O Município de Conselheiro Lafaiete
1
- A Ocupação da Região do Rio Das Mortes
A região dos Campos das Vertentes situada ao sul da
província possui esta denominação por sua diferenciação com a área das matas,
localizada a leste. A paisagem natural marca inicialmente as diferenças entre
os campos abertos ao sul do Rio Grande e as Matas a leste na extensão da Serra
da Mantiqueira até o pé da Serra do Mar na Capitania do Rio de Janeiro.
O nome Rio das Mortes foi conferido
ao curso d’água originário da Serra da Trapizonga, no atual município de
Barbacena. Este rio percorre cerca de duzentos e doze quilômetros (212 km),
tendo de um lado a Serra do Lenheiro e do outro a Serra de São José,
desembocando no Rio Grande, perto do Ibituruna. Toda a região em seu entorno
recebeu o nome genérico de Rio das Mortes.
O
tráfego de aventureiros em busca do ouro das minas de Ouro Preto e do sertão do
Rio das Velhas tornou a região do Rio das Mortes caminho obrigatório para a
travessia da Serra da Mantiqueira em direção a Taubaté e ao litoral fluminense
rumo ao porto de Parati, rota denominada Caminho
Velho. Esse fluxo migratório determinou, inicialmente, o surgimento de
pousadas ao longo dos caminhos ou nos trechos cortados por rios. Anos depois, o
próprio Rio das Mortes passou a receber o seu quinhão de mineiros, devido à
descoberta de veios de ouro aos pés da Serra de São José, culminando com o
surgimento dos primeiros povoados.
Nas
imediações da atual cidade de São João Del Rei, o Guarda-mor distrital, Tomé
Portes Del Rei, estabeleceu um posto de cobrança de passagem, denominado Porto
Real da Passagem, embrião da ocupação local.
Em
1702, Porte Del Rei, alertado por João de Siqueira Afonso sobre a existência de
ouro na região, acabou por descobrir o metal em um córrego no sopé da Serra de
São José. Em pouco tempo, surgiu o primeiro arraial, o de Santo Antônio, também
denominado Arraial Velho do Rio das Mortes. Mais tarde, em 1705, os veios
auríferos das serras sanjoanenses determinaram o surgimento do arraial de Nossa
Senhora do Pilar, o Arraial Novo.[1]
Vieram
para a região, paulistas e reinóis[2],
grupos distintos que passaram a disputar as lavras em escaramuças, culminando
na Guerra dos Emboabas, conflito que
se estendeu por todo território das Minas entre os anos de 1707 a 1709.[3]
Emboabas
era a denominação pejorativa dada aos portugueses e reinóis. A presença dos
forasteiros começou a incomodar os mineradores paulistas, pioneiros da
conquista. As hostilidades aumentaram após a nomeação de Manuel Nunes Vianna,
líder dos emboabas, a governador das Minas. As séries de escaramuças são
vencidas pelos emboabas que passam a controlar inúmeras minas de ouro.
A
mão firme do governo colonial assegurou a volta à tranquilidade, permitindo o
desenvolvimento dos nascentes povoados. A principal consequência do conflito
foi a criação da capitania de São Paulo e das Minas do Ouro.
Assim, nos primeiros anos do setecentos
foram criadas três comarcas sob o comando do governador da Capitania de São
Paulo e Minas do Ouro: Vila Rica, Rio das Mortes e Rio das Velhas.
São
João Del Rei, o Arraial Novo, foi elevado à vila e cabeça da Comarca do Rio das
Mortes em oito (8) de dezembro de 1713.[4]
O Arraial Velho passou à condição de vila somente em dezenove (19) de janeiro
de 1718, recebendo o nome de São José - atual Tiradentes. O antigo Arraial de Carijós passou a pertencer à
Comarca do Rio das Mortes, vinculado a São João Del Rei.[5]
Em 1720, temos a criação da Capitania de Minas separada de São Paulo agora
composta pelas comarcas de Ouro Preto, Rio das Mortes, Rio das Velhas e Serro
Frio. Em 1829, o termo da vila de Queluz passou à comarca de Ouro Preto.
[1] GUIMARÃES, Fábio
Nelson. Um pouco de história de São José Del Rei, hoje cidade de Tiradentes. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1973, V.13, p. 91-93.
