RUÍNAS DA IGREJA DE MOCAMBINHO EM JAÍBA - Provável capela do Arraial do Retiro fundado por Matias Cardoso na beira do Rio São Francisco ainda no século XVII -
Foto: Acervo IEPHA/MG -
MATIAS CARDOSO O BANDEIRANTE ESQUECIDO E AS RUÍNAS DA CAPELA DE MOCAMBINHO
Autor: Carlos Henrique Rangel
Atualizado em 23 de fevereiro de 2021.
Atualizado em 23 de fevereiro de 2021.
Baseado em Texto elaborado pelos historiadores Carlos Henrique Rangel
e Cristina Pereira Nunes para o Projeto Ruínas de Mocambinho de 1990/1993.
I -Introdução:
Em 1991, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG) firmou convênio com a Companhia do Vale do São Francisco (CODEVASF) para implementação de um projeto de pesquisa histórica, arquitetônica e arqueológica sobre as ruínas de uma capela encontrada na beira do Rio São Francisco, território pertencente, à época ao município de Manga. O objetivo específico da pesquisa era o esboço histórico de ocupação do Estado de Minas Gerais. Levantamento sobre o processo de conquista, ocupação e desenvolvimento da região do norte mineiro até os dias atuais e a reconstituição histórica das ruínas da capela de Mocambinho. Foram consultados a documentação do IEPHA/MG, do Arquivo Público Mineiro, dos arquivos dos municípios do norte de Minas e da Bahia, além dos documentos da Biblioteca Nacional. Infelizmente, o convênio foi encerrado antes da conclusão sobre a verdadeira origem das ruínas. Os trabalhos desvendaram a figura instigante do sertanista Matias Cardoso de Almeida, paulista pouco conhecido que teve papel importante na conquista do território mineiro, especificamente, do sertão do rio São Francisco. Neste artigo, baseado em texto anteriormente elaborado por mim e pela historiadora Cristina Pereira Nunes, tentaremos contar a história que se sabe sobre esse grande homem de sua época.
PALAVRAS-CHAVE: Matias Cardoso, capela de Mocambinho, sertão, ocupação, rio São Francisco
I – O Sertão das Esmeraldas
O território atualmente compreendido pelo Estado de Minas Gerais, desde a segunda metade do século XVI, vinha sendo trilhado por grupos de aventureiros litorâneos em busca das riquezas anunciadas pelos índios.
O processo de exploração territorial foi iniciado a partir do nordeste da colônia, especificamente, nos territórios baianos, e permitiu o reconhecimento de boa parte do norte mineiro sem, contudo, se traduzir em ocupação efetiva da região.
A ocupação se deu de fato, de forma lenta, sendo os índios conduzidos para o interior a partir do avanço aleatório das boiadas que subiam o Rio São Francisco e seus afluentes. A conquista do interior traduziu-se em um deslocamento não só de indígenas em fuga dos colonizadores gananciosos, como também de seguimentos menos favorecidos na busca de terras livres da tutela da metrópole.
Destacaram-se dentre as expedições que visitaram os Sertões:
- a de Francisco Bruza Espinosa (1554) que se embrenhou pelo sertão com doze brancos, incluindo entre eles o Padre Jesuíta João de Aspilcueta Navarro, de quem temos as informações sobre essa expedição. Segundo o padre, o grupo sertanista entrou naquele território à procura de pedras preciosas e de ouro. Partiu de Porto Seguro, dirigindo-se para o Jequitinhonha, de onde seguiu rumo do noroeste para a Serra Geral, atual Grão Mogol, chegando finalmente às margens do rio São Francisco onde assentaram uma aldeia “junto da qual passa um rio por nome Monail” (VASCONCELOS,História Antiga de Minas Gerais. 1974. p. 51 - 55).
- a expedição de Sebastião Fernandes Tourinho (1573) partiu em canoas de Porto Seguro alcançando o rio Doce, de onde retornou com notícias da existência de pedras verdes. Tais descobertas iniciaram a lenda das esmeraldas que, durante décadas, ocupou o imaginário dos sertanistas ( CALMON, 1971.V.I, p.313).
- a de Antônio Dias Adorno (1574), contando com cento e cinquenta portugueses e quatrocentos índios, subiu pelo rio Caravelas descobrindo amostras de pedras verdes que mandou analisar em Portugal, as quais não interessaram à Coroa. Parte dessa expedição regressou pelo rio Jequitinhonha, sendo que um grupo chegou a Jequiriça (CALMON, 1971.V.I, p.313-314).
- a expedição de Marcos de Azevedo, no século XVII, seguiu o itinerário de Fernandes Tourinho. Partiu do Espírito Santo, chegando ao rio Doce e a Barra do Suassuí. Depois de atravessar uma lagoa, penetrou finalmente na região das esmeraldas de onde retirou as pedras que enviou ao Rei de Portugal (VASCONCELOS, História Antiga de Minas Gerais .1974. p. 66-67).
- a expedição de Fernão Dias Paes foi, sem dúvida, a mais importante. Entusiasmado com as informações sobre os sertões das esmeraldas, o velho sertanista paulista organizou uma bandeira com o intuito de descobrir as riquezas do sertão de Sabarabuçu. Para esse fim, recebeu do Governo Geral a patente de Governador das Esmeraldas em 30 de outubro de 1672. Contou com a participação de vários familiares, entre eles o filho Garcia Paes e o genro Borba Gato, além da presença do experiente sertanista Matias Cardoso de Almeida, um dos mais importantes de sua geração.
A bandeira partiu de São Paulo em 21 de julho de 1674 e por sete anos Fernão Dias percorreu os sertões, estabelecendo postos e plantando roças em diversos pontos, descobrindo, finalmente, as pedras que julgou serem as esmeraldas. Com esta certeza, morreu de peste como grande parte de seus índios, às margens do rio das Velhas, quando se recolhia para o Sumidouro, atualmente, no município de Pedro Leopoldo (FRANCO, 1940. V. 181, CAP.12-13).
II – A Bandeira de Fernão Dias
As bandeiras paulistas possuíam esse velho costume de percorrer os sertões à procura de índios para escravizar e vender. Consequentemente, quando se organizou a expedição de Fernão Dias, as terras a serem visitadas não eram tão desconhecidas. Matias Cardoso de Almeida, sertanista paulista que, segundo Carvalho Franco, desde 1664 conhecia os caminhos que levavam ao norte, foi nomeado em 13 de março de 1673, como Capitão-mor da bandeira de Fernão Dias. A indicação feita pelo próprio Fernão Dias justificava-se por ele ser grande conhecedor daqueles sertões e de seus habitantes, com quem já havia se confrontado (PAES LEME, 1953.T. 2. P.198-199)..
Com seus cento e vinte índios mais munições e armas, o Capitão-mor Matias Cardoso partiu antes do chefe, levando sementes e criações para o interior, onde iria montar as roças para suprir as necessidades da bandeira. Fernão Dias saiu de São Paulo com quarenta homens brancos no dia 21 de julho de 1674, indo ao encontro da tropa de Matias Cardoso. (TAUNAY, 1930. V. 6, p. 87).
A participação de Matias Cardoso nesta bandeira durou seis anos. Segundo informações do Governador Arcebispo D. Frei Manuel da Ressurreição, teria sido dispensado por motivo de doença. conforme o que se vê em documentode Carta Patente:
Mas o motivo mais provável, no entanto, seria a ambição imediatista do sertanista que resolveu desobedecer a ordem que proibia escravizar índios, imposta por Fernão Dias como forma de evitar o desvio do objetivo da bandeira ( BIBLIOTECA NACIONAL. 1935. V.30, p. 7-12).
