PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - A FOTO DA BISA


A FOTO DA BISA
Autor: Carlos Henrique Rangel


Vovô Carlos estava sentado em sua poltrona preferida lendo um livro quando Paulinho se aproximou.
- Vovô pode interromper o senhor um pouco?
O velho senhor fechou o livro e sorriu para o garoto.
- Claro Paulinho, o que você quer perguntar? – Falou o avô esperando a dúvida do neto.
- Na minha escola vai ter um projeto de educação patrimonial... Escolheram a minha sala para participar...
- Interessante... Que sorte a sua...
- É esse o problema... Eu nem sei o que é essa tal de educação patrimonial...
-Essa é a dúvida? – Perguntou o avô.
O menino puxou uma cadeira e se sentou enfrente ao ancião.
- É sim. O que é essa educação Patrimonial?
- Bem, educação patrimonial são ações e situações elaboradas pelos professores que pretendem motivar vocês alunos para o reconhecimento e valorização do patrimônio cultural da cidade onde vocês vivem...
- Patrimônio Cultural eu sei. São as igrejas, prédios antigos... – Respondeu o menino mostrando conhecimento.
- Você está certo. Mas o patrimônio cultural não é só o que é antigo ou artístico, ou só as igrejas. Na verdade Patrimônio Cultural é o conjunto de bens culturais de um povo, comunidade ou grupo legitimado ou não pelos órgãos de proteção – Completou o avô.
-  Não entendi... – Disse o menino coçando a cabeça.
- Deixa eu ser mais claro... Bens culturais são aqueles que por alguma razão... Histórica, artística, arquitetônica ou sentimental  são valorizados por um grupo de pessoas ou mesmo um cidade inteira. Esses bens são como caixas de memórias desta comunidade...Carregam a história, a alma deste grupo...
- Nossa! Eu achava que era só porque eram antigos, não entendia desta forma. – Exclamou o menino admirado.
- Esses bens são importantes para as comunidades porque permitem que ela se reconheça enquanto um grupo particular diferente de outro, e isso faz com que essa comunidade se sinta bem, se sinta unida. Esses bens estão relacionados com a vida de cada membro daquela comunidade. Eles “falam” a todos, mas falam diferente para cada indivíduo...
- E a educação patrimonial....
- Bem, às vezes alguns elementos da comunidade perdem esse referencial. Não entendem mais o porquê de preservar certos bens...E isso é em função de vários fatores: Crescimento desordenado da cidade, mudança de costumes, enfraquecimento da memória...
- Enfraquecimento da memória? – Perguntou o menino sem entender.
-  Se ninguém conta para uma pessoa a história desse bem... Se aquela pessoa não vivencia mais o bem, por que mora longe ou por que ninguém nunca a levou lá, esse bem vai ser esquecido. Essa pessoa não vai mais conseguir ouvir a voz do bem cultural.
- Nossa! É ai que entra a educação patrimonial? – Perguntou o menino empolgado.
- Isso. A educação patrimonial visa estimular essas lembranças esquecidas. Fazer aquela pessoa  enxergar de novo aquele bem e ouvir o que ele tem a lhe dizer.
- Mas nós crianças não esquecemos... Nós nem sabíamos... – retrucou o menino.
- Eu sei. E é por isso que vão fazer educação patrimonial com vocês. Não porque esqueceram, mas porque vocês precisam descobrir esses bens com os seus sentidos. Não porque alguém disse que é importante, mas por que vocês mesmos vão passar a entender aquele bem como algo importante para vocês e a comunidade... Ele agora vai falar para vocês.
- O senhor falou várias vezes de que os bens falam... E o que eles falam?
O Avô sorriu.
- Como eu disse, dependendo do bem ele falará mais para mim do que para você ou vice-versa. Nenhum bem cultural fala igual para as pessoas. Mas uma coisa é certa: Ele fala para todas elas.
- Mas fala sobre o que? – Perguntou o menino ainda sem entender.
- Ele fala de lembranças passadas,  histórias de um povo, de sentimentos e  momentos esquecidos mas sempre rememorados... Esse livro que estou lendo é muito bom. Eu já sabia que era bom por que a sua mãe tinha lido. No entanto, eu tive que ler para poder saber e entender  porque ele é bom. – Disse o avô mostrando o livro. Depois abriu a carteira e retirou uma foto antiga.
- Esta é a sua bisavó, minha mãe... Sabe por que eu guardo essa foto? – Perguntou o ancião.
- Uai, para lembrar dela... – Falou o menino admirando a foto que o avô mostrava.
- Sim. Eu tenho memória, mas eu não guardo tudo. Para lembrar eu atribuo lembranças às coisas para elas me fazerem lembrar... E é diferente sempre. Todas as vezes que vejo essa foto eu me lembro de alguma coisa relacionada à minha mãe... Ás vezes fico triste... Outras vezes fico alegre...
- Nossa! E ela só fala para o senhor...
- Mas pode falar para você de outra forma se eu começar a contar as histórias desta sua bisavó e do mundo em que ela vivia. E você Paulinho, mesmo não tendo conhecido a Bisa, vai lembrar das historias dela e de mim todas as vezes que olhar essa foto.
- Acho que agora entendi. Quando o senhor me contar as histórias da Bisa o senhor estará fazendo educação patrimonial sobre a nossa família... – Disse o menino com os olhos brilhantes.
- Isso. E essa foto que antes não representava nada para você, passa a representar.
- E eu vou fazer tudo para que ela dure mais e continue “falando” para mim e também para os meus filhos... – Complementou o menino.
- Isso é educação patrimonial. Quando as pessoas começam a ouvir um bem elas passam a defender, conservar e usar esse bem...
O menino ficou pensativo por um segundo e sorriu.
- Vô Carlos...
- Sim Paulinho..
- Me fale da Bisa... – O velho senhor sorriu.

Fim 

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