[2] Os portugueses que vieram para Minas Gerais eram
naturais de diversos lugares da Metrópole. Predominavam renóis do patriarcado
de Lisboa, bispado do Porto e da região de Braga.( REIS, Flavia Maria da Mata. Traços do Cotidiano nas Minas de
Ouro. A Estrutura Produtiva e o Trabalho Escravo nas Unidades MineradorasSetecentistas.
Disponível na Internet: http://www.cedeplar.ufmg.br/seminarios/seminario_diamantina/2008/D08A003.pdf. Acessado em 4 de fevereiro de 2013. p. 3).
[3] Nessa luta com os emboabas
milhares de índios carijós lutaram ao lado dos paulistas. (VENÂNCIO, Renato
pinto. Últimos Carijós: Escravidão Indígena em Minas Gerais: 1711-1725. Revista
Brasileira de História. Disponível na Internet: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01881997000200009&script=sci_arttext
. Acessado em 30 de abril de 2013.
[4]
ROCHA, José Joaquim da. Geografia Histórica da Capitania de Minas Gerais: Descrição Geográfica, Topográfica,
Histórica e Política da Capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1995.
p.119.
[5] A Comarca do Rio das Mortes criada em 1714 compreendia
São João Del Rei e os termos de Jacuí, Baependi, Campanha, Barbacena, Queluz
(antiga Carijós), Oliveira, São José do Rio das Mortes e Tamanduá. Durante o
século XIX a Comarca sofreu várias modificações e reduções a partir da criação
de novas comarcas.
Antes da chegada dos sertanistas e
aventureiros, a região do atual município de Conselheiro Lafaiete era ocupada
por indígenas denominados “Carijós”[1], etnia
originária da baixada do Rio de Janeiro deslocada em função dos avanços dos
homens “brancos”. Garcia Rodrigues teria encontrado esses índios com
garimpeiros remanescentes de uma antiga bandeira.
A presença de indígenas e seus descendentes, nos arraiais e
vilas, pode ser atribuída a diversas razões. Em parte eram “carijós” que
passaram a Minas na companhia dos paulistas – muitos, inclusive, aprisionados
durante as entradas nos sertões, no final do séc. XVII, e que viveram uma
diáspora a seu tempo, como descreveram alguns relatos do Códice Costa Matoso.
Outro tanto foi resultado da preagem das bandeiras, armadas pelos colonos e, muitas vezes,
financiadas pelo Estado durante todo o período colonial.
(RESENDE, Maria Leônia.
Minas Gerais: as resistências indígenas no século do ouro. XXV Simpósio
Nacional de História, Simpósio Temático 36: Os Índios na História, 13-17 de
julho de 2009. P.6. Disponível na Internet: http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36MaLeonia.pdf
. Acessado em 30 de abril de 2013).
[1] Interessante é que índios
desta etnia também viviam na região de Santa Catarina. Em Minas Gerais o nome
Carijó designava os índios que já vivia em contato com os paulistas. Ou seja:
submetido e aculturado. Os Carijós eram índios que vieram com os paulistas ou
que haviam sido aprisionados durante as excursões pelo sertão mineiro no século
XVII.
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Além dos índios que acompanharam os paulistas nos primeiros anos, outros
de diversas etnias saídos do Rio de Janeiro ou mesmo do nordeste vieram compor
a população das vilas mineiras.[1]A
partir da segunda metade do setecentos, com a decadência das áreas mineradoras,
a região situada a leste das Minas onde a população indígena se refugiava foi
objeto da cobiça dos colonizadores em busca de novas áreas para minerar ou
mesmo para plantar e criar.[2]
Segundo o historiador Basílio
Magalhães, em 1691, José Gomes de Oliveira encontrou ouro na região de
Itaverava ao seguir as orientações deixadas pelo sertanista Bento Fernandes
Furtado de Mendonça. Em 1694, o sertanista Bartolomeu Bueno de Siqueira também
alcançou os sertões de Itaverava.
Antonil informa que, os primeiros
descobertos do cobiçado minério ocorreram por intermédio de Duarte Nunes que
levou a notícia a São Paulo. Em função desses relatos surgiu em 1694 a grande
Bandeira liderada pelos paulistas: Manoel de Camargo, Bartolomeu Bueno de
Siqueira, Miguel Garcia de Almeida e Cunha e João Lopes de Camargo.