Na verdade Matias Cardoso abandonou a expedição antes do encontro das pedras verdes. Segundo certidão de 21 de outubro de 1681, assinada por Domingos Rdrigues do Prado e João Gago da Cunha:
Deixaram-no os homês da sua tropa principalmente o capitan Mathias Cardoso de Almeida em quem mais confiava o quoal com entresse de conquistar bárbaro, para seu serviço particular se apartou com outros de sua fausão como com efeito conduziu depois por duas vezes cantidade de gentio bárbaro para sua caza e serviço por conhecer do dito governador atalhava seus desígnios pro serem prejudisiaes aos descobrimentos a que andava. (TAUNAY, 1955,P.247,248)
Matias Cardoso por duas vezes regressou a São Paulo com índios cativos, abandonando Fernão Dias no Sertão. O velho bandeirante, amparado por parentes e por índios, persistiu na busca de esmeraldas. (TAUNAY, 1955. n.º83, cap. 21. p. 247-248).
A expedição percorreu grande parte do território mineiro, culminando com o encontro de pedras que pensaram serem esmeraldas.
(...) para cujo efeito fabricou, três feitorias naquele sertão mui abundantes de mantimentos, e as deixou conservadas por sua morte com assistência de índios próprios, e de um homem branco de confiança, a quem recomendou o cuidado das esmeraldas, com que facilitaram aqueles desertos para os exames da prata cujo descobrimento se procura, ... (RAPM, Ano XX,1924,p.164,165).
Em 20 de junho de 1680, Matias Cardoso foi um dos consultados pela Junta realizada em São Paulo, onde se decidiu a plantação de roças para a entrada do Administrador das Minas, D. Rodrigo Castelo Branco.
Castelo Branco fora designado para averiguar as Minas da Serra do Sabarabuçu e pretendia encontrar-se com a bandeira de Fernão Dias, e buscou apoio dos sertanistas paulistas para a sua expedição (VARNHAGEN, 1936. T. 6, p. 148).
Na reunião realizada na Casa do Conselho no dia 2 de julho de 1680, em que Matias Cardoso se encontrava presente, D. Rodrigo propôs a entrada para fevereiro do ano seguinte. Todos concordaram que antes deveriam plantar roças no caminho.
No dia seguinte, 3 de julho, sabendo por Matias Cardoso que suas plantações do sertão estavam destruídas, D. Rodrigo resolveu adiar a partida.
Matias Cardoso foi nomeado Tenente-General da Leva de Sabarabuçu em 28 de janeiro de 1681. Outra vez arcou com as despesas para a sua equipe.
Nesse ínterim, o mineiro da expedição, João Álvares Coutinho, peça importante para o sucesso da empreitada de D. Rodrigo, recusou-se a partir, alegando como motivos os seus sessenta e sete anos, doença e falta de dentes. Matias Cardoso, em 16 de março de 1681, perante a Câmara reunida, reclamou da demora da partida e decidiu que conduziria o mineiro Álvares Coutinho em rede e o sustentaria com alimentos que a sua velhice e doenças necessitavam.
A partida da expedição ocorreu segundo Basílio Magalhães, em 19 de março de 1681, compondo-se de sessenta índios para o serviço de D. Rodrigo, sessenta da administração de Matias Cardoso para a condução de João Álvares Coutinho e mais cento e vinte para o trabalho nas Minas (PAES LEME, 1953. p. 198-201). Também participaram desta expedição, Jerônimo Camargo, Antônio de Siqueira de Mendonça, Pedro da Rocha Pimentel, Manoel Cardoso de Almeida, João Dias Mendes, André Furtado, Estevão de Sanches Pontes e outros paulistas. (LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Op. Cit., tomo II, p. 53 e 58).
Em 27 de março de 1681, Fernão Dias escreveu do sertão dando informações sobre a sua expedição: “deixo abertas cavas das esmeraldas no mesmo morro donde as levou Marcos Azevedo, já defunto, cousa que há de estimar-se em Portugal.”(FRANCO, 1940, p.143)
Do arraial de São Pedro do Paraopeba, onde se encontrava em 4 de junho de 1681, D. Rodrigo escreveu à Fernão Dias felicitando-o por seus serviços no descobrimento das esmeraldas. Pouco tempo depois, chegou a notícia de que o velho sertanista havia falecido. Ainda no mês de junho, neste mesmo arraial, ocorreu o encontro de Garcia Rodrigues Paes e D. Rodrigo, sendo lavrado e assinado por eles e por Matias Cardoso o termo de entrega das pedras descobertas. No mês seguinte, D. Rodrigo encaminhou à Câmara de São Paulo as esmeraldas para serem enviadas ao Sindicante João da Rocha Pitta na cidade do Rio de Janeiro.
Em setembro de 1681, o padre João Leite, irmão de Fernão Dias, protestou na Câmara de São Paulo contra D. Rodrigo, alegando que este pretendia usurpar as minas descobertas por seu irmão. Citou como prova, uma carta de Matias Cardoso enviada ao irmão Salvador Cardoso, em que o sertanista dizia que os gastos da jornada seriam cobertos com as esmeraldas ( ELLIS Junior, 1934. p. 301-302).
No sertão, já no arraial do Sumidouro, os atritos entre o grupo de D. Rodrigo Castelo Branco e os remanescentes da bandeira de Fernão Dias, liderados por Manuel de Borba Gato têm como consequência o assassinato de D. Rodrigo em uma emboscada no dia 28 de agosto de 1682 (FRANCO, 1940. p. 167).
Segundo suposto manuscrito encontrado dentro de uma garrafa em uma gruta de da Serra da Piedade, D. Rodrigo teria sido assassinado por Martinhos Dias, um membro da bandeira de Borba Gato. Tal fato não está comprovado. (Disponível na Internet em: http://www.defender.org.br/garrafa-encontrada-em-gruta-de-minas-traz-misterio-sobre-morte-de-fidalgo/. Acessado em 14 de fevereiro de 2013).
Francisco de A. Carvalho Franco, informa que, após a morte do Administrador D. Rodrigo, Matias Cardoso e outros de sua comitiva fugiram para Salvador, varando o Sertão, onde se apresentaram ao Governador Geral Antônio de Sousa e Meneses. Pedro Taques, no entanto, afirma que o sertanista retornou a São Paulo em 1682 (PAES LEME, 1953. p. 54).
III - A Guerra no Nordeste
O sertão do rio São Francisco, ocupado inicialmente por hordas indígenas do litoral, que fugiam dos avanços da civilização e por bando de marginais, incorporou-se pouco a pouco ao sistema colonial. A expansão da pecuária ao longo do rio São Francisco propiciada pela grande mobilidade do gado em sua busca por pastagens e salinas se chocou contra os interesses daquela população de índios e bandoleiros, culminando em conflitos sangrentos que chegaram a ameaçar a soberania portuguesa na região. Nessa luta se destacaram os senhores de terra, Dias D’Ávila da Casa da Torre e Antônio Guedes de Brito da Casa da Ponte, proprietários de grandes extensões de terras concedidas pelo governo e conquistadas aos índios, respectivamente nas margens esquerda e direita do rio São Francisco. Antônio Guedes de Brito se destaca pelos sucessos conseguidos na pacificação dos sertões baianos e do alto São Francisco, que lhe valeram a concessão das cento e sessenta léguas de terras que iam do Morro do Chapéu até o rio das Velhas (VASCONCELOS, História Média de Minas Gerais.1974. p. 21-22).
