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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Nossa História: 'Esconde-esconde' do patrimônio

Nossa História: 'Esconde-esconde' do patrimônio

Descoberta de busto de general uruguaio em um depósito do Fórum Lafayette, em Belo Horizonte, chama a atenção para peças históricas que ficam 'perdidas' em órgãos públicos

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 postado em 12/09/2015 06:00 / atualizado em 12/09/2015 07:52



PAULA NOVAIS/MPMG/Divulgação - MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS  31/1/02 -  CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS  14/3/12


Depois de passar por delegacia, busto do general Artigas (E) foi achado no Fórum: peça pode voltar ao Sion / Em 2002, busto de Antônio Aleixo (C) sumiu da Praça Hugo Werneck: peça estava na Regional Centro-Sul / Peça Outono (D) ficou guardada por três anos em almoxarifado até ser encaminhada para restauro (foto: PAULA NOVAIS/MPMG/Divulgação - MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS 31/1/02 - CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS 14/3/12 )

Uma peça de bronze sumida do pedestal sem deixar vestígios, uma escultura de mármore de Carrara procurada desesperadamente e um busto jogado no chão, recolhido pela polícia e encontrado quatro anos depois em um depósito. Monumentos que contam a história de Belo Horizonte, que vai completar 118 anos em 12 de dezembro, representam, muitas vezes, um eterno jogo de esconde-esconde, deixando vazios na paisagem urbana e perda de memória para a cidade. O caso mais recente, agora revelado, se refere a um presente pelo centenário de BH, em 1997. O busto do general uruguaio José Gervásio Artigas (1764-1850), nascido em Montevidéu e considerado líder do processo de libertação do seu país, foi localizado no depósito forense do Fórum Lafayette – setor de bens apreendidos do Tribunal de Justiça.

A peça, que ficava na Praça Rotary Club, no Sion, na Região Centro-Sul, foi presente do uruguaio Francisco Tomas Mesquita, e doada em 25 de agosto de 1997, data nacional do país vizinho, durante a visita à capital mineira do vice-presidente do Uruguai, Hugo Batalla. Segundo investigação da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), os problemas começaram em 7 de agosto de 2011, quando a Polícia Militar (PM) foi informada sobre uma peça de metal caída no piso da Praça Rotary Club.


Na ocasião, a polícia indicou que “o fato ocorreu apenas em função da ação do tempo (deterioração da peça)”, segundo boletim de ocorrência. “(A peça) estava no chão com sinais de ferrugem na parte inferior, sem indício de vandalismo ou qualquer tipo de crime”.

Apreendido, o busto foi entregue em uma delegacia e, na sequência, inquérito foi aberto para apuração dos danos. Quatro anos se passaram até que, no mês passado, um turismólogo em visita ao depósito forense, no Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste, notou o busto do General Artigas e comunicou ao MP. “Ele foi pesquisar outro assunto e, achando interessante a peça e ciente do trabalho do Ministério Público na preservação do patrimônio, decidiu nos comunicar”, afirma o promotor Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da CPPC. De imediato, sua equipe fez uma vistoria e encaminhou ofício à PBH. “Nesse período, houve falta de comunicação entre a PM e a prefeitura. Para reaver o busto, será necessário autorização judicial”, afirma Marcos Paulo, certo de que falta um plano municipal de gestão dos monumentos para preservar melhor o patrimônio.

O TJMG, por meio da assessoria de imprensa, informa que a peça chegou ao depósito em 28 de julho deste ano. “No local, estão muitos objetos apreendidos e que é costume comunicar de imediato à CPPC/MPMG quando há um bem de valor histórico”, diz um funcionário. Já o secretário municipal Regional Centro-Sul, Marcelo de Souza e Silva, adianta que vai tomar as providências e, “se não houver questionamentos”, levar de volta o busto do General Artigas à praça no Sion.