Saíram estes do Povoado no verão de 1694, trazendo por seus
primeiros cabos, Manoel de Camargo, seu cunhado Bartholomeu Bueno, seu genro
Miguel d’Almeida, e João Lopes Camargo, seu sobrinho, que ainda hoje existe
nestas Minas. Chegados a Itaberava fizeram na sua serra as suas primeiras
experiências, e descobriram nela o primeiro ouro; mas como este descobrimento
não fosse de grande lucro, prosseguiu o dito Manoel Camargo, com seu filho
Sebastião de Camargo, a sua primeira derrota da ideada casa da casca[3].
(NOTÍCIA – 3ª prática – Que dá ao R. P. Diogo Soares, o mestre de campo José
Rabello Perdigão sobre os primeiros descobrimentos das Minas Gerais do Ouro, p.
172).
Seguiram-se logo depois, as grandes
levas de aventureiros que deram origem aos arraiais de Ouro Branco, Catas
Altas, Guarapiranga e o arraial dos Carijós, futuro município de Conselheiro
Lafaiete.
O Fluxo migratório para as terras da Capitania das Minas Gerais é
fato sem parelha na história da colonização moderna. Trata-se de expressivo
exemplo de ocupação espacial acelerada e assistemática, isto é, feita ao sabor
dos locais onde se deram os achados do ouro, ao sabor da mineração, sem que o
homem pudesse optar. O chão foi que determinou a fixação humana. (BOCHI, Caio
César. Os Leigos e o Poder (irmandades Leigas e Política Colonizadora em Minas Gerais).
São Paulo: Ática, 1986. p. 29).
Onde não havia incidência de riquezas o
povoamento deu-se um pouco mais tarde em função de atividades agropastoris
voltadas principalmente para a subsistência e produção regional. Já nos
primeiros anos do século XVIII o arraial dos Carijós estava consolidado, possuindo
uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição vinculada à matriz de Furquim.
Segundo a tradição corrente, os índios Carijós teriam ajudado na construção do
templo do arraial, o que demostrava uma convivência relativamente amistosa. Esses
índios ao longo das primeiras décadas do século XVIII desapareceram da
localidade provavelmente devido a doenças, aculturação ou mesmo abandono das
terras em busca de lugares onde pudessem sobreviver longe dos homens brancos.[4]
A antiga aldeia dos Carijós rapidamente se transformou num
arraial de aventureiros de toda casta, predominantemente paulista, que foram os
pioneiros das descobertas. (ENCICLOPÉDIA dos Municípios Brasileiros. Rio de
Janeiro: IBGE, 1959. Vol. XXVI, p. 500, 501).
[1]Esses índios destribalizados
eram denominados “Índios Coloniais”. (RESENDE, Maria Leônia chaves de. LANGFUR,Hal Langfur. Minas Gerais Indígena: a
resistência dos índios nos sertões e nas vilas de El-Rei.p.18. Disponível na
Internet.: http://www.scielo.br/pdf/tem/v12n23/v12n23a02.pdf. acessado em 13 de maio de 2013).
[2] “Coroado, Puri, Botocudo, Kamakã, Pataxó, Panhame, Maxakali, entre outros – encontraram-se, ao
final, em minoria de armas e homens, atacados por doenças e deslocados
geograficamente em face da diminuição da terra e dos recursos naturais.” (RESENDE, Maria Leônia Chaves de.. LANGFUR,Hal
Langfur. Minas Gerais indígena: a
resistência dos índios nos sertões e nas vilas de El-Rei.p.9. Disponível na
Internet.: http://www.scielo.br/pdf/tem/v12n23/v12n23a02.pdf
. Acessado em 13 de maio de 2013). Atualmente ainda existem no território
mineiro os índios Krenak, Maxakali, Xacriabá, Aranã, Kaxixó. Mais tarde vieram
para Minas Gerais os ídios Pataxós, Xukuru-Kariri e Pankararu.
[3] Casa da Casca seria uma
paragem – aldeia de índios - situada no lugar denominado “Cuieté” onde se
acreditava existir ouro de qualidade e em grande quantidade. Segundo José
Joaquim da Rocha, esse lugar ficava “pouco distante do rio Doce que tem as suas
vertentes na Serra de Vila Rica, com o nome de Córrego do Ouro Preto...”