Entretanto, a solução mais feliz encontrada pelos Governadores Gerais, nesta conquista do interior, foi buscar guerreiros adequados, em pé de igualdade no conhecimento e na lida do sertão. A partir da segunda metade do século XVII, as levas de paulistas ávidos por presas e terras lutaram no nordeste da colônia contra índios, negros e bandoleiros, abrindo caminho aos grandes senhores e suas criações, contribuindo para a integração de todo este sertão, aos domínios portugueses (VASCONCELOS, História Média de Minas Gerais. 1974. p. 15-17).
Em 12 de maio de 1684, Matias Cardoso foi convocado pelo Governador Geral Antônio de Souza e Menezes para lutar contra os índios que atacavam a Bahia, recebendo a patente de Governador e Administrador dos Índios.
Porquanto sendo tam repetidas, e dannozas à conservaçam deste Estado, as hostilidades, mortes roubos, de amparo de fazendas, e destruiçam de famílias, e escravos que os Barbaros costumao fazer nos Reconcavos desta cidade, e Villas circunvizinhas, e estam padescendo há tantos annos sem se poderem reprimir, pro cuja cauza o Senado da Camara em nome de todo esse Povo me propz que para se evitar este dano assim para maior segurança do Estado, paz com o Gentio, e bem espiritual delle, como para defença desta praça se provesse a Mathias Cardoso de Almeyda, de Governador e Administrador de todas as Aldeas das naçoens que reduzir e cituar desde a Capitania de Porto Seguro athé o Ryo de S. Francisco, para elle e seus dezcendentes, concedendo-se-lhes o regimento dos administradores das Indias que este Governo tem dado com a jurisdiçam conveniente por concorrerem neste todas as partes e qualidades que o fazem benemérito: Tendo eu respeito a tudo e as grandes experiências que o dito Mathias Cardoso tem daquelles certoens e perito na Língua para os persuadir,(...)
(ANAIS DO MUSEU, 1927. T.3, p.305-307)
A próxima menção a Matias Cardoso de Almeida aconteceu anos depois, em uma carta do Governador Geral, Mathias da Cunha, datada de 1º de março de 1688. Nesse documento o Governador Geral exigia uma contribuição de trezentos mil réis à Câmara da Bahia para as primeiras despesas de guerra contra os “bárbaros” do Rio Grande e Ceará. Um terço desse dinheiro se destinava a Matias Cardoso e a seu lugar tenente Marcelino Coelho, os quais já recebiam instruções para marchar do rio São Francisco com trezentos soldados entre brancos e índios. As armas, munições e o mais necessário, além dos cem mil reis, estavam sendo enviados a Matias Cardoso que já se encontrava na região do São Francisco nesta época (TAUNAY, 1955. V.6. cap. 38, p.320-322),
Em uma carta de 10 de março de 1688, dirigida aos oficiais da Câmara de São Paulo, o Governador Geral informou as dimensões dos ataques dos índios à Capitania do Rio Grande:
Acha-se a Capitania do Rio Grande tão opprimida dos Barbaros (que nella mataram o anno passado mais de cem pessoas entre brancos e escravos, destruindo mais de 30.000 cabeças de gado; e neste, 30 homens além de muitos feridos, ao Coronel Antonio de Albuquerque da Camara na entrada que lhe fez com trezentos, pelejando todo dia com mais três mil arcos; por cujos temor estão os mo(a)dores quase abalados a despejar a capitania), que correm ao serviço de Sua Majestade se lhe acuda por todos os meios possíveis. Para esse effeito fiz conselho, e se assentou nelle, que se declarem por captivos todos os bárbaros prisioneiros, por ser justíssima a guerra na forma da provisão de sua Majestade (...) (BIBLIOTECA NACIONAL, 1929. V.11, p.139-140).
Em outra carta de 10 de março de 1688 o Governador Geral informava sobre os procedimentos para a atuação de Matias Cardoso na Guerra aos "Barbaros"que teria total independência dos outros chefes que lutavam contra os índios:
A gravidade da situação das capitanias do Rio Grande e do Ceará em função dos ataques indígenas justificou até mesmo o desvio para essa guerra, dos paulistas de Domingos Jorge Velho, convocados para lutar contra o quilombo dos Palmares. Matias Cardoso se resolvesse lutar nesta guerra, teria total independência de ação, à semelhança de outros chefes da Campanha: Manuel de Abreu, Coronel Antônio de Albuquerque, Domingos Jorge Velho e André Pinto.
Quando da morte do Governador Geral Mathias da Cunha, em 24 de outubro de 1688 e de sua substituição pelo Arcebispo D. Fr. Manuel da Ressurreição, Matias Cardoso ainda se encontrava no rio São Francisco. O novo Governador, por meio de várias cartas enviadas a São Paulo, retomou as negociações para o envio de forças paulistas.
Em 9 de dezembro de 1688, escreveu a Matias Cardoso:
Procurando por Vossa Mercê para lhe encarregar (como o Sr. Mathias da Cunha, Governador e Capitão Geral que foi deste Estado, em cujo o logar succedi, determinava) o soccorro que com a sua gente havia de fazer à guerra dos bárbaros do Rio Grande; suppondo estar Vossa Mercê no Rio São Francisco; me disse o Mestre de Campo Antônio Guedes de Britto, que já as ordens que eu mandasse a Vossa Mercê o não haviam de achar na povoação do dito Rio, por ter noticia que era Vossa Mercê partido para essa Capitania a buscar mais farinhas para a dita povoação. A informação que o dito Mestre de Campo e o Provedor-mor Francisco Lamberto me deram do valor, e procedimento de Vossa Mercê me obriga a buscal-o, donde entendo que pode ter melhor effeito o fim para o que o procurava no Rio São Francisco: porque como me resolvi a escrever ao Capitão-mor dessa Capitania e à Camara da Villa de São Paulo, persuadissem os sujeitos de maior importância que costumam penetrar os sertões para cativar índios, queiram vir a conquistal-os naquela Campanha, em cuja guerra se tem declarado por escravos e fazer da mesma conveniência merecimento para as honras, e mercês que devem esperar Del –Rei meu Sr. Em um serviço tão relevante, (...) é certo que se Vossa Mercê se acha dessa banda, nenhuma pessoa elegerão os officiaes da Camara para governar a gente que vier mais brevemente que a Vossa Mercê...( BIBLIOTECA NACIONAL, 1929. V. 11. P.146-149)
Foi a primeira vez que houve referência ao arraial de Matias Cardoso na região do rio São Francisco e sugere uma existência recente do agrupamento, pois ainda recorria a São Paulo para buscar farinha. Essa mesma impressão nos deixa as informações de Maciel Parente, na Representação datada de 1696. Segundo Parente, Matias Cardoso, em 1688, dirigiu-se a São Paulo a fim de conduzir sua família às fazendas de sua propriedade no rio São Francisco (TAUNAY, 1955. V.7. Cap. 18. p. 125-126).
O Historiador Ângelo Alves Carrara em seu texto "Antes das Minas Gerais: conquista e ocupação dos sertões mineiros", informa a existência de uma carta de sesmaria de 1690 concedendo terras na região a Matias Cardoso:
Como tenente-general, Matias Cardoso de Almeida, junto com outros concessionários, aparece numa carta sesmaria datada de 2 de março de 1690, e na qual a cada peticionário concedia quatro léguas em quadra nos sertões do rio Pardo e Doce. A vastidão – talvez melhor fosse dizer indefinição – desse território permitia que cada um dos sesmeiros escolhesse livremente o lugar que mais lhe agradasse. Por esse motivo, só podemos saber o lugar exato onde cada um se fixou em razão de documentos posteriores. (CARRARA, Angelo Alves, Antes das Minas Gerais: conquista e ocupação dos sertões mineiros. Disponível na Internet http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752007000200019 acessado em 11 de fevereiro de 2013.)
