PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

quinta-feira, 15 de março de 2018

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - REFLEXÕES E TEXTOS



INTRODUÇÃO: Educação e Patrimônio



A Educação Patrimonial é um trabalho permanente de envolvimento de todos os que compõem a comunidade e tem como objetivo a preservação dos lugares e espaços, casas e manifestações culturais importantes para todos, compartilhando responsabilidades e esclarecendo dúvidas, conceitos e ao mesmo tempo divulgando trabalhos sobre esses bens culturais.

 Visa principalmente fortalecer a autoestima das comunidades através do reconhecimento e valorização de sua cultura e seus produtos. 

A Educação Patrimonial é um trabalho de “auto-despertar” motivado, que trabalha com a cultura da comunidade ou grupo social.

As comunidades devem participar de todas as atividades ligadas à preservação do Patrimônio Cultural: desde o inventário, tombamento, a manutenção, fiscalização, restauração e utilização.

Assim, a Educação Patrimonial deve ser entendida como um conjunto organizado de procedimentos e ações que têm como principal objetivo à valorização das comunidades e todo a sua produção cultural.


 O PAPEL DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Autor: Carlos Henrique Rangel

 O patrimônio cultural pode ser entendido como um conjunto de coisas de seres humanos. Coisas de gente, criadas para facilitar a vivência em grupo e a sobrevivência nos espaços que lhes foram destinados. Pode ser entendido também, como produto de uma construção coletiva dinâmica e viva produzida ao longo do tempo em um espaço definido. Ou seja, vinculado à memória e à construção de uma identidade e por este motivo deve ser preservada. Essa preservação e consequente conservação, manutenção e continuidade depende do envolvimento de todas as pessoas individualmente e coletivamente.

Cada Ser Humano é o que deve ser. E pode ser mais. E o que é se relaciona com o que foi. Com os que foram. Com o que construíram os que foram...
O que é se relaciona com o passado. Com as coisas do passado. Com o que foi feito no passado e continua presente.

O Ser é fruto  e construção  de outros seres. Somatória, complemento, continuidade. Cada Ser Humano carrega em si o seu mundo e para onde for, onde estiver, sua família, sua rua, sua igreja, sua praça, seu bairro, sua crença, sua terra, lá estarão. Cada Ser é um representante vivo de sua cultura. Do seu Patrimônio. Cada Ser Humano é plural. O produto de uma cultura diversa e rica. De um modo de ser, fazer e viver. Cada Ser importa.

Ações educativas ou sensibilizadoras das comunidades detentoras de bens culturais ocorrem desde os primeiros tempos do IPHAN, órgão federal de proteção do patrimônio cultural, criado em 1936 em caráter provisório e  consolidado a partir da Lei Federal n.º 378 de 13 de janeiro de 1937 e pelo Decreto Lei n.º 25 de 30 de novembro, também de 1937. No entanto, estas ações careciam de objetividade e planejamento que permitissem uma continuidade.

No Estado de Minas Gerais, após a criação do órgão Estadual de proteção do patrimônio cultural – o IEPHA/MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais –(criado em setembro de 1971), a situação não foi tão diferente. No início dos anos 80 (1983) a instituição criou o programa PAC – Política de Ação com as Comunidades - cujo principal objetivo era o de romper com o paternalismo estatal. A política de atuação do PAC partia do pressuposto de que todo bem cultural é “uma referência histórica necessária à formulação e realização do projeto humano de existência” [1].
“A condição necessária, para que este modo de atuação funcione plenamente, é a de que as comunidades locais possam se assenhorar, não apenas de seus valores culturais, mas também, dos tributos que lhes escapam das mãos.
(...)
Deste modo, a criação e o desenvolvimento de entidades locais, encarregadas do patrimônio local e sustentados pelas próprias comunidades, aparece como variável estratégica, capaz de equacionar o problema da deterioração do acervo cultural de Minas.
Uma das metas, fundamentais da Política de Atuação com as comunidades do IEPHA/MG é, precisamente, a de fomentar a criação e o desenvolvimento daquelas entidades. Neste sentido, cumpre-lhe oferecer às comunidades locais, subsídios para que possam se organizar de modo adequado.”[2]

O PAC, antes mesmo da chegada do conceito ao Brasil, já era efetivamente um programa de Educação Patrimonial. Mais tarde, em 1994, o IEPHA/MG criou o projeto “Educação Memória e Patrimônio” que durou cerca de quatro meses em duas escolas estaduais –  Escola Estadual Barão de Macaúbas em Belo Horizonte e Escola Estadual Zoroastro Vianna Passos em Sabará.