(ROCHA, 1995. p.78).
[4] O nome desses indígenas teria ficado nos nomes do arraial de Catauá e
também na fazenda situada hoje no município de Lagoa Dourada – Fazenda Engenho
Velho dos Cataguá. O nome Catauá foi um dos nomes de Santana dos Montes
adquirido por decreto lei n.º1.058 de trinta e um (31) de dezembro de 1943.Atualmente
Catauá é o nome de um povoado do município de Lagoa Dourada.
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Em 1709, foi criada a freguesia de
Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre dos Carijós pelo bispo do Rio de
Janeiro. Nessa época já existiam vários fazendeiros instalados na redondeza
destacando-se dentre eles João da Silva da Costa, Amaro Ribeiro e Jerônimo
Pimentel Salgado. A freguesia foi elevada a condição de “colativa” por alvará
régio de dezenove (19) de janeiro de 1752.
Na segunda metade do século XVIII,
os moradores de Campo Alegre dos Carijós solicitaram ao Govenador da Capitania
de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, a criação da Vila, justificando o
pedido em função das distâncias em que se encontravam das vilas de São João Del
Rey, São José Del Rey, Vila Rica e Mariana e devido à localização estratégica
em que se encontravam entre as freguesias de Congonhas e Itaverava e por se
situarem na Estrada Real que vinha do Rio de Janeiro. Há indícios de que
conflitos jurídicos referentes à evasão de impostos e impunidades dos crimes
devido à confusão dos limites de jurisdição das comarcas do Ribeirão do Carmo,
Vila Rica e São José do Rio das Mortes tenham sensibilizado o Governador
Visconde de Barbacena.[1] O pedido
foi acatado em dezenove (19) de setembro de 1790 criando a Real Vila de Queluz:
Auto da criação da Real Villa de Queluz na Comarca do Rio das
Mortes nesta Capitania de Minas Gerais – Anno do Nascimento de Nosso Senhor
Jesus Christo de mil setecentos e noventa, aos dezenove dias do mez de Setembro
neste Arraial de Carijos Termo da Villa de São José Comarca do Rio das Mortes,
casas onde se achava aposentado o Ilustrissimo, e Excellentissimo Senhor
Visconde de Barbacena do Conselho de Sua Magestade Governador e Capitam General
desta Capitania de Minas Gerais, sendo presentes o Doutor e Dezeçmbargador Luiz
Antônio Branco Bernardes ouvidor Geral, e Corrigidor desta mesma Comarca e os
principaes moradores das Freguezias de Nossa Senhora da Conseição de Carijos da
de Congonhas do Campo e Santo Antônio de Itaverava que ali havião cocorrid;
pelo referido Ilustrissimo, e Excellentissimo Senhor Visconde General foi dito
que havendo lhe reprezentado os indicados moradores a considerável distancia de
mais de quinze, vinte, e trinta legoas, que hião das suas respectivas
habitaçoens as villas de São José São João de El Rey, Villa Rica, e Marianna a
cujas justiças herão sujeitos sofrendo por este motivo notaveis incômodos e prejuízos, nas suas dependências judiciais
e até mesmo na arrecadação e
administração dos bens e pessoas dos
Orffãos a que não podia ocorrer se muitas vezes com abrevidade conveniente por
causa da referida longitude, que do mesmo modo dificultava o pronto
conhecimento, e castigo de muitos e graves delitos perpetrados naquelas
distantes povoaçoens com grande detrimento da tranquilidade, e segurança
publica; em cujos termos lhe suplicavão a ereção de huma nova villa, com Corpo
de Camara, e Justiças competentes no Campo alegre de Carijos por ser o mais
central das referidas Freguezias além de se achar situado na Estrada Real quem
vem da Cidade o Rio de Janeiro para esta Minas Geraes, e Capitania de Goyaz;
alegando para este mesmo efeito outros igualmente ponderozos motivos, e exemplos, como tudo largamente consta do
seu requerimento pelos ditos assignado
que vai por copia no fim deste; e tendo o mesmo Ilustrissimo e Excelentissimo
Senhor condescendido com a mencionada suplica sibre que se tomarão, e
precederão todas necessárias informaçoens, de que resultou verificar-se a conveniência,
e necessidade que instava pela criação da sobre dita Villa pela milhor