Receberam sesmaria neste mesmo ano: Domingos Soares de Albuquerque, Mateus Furtado, João Cardoso de Almeida, José de Albuquerque, Matias de Albuquerque, Vigário Antônio Furtado, Domingos de Figueiredo Calheiros, Manoel de Aguiar de Corte, Pedro Andrade Pereira, Francisco Martins pereira, Custódio Barbacena Villas Boas, Francisco Pires de Carvalho, Domingos Escórcio, João de Almeida, Salvador Cardoso, Capitão Manuel Soares Ferreira, Francisco Teixeira Cabral, Francisco Muniz Pereira, Francisco de Lima Pinto e o Sargento-mor Francisco Pires de Carvalho. (Alvará de 02 de março de 1690. FREIRE, Felisberto. História Territorial do Brasil. Salvador, Instituto Geográfico da Bahia, 1998, p. 51 e 111).
A insistência do Governador Arcebispo acabou por convencer a Câmara de São Paulo a se empenhar na ajuda àquele sertão nordestino. Em 1º de maio de 1689, o Sargento-mor de Matias Cardoso, Manuel Alves de Morais Navarro partiu para a Bahia em companhia de seus quinze índios. (BIBLIOTECA NACIONAL, 1942. V.57. p. 84-93).Por terra, partiu João Maciel Parente em 18 de junho de 1689, com o terço de que fora incumbido de formar por Matias Cardoso. Este último sertanista, por sua vez, já partira com a família algum tempo antes e o aguardava no rio São Francisco.(TAUNAY,1955. V.7. p.125,126).
Em agosto de 1689, o Sargento-mor, Morais Navarro, já havia chegado à Bahia com vinte três soldados entre índios e brancos, e recebeu ordens do Arcebispo Governador para se incorporar à Matias Cardoso no rio São Francisco. Matias Cardoso, porém, o mandou de volta à Bahia com cartas para ajustes das “coisas necessárias” à guerra. Ao retornar para junto do terço, o Sargento-mor trouxe consigo em torno de cinquenta a duzentos índios recolhidos de várias aldeias.
Mesmo estando Matias Cardoso a caminho dos sertões da Bahia, as negociações para a guerra ainda não estavam acertadas. Além de Matias Cardoso, havia outro interessado na campanha: o paulista Manuel de Camargo, que assim como Matias Cardoso, enviou carta com condições para se fazer a guerra.
O Arcebispo Governador considerou as propostas dos dois sertanistas muito parecidas, mas acabou por se decidir por Matias Cardoso, deixando claro, no entanto, que não podia conceder-lhe mais do que havia concedido a Domingos Jorge Velho.(BIBLIOTECA NACIONAL,1929.V.11, p.155 A 160).
No dia 4 de março de 1690, o Arcebispo Governador querendo dar nova forma à guerra contra os bárbaros, antes encarregada a vários chefes independentes, decidiu por reformar o Mestre de Campo Antônio de Albuquerque da Câmara, o Capitão-mor Manuel de Abreu Soares e todos os postos criados, enviando a infantaria paga de Henrique Dias aos seus presídios. Ao sertanista Matias Cardoso, coube o comando da guerra que se faria a partir de então. Dos que lutavam na guerra só foi mantido o regimento do Mestre de Campo Domingos Jorge Velho, que livre da jurisdição de Matias Cardoso poderia resolver com este a participação na luta contra os índios e contra o quilombo dos Palmares.
Em 6 de abril de 1690, foi passada a Carta Patente do posto de Mestre de Campo e Governador absoluto da guerra dos bárbaros do Rio Grande, em nome de Matias Cardoso (BIBLIOTECA NACIONAL, 1935. V.30, p. 7-12).
Morais Navarro recebeu a patente de Sargento-mor do regimento de Matias Cardoso, em 8 de abril de 1690, e João Amaro Maciel recebeu a patente de Capitão-mor das companhias de tropas em 10 de abril daquele ano. Datam do mesmo período, as quatro patentes de capitão de infantaria providas às pessoas de Miguel de Godoi de Vasconcellos, João Pires de Brito, João de Godoi Moreira e Luís Soares Ferreira (BIBLIOTECA NACIONAL, 1935. V. 30, P.12-29).
Posteriormente, Matias Cardoso conseguiu convencer ao Arcebispo da necessidade de se criar mais três companhias de infantaria, sendo nomeados como capitães, em 21 de julho de 1690, Diogo Rodrigues da Silva, João Freire Farto, Amaro Homem de Almeida e Matheus de Prado, substituto de Luís Soares Ferreira que retornou a São Paulo. Ainda foram concedidos os postos de Ajudante de Sargento Maior ao Alferes manuel da Motta Coutinho e os postos de Alferes de Infantaria a Antônio Fernandes da Silva e Bartholomeu do Prado (BIBLIOTECA NACIONAL, 1935. V. 30, P.95 a113).
Nesse início de campanha, Matias Cardoso estava tão confiante que propôs ao Arcebispo Governador lutar em Palmares após a derrota dos índios do Ceará e Rio Grande. D. Frei Manuel da Ressurreição se desculpou em carta de 28 de julho de 1690, dizendo que seria uma injustiça para com Jorge Velho permitir que ele lutasse contra os negros do quilombo, mas esperava que os dois chefes se unissem para as duas guerras. Acreditava que os índios seriam derrotados rapidamente, e que então, os dois poderiam acertar a luta contra os negros (BIBLIOTECA NACIONAL, 1929. V.10, p. 398-401).
Em 2 de abril de 1691, Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho em carta ao Capitão-mor da Capitania do Rio Grande, Agostinho Cesar Andrade, informava que Matias Cardoso fundou no Jaguaribe um povoado o qual foi a sua base para extinguir de vez os remanescentes dos índios Janduins, Paiacus e Hicós (TAUNAY, 1955. V. 7, p. 64-65). Em fins de agosto de 1691, o arraial recém fundado sofria uma epidemia de sarampo. Consequentemente, Matias Cardoso se transferiu para a Capitania do Rio Grande, onde pretendia fazer fronteira aos índios. Nessa época, soldados do sertanista começaram a demonstrar impaciência com o atraso do soldo prometido (BIBLIOTECA NACIONAL, 1929. V.10, p.416-421). No seu registro de Carta Patente de Mestre de Campo, Manuel Alves de Morais Navarro deixou as seguintes impressões sobre este período:
(...) E depois de formado o arraial ordenando-lhe o seu Mestre de Campo Matias Cardoso que com trezentos e cinqüenta homens fosse buscar os bárbaros no seu alojamento, o fez com tão boa ordem, que no fim de quatorze dias lhe deu uma madrugada e ganhando-se sem ser sentido todas as sentinelas fez nele grande estrago seguindo os dias cinco se retirou ao arraial com cinqüenta e oito prisioneiros.
(...) e retirando-se o dito Mestre de Campo por causa da peste, e muita necessidade padecia o seu arraial para trinta léguas distante do Ceará Grande com quatrocentos e cinqüenta homens de armas para guarnecer os enfermos: lhe assistiu o dito Sargento-mor ... no decurso de quatro meses com a maior parte dos mantimentos e vendo-se os soldados despidos e sem socorro algum prometendo-se lhes que venceriam o soldo desde o dia que saíssem de São Paulo se se resolveram a deixar a campanha: e o dito Sargento-mor se empenhou, e fardou a todos como foi possível....expedindo o Mestre de Campo Domingos Jorge Velho que assistia na conquista dos Palmares ao Mestre de Campo Matias Cardoso o socorresse por lhe terem fugido os soldados que não eram Paulistas com o dito Sargento-mor Manuel Alves de Morais Navarro, o mandou com duas companhias; de que eram Capitães Miguel de Godoi, e Matias Martins do Prado: ... E chegou o dito Sargento-mor com aquele socorro ao arraial de Palmares, centro e trinta léguas distante... achou o dito Mestre de Campo Domingos Jorge Velho com cinco homens somente por lhe haverem fugido todos os índios.