Logo após a visita ao depósito do TJMG, no mês passado, a equipe da CPPC fez a comparação entre a peça ali guardada e a foto existente na publicação Monumentos de Belo Horizonte, de Péricles Antônio Mattar de Oliveira, verificando que se tratava do mesmo bem cultural. O monumento é réplica de uma das obras do escultor uruguaio José Luiz Zorrilla de San Martin, instalado nos jardins da Vila Borghese, em Roma, Itália. Conforme os estudos, Artigas “comandou a tropa vitoriosa na primeira batalha uruguaia contra as forças espanholas durante o processo de revolução hispano-americana, em 1811”.

Esculpida no início do século 20 e de autoria desconhecida, Outono, com 1,38 metro de altura, integra o conjunto de peças de mármore de Carrara –As quatro estações – que de 1926 ao anos 1960 embelezou a Praça Rui Barbosa (Estação), na Região Centro-Sul, ao lado de tigres, leões e ninfas. A partir de 1963, o grupo de esculturas, alvo de degradação, começou a ser dividido e nunca mais conseguiu ficar junto, a não ser por meio de réplicas postas no lugar há nove anos.

Trajetória Hoje, Primavera e Verão estão nos jardins do Palácio da Liberdade e Outono e Inverno, sob guarda do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). Das quatro, Outono é a de trajetória mais complicada. Em 1963, devido à duplicação da Avenida dos Andradas, a peça de cerca de 700kg foi transferida para a Praça Afonso Arinos na companhia de Inverno, única figura masculina do acervo e aquela com expressão mais dramática: um velho protegido por um manto e com o semblante carregado. A dupla ficou ali por quase quatro décadas até que, em 2001, Outono sumiu completamente do espaço público, deixando apenas saudade nas pessoas que a viam diariamente e admiravam sua forma delicada. Foi dada como furtada pelas autoridades municipais e houve várias versões para o seu desaparecimento, inclusive de que estaria na fazenda de um figurão.

Mas tudo não passou de especulação. Em 9 de outubro de 2004, Outono reapareceu com pichações nas costas e quebrada em duas partes. Estava simplesmente guardada, havia três anos, no almoxarifado do Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura de BH. Foi, então, conduzida ao ateliê do Iepha para restauro.

Antônio Aleixo
 Um caso mais inusitado ocorreu em dezembro de 2002, quando sumiu misteriosamente da Praça Hugo Werneck, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul, o busto de bronze do professor Antônio Aleixo, monumento tombado pelo estado, desde março de 1972, mediante o decreto-lei 14.374, e pela PBH, desde 1994. Em 24 de agosto de 2003, o Estado de Minas publicou matéria denunciando o fato, que ganhou ampla repercussão. Até então, o busto era dado como “roubado” pelo poder público municipal, o que foi constatado em vistoria feita em 2 de junho daquele ano.

Ao ver a matéria, um morador contou que presenciara o momento em fiscais da PBH, numa caminhonete, retiraram o busto. Isso teria acontecido durante obras de reforma do espaço público. Em 5 de setembro, o mistério foi finalmente esclarecido. Durante todo o tempo, o busto estivera em poder da Regional Centro-Sul da PBH. Ao EM, as autoridades informaram simplesmente desconhecer o paradeiro do monumento.

LINHA DO TEMPO

2001
 Escultura Outono, em mármore de Carrara, que compõe o conjunto Quatro Estações, desaparece da Praça Afonso Arinos, no Centro de Belo Horizonte

2002
 Em dezembro, o busto de bronze do professor Antônio Aleixo desaparece da Praça Hugo Werneck, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul

2003 
Em 24 de agosto, o Estado de Minas publica matéria denunciando o desaparecimento da peça instalada na Praça Hugo Werneck

2003
 Em 4 de setembro, o busto de Antônio Aleixo é localizado nas dependências da Regional Centro-Sul da Prefeitura de Belo Horizonte

2004
 Em 9 de outubro, Outono reaparece com pichações e quebrada em duas partes. Estava guardada, havia três anos, no Departamento de Parques e Jardins da PBH

2011 Em 7 de agosto, busto do General Artigas é encontrado no piso da praça Rotary Club, no Bairro Sion, na Região Centro-Sul, e recolhido pela Polícia Militar

2015
 Em agosto, Ministério Público de Minas é comunicado sobre a localização do busto, que estava no depósito forense do Fórum Lafayette

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