administração da Justiça, comodidade daquelles moradores, e mais pronto
servisse de Sua magestade nos cazos ocorrentes: havia deliberado Criar como com
efeito criava em Villa o mencionado Arrayal de Carijos o qual de hoje em diante
se dominará – Real Villa de Queluz – ficnado assim desmembrada do Termo da de
São José a que até agora pertencia o dito Arrayal, e extendendo-se o da mesma
Villa Real novamente erecta, até confinar com a Comarca de Villa Rica, visto
que interinamente se lhe não assigna e demarca outro mais amplo Termo como os
Suplicantes requerem, sem perceder a Real aprovação de Sua Magestade, de cujo
arbítrio fica também pendente o Roral, que a mesma Senhora for servida
determinar-lhe: E havendo assim o dito ExcellentissimoSenhor por criada e
erecta a referida Real Villa de Queluz, com a Posse de todos os Direitos,
Previlegios, e mais prerogativas que pelas Leis do Reino lhe competirem assim e
asseitarão os indicados moradores Nobreza, e povo dela e seu Termo protestando
e jurando inalterável e firmíssima obediência, e sujeição as mesmas Leis como
fieis Vassalos da Muita Alta e Poderoza Rainha Dona Maria primeira Nossa
Senhora e Seus Augustos Successores, de que tudo para constar mandou lavrar
este Auto de Criação que assignou com os referidos que presentes se achavão, e
eu José Onorio de Valladares e Alboim Secretario do Governo a fis escrever e
subscrevi – Visconde de Barbacena – Luiz Antônio Branco Bernardes de Carvalho –
José Rodrigues da Costa. (SILVEIRA, Victor. Minas Geraes em 1925. Imprensa oficial de Minas
Geraes. 1926. p.954,955).
[1] ENCICLOPÉDIA dos municípios. 1959, p. 502.
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A impressão de Auguste de Saint-Hilaire,
sobre Queluz em 1817, é desanimadora:
Essa pequena vila, que faz parte da Comarca do Rio das Mortes,
construída sobre uma crista elevada, seria bastante agradável se não fosse tão
deserta; a rua que atravessa a estrada é larga e bem traçada, mas o mato aí
cresce por todos os lados; casas bastante lindas nos pareciam estar
abandonadas, e quase todas estavam mal conservadas e a ponto de cair em ruínas.
(SAINT-HILARE, Auguste. Viagem pelas Províncias de Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, Ed. D universidade de São
Paulo,1975, P.65).
No entanto, o Termo de Queluz possuía em 1820,
uma população de doze mil novecentos e noventa (12.990) homens livres e oito
mil e seiscentos e nove (8.609) escravos.[1] Nesta
época, a vila de Queluz possuía cerca de seis mil cento e noventa pessoas.[2] Quatro
anos depois, em três (3) de novembro de 1824, o bispo D. Frei José da
Santíssima Trindade informava em sua visita pastoral à Freguesia de Nossa
Senhora da Conceição da Vila de Queluz que:
A matriz desta freguesia acha-se em um planiço com suas casas de
sobrado arruinadas e térreas quase desertas, que fazem a praça da vila. A
igreja está no meio de um adro todo cercado e é fabricada de taipa com
frontispício, com duas torres e relógio. É espaçosa e tem 5 altares, acha-se
forrada e campada, e sem pintura o forro, os altares têm seus retábulos de meia
talha pintados e dourados. Tem pia batismal de pedra e vasos dos santos óleos
de prata. No sacrário tem duas ambulas com suas capas ricas, na sacristia 2
cálices, custódia para a exposição, relicário para os enfermos, turíbulo,
naveta, caldeirinha, ornamentos festivos e diários com decência. Tem aplicados
à matriz 1.511 e crismaram-se 1.440 pessoas.
(TRINDADE, José da Santíssima, Dom
Frei. Visitas Pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade (1821-1825).
Belo Horizonte: Centro de Estudos
Históricos e Culturais. Fundação João Pinheiro; Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, 1998. p. 251).
Treze anos depois - em 1837 - a vila possuía cento e quarenta
e quatro (144) casas. O Termo da Vila de Queluz possuía duzentos e treze fogos
(213) e mil e duzentas e sessenta e seis (1.266) almas.[3]
Na década seguinte Queluz se
envolveu na Revolução Liberal de 1842, apoiando os liberais em oposição aos Conservadores
do Rio de Janeiro.