(BIBLIOTECA NACIONAL, 1942.V.57, p. 84-93)
Conforme as informações de Manuel Alves Navarro, mesmo com problemas Matias Cardoso conseguiu sucessos na guerra e também ajudou o seu conterrâneo matador de negros.
Como reflexo da atuação do paulista Matias Cardoso, em 17 de abril de 1692, os chefes tapuias do Rio Grande e Campo do Assú, em nome do chefe Canindé, aceitaram negociar a paz. Entretanto, o então Governador Geral, Câmara Coutinho recusou-se a pagar o soldo acordado pelo governador anterior, por não constarem da folha e não haver ordem régia sobre esse pagamento (BIBLIOTECA NACIONAL, 1936. V.34, p. 41-43).
Durante os anos de 1692 a 1694, prosseguiram as correspondências de Matias Cardoso com os Governadores referentes aos subsídios para a guerra: munições, armamentos, vestimentas e índios, além do soldo para homens do seu terço.
Em 1694, quando se retirava do Rio Grande devido à impossibilidade de continuar a campanha por falta de recursos, Matias Cardoso e cento e oitenta homens foram atacados pelos índios Janduins, Hicós e outros em terras cearenses. Nesse ataque, os índios o feriram e teriam matado seu filho além de três ou quatro homens (TAUNAY, 1955. V.7, p. 123).
Mesmo desamparado pelo governo que o contratara, a fama do sertanista impunha respeito. Quando passou pela Serra do Ibiapava, em Pernambuco, o chefe indígena Simão Taminhobá recorreu aos jesuítas, prometendo descer para a costa do mar se o livrassem dos paulistas. Matias Cardoso chegou a dizer que não os havia reduzido por causa da intercessão dos padres (LEITE, 1938. p. 40-41).
No registro de Carta do Secretário Bernadino Vieira Travasco, escrita ao Conde de Alvor, datada de 5 de agosto de 1694, temos a seguinte informação:
(...) O Mestre de Campo Matias Cardoso de Almeida está já muito velho, enfermo e incapaz e assim ele como os mais cabos paulistas vendo que em cinco anos de guerra nunca se lhes deu o soldo que se lhes prometeu quando vieram por terra e caminhos de mais de 600 léguas, padecendo muitas fomes e sedes, sem fardas para se cobrirem, nem mantimentos, nem as presas que Sua Majestade, mandou que se restituíssem a sua liberdade, desesperados de a sua mesma fineza não ter prêmio algum, sustentando-se só da esperança de o terem se retiraram todos e ficou a capitania no desamparo em que hoje se acha...( BIBLIOTECA NACIONAL, 1949. V.84, p.123-127)
Assim, cansados de esperar o apoio do governo para continuar a luta contra os índios, os paulistas se retiraram do nordeste, deixando-o a sua própria sorte.
IV – De volta ao Sertão do São Francisco
Matias Cardoso não voltou para São Paulo, instalando-se por definitivo no sertão do rio São Francisco, com vários companheiros de campanha. Dedicou-se, então, à criação de gado vacum e cavalar (PAES LEME, 1953. P. 57-58).
Em 18 de agosto de 1695, o Governador D. João de Lancastro escreveu a Matias Cardoso pedindo que mantivesse a sua gente em ordem para que os moradores da região não tivessem queixas e advertindo para que providenciasse um sacerdote para a sua aldeia e seus índios (BIBLIOTECA NACIONAL, 1937.V. 38, p. 349-350).
Acreditamos que o arraial de Matias Cardoso foi o antigo arraial do Retiro abandonado devido à enchentes. A ruína de um pequeno templo com sistema construtivo parecido com o da igreja de Nossa Senhora da Conceição da cidade de Matias Cardoso localizada próxima ao Rio São Francisco, hoje no distrito de Mocambinho - município de Jaíba - é o que resta desse primeiro arraial da região do São Francisco. Segundo Ângelo Carrara, a igreja era dedicada a Nossa Senhora do Bom Sucesso e teve como pároco o padre Paulino Pestana e Souza.
E o "grande prêmio de que o padre Paulino Pestana e Souza ouvira da boca de Matias Cardoso com muita razão deve ter sido a terra onde mais tarde instalou seu arraial. O testemunho do reverendo se apoia no fato de que ele sabia pelo ver porque no tal tempo estava ele testemunha sendo pároco na igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, sita no rio de São Francisco, no arraial de Matias Cardoso, duzentas léguas de sertão à Cidade da Bahia.
de Brito, descobridor dos sertões da Bahia, rio de São Francisco e rio das Velhas, 11 de agosto de 1724. AHU.
Manuscriots Avulsos de Minas Gerais. cx.5, doc.47.) Citado por CARRARA , Ângelo Alves. Antes das Minas Gerais: conquista e ocupação dos sertões mineiros. VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 23, nº 38: p.574-596, Jul/Dez 2007, p. 589).
A Ruína, que pertenceu ao povoado de Retiro, desaparecido ainda no século XVIII, só foi redescoberta na década de 70 do século XX, através da implantação no local da sede do Projeto Jaíba. Desta forma, os moradores da região chegaram juntamente com o Projeto, vindos das mais diversas localidades. Embora a Ruína seja secular, as relações construídas com a comunidade local se iniciaram nesta época, quando se deu a ocupação de moradias construídas para os colonos recém-chegados na sede de Mocambinho.(CASTRO, Daniela Lorena Fagundes de. Diferentes Trajetórias da Preservação do Patrimônio no Norte de Minas Gerais. Disponível na Internet em http://www.forumpatrimonio.com.br/print.php?articleID=116&modo=1# . Acessado em 12 de fevereiro de 2013).
Instalando-se na margem direita do rio São Francisco, o velho sertanista paulista não se restringiu à parte baiana do sertão. Em 1698, o Governador Geral recebia denúncias de sua presença na área pernambucana, onde Matias Cardoso estava recolhendo os índios que fugiam de São Paulo nos seus currais da margem esquerda.
No “Mapa da maior parte da costa do sertão do Brazil”, extraído do original do padre Cocleo, datado de 1700, aparecem registradas duas fazendas do Mestre de Campo Matias Cardoso, ambas na margem direita do rio São Francisco. A primeira fazenda é localizada antes do rio Mangai e a outra, rio abaixo. Nesse mesmo ano de 1700, um genro e dois cunhados de Borba Gato adquiriram gado no arraial de Matias Cardoso, para levarem às Minas que então viviam um período de grande escassez de alimentos .
Matias Cardoso, após participar dos principais acontecimentos ocorridos na colônia no século XVII e contribuir com a conquista e conhecimento do sertão norte mineiro, saiu de cena como um grande chefe regional, deixando a seu filho, Januário Cardoso,[2] o trabalho de consolidar o domínio do Rio São Francisco.
REFERÊNCIAS
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ARQUIVO NACIONAL. CÓDICE 155, fols.185-194.
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional - Typ. Arch de Hist. Brasileira, 1928 -1936. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=094536
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional – Augusto Porto & C., 1929.
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde. Biblioteca Nacional, 1937
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional – Typ. Baptista de Souza., 1939,1942, 1944.