Recentemente, durante o ano de 2007, o IEPHA/MG desenvolveu dois programas pilotos nas cidades de Pitangui e Paracatu utilizando uma nova metodologia de trabalho voltada principalmente, para a capacitação e monitoramento de projetos criados pelos diversos grupos sociais envolvidos.

Paralelamente, foi executado a partir de 1995, o ICMS Patrimônio Cultural programa de descentralização da proteção do patrimônio cultural vinculado à lei estadual 13.803/00 atual lei 18030/09, denominada “Lei Robin Hood”, o qual repassa recursos do ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços) para os municípios que investem na preservação do patrimônio cultural, pontuando, também, ações planejadas de Educação Patrimonial.

Por ser ainda uma ação nova, muitas dúvidas pairam sobre o tema Educação Patrimonial e principalmente quanto ao seu desenvolvimento.

Para nós, educar é alimentar e ser alimentado. É se dá ao outro e também receber. Educar é troca. É transbordar, mas também se preencher. Ou seja: eu dou o que tenho e recebo o que você tem. A transformação é mutua. Eu serei outro. Você será outro. O que fizermos juntos será melhor e diferente.

Por isso entendemos a Educação Patrimonial como um trabalho permanente de envolvimento de todos os segmentos que compõem a comunidade, visando a preservação dos marcos e manifestações culturais, compartilhando responsabilidades e esclarecendo dúvidas, conceitos e, ao mesmo tempo, divulgando trabalhos técnicos pertinentes e seus resultados.
 Ela visa, principalmente, fortalecer a autoestima das comunidades através do reconhecimento e valorização de sua cultura e seus produtos. A Educação Patrimonial é um trabalho de “auto-despertar” motivado, que tem como temática toda a produção cultural de uma comunidade ou grupo social. Esse processo educacional, formal e informal, utiliza situações e ações que provocam reações, interesse, questionamentos e reflexões sobre o significado e valor dos acervos culturais e sua manutenção e preservação.
A Educação Patrimonial deve nos motivar, enquanto indivíduos, a pensar, a nós mesmos e ao mundo que nos cerca. Principalmente, ela deve trabalhar todos os sentidos humanos:
- Deve trabalhar o olhar para que possamos entender e compreender o que se vê, para compreender o gostar e o não gostar do que se vê.
- Deve trabalhar a audição para que se possa saber ouvir e refletir sobre o que se ouve.
- Deve educar o olfato para saber o mundo e seus cheiros e seus significados e para onde este nos remetem.
- Deve educar a percepção tátil para sentir as coisas. Sua temperatura, textura, maleabilidade, função estética.
- Deve trabalhar os modos de se expressar e os de dizer para que sejamos capazes de exprimir os sentimentos, duvidas, anseios e idéias, com propriedade através da fala, da escrita e do próprio corpo.

A Educação Patrimonial visa a fazer com que o ser humano compreenda a si mesmo, suas angustias, dores, medos, anseios e entender o porquê das coisas: o porquê de estar aqui. Entender a sua vida, seu modo de vida, seu mundo particular, seu mundo coletivo e a ligação e relação de tudo isto.
Principalmente, a Educação Patrimonial deve ajudar na compreensão do papel do indivíduo neste universo social e cultural.

Assim, a Educação Patrimonial deve ser entendida como um conjunto organizado de procedimentos e ações que tem como principal objetivo a valorização dos indivíduos e das comunidades e toda a sua produção cultural. É um processo de auto-educação e sensibilização que visa a eliminar a miopia cultural, despertando sentimentos e conhecimentos adormecidos que fortalecerão o senso de pertencimento de compreensão de responsabilidade dos indivíduos enquanto elementos de um grupo, sociedade, comunidade e lugar, utilizando para esse fim o seu acervo cultural.