Havia, nas duas províncias (São Paulo e Minas Gerais) a crença
de que o governo centralista do Rio, dominado pelos conservadores, tornara-se
“formalmente ditador” ao desencadear uma “violenta perseguição” contra as
câmaras, arrogando-se atribuições policiais e judiciárias pertencentes às
municipalidades. (HISTÓRIA da Vida Privada, 1997, Vol.2, p. 19).
Os representantes do governo
central foram expulsos e as tropas legalistas foram derrotadas. No entanto, ao
fim dos conflitos, venceram os conservadores do Império.
Em 1846, temos a seguinte
descrição de Queluz que nos permite visualizar a vocação comercial e agrícola
da região e alguns aspectos de sua geografia:
Empregão-se os seus habitantes nos tecidos de lã, algodão,
colxas, toalhas, e na factura de sellins: cultivãoo milho, arroz, o feijão, a
canna, algodão, café, tabaco, amendoim, batata, e outras raízes tuberosas. Os
produtos, que não são consumidos no Paiz, se exportão para a Côrte do Império,
e julga a Camara que o meio mais adequado para facilitar a exportação, elem das
boas estradas, é a diminuição das taxas itinerárias, mas com esta segunda parte
eu não concordo. O terreno he regular, isto he, nem he plano, nem muito
montanhoso. Ao Oriente da Villa se veem férteis matas, e ao Occidente lindas
campinas, matizadas de grandes e férteis capões.
Há todas as madeiras de lei. Nos campos prospera também o gado
vacum, cavalar, muar, e lanígero das roças antigas.
Há abundancia de boas aguas, que são empregadas no uso de
machinas. As febres, e hydropesias são as enfermidades, que mais grassão, e há
um medico, e alguns curiosos, que soccorem aos enfermos. Acha se atrasada a
instrucção primaria, mas existe hum collegio de vários ramos de instrucção no Arraial
de Mattozinhos de Congonhas do Campo, para onde afluem alunos de todas as partes,
e tem aproveitamento. (...).
(Fala
dirigida à Assembleia Legislativa Provincial de Minas Gerais na sessão
ordinária do ano de 1846, pelo Presidente da Província Quinteliano José da
Silva. p. 26 a 28).
Segundo o viajante suíço, Barão
Johann Jakob Von Tschudi, em 1858 a vila de Queluz possuía cerca de mil e
duzentas (1.200) almas. A igreja matriz, nesta época, se encontrava em reforma
e estava sendo pintada de branco.[4] Quatro
anos depois, em 1862, a freguesia de Queluz contava com seis mil (6.000)
habitantes.[5]
A elevação à cidade ocorreu pela lei n.º1.276
de dois (2) de janeiro de 1866, com a denominação de Vila de Queluz. No fim dos
anos setenta do século XIX, a cidade foi apresentada como em processo de
superação de um período de estagnação:
Esta povoação esteve por muito tempo aniquilada, e sem
desenvolvimento algum. Hoje, porém, o seu estado se não é muito prospero, pelo
menos é mais lisonjeiro, e muito mais melhorará logo que ali toque a estrada de
ferro de D. Pedro II.
A cidade hoje já apresenta mais vida, e animação, já se tem
feito mais algumas casas sofríveis, além das que já tinha.
Tem três igrejas, porém a melhor e que mais sobresahe é a
matriz, templo magnifico colocado no meio da praça.
Tem uma boa casa de câmara, e alguns sobrados bem vistosos. Tem
também um excelente pessoal.
No município fabricão-se optimos tecidos de algodão e lã, que já
forão premiados na exposição mineira, também fabricão-se as afamadas violas,
conhecidas pelo nome de violas de Queluz: ali também fazem-se as muito
conhecidas panellas de pedra, optimas para a cozinha, e de todos estes gêneros
faz-se grande exportação.
Também há no município muitos fazendeiros bem importantes, a sua
lavoura é grande, e cultiva-se toda a qualidade de cereais, porém a cultura
mais forte e mais importante é a de canna e algum café nas fazendas da matta.