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1949
CALMON, Pedro . História da Bahia. São Paulo: Melhoramentos. S.d.
CALMON, Pedro. História do Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1971.
CASTRO, Daniela Lorena Fagundes de. Diferentes Trajetórias da Preservação do Patrimônio no Norte de Minas Gerais. Disponível na Internet em http://www.forumpatrimonio.com.br/print.php?articleID=116&modo=1# . Acessado em 12 de fevereiro de 2013.
CUNHA MATOS, Raimundo José da. Corografia histórica da Província de Minas Gerais [1837]. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1979/1981, v.1, p.169. v.1, p.180-181.
ELLIS JUNIOR, Alfredo. O Bandeirismo Paulista e o Recuo do Meridiano. São Paulo: Typ. Piratininga, s.d.
FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil. Século XVI-XVII-XVIII. São Paulo: Indústria Gráfica Siqueira S/A. 1953.
FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Bandeiras e Bandeirantes de São Paulo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940. Vol. 181.
LEITE, Serafim S. I. História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938.
PAES LEME, Pedro Taques de Almeida- Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1953. Tomo II. 173p.
TAUNAY, A. A Grande Vida de Fernão Dias Paes. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1955. Vol. 6 e 7. 308p. (Documentos Brasileiros, 83).
TAUNAY, Affonso. História Geral das Bandeiras Paulistas. São Paulo: Typ. Ideal H.L. Centar, 1929.
TAUNAY, A. Relatos Sertanistas. São Paulo: Martins editora, 1954.
VANHAGEN, Francisco Adolpho. História Geral do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, s/d. 3v.
VASCONCELOS, Diogo de. História da Civilização Mineira. Belo Horizonte: Apollo, 1935.
VASCONCELOS, História Antiga de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974. 2v.
VASCONCELOS, Diogo de História Média de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.
PALAVRAS-CHAVE: Matias Cardoso, capela de Mocambinho, sertão, ocupação, rio São Francisco
I – O Sertão das Esmeraldas
O território atualmente compreendido pelo Estado de Minas Gerais, desde a segunda metade do século XVI, vinha sendo trilhado por grupos de aventureiros litorâneos em busca das riquezas anunciadas pelos índios.
O processo de exploração territorial foi iniciado a partir do nordeste da colônia, especificamente, nos territórios baianos, e permitiu o reconhecimento de boa parte do norte mineiro sem, contudo, se traduzir em ocupação efetiva da região.
A ocupação se deu de fato, de forma lenta, sendo os índios conduzidos para o interior a partir do avanço aleatório das boiadas que subiam o Rio São Francisco e seus afluentes. A conquista do interior traduziu-se em um deslocamento não só de indígenas em fuga dos colonizadores gananciosos, como também de seguimentos menos favorecidos na busca de terras livres da tutela da metrópole.
Destacaram-se dentre as expedições que visitaram os Sertões:
- a de Francisco Bruza Espinosa (1554) que se embrenhou pelo sertão com doze brancos, incluindo entre eles o Padre Jesuíta João de Aspilcueta Navarro, de quem temos as informações sobre essa expedição. Segundo o padre, o grupo sertanista entrou naquele território à procura de pedras preciosas e de ouro. Partiu de Porto Seguro, dirigindo-se para o Jequitinhonha, de onde seguiu rumo do noroeste para a Serra Geral, atual Grão Mogol, chegando finalmente às margens do rio São Francisco onde assentaram uma aldeia “junto da qual passa um rio por nome Monail” (VASCONCELOS,História Antiga de Minas Gerais. 1974. p. 51 - 55).
- a expedição de Sebastião Fernandes Tourinho (1573) partiu em canoas de Porto Seguro alcançando o rio Doce, de onde retornou com notícias da existência de pedras verdes. Tais descobertas iniciaram a lenda das esmeraldas que, durante décadas, ocupou o imaginário dos sertanistas ( CALMON, 1971.V.I, p.313).
- a de Antônio Dias Adorno (1574), contando com cento e cinquenta portugueses e quatrocentos índios, subiu pelo rio Caravelas descobrindo amostras de pedras verdes que mandou analisar em Portugal, as quais não interessaram à Coroa. Parte dessa expedição regressou pelo rio Jequitinhonha, sendo que um grupo chegou a Jequiriça (CALMON, 1971.V.I, p.313-314).
- a expedição de Marcos de Azevedo, no século XVII, seguiu o itinerário de Fernandes Tourinho. Partiu do Espírito Santo, chegando ao rio Doce e a Barra do Suassuí. Depois de atravessar uma lagoa, penetrou finalmente na região das esmeraldas de onde retirou as pedras que enviou ao Rei de Portugal (VASCONCELOS, História Antiga de Minas Gerais .1974. p. 66-67).
- a expedição de Fernão Dias Paes foi, sem dúvida, a mais importante. Entusiasmado com as informações sobre os sertões das esmeraldas, o velho sertanista paulista organizou uma bandeira com o intuito de descobrir as riquezas do sertão de Sabarabuçu. Para esse fim, recebeu do Governo Geral a patente de Governador das Esmeraldas em 30 de outubro de 1672. Contou com a participação de vários familiares, entre eles o filho Garcia Paes e o genro Borba Gato, além da presença do experiente sertanista Matias Cardoso de Almeida, um dos mais importantes de sua geração.
A bandeira partiu de São Paulo em 21 de julho de 1674 e por sete anos Fernão Dias percorreu os sertões, estabelecendo postos e plantando roças em diversos pontos, descobrindo, finalmente, as pedras que julgou serem as esmeraldas. Com esta certeza, morreu de peste como grande parte de seus índios, às margens do rio das Velhas, quando se recolhia para o Sumidouro, atualmente, no município de Pedro Leopoldo (FRANCO, 1940. V. 181, CAP.12-13).
II – A Bandeira de Fernão Dias
As bandeiras paulistas possuíam esse velho costume de percorrer os sertões à procura de índios para escravizar e vender. Consequentemente, quando se organizou a expedição de Fernão Dias, as terras a serem visitadas não eram tão desconhecidas. Matias Cardoso de Almeida, sertanista paulista que, segundo Carvalho Franco, desde 1664 conhecia os caminhos que levavam ao norte, foi nomeado em 13 de março de 1673, como Capitão-mor da bandeira de Fernão Dias. A indicação feita pelo próprio Fernão Dias justificava-se por ele ser grande conhecedor daqueles sertões e de seus habitantes, com quem já havia se confrontado (PAES LEME, 1953.T. 2. P.198-199)..
Com seus cento e vinte índios mais munições e armas, o Capitão-mor Matias Cardoso partiu antes do chefe, levando sementes e criações para o interior, onde iria montar as roças para suprir as necessidades da bandeira. Fernão Dias saiu de São Paulo com quarenta homens brancos no dia 21 de julho de 1674, indo ao encontro da tropa de Matias Cardoso. (TAUNAY, 1930. V. 6, p. 87).
A participação de Matias Cardoso nesta bandeira durou seis anos. Segundo informações do Governador Arcebispo D. Frei Manuel da Ressurreição, teria sido dispensado por motivo de doença. conforme o que se vê em documentode Carta Patente:
e depois de assistir seis anos com o dito governador, se retirou com
licença sua a livrar a vida do perigo em que se achava gravemente enfermo em
parte tão remota, deixando-lhe quinze escravos seus por serem naturais do mesmo
serro e importantes ao descobrimento das esmeraldas”(Patente de mestre de campo
e governador absoluto da guerra dos bárbaros passada ao tenente-general Mathias
Cardoso de Almeida. Anais do Arquivo Público e do Museu do Estado da Bahia,
Salvador, 1919, ano III. V.45,p.145,147; Documentos Históricos. Biblioteca
Nacional, 1935, v. XXX, p.7 a 10, apud: FAGUNDES, Giselle e MARTINS, Nahilson. Op.cit.,p.60).