Os princípios norteadores das ações de Educação Patrimonial são a descoberta e a construção em conjunto, motivadas pela observação, apreensão, exploração e a apropriação criativa do conhecimento, na busca da compreensão da condição individual e coletiva e o aprimoramento da vida em sociedade. Ou seja:

  • Sensibilizar a sociedade para uma mudança de atitude: de espectadores da proteção do patrimônio para atores desse processo.
  • Através da educação, produzir a compreensão; através da compreensão, proporcionar a apreciação e através da apreciação a proteção.

Com a Educação Patrimonial pretendemos contribuir para a formação do indivíduo enquanto parte de uma coletividade. Ou seja, uma peça importante e participativa para o desenvolvimento sadio das comunidades.

Com a Educação Patrimonial pretendemos alcançar a preservação de nosso patrimônio cultural pela sociedade como um todo – poder público, iniciativa privada e comunidades. Assim poderemos aprender a conhecer as diversidades culturais; aprender a fazer, participar, vivenciar essas diversidades culturais; aprender a viver em sociedade e respeitar as diversidades culturais e aprender a ser, desenvolvendo a capacidade crítica, emocional e criativa.

No entanto, por mais lúdicas e espontâneas que sejam as atividades e ações de Educação Patrimonial, elas não podem dispensar o planejamento. Não podem ser aleatórias. Devem seguir um plano/projeto estruturado, com princípio meio e fim, com: apresentação, justificativa bem definida, definição do público–alvo, objetivos claros, metodologia detalhada em atividades e ações, cronograma, orçamento, com definição da equipe que vai trabalhar e dos produtos que se pretende alcançar.

Ao final do projeto, avaliações e relatórios devem ser produzidos para otimizar as ações futuras deste ou de outros projetos que, porventura, sejam elaborados. Desta forma, nossas atuações na Educação Patrimonial serão cada vez mais eficientes e alcançarão o objetivo principal que é o envolvimento das comunidades na preservação do patrimônio cultural e consequentemente na sua construção enquanto cidadãos.

Nunca é demais repetir que, o ser humano se faz com troca, transmissão, repetição, continuação, construção dinâmica, viva, sadia...

Um ser humano se faz com espaços físicos e outros seres humanos... Influenciado pela natureza: clima, fauna, flora...

O “Homem” são muitos. Parte dos que foram. Parte dos vizinhos. Parte dos que chegam. Parte de si mesmo.
Um Homem é ETERNO se respeita o seu Passado, seu Presente, sua Comunidade e a si mesmo.

A PRESERVAÇÃO REVISTA
Autor: Carlos Henrique Rangel

Para viver e sobreviver no mundo, os seres precisam se adaptar aos espaços/lugares do mundo.
Os animais se relacionam com os lugares biologicamente, se moldando lentamente ao clima e ambiente. Tornam-se perfeitamente aptos para viver nos espaços que escolheram como lar.
O lugar se torna seu habitat sua morada definitiva e única.
E esse ser não poderá viver em outro lugar a não ser que seja um lugar muito parecido com o seu lugar de origem.
Sua história está vinculada, moldada no espaço que o construiu e adaptou.
O Homem, também é um ser adaptado biologicamente, mas não só.
Obrigado a viver em grupo para sobreviver o Homem criou mecanismos de comunicação para poder transmitir conhecimentos, idéias e descobertas: gestos e sons que se somam e formam sílabas, palavras e significados.
Esses códigos dizem algo. Passam algo. Transmitem algo.

Os homens estavam por natureza desprovidos de meios para viver isoladamente, (...) é a necessidade que os obriga a juntar-se uns aos outros, a inventar a vida social em conjunto”
Jâmblico, filósofo Sofista

