PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

INVENTÁRIO


SOBRE O INVENTÁRIO

Desde a sua criação em 1964, o Inventário Geral se sutou numa linha decidida claramente moderna, mas com a particularidade de se estabelecer graças à pesquisa in situ, no contato com os habitantes, os usuários, os interessados. Por essa  via, em todos os lugares, a ligação com os trabalhos de tecnologia concreta ficaram fáceis e, sobretudo, apostou-se na eficácia da tomada  de consciência local como fator primordial de valorização, de apreciação, de preservação dos bens de cultura. Gostaríamos que o Inventário Geral assim desenvolvido aparecesse como a obra de uma vitalidade intelectual, aguçada pelo sentido das realidades presentes, o que significa, sem dúvida, em última análise, a referência metódica ao espaço-tempo, que é a dimensão de nossas existências como berço de todo o valor do patrimônio.”
(...)
somente um repertório sistemático permitiria guiar as organizações de turismo, dar suporte às finalidades do ensino, orientar a pesquisa arqueológica e histórica, e dar, enfim, as comissões responsáveis pelos monumentos históricos e pelo urbanismo, os elementos de ação suficiente.”
(CHASTEL, André. Architecture et patrimoine. Paris: Impimerie Nationale, 1994:26-27)

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“(...) um trabalho de inventário não poderia ficar limitado a considerar o bem na sua feição material e formal, mas deveria tratar também de seu processo histórico de produção e transmissão, e buscar acrescentar á pesquisa os diferentes sentidos e valores que são atribuídos a esses bens. Ao lado dos valores históricos, artísticos, etnográficos etc. há um valor de referência, ou seja, o papel de determinados bens culturais na construção das identidades coletivas.
(...)Gostaria de lembrar que, nos inventários ditos de conhecimento, a pesquisa deve ser extensiva, o mais abrangente possível, de modo a captar o máximo de informações, porque a ideia é justamente captar o novo, e não sabemos bem onde o novo vai levar. Se já se começa a podar, a seleciona,  pode-se perder informações importantes. Por outro lado, é impossível conduzir um processo de coleta de informações sem fixar limites no universo a ser pesquisado. Esse me parece ser um problema metodológico importante, mas que deve ser equacionado para que os trabalhos de  inventário possam servir a objetivos mais amplos de que apensas subsidiar a restauração e a proteção legal do bem.”
(...)
Finalmente, hoje esperamos que o s inventários de bens e processos culturais forneçam informações para enfrentarmos os problemas complexos que se apresentam não só à área da cultura como às outras áreas (educação, habitação, urbanização etc.) ou seja, que forneçam também elementos para lidarmos com uma série de demandas, que num momento democrático como o que estamos vivendo, pelo menos de democracia política, se manifestam através de uma série de pressões de grupos mais ou menos organizados, pressões que são muito salutares, que cobram do Estado decisões e ações.
(...)
Logo, no caso dos centros históricos, os inventários dizem respeito não apenas a um conjunto de imóveis, mas também a um ambiente, ao modo como determinados sujeitos ocuparam aquele solo, como usam e valorizam os recursos naturais e culturais de que dispõem, como constroem seus prédios, como elaboram sua história etc. Todos esses conteúdos constituem referências culturais que singularizam aquele espaço e que possivelmente são marcos para que os grupos que ali vivem construam sua identidade coletiva.
Nesse caso, o conhecer é o primeiro passo para proteger essas referências, e o fato de explicitá-las, enuncia-las, e , na medida do possível de documentá-las, chama a atenção pra o fato de que se trata de um espaço vivido, e também vivido. Protegê-las também no sentido de chamar a atenção para a dimensão simbólica do patrimônio cultural, e para a possibilidade de perda dos marcos dessas referências.
A identificação desses valores possibilita que a intervenção nos centros históricos signifique, portanto, uma contribuição, para que a atuação dos órgãos que executam essa tarefa se faça levando em conta o interesse (ou não) de preservar determinados valores simbólicos. Trata-se, portanto, de não apenas restaurar os imóveis antigos, como de dar à área uma distinção que atenda às necessidades e aos interesses de uma comunidade.
Ao lado da preocupação com a dimensão simbólica da recuperação de áreas urbanas antigas, cada vez se torna mais importante a busca de soluções que garantam àquelas áreas um mínimo de auto sustentabilidade econômica, pois já se sabe que dificilmente o poder público tem condições de arcar sozinho com esse ônus. Nesse sentido, o turismo cultural tem sido a alternativa mais explorada, inclusive por parte de organismos internacionais como a Unesco, mas já se verificou também que a dependência apenas do mercado turístico não é suficiente. É preciso aliar essa alternativa a formas de ocupação e de uso mais contínuas, sedimentadas. As soluções encontradas nos diversos casos são variadas, e vão desde equipamentos culturais ateliês de artistas e artesãos, galerias de arte, área de lazer, a residências, serviços comerciais e assistenciais etc.
(...)
Concluindo, quero dizer que o termo inventário de conhecimento evoca para mim exatamente essa tentativa constante de apreender uma dinâmica, à medida que não se levantam apenas aspectos materiais e formais, mas também referências culturais, valores vivos que estão sendo constantemente produzidos e reelaborados, ainda que os bens como que lidamos diretamente pareçam desmentir , com sua solidez e permanência, essa dinâmica."
( LONDRES Cecília. A noção de4 Referência Cultural nos Trabalhos de Inventário. Inventário de Identificação: um programa da experiência brasileira/ org. Lia Motta, Maria Beatriz de Resende Silva. – Rio de Janeiro: IPHAN, 1998. PÁG. 27 a 39.)

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