PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

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terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

CONTOS DO PATRIMÔNIO - CASAS E PRÉDIOS -

CASAS E PRÉDIOS

Houve um dia, em que eu e minha filha ficamos presos no trânsito, dentro de um ônibus.
Sem o que fazer começamos a observar a paisagem e os prédios.
A menina, em seus seis anos me perguntou:
- Pai, como nascem os prédios? – Sorri com a pergunta da criança.
- Os prédios, minha filha, nascem como casas bem cuidadas e amadas e com o tempo, a medida que envelhecem passam a ser desprezadas e esquecidas. Então, elas crescem e viram prédios.
- Isso acontece com todas as casas? – Perguntou a menina. Pensei um pouco e respondi:
- Em alguns lugares onde os homens, mulheres e crianças aprenderam a ouvir as casas e a conviverem com elas como se fossem parte da comunidade, as casas nunca se transformam em prédios.
Com o passar dos anos ficam mais ricas de memórias e sempre jovens. São como livros cheios de histórias das pessoas do lugar. São admiradas e respeitadas.
- Que lindo... Mas por que aqui na nossa cidade isso não aconteceu? – Perguntou a curiosa criança.
- ah, filha, aqui alguns homens gananciosos fizeram com que as pessoas esquecessem a língua das casas. As pessoas estão surdas para as historias e lembranças das casas. Então, elas são abandonadas. Envelhecem tristes e em um piscar de olhos se transformam em prédios quadrados e feios onde pessoas surdas e cegas passam a viver.
- Ai, que triste pai, a gente não pode fazer nada para que as casas continuem como eram? – Perguntou minha filha lamentando.
Fiquei em silêncio por um tempo e respondi:
- A única forma de manter as casas como eram é fazendo com que as pessoas passem a ouvi-las e enxerga-las. Temos que ensinar as pessoas a ouvir e sentir as casas.
- Mas como podemos fazer isso?
- Contando as histórias das casas e das pessoas que viveram nelas. Dando um óculos para as pessoas enxergarem os detalhes das construções. Fazendo com que as pessoas lembrem de como era viver numa cidade cheia de casas. Dando uso as casas para que elas acumulem novas histórias e se mantenham como parte da cidade. As pessoas mais velhas que lembram como era viver nesse lugar podem contar aos mais jovens tudo que acontecia e como era a vida daquela época. Podemos recuperar fotos antigas da cidade para ajudar na lembrança. Assim, a população como um todo vai voltar a ouvir, enxergar e sentir as casas antigas e elas nunca envelhecerão para se tornarem esses prédios feios.
- Podíamos fazer isso aqui na nossa cidade. – Disse a menina.
Olhei para a paisagem que desfilava pela janela e respondi sério:
- Podíamos.

(Carlos Henrique Rangel).

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