PEDAÇOS
DE PATRIMÔNIO
“Não é preciso especular muito para descobrir que temos
espaços concebidos como eternos e espaços transitórios, espaços legais e
espaços mágicos, espaços individualizados e espaços coletivos. Tudo o que diz
respeito ao poder político é, na nossa sociedade, conotado como duradouro ou
eterno e marcado pelos monumentos e palácios. O poder como ordenador supremo do
nosso mundo penetrado por todo o tipo de conflito situa-se naqueles espaços de
confluência do tempo e de unidades sociais contraditórias ou problemáticas.
Assim, nas cidades ocidentais, as praças e adros (que configuram espaços
abertos e necessariamente públicos) servem de foco para a relação estrutural
entre indivíduo (o líder, o santo, o messias, o chefe da igreja ou do governo)
e o “povo”, a “massa”, a coletividade que lhe é oposta e lhe complementa. (...)
Pois bem, esses espaços são
marcados por monumentos cuja função seria a de estabelecer em pedra, bronze,
aço, concreto ou tijolo – algum material que seja supostamente imperecível,
essa aliança entre intérprete e a massa, o líder e o povo, já que a rigor os
dois são complementares e ambos sujeitos a determinações maiores que vêm do
passado e do sistema de valores que opera pro inércia e inconscientemente.”
(...)
(DA MATTA, Roberto. Casa, Rua & Outro Mundo: reflexões sobre o espaço
e a sociedade. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional n. 19/1984,
pág. 6.).
“Daqui por diante é preciso
conservar sistematicamente, pois a degradação também é sistemática”
“Toda a história do patrimônio
se confunde com a de uma morte perpétua, mas também com uma ressurreição”.
“Um dilema: a que preço se
deve promover o prolongamento da vida? Que preço se quer impor”?”
“Conservar? Mas para quem? Mas
como? Quem decide sobre isso? E com que meios?”
“Todo patrimônio é doação do
passado e parte de nosso presente contínuo”
(PARENT, Michel. O Futuro do
Patrimônio Arquitetônico. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
n. 19/1984, pág. 112 a 123).
“Um dos graves problemas com
que se defrontam os países no mundo moderno é a perda da identidade cultural,
isto é, a progressiva redução dos valores que lhes são próprios, de
peculiaridades que lhe diferenciam as culturas.
Essa perda é, na verdade, a
face negativa do acelerado processo de integração universal determinado pelo
avanço tecnológico, que se propaga através de duas vertentes principais: a
tecnologia do produto industrial e a tecnologia da comunicação audiovisual. A
primeira, por sua escala de produção massificada, atua por intermédio dos
grandes complexos industriais, hoje eminentemente multinacionais, induzindo ao
consumo de produtos padronizados, nem sempre assimiláveis pelas diversas
culturas que os recebem. A segunda, que em seu modo de operar está intimamente
associada à primeira, permite acompanhar, vendo-se e ouvindo-se às vezes até
instantaneamente, o que ocorre em qualquer ponto do mosaico
internacional.”
(MAGALHÃES, Aloísio. Bens Culturais: instrumento para um
desenvolvimento harmonioso. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional n. 20/1984, pág. 40 a 44).
“A idéia de transformar cada
palácio em museu expõe a paisagem urbana ao risco da esclerose”
(BARTHÉLÉMY,
Jean. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional n. 20/1984, pág. 40
a 44).
“A cidade é nossa casa... Cada
grão arquitetural de que dispomos na cidade deve ser considerado, não como um
elemento isolado, mas como a milionésima parte de um todo, que constitui o
objetivo essencial da arquitetura"(Jan Tanghe)
“A obra arquitetural só terá
sentido se ela se incorporar a seu contexto urbanístico, o qual é, de certa
maneira, seu guia mais precioso. Eis por que torna-se indispensável
reintroduzir-se o hábito de estudar as características morfológicas da
ambiência física, no início de qualquer projeto arquitetural.” ”
(BARTHÉLÉMY,
Jean. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional n. 20/1984, pág. 40
a 44).
“A marginalização da cultura
popular acabou por lhe fortalecer enquanto reduto dos referenciais mais
autônomos do processo cultural brasileiro”
(Joaquim Falcão. Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional n. 22/1987, pág. 28).
“O conceito de patrimônio foi
se antropologizando em tal proporção que passou a se mostrar sensível a toda e
qualquer experiência social”
(MICELI, Sergio. SPHAN: Refrigério da Cultura
Oficial. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional n. 22/1987, pág.
44 a 47).
“Segundo o Decreto-lei 25,
“São também sujeitos ao tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e
paisagens que importa conservar e proteger, pela feição notável com que tenham
sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana”
Quer dizer, desde os anos 30
estava bem presente o conceito, hoje predominante, de patrimônio cultural: o
todo constituído pela integração do homem à natureza. Orientada pelo referido
decreto-lei, a pioneira ação de proteção
fundamenta-se, por um lado, no valor paisagístico excepcional atribuído a
certos sítios e acidentes geográficos. Por outro, a proteção a determinados
sítios, parques, e jardins deu-se em nome de seu valor histórico, arqueológico
ou etnográfico.
Assim , o artigo 1, do
Decreto-lei 25 oferece base legal para a proteção aos bens móveis e imóveis,
“quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer
por seu excepcional valor arqueológico
ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”e, possibilitou também uma atuação
de defesa da natureza nas suas relações com a cultura; atuação que não chegou,
entretanto, a se concretizar com a amplitude e a eficácia desejáveis, em face do
problema da carência de recursos financeiros e dos crescentes encargos
decorrentes do trabalho de proteção ao patrimônio constituído pelos bens móveis
e imóveis, monumentos e conjuntos urbanos.”
(...)
A conservação dos recursos de
nosso patrimônio natural interessa ao Ministério da Cultura, se não pela
proteção das condições naturais que condicionaram aspectos básicos de nossa
cultura, no mínimo pela importância futura de recursos necessários à
salvaguarda física de bens culturais relevantes do país.O interesse é ainda
maior, pela responsabilidade de tutela do patrimônio da sociedade nacional, o
que leva o Ministério a inventariar, reconhecer, classificar e cadastrar os
bens culturais.
(XAVIER, Carlos Alberto
Ribeiro de. A Natureza no Patrimônio Cultural do Brasil. Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional n. 22/1987, pág. 44 a 47).
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