O Homem se adapta ao lugar culturalmente.
Percebeu cedo que precisava do outro. Precisava compartilhar com o outro o seu conhecimento e suas experiências para continuar no mundo.
O lugar o molda, mas também é transformado por ele. O lugar é domesticado, trabalhado por ele.
Cedo o Homem percebeu o seu mundo e descobriu que ao contrário dos animais, precisa se adaptar aos lugares transformando-os.
Não possui peles fortes para protegê-lo do calor ou do frio. Não possui garras para matar ou rasgar os alimentos.
Para sobreviver às constantes mudanças climáticas do meio ambiente o Homem necessita criar peles artificiais tiradas dos outros animais. É necessário cria garras artificiais como pedras pontudas ou paus trabalhados para ferir e nocautear os animais/caças e os inimigos, os “outros”. E todos esses artifícios estarão sempre em constante evolução para uma melhor adaptação ao meio.
O Homem produz cultura. O único ser a fazê-lo. E cultura é essa soma de modos de ser, fazer e se relacionar com os espaços/lugares, utilizando o que o meio tem a lhe oferecer para sobreviver. Se há pedras, fará abrigos de pedra. Se há apenas terra, a casa será de barro. Se há gelo, que seja de gelo o abrigo a protegê-lo.

Cultura
Conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo, meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência, transformando a realidade.
Cultura é um processo em permanente evolução, diverso e rico.
É o desenvolvimento de um grupo social, uma nação, uma comunidade, fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento de valores espirituais e materiais.

Ao contrário dos animais. Que naturalmente se molda aos lugares. O Homem precisa aprender. Não se nasce com cultura. É necessário aprender a cultura do grupo.
Os modos de ser de acreditar de se relacionar com o outro. Cultura se aprende.
Então cultura está relacionada com o passado. Com o que foi vivenciado no passado e que deve ser transmitido para que continue e ajude o grupo a se perpetuar no mundo.
Cultura está relacionada com lembrança e com a memória e define a identidade do grupo.
A Cultura está em gestos e ações dos Homens. É um fazer portador de sentidos.
E os produtos culturais são conseqüências deste fazer, deste agir.
A importância cultural é dada pelos atores deste fazer.

IDENTIDADE
Tudo aquilo que diferencia e que identifica
o homem, um grupo social, político, étnico, religioso, etc, em relação ao Outro.
São as ações do homem para viver em sociedade ao longo da história e do dia a dia.

Minha identidade é a soma do que lembro individualmente e em conjunto. Minha memória se faz com o meu passado e consequentemente molda a minha identidade.

Memória: Lembranças, reminiscências, vestígios.
Aquilo que serve de lembrança.

Todos nós temos lembranças.
Só lembramos do que passou.

O Homem precisa aprender sempre para lembrar.
Deve ensinar e transmitir para que outros possam lembrar e futuramente transmitir.

Mas a memória do homem é frágil e mutável. Constantemente é construída no presente. Nem tudo o Homem lembra e para isso é importante repetir e transmitir e também atribuir lembranças às coisas e lugares. Para isso é necessário qualificar as coisas e os lugares para que esses “falem” e sejam suportes da memória do indivíduo e do grupo.
Lembrar pode ser a diferença entre sobreviver ou perecer.

Para não esquecer eu guardo o que pode me fazer lembrar.
Posso escrever, posso documentar e posso incorporar valores e lembranças às coisas para que elas me façam lembrar.

O que sou está no passado, no presente e nos espaços que me rodeiam.
Sou influenciado pelos lugares e pelos outros seres humanos.
O que sou eu aprendi e construí com os meus e guardo em minha memória.

MEMÓRIA
“Mais que apenas via de acesso ao passado, a memória é uma estrada para a compreensão do Eu”
(Cunha, João Paulo. Editor de Cultura do Jornal
Estado de Minas)

Todo ser humano é em um lugar. E nesse lugar deixa sua marca e sua essência, moldada e influenciada pelo lugar.
O Ser humano está no lugar. O lugar faz o Ser. O Ser também faz o lugar.

Então, a permanência de um grupo depende da sua cultura, que depende do lugar. Depende da memória de grupo e dos suportes da memória: os lugares que falam.

Essa produção cultural de um grupo é uma herança compartilhada.
Podemos herdar os bens culturais, mas não herdamos a sua compreensão.
Para compreender é preciso aprender, conhecer, vivenciar, apreciar.
Aquilo que eu compreendo e conheço, eu respeito.

“A espécie humana é a única que precisa
Ser educada” (Kant)

“Depois do pão, é de educação que o povo
Precisa” (Danton)

Onde tem gente tem cultura transplantada, recriada, reconstruída, adaptada, inovada e novamente criada.

