disponível na internet: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0034-77012004000100001&script=sci_arttext . Acessado em 13 de janeiro de 2014).
[46]Não existem mais cópias do trabalho realizado pelos alunos na comunidade.
[47]A real abolição - as cores desigualdade. Jornal Estado de Minas – Caderno de Economia, 24 de novembro de 2013, p. 14.
[48]Atualmente denominamos esse desrespeito de “Racismo Ambiental,” que se caracteriza pelo desprezo e discriminação dos espaços das comunidades tradicionais, negras e indígenas.
[49]“No período de escravidão no Brasil (séculos XVII e XVIII), os negros que conseguiamfugir se refugiavam com outros em igual situação em locais bem escondidos e fortificados nomeio das matas. Estes locais eram conhecidos como quilombos. Nestas comunidades, elesviviam de acordo com sua cultura africana, plantando e produzindo em comunidade. Na épocacolonial, o Brasil chegou a ter centenas destas comunidades espalhadas, principalmente, pelos atuais estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Alagoas.” (Biblioteca Virtual do Governo do Estado de São Paulo. Disponível na Internet: http://www.bv.sp.gov.br . Acessado em 13 de janeiro de 2014). Em Minas Gerais, de 1710 a 1798, existiram cerca de 120 quilombos. (Comunidades Quilombolas Disponível na Internet: http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/brasil/mg/mg_historia.html . Acessado em 14 de janeiro de 2014).Apalavra quilombo só começou a ser usada no Brasil a partir do século XVIII.  Os lugares dos negros fugidos eram denominados inicialmente de “mocambos”., que significava casa ou refúgio na língua kimbundu.
(BARBOSA, Nila Rodrigues. Quilombolas: somos todos parte desta história/ Texto: Nila Rodrigues Barbosa, Ulisses Manoel da Silva; Belo Horizonte: Bicho do Mato, 2014, p.87).
O Conselho Ultramarino Português de 1740 definia quilombo como “toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte desprovida, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles” (LEITE, 2000, p.336). Até meados dos anos 1970, a visão de quilombo que predominava era a visão histórica. A Constituição Federal de 1988, consolidou a visão atual.
[50]O sentimento de pertencer a um grupo e lugar é uma forma de manifestação da identidade (original) com relação a outras comunidades e grupos quilombolas. Atualmente existem no Brasil, mais de mil e quinhentas comunidades negras certificadas pela Fundação Palmares. 
[51]Em sentido figurado, vida em comum; ligação ou relação íntima entre pessoas e coisas.
[52]A comunidade (de Sapé) teve origem no final do regime escravista quando os negros da região,principalmente advindos da Fazenda dos Martins, reuniram-se sob a liderança do ex-escravoJoão Borges para viver em comunidade. João Borges, que era escravo da Fazenda do Carmo,em São José do Paraopeba, havia recebido de seu ex-senhor, o Major Jacinto Gomes doCarmo, um pequeno lote de terras para seu sustento e de sua família. Foi nesse pequeno lotede terras de João Borges que se implantou a Comunidade do Sapé.” (SOLÁ, 2008, p. 149).
[53]SOLÁ, 2008, Cap. 14, p.145.
[54]“A fazenda possui uma área estimada em setemil metros quadrados, segundo relatos orais. as ruínas estão distribuídas em terreno comdeclive, sendo que o atual curral foi construído no local do original, um pouco mais abaixo que o nível da casa sede.”
[55]A festa de Nossa Senhora do Bom Parto ocorre em agosto e a festa dedicada a São Sebastião ocorre em novembro. As missas são realizadas umavez por mês na Chacrinha dos Pretos. Nos domingos alguns moradores frequentam as reuniões da Conferência de São Vicente de Paula.
[56]O Ponto de Cultura da Chacrinha tem como objetivo a implantação de uma fábrica de biscoitos, aulas de capoeira ministradas por Mestre China, natural de Betim e música de diversos instrumentos – violão, flauta e tambor visando à produção de um CD e resgate da memória oral e a publicação de um livro sobre o folclore e memória local. Foi criado com ajuda da APHAA-BV que conseguiu a aprovação na Secretaria de Estado de Cultura. A Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale – APHAA-BV- foi fundada em julho de 1985 e atua na preservação do patrimônio cultural e natural local. Sua primeira diretoria  foi eleita em assembleia no dia 27 de julho de 1985.
[57]BELO VALE. Lei Municipal n.º1249 de 28 de fevereiro de 2011.

3 comentários:

  1. Boa tarde, estou buscando informação sobre a Capela Santa Cruz do Salto, ela remonta as minhas origens genealógicas. Parece que ela já foi demolida. Há alguma evidencia sobre o local onde ela existiu?

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    1. É onde se encontra hoje o povoado do Arrojado Lisboa, pertencente atualmente a Belo Vale, conforme "CAMINHOS ANTIGOS E PAISAGENS IMAGINADAS NO TERMO DE OURO PRETO EM 1835", dissertação de Patrícia Vargas Lopes de Araujo. Na última página da dissertação apontada a localização de Santa Cruz do Salto.
      Creio que iam para essa tabela os registros de pessoas que viviam próxima fazenda Santa Cruz, e também na região de Jeceaba (Camuapã) e Bituri (São Mateus) na época.

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    2. Onde disse tabela, leia-se capela.

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