PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - TEXTOS: PATRIMÔNIO CULTURAL E COMUNIDADES

 PATRIMÔNIO CULTURAL E COMUNIDADES:


O que é percebível desde que se fala em proteção do patrimônio cultural, é que sempre é mais fácil para as instituições, fingirem que ouvem as comunidades.

Afinal, dá trabalho ouvir gente e sempre incomoda a quem se acha dono da verdade.

O autoritarismo e a prepotência sempre imperou, mesmo quando o discurso parecia dizer o contrário.

Atitudes individualistas esporádicas também sempre ocorreram, mas eram o que eram: atitudes isoladas que não conseguiam criar escola e se perdiam no grosso dos trabalhos das instituições.

Não estou sendo cruel ou critico demais.

Essa é a verdade.

Basta ver em que deram as tentativas de projetos e programas de educação patrimonial (alguns muito bons) que nunca criaram raízes, sendo substituídos por atividades burocráticas para inglês ver.

Infelizmente, os municípios seguem o mesmo caminho - com raras exceções. 

Isso só vem piorando a medida que o profissionalismo apaixonado vai dando lugar ao profissionalismo carreirista, frio, acomodado  e burocrático que está contaminando  todas as ações das instituições.

*Carlos Henrique Rangel.

PASSA:
Tudo passa.
Eu e você passaremos... Estamos passando como passaram os nossos bisavós e tantos que conhecemos.
Passar é a nossa natureza.
Se passamos nós, porque não passariam as coisas que construímos e criamos?
Passar é a natureza de Tudo.
Tudo muda, se transforma e passa.
Por essa ótica, tentar preservar um bem cultural é uma luta inglória contra a natureza.
Sejamos realistas: Vai passar por mais que nos esforcemos para impedir essa passagem.
Ela acontece lentamente.
Está acontecendo agora.
A mudança, a transformação, está acontecendo nesse instante, em nossos bens culturais, mesmo que imperceptivelmente.
Mas não devemos parar de lutar.
Nosso papel não é deter a mudança e transformação e sim, administra-la, ditando-lhe um ritmo mais lento para que o bem cultural - tão caro à comunidade - permaneça mais tempo ajudando as novas gerações a continuarem o que as gerações que passaram fizeram e deixaram como legado e símbolo de pertencimento
Sim... Vai passar como tudo passa.
Mas que passe lentamente, ficando mais tempo conosco, nos ajudando a passar pela Vida com dignidade e autoestima elevada.
Passageiros que somos todos, enquanto passamos podemos retardar a passagem das coisas do passado, tornando-as atuantes no presente, contribuindo para o cotidiano das comunidades, mantendo ao máximo suas características originais.
Esse é o nosso papel: Administrar respeitosamente essa passagem inevitável
Um bem cultural não é um bem só do passado.
Ele é uma obra aberta que acumula memória e vivência do passado, mas está sempre recebendo novas memórias e vivências. A igreja fala a cada um de uma forma diferente.
Fala do passado da família, mas fala também do passado de cada um.
Nela aconteceram batizados, casamentos, orações de alegrias e de tristezas e o nosso papel é fazer com que ela continue a falar para as gerações futuras.
Temos que ensinar às novas gerações a ouvir o que ela está dizendo.
E ela tem algo especial para cada um de nós.
Todo bem cultural fala.
E fala principalmente de nós mesmos e para nós mesmos.
*Carlos Henrique Rangel.


O SENTIDO DAS COISAS:
Ainda sobre o sentido das coisas.
Somos acumuladores.
Isso nos resume em relação aos outros seres vivos que frequentam esse planeta.
A vida nos trouxe ao mundo sem nada e logo já “somos” de alguém e esse alguém também passa a ser “nosso”.
O tempo - essa caixa sem fundo - guarda nossas coisas invisíveis e enriquece com memórias e sentidos, as coisas visíveis que vamos acumulando.
Acumulamos lembranças e coisas que lembram para no sentirmos parte do mundo.
Para nos sentirmos indivíduos entre indivíduos.
Por mais caras que sejam todas essas coisas que nos falam de nós e dos nossos, elas não partirão conosco.
Ficarão.
As vivências invisíveis nunca ficarão.
São pessoais demais.
E mesmo que a contemos aos nossos continuadores, nunca passaremos a eles o que realmente vivemos.
As coisas tangíveis ficarão
E poderão significar algo ou não para os que ficam.
Algumas ou muitas serão descartadas.
Outras, espalhadas entre nossos descendentes.
Perdidas entre os entes queridos.
Fora do contexto.
No entanto, ganharão novos contextos, novos significados para nos significarem a esses continuadores que nos amavam.
Somos acumuladores porque queremos nos diferenciar.
Sentirmo-nos importantes.
Únicos entre outros seres únicos.
Somos criaturas que se fazem em coisas tangíveis e intangíveis. Individuais e coletivas.
Imóveis e móveis.
E tudo isso nos ajuda a viver entre outros seres que se lembram em coisas.
Na verdade, somos colecionadores de nós mesmos como indivíduos ou como grupo.
Isso nos diferencia em relação aos outros seres, para o bem e para o mal.
Seres Humanos é o que somos.
E basta.
Lembrar é ser... Somos porque lembramos.
E muitas vezes - e são muitas essas vezes - nos lembramos em coisas.
(Carlos Henrique Rangel).
Foto: No Museu Mineiro - Belo Horizonte - diante do seu maravilhoso acervo tão pouco conhecido dos belorizontinos.

SOBRE AS COISAS DE LEMBRAR:
Lidar com patrimônio cultural é lidar com a Vida acontecendo.
É entender, identificar e prestigiar o pertencimento de cada um de nós a um espaço/momento que só existe porque está intimamente ligado ao que passou retratado no que ficou de material e imaterial.
Cada um de nós, consciente ou inconscientemente, está sempre se remetendo a esses resquícios lembradores, para ser no Agora acontecendo.
Há os que intelectualizam essa relação de forma sábia e quase fria.                                                                                             Há os que a romantizam povoando-a de emoções e sentimentos de forma sábia e quente de paixão.
Há também aqueles que a ignoram, mentindo a si mesmos, fingindo uma independência vivencial inexistente.
Mas, nenhum ser humano consegue ser indiferente às "coisas de lembrar".
Seria um suicídio existencial. Somos seres humanos porque lembramos.
O passado toca a todos indiscriminadamente, em maior ou em menor grau.
(Carlos Henrique Rangel).