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sábado, 6 de junho de 2020

AS COISAS FALAM


AS COISAS FALAM
Muitos já me ouviram falar sobre isso.
As coisas, tanto materiais como imateriais não só falam aos ouvidos como "falam" a e com todos os sentidos: Ao olfato, a audição, ao tato.
Há coisas que falam apenas a uma pessoa, como um objeto pessoal, uma boneca a uma criança. A criança cria um elo com aquela boneca um carinho que lembra o carinho dedicado a uma pessoa.
Há objetos e coisas que falam a uma família: Um móvel que pertenceu a avó que foi herdado e preservado pelo neto, não porque era raro ou bonito. Mas porque o faz lembrar da avó e dos momentos felizes que viveram juntos.
Um relógio estragado que não marca mais as horas, mas que a pessoa guarda como uma relíquia, um talismã. Não importa mais se funciona ou não. Importa o outro tempo que ele marca. O tempo do pai que se foi, mas que sempre vem à memória quando o relógio é visto ou manuseado.
O relógio fala do pai. Tem o poder trazer de volta a imagem daquele ente querido que se foi. Tem o poder de transmitir o som da voz, o sorriso, os gestos do pai. O Relógio fala e por isso é guardado mesmo não tendo mais a sua função original.
Há aqueles bens que falam para a coletividade. Uma igreja, uma praça, uma imagem, uma comida, uma festa.
Todas essas e tantas outras coisas falam a um grupo. E nunca falam a mesma coisa ou da mesma forma aos indivíduos do grupo. Cada pessoa se relaciona com aquele bem - praça, igreja, rua, festa, comida - de uma forma individual.
Suas lembranças são diferentes, e no entanto, todos possuem um elo com aquele bem.
Um elo que os une e lhe dá a coesão e o sentido de grupo. Uma cumplicidade compartilhada e vivenciada que lhes dizem: Nós somos.
Nós somos belorizontinos. Nós somos mineiros.
Nós somos brasileiros.
Esse bem fala. Conta histórias do grupo e histórias individuais. Ele importa porque já não é uma praça, uma igreja, uma comida, uma festa.
Não.
Esse bem é muito mais.
Ele é a Praça, a Igreja, a Comida, a Festa.
Esse bem é parte da alma daquele grupo, daquela comunidade. Estão interligados e se sustentam. Estão em simbiose.
A continuidade do bem é a continuidade da comunidade.
Essa "Caixa de Memória" e de vidas, emoções e sentimentos diversos, precisa ser preservada para que a comunidade continue.
Sua voz precisa continuar ressoando para que o grupo continue com sua autoestima valorizada e motivada e que as gerações futuras possam aprender a ouvi-la
Esse grupo vai fazer tudo para que esse bem que significa muito para a sua cultura, continue a falar para as gerações futuras.
Vai cuidar desse bem cultural como o filho cuida do relógio do pai. Como a menina cuida da sua boneca. Como o neto cuida do móvel herdado da avó.
As coisas falam.
E para continuarem a falar, a comunidade deve fazer tudo para que os novos membros ouçam o bem cultural.
Ninguém nasce ouvido as coisas. É preciso motivar os novos membros da comunidade, ensinando a ouvir, sentir, manusear, vivenciar e entender a voz das coisas e o que elas dizem para cada um em particular e para o grupo.
O que aquele bem diz sobre você, sua família e seu grupo.
As coisas falam. E os bens culturais falam muito.
Ouçam, Ouçam, OUÇAM!
(Carlos Henrique Rangel).

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