Onde tem cultura tem bens culturais: materiais e imateriais produzidos pelo Homem para viver e sobreviver no mundo que o cerca.

Todo lugar de Homem... De muitos Homens produz cultura.

Cada ser humano carrega em si o seu mundo e sua cultura e é direta e indiretamente
transmissor, reprodutor, inovador e criador de cultura.

“A história social e pessoal, pode qualificar as coisas, os objetos, os lugares da casa, os lugares de um bairro. Até mesmo a natureza vira memória.”
(GONÇALVES FILHO, José Moura. 1991)

O que o Homem é está no passado, no presente e nos espaços que o rodeiam.
O Homem é influenciado pelos lugares e pelos outros seres humanos.

O que ele é aprendeu e construiu com os outros e guarda em sua memória e em suportes.
É por isso que o Homem guarda coisas. As coisas falam. Fazem com que se lembre do que aconteceu no passado e que precisa para continuar.

Alguns “bens”, falam só para um indivíduo ou para a sua família.
Falam de coisas que vivenciou e de coisas e seres que quer lembrar.

Há outros bens que falam para o grupo/comunidade/nação e transmitem o conhecimento que necessitam para que possam sobreviver com dignidade e autoestima.

Esses são os “bens culturais”, produtos do processo cultural de um grupo e que são importantes não por serem históricos artísticos ou arquitetonicamente únicos, mas por que são essencialmente suportes da memória do Homem.

O valor de um bem cultural está nessa capacidade de “falar” ao grupo tanto coletivamente como individualmente. Está impregnado de lembranças e dá sentido ao grupo e o diferencia de um outro.

Esse bem só terá sentido para um grupo se for um suporte vivo de lembranças, vivências e significados.
Esse bem precisa estar vivo no cotidiano do grupo para realmente falar a esse grupo.

“...o conceito de bem cultural extrapola a dimensão elitista, de "o belo e o velho". E entra numa faixa mais importante da compreensão como manifestação geral de uma cultura.
É o conjunto de bens culturais materiais e imateriais, de um povo.
Suas festas, modos de fazer, criar e viver.
Suas criações científicas, artísticas, tecnológicas e documentais. 
O gesto, o habito, a maneira de ser da nossa comunidade se constituem no nosso patrimônio cultural. (...)"
(Aloísio de Magalhães)

Preservar os bens culturais materiais e ou imateriais de um grupo é manter a identidade deste grupo garantindo a sua continuidade. Mas isso só será possível se esse grupo continuar a “ouvir as vozes” dos bens culturais.

Ninguém nasce sabendo cultura e sempre será necessário ensinar o respeito às coisas que falam para podermos ouvir. É preciso romper a miopia cultural e aprende a escutar o que os lugares e os suportes da memória têm a dizer.

Só respeito o que conheço. Só preservo o que significa algo. Só protejo o que é caro à minha memória e sobrevivência.




 O QUE É MAIS IMPORTANTE
Autor: Carlos Henrique Rangel

O mais importante na Educação Patrimonial é o caminho para se chegar aos objetivos.
É o que se aprende no caminho.
Aprender a olhar é mais importante que o próprio olhar.
Aprender a fazer é mais importante do que o que vai ser feito.
Aprender a sentir dará sentido ao que foi sentido, ao que vai ser sentido.
Por que mais que um projeto a ser executado é um mundo a ser desvendado.
- Uma nova visão.
- Uma nova percepção.
- Entender diferente o que se achava entendido.
Educação Patrimonial é a busca do entendimento de se mesmo e do seu mundo.
Por que o que somos é parte do que vimos. Do que vemos.
Seremos seres humanos melhores se nos compreendermos, tendo como base o passado e os vestígios deste passado.
As coisas nos falam sempre.
E sempre de nós mesmos...

 PENSAR ALÉM
Autor: Carlos Henrique Rangel

Entendemos que o Patrimônio Cultural está no ar que respiramos no dia a dia. Porque como seres humanos, somos constituídos de lembranças, memórias e coisas do passado que nos movem no presente e nos remetem para o futuro. Precisamos lembrar para continuarmos e aprendermos o que dizem as coisas do passado que continuam no presente. E aprender o porquê preservar essas coisas para que elas continuem a nos dizer o que somos.