Mas o motivo mais provável, no entanto, seria a ambição imediatista do sertanista que resolveu desobedecer a ordem que proibia escravizar índios, imposta por Fernão Dias como forma de evitar o desvio do objetivo da bandeira ( BIBLIOTECA NACIONAL. 1935. V.30, p. 7-12).
Na verdade Matias Cardoso abandonou a expedição antes do encontro das pedras verdes. Segundo certidão de 21 de outubro de 1681, assinada por Domingos Rdrigues do Prado e João Gago da Cunha:
Deixaram-no os homês da sua tropa principalmente o capitan Mathias Cardoso de Almeida em quem mais confiava o quoal com entresse de conquistar bárbaro, para seu serviço particular se apartou com outros de sua fausão como com efeito conduziu depois por duas vezes cantidade de gentio bárbaro para sua caza e serviço por conhecer do dito governador atalhava seus desígnios pro serem prejudisiaes aos descobrimentos a que andava. (TAUNAY, 1955,P.247,248)
Matias Cardoso por duas vezes regressou a São Paulo com índios cativos, abandonando Fernão Dias no Sertão. O velho bandeirante, amparado por parentes e por índios, persistiu na busca de esmeraldas. (TAUNAY, 1955. n.º83, cap. 21. p. 247-248).
A expedição percorreu grande parte do território mineiro, culminando com o encontro de pedras que pensaram serem esmeraldas.
(...) para cujo efeito fabricou, três feitorias naquele sertão mui abundantes de mantimentos, e as deixou conservadas por sua morte com assistência de índios próprios, e de um homem branco de confiança, a quem recomendou o cuidado das esmeraldas, com que facilitaram aqueles desertos para os exames da prata cujo descobrimento se procura, ... (RAPM, Ano XX,1924,p.164,165).
Em 20 de junho de 1680, Matias Cardoso foi um dos consultados pela Junta realizada em São Paulo, onde se decidiu a plantação de roças para a entrada do Administrador das Minas, D. Rodrigo Castelo Branco.
Castelo Branco fora designado para averiguar as Minas da Serra do Sabarabuçu e pretendia encontrar-se com a bandeira de Fernão Dias, e buscou apoio dos sertanistas paulistas para a sua expedição (VARNHAGEN, 1936. T. 6, p. 148).
Na reunião realizada na Casa do Conselho no dia 2 de julho de 1680, em que Matias Cardoso se encontrava presente, D. Rodrigo propôs a entrada para fevereiro do ano seguinte. Todos concordaram que antes deveriam plantar roças no caminho.
No dia seguinte, 3 de julho, sabendo por Matias Cardoso que suas plantações do sertão estavam destruídas, D. Rodrigo resolveu adiar a partida.
Matias Cardoso foi nomeado Tenente-General da Leva de Sabarabuçu em 28 de janeiro de 1681. Outra vez arcou com as despesas para a sua equipe.
Nesse ínterim, o mineiro da expedição, João Álvares Coutinho, peça importante para o sucesso da empreitada de D. Rodrigo, recusou-se a partir, alegando como motivos os seus sessenta e sete anos, doença e falta de dentes. Matias Cardoso, em 16 de março de 1681, perante a Câmara reunida, reclamou da demora da partida e decidiu que conduziria o mineiro Álvares Coutinho em rede e o sustentaria com alimentos que a sua velhice e doenças necessitavam.
A partida da expedição ocorreu segundo Basílio Magalhães, em 19 de março de 1681, compondo-se de sessenta índios para o serviço de D. Rodrigo, sessenta da administração de Matias Cardoso para a condução de João Álvares Coutinho e mais cento e vinte para o trabalho nas Minas (PAES LEME, 1953. p. 198-201). Também participaram desta expedição, Jerônimo Camargo, Antônio de Siqueira de Mendonça, Pedro da Rocha Pimentel, Manoel Cardoso de Almeida, João Dias Mendes, André Furtado, Estevão de Sanches Pontes e outros paulistas. (LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Op. Cit., tomo II, p. 53 e 58).
Em 27 de março de 1681, Fernão Dias escreveu do sertão dando informações sobre a sua expedição: “deixo abertas cavas das esmeraldas no mesmo morro donde as levou Marcos Azevedo, já defunto, cousa que há de estimar-se em Portugal.”(FRANCO, 1940, p.143)
Do arraial de São Pedro do Paraopeba, onde se encontrava em 4 de junho de 1681, D. Rodrigo escreveu à Fernão Dias felicitando-o por seus serviços no descobrimento das esmeraldas. Pouco tempo depois, chegou a notícia de que o velho sertanista havia falecido. Ainda no mês de junho, neste mesmo arraial, ocorreu o encontro de Garcia Rodrigues Paes e D. Rodrigo, sendo lavrado e assinado por eles e por Matias Cardoso o termo de entrega das pedras descobertas. No mês seguinte, D. Rodrigo encaminhou à Câmara de São Paulo as esmeraldas para serem enviadas ao Sindicante João da Rocha Pitta na cidade do Rio de Janeiro.
Em setembro de 1681, o padre João Leite, irmão de Fernão Dias, protestou na Câmara de São Paulo contra D. Rodrigo, alegando que este pretendia usurpar as minas descobertas por seu irmão. Citou como prova, uma carta de Matias Cardoso enviada ao irmão Salvador Cardoso, em que o sertanista dizia que os gastos da jornada seriam cobertos com as esmeraldas ( ELLIS Junior, 1934. p. 301-302).
No sertão, já no arraial do Sumidouro, os atritos entre o grupo de D. Rodrigo Castelo Branco e os remanescentes da bandeira de Fernão Dias, liderados por Manuel de Borba Gato têm como consequência o assassinato de D. Rodrigo em uma emboscada no dia 28 de agosto de 1682 (FRANCO, 1940. p. 167).
Segundo suposto manuscrito encontrado dentro de uma garrafa em uma gruta de da Serra da Piedade, D. Rodrigo teria sido assassinado por Martinhos Dias, um membro da bandeira de Borba Gato. Tal fato não está comprovado. (Disponível na Internet em: http://www.defender.org.br/garrafa-encontrada-em-gruta-de-minas-traz-misterio-sobre-morte-de-fidalgo/. Acessado em 14 de fevereiro de 2013).
Francisco de A. Carvalho Franco, informa que, após a morte do Administrador D. Rodrigo, Matias Cardoso e outros de sua comitiva fugiram para Salvador, varando o Sertão, onde se apresentaram ao Governador Geral Antônio de Sousa e Meneses. Pedro Taques, no entanto, afirma que o sertanista retornou a São Paulo em 1682 (PAES LEME, 1953. p. 54).
III - A Guerra no Nordeste
O sertão do rio São Francisco, ocupado inicialmente por hordas indígenas do litoral, que fugiam dos avanços da civilização e por bando de marginais, incorporou-se pouco a pouco ao sistema colonial. A expansão da pecuária ao longo do rio São Francisco propiciada pela grande mobilidade do gado em sua busca por pastagens e salinas se chocou contra os interesses daquela população de índios e bandoleiros, culminando em conflitos sangrentos que chegaram a ameaçar a soberania portuguesa na região. Nessa luta se destacaram os senhores de terra, Dias D’Ávila da Casa da Torre e Antônio Guedes de Brito da Casa da Ponte, proprietários de grandes extensões de terras concedidas pelo governo e conquistadas aos índios, respectivamente nas margens esquerda e direita do rio São Francisco. Antônio Guedes de Brito se destaca pelos sucessos conseguidos na pacificação dos sertões baianos e do alto São Francisco, que lhe valeram a concessão das cento e sessenta léguas de terras que iam do Morro do Chapéu até o rio das Velhas (VASCONCELOS, História Média de Minas Gerais.1974. p. 21-22).