A População da cidade orça por 3,000 almas, e toa a do município
toca a 37,297 almas. (SILVA,
José Joaquim da. Tratado de Geographia Descriptiva Especial da Província de
Minas Gerais. Juiz de Fora: Tip. Pharol, 1878. p. 123,124).
Em quatorze (14) de setembro de
1891, a Lei estadual n.º 2 confirmou a criação do distrito-sede do município de
Queluz. Já no século XX, precisamente 1911, o município se compunha de doze
distritos: Queluz, Glória, Redondo, Morro
do Chapéu (futuro município de Santana dos Montes), Itaverava, Capela Nova
das Dores, Carrapicho, Catas Altas da Noruega, Lamim, Santo Amaro, São Caetano
do Paraopeba, Cristiano Otoni.[6] Nos anos
vinte, o município aparece composto dos distritos de Queluz, Santo Amaro, Alto
Maranhão (antigo Redondo), Santana do
Morro do Chapéu (antigo Morro do Chapéu), Caranaíba, Lamim, Catas Altas da
Noruega, Itaverava, Capela Nova das Dores, Cristiano Otoni, São Caetano do
Paraopeba e São José do Carrapicho (antigo Carrapicho).
Em matéria do Jornal do Comércio
de dezenove de março de 1911, temos as seguintes informações sobre o município
de Queluz escritas por Arthur Loureiro:
- Queluz sede do município de mesmo nome, é uma pequena cidade,
mas incontestavelmente umas das mais notáveis do Estado de Minas Geraes. Está
situada às margens da Estrada de Ferro Central do Brasil, que, margeando o rio
Bananeiras, divide-a em duas grandes povoações bem distinctas em as suas
origens, mas que vem empolgadas por um só mesmo ideal: - o progresso local.
Bem no centro, comum a essas duas grandes povoações, está
colocada a Estação Lafayette, que é, sem duvida, a mais movimentada de todas:
já por se encontrar ali uma das mais importantes oficinas da Estrada de Ferro,
já pela quebra de bitola e consequentes baldeações, já e principalmente pela
sua fabulosa renda diária, devida ao grande e peculiar movimento comercial,
agrícola, industrial e pastoril da respectiva zona.
D’ahi sahe também uma renda relativamente grande para o Estado
de Minas; renda que, pelos dados estatísticos que colhemos do município,
computamos na média de dois contos de réis diários. (SENNA, Nelson de. Annuário de Minas Geraes. Bello
Horizonte: Imprensa Official de Minas Geraes, 1913. p. 692,693).
Nesta época - 1911/1913 - era
grande o número de fazendeiros e pequenos agricultores que se dedicavam ao
plantio de cereais, batata, mandioca e a criação de gado, aves e porcos. A
produção de rapadura açúcar, aguardente, algodão e marmelos movimentavam a
economia dos quarenta e cinco mil habitantes do município.[7]
Em 1923, pela Lei Estadual n.º
843, de sete (7) de setembro daquele ano, Queluz perdeu os distritos de
Caranaíba e Capela Nova das Dores para o novo município de Carandaí. Essa mesma
lei retirou parte do distrito de Lamim e de São José do Carrapicho para compor
o município de Rio Espera. A denominação
atual – Conselheiro Lafaiete – somente ocorreu com a elevação à comarca, pela
lei n.º 11.274, de vinte sete (27) de março de 1934.[8]
O município passou a denominar-se Conselheiro Lafaiete
em homenagem ao jurisconsulto, político e estadista ministro
do império, Conselheiro Lafaiete Rodrigues Pereira, nascido na cidade. Antes, o
nome já designava a Estação Ferroviária da Central do Brasil, antiga D. Pedro
II.[9]
A estação foi
inaugurada em quinze (15) de dezembro de 1883, com o nome de Queluz, recebendo
mais tarde o nome de Conselheiro Lafaiete.[10]
[1] CUNHA MATOS, 1979, v..2,131.
[2] ARAUJO, José de Souza Azevedo Pizarro e. Memórias
Históricas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948. T. II,
V. 8, p.168.
[3] CUNHA MATOS, Raimundo José da. Corografia Histórica da
Província de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1979. Vol.2,
p. 131. Vol. 1. p. 83.
[4] TSCHUDI, Johann JakobVon. Viagens através da América do
Sul. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e
Culturais. P.312.