Mas educação patrimonial não pode e não deve se restringir às escolas. Ela deve permear todos os nossos atos e atitudes e para isso precisamos usar todos os meios disponíveis e necessários... Mídia impressa e televisiva, vídeos, campanhas publicitárias, internet, etc. Tudo que possa ser usado para valorizar e divulgar o patrimônio cultural, contribuindo para elevar a autoestima de um grupo, comunidade, cidade ou nação.

Algumas pessoas ainda estão pensando em educação patrimonial apenas como algo dentro das escolas... Precisamos avançar ir além da visão simplista das coisas. Os órgãos de preservação precisam amadurecer pensar holisticamente as "coisas" que falam. Temos que ser criativos, sem medo de errar. Na verdade, em se tratando de educação patrimonial não se erra nunca, pois sempre ficará alguma coisa.

O OUTRO
Autor: Carlos Henrique Rangel

Vivendo em grupo por necessidade e sobrevivência, o ser humano cedo necessitou de símbolos e códigos para se fazer entender e compreender o seu mundo e os seus iguais. Essa necessidade do outro e a convivência com este, só foi possível através de um consenso coletivo para se entenderem em relação a tudo. Desde as pequenas coisas como a nominação de um objeto, às regras de convivência. 

Se esse consenso se deu através de lideres carismáticos ou autoritários ou mesmo de forma democrática, essa não é a questão. O fato é que o consenso existiu para que fosse possível a convivência em grupo e a adaptação a um espaço determinado. 

A identidade desse grupo será definida pelo consenso. Pela crença em valores assimilados por todos ou pelo menos a maioria dos membros do grupo. Os que não aceitam as regras do grupo são excluídos e se tornam os “outros”. 

Também esses, denominados “outros” são necessários para a formação da identidade do grupo e a consolidação de suas crenças, costumes e ideais. A identidade de um ser ou de um grupo é definida pela contraposição à identidade de outro. O outro indivíduo, grupo, comunidade ou nação será sempre a referência até mesmo para o fortalecimento da identidade.

Ao mesmo tempo, uma comunidade por mais homogênea que seja sempre terá grupos discordantes – “os outros” que também possuem identidade própria, cultura própria, mesmo que identificados de uma forma geral com o grupo dominante. 

Essa minoria dentro de uma comunidade maior ainda assim é parte desta e merecem respeito quanto a sua memória, identidade e suas produções culturais. 

O outro que me acompanha e que produz cultura comigo, o que permite a diversidade cultural merece ser reconhecido, respeitado e valorizado como parte do grupo maior.

Numa sociedade consensual a diversidade deve ser o consenso para que a o grupo se renove culturalmente e sobreviva com a autoestima valorizada e fortalecida.

Esse outro também ele é parte do grupo e mesmo o outro culturalmente diferente, aquele de outro grupo/nação, também esse merece respeito. Ser diferente não é ser pior ou melhor. É apenas diferente. Outra forma de ser e de se relacionar com o mundo e seus lugares.
O outro é o meu céu e meu inferno. É o meu contraponto.

O outro sou eu diferente.


DESCENTRALIZAÇÃO
Autor: Carlos Henrique Rangel

É no âmbito municipal, nas localidades e comunidades é que se encontra a verdadeira proteção.

É junto aos vivenciadores e com os vivenciadores é que se protege o patrimônio cultural.

Se quisermos de fato efetivar e consolidar essa proteção temos que descentralizar nossas ações. Temos que ir ao encontro destes detentores do patrimônio cultural.

Levar nossos cursos, nossas angústias, nossas dúvidas e certezas a onde estão as comunidades e os seus agentes culturais.

Chega da preguiça centralizadora e limitada dos burocratas sem visão.




[1]1 IEPHA/MG.   Política de Ação com as Comunidades – PAC – Documento Básico, 03 de out. de 1983.[1]
[2] IEPHA/MG.   Política de Ação com as Comunidades – PAC – Documento Básico, 03 de out. de 1983.






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