[5] HALFELD, H.G.F. A Província Brasileira de
Minas Gerais/ H.G.F. Halfeld e J.J von Tschudi, Belo Horizonte: Fundação João
Pinheiro: Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1998. P. 141.
[6] Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE,
1959, Vol. 27, p. 503.
[7] SENNA, 1913, p.
695, 696.
[8] BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário
Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: 1971. p. 136 a 139.
[9] Em nove
(9) de maio de 1855, pelo decreto nº 1.598 o governo imperial anunciou o
contrato de construção da estrada de ferro d. Pedro II, que teria como
finalidade unir a província do rio de janeiro com a de são Paulo. Os trabalhos
foram iniciados em onze (11) de junho daquele ano. em vinte e nove (29) de
março de 1858 foi inaugurado o tráfego na 1ª seção da linha. Os
primeiros trilhos na província de minas gerais foram inaugurados em primeiro
(1º) de maio de 1869, com a presença dos ministros da marinha e da agricultura. Até
Queluz, atual Conselheiro Lafaiete, foi utilizada a bitola larga. A partir
desta localidade as linhas foram construídas em bitola métrica prosseguindo
para Miguel Burnier, Sabará, General Carneiro, ganhando o Rio São Francisco.
[10] Disponível
na internet em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/conslafaiete.htm
. Acessado em
5de fevereiro de 2013.
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Nos anos vinte do século XX o município se destacava na indústria de laticínios, serrarias, cerâmicas, fábrica de tintas e de ladrilhos e ferro guza. Possuía ainda fábricas de camisa, calçados e até mesmo de violões, violas e bandolins. Nessa época, a mineração de manganês começava a despontar.
Entre os anos 1936/37, o município
de Conselheiro Lafaiete compunha-se dos distritos de Conselheiro Lafaiete, Alto
Maranhão, Santo Amaro, Casa Grande, Morro
do Chapéu, Catas altas da Noruega, Itaverava, Lamim, Cristiano Otoni e
Congonhas do Campo. Pelo Decreto-lei estadual n.º 1 058, de trinta e um de
dezembro de 1943, o município era formado pelo distrito sede e os distritos de Catas
Altas da Noruega, Cristiano Otoni, Itaverava, Queluzito (antigo Santo Amaro) e Catauá, antigo Morro do Chapéu.[1]
Em 1948, a lei n.º 336 de dezessete (17) de dezembro, mudou a denominação
do distrito de Catauá para Santana dos Montes.[2]
Em 1950, o município de Conselheiro Lafaiete possuia seis (6) distritos: Conselheiro
Lafaiete, Catas Altas da Noruega, Cristiano Otoni, Itaverava, Queluzita e Santana dos Montes. Em dezembro de
1953, uma nova reformulação administrativa criou os distritos de Buarque de
Macedo e Joselândia. Pela Lei Estadual n.º 2.764 de trinta (30) de dezembro de
1962, seis (6) dos seus distritos são transformados em municípios, dentre eles Santana dos Montes. Atualmente o
município de Conselheiro Lafaiete é constituido do distrito-sede e Buarque de
Macedo. [3]
Conselheiro Lafaiete é passagem obrigatória para muitos dos
turistas que se dirigem todos os anos a Ouro Preto (Patrimônio Histórico e
Cultural da Humanidade - Unesco) e Mariana (a primeira capital de Minas).
Visitá-la é como cavalgar com os tropeiros, se introduzindo naquele espírito
dourado, numa época em que todos os caminhos levavam à Vila Rica (atual Ouro
Preto), antiga capital da província.(RESENDE, Marcelo JB. Conselheiro Lafaiete
– Campo Alegre dos Carijós. Disponível na Internet: http://www.idasbrasil.com.br/idasbrasil/cidades/lafaiete/port/apresent.asp.
Acessado em 14 de maio de 2013).
[1] Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE,
1959. Vol. 27, p. 503.
[2] Santana do Morro do Chapéu
passou em 1923 para Morro do Chapéu e para Catauá em 1943. Em 1948, adquiriu o nome atual: Santana dos Montes,
pela lei n.º 336. Fonte: Barbosa,
1971 p.437.
[3] Disponível
na internet: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/historicos_cidades/historico_conteudo.php?codmun=311830 .
Acessado em
vinte e dois de janeiro de 2013.
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