Entretanto, a solução mais feliz encontrada pelos Governadores Gerais, nesta conquista do interior, foi buscar guerreiros adequados, em pé de igualdade no conhecimento e na lida do sertão. A partir da segunda metade do século XVII, as levas de paulistas ávidos por presas e terras lutaram no nordeste da colônia contra índios, negros e bandoleiros, abrindo caminho aos grandes senhores e suas criações, contribuindo para a integração de todo este sertão, aos domínios portugueses (VASCONCELOS, História Média de Minas Gerais. 1974. p. 15-17).
Em 12 de maio de 1684, Matias Cardoso foi convocado pelo Governador Geral Antônio de Souza e Menezes para lutar contra os índios que atacavam a Bahia, recebendo a patente de Governador e Administrador dos Índios.
Porquanto sendo tam repetidas, e dannozas à conservaçam deste Estado, as hostilidades, mortes roubos, de amparo de fazendas, e destruiçam de famílias, e escravos que os Barbaros costumao fazer nos Reconcavos desta cidade, e Villas circunvizinhas, e estam padescendo há tantos annos sem se poderem reprimir, pro cuja cauza o Senado da Camara em nome de todo esse Povo me propz que para se evitar este dano assim para maior segurança do Estado, paz com o Gentio, e bem espiritual delle, como para defença desta praça se provesse a Mathias Cardoso de Almeyda, de Governador e Administrador de todas as Aldeas das naçoens que reduzir e cituar desde a Capitania de Porto Seguro athé o Ryo de S. Francisco, para elle e seus dezcendentes, concedendo-se-lhes o regimento dos administradores das Indias que este Governo tem dado com a jurisdiçam conveniente por concorrerem neste todas as partes e qualidades que o fazem benemérito: Tendo eu respeito a tudo e as grandes experiências que o dito Mathias Cardoso tem daquelles certoens e perito na Língua para os persuadir,(...)
(ANAIS DO MUSEU, 1927. T.3, p.305-307)
A próxima menção a Matias Cardoso de Almeida aconteceu anos depois, em uma carta do Governador Geral, Mathias da Cunha, datada de 1º de março de 1688. Nesse documento o Governador Geral exigia uma contribuição de trezentos mil réis à Câmara da Bahia para as primeiras despesas de guerra contra os “bárbaros” do Rio Grande e Ceará. Um terço desse dinheiro se destinava a Matias Cardoso e a seu lugar tenente Marcelino Coelho, os quais já recebiam instruções para marchar do rio São Francisco com trezentos soldados entre brancos e índios. As armas, munições e o mais necessário, além dos cem mil reis, estavam sendo enviados a Matias Cardoso que já se encontrava na região do São Francisco nesta época (TAUNAY, 1955. V.6. cap. 38, p.320-322),
Em uma carta de 10 de março de 1688, dirigida aos oficiais da Câmara de São Paulo, o Governador Geral informou as dimensões dos ataques dos índios à Capitania do Rio Grande:
Acha-se a Capitania do Rio Grande tão opprimida dos Barbaros (que nella mataram o anno passado mais de cem pessoas entre brancos e escravos, destruindo mais de 30.000 cabeças de gado; e neste, 30 homens além de muitos feridos, ao Coronel Antonio de Albuquerque da Camara na entrada que lhe fez com trezentos, pelejando todo dia com mais três mil arcos; por cujos temor estão os mo(a)dores quase abalados a despejar a capitania), que correm ao serviço de Sua Majestade se lhe acuda por todos os meios possíveis. Para esse effeito fiz conselho, e se assentou nelle, que se declarem por captivos todos os bárbaros prisioneiros, por ser justíssima a guerra na forma da provisão de sua Majestade (...) (BIBLIOTECA NACIONAL, 1929. V.11, p.139-140).
Em outra carta de 10 de março de 1688 o Governador Geral informava sobre os procedimentos para a atuação de Matias Cardoso na Guerra aos "Barbaros"que teria total independência dos outros chefes que lutavam contra os índios:
E com a mesma independência dele marchem do Rio de São
Francisco pelo Sertão o Governador das Armas Mathias Cardoso Paulista com
trezentos soldados brancos e índios, a quem daqui mando armas, e munições, e o
mais necessário, e cem mil reis de ajuda de custo; (BIBLIOTECA NACIONAL.DOCUMENTOS HISTÓRICOS. 1929. v. 10, p.
265).
A gravidade da situação das capitanias do Rio Grande e do Ceará em função dos ataques indígenas justificou até mesmo o desvio para essa guerra, dos paulistas de Domingos Jorge Velho, convocados para lutar contra o quilombo dos Palmares. Matias Cardoso se resolvesse lutar nesta guerra, teria total independência de ação, à semelhança de outros chefes da Campanha: Manuel de Abreu, Coronel Antônio de Albuquerque, Domingos Jorge Velho e André Pinto.
Quando da morte do Governador Geral Mathias da Cunha, em 24 de outubro de 1688 e de sua substituição pelo Arcebispo D. Fr. Manuel da Ressurreição, Matias Cardoso ainda se encontrava no rio São Francisco. O novo Governador, por meio de várias cartas enviadas a São Paulo, retomou as negociações para o envio de forças paulistas.
Em 9 de dezembro de 1688, escreveu a Matias Cardoso:
Procurando por Vossa Mercê para lhe encarregar (como o Sr. Mathias da Cunha, Governador e Capitão Geral que foi deste Estado, em cujo o logar succedi, determinava) o soccorro que com a sua gente havia de fazer à guerra dos bárbaros do Rio Grande; suppondo estar Vossa Mercê no Rio São Francisco; me disse o Mestre de Campo Antônio Guedes de Britto, que já as ordens que eu mandasse a Vossa Mercê o não haviam de achar na povoação do dito Rio, por ter noticia que era Vossa Mercê partido para essa Capitania a buscar mais farinhas para a dita povoação. A informação que o dito Mestre de Campo e o Provedor-mor Francisco Lamberto me deram do valor, e procedimento de Vossa Mercê me obriga a buscal-o, donde entendo que pode ter melhor effeito o fim para o que o procurava no Rio São Francisco: porque como me resolvi a escrever ao Capitão-mor dessa Capitania e à Camara da Villa de São Paulo, persuadissem os sujeitos de maior importância que costumam penetrar os sertões para cativar índios, queiram vir a conquistal-os naquela Campanha, em cuja guerra se tem declarado por escravos e fazer da mesma conveniência merecimento para as honras, e mercês que devem esperar Del –Rei meu Sr. Em um serviço tão relevante, (...) é certo que se Vossa Mercê se acha dessa banda, nenhuma pessoa elegerão os officiaes da Camara para governar a gente que vier mais brevemente que a Vossa Mercê...( BIBLIOTECA NACIONAL, 1929. V. 11. P.146-149)
Foi a primeira vez que houve referência ao arraial de Matias Cardoso na região do rio São Francisco e sugere uma existência recente do agrupamento, pois ainda recorria a São Paulo para buscar farinha. Essa mesma impressão nos deixa as informações de Maciel Parente, na Representação datada de 1696. Segundo Parente, Matias Cardoso, em 1688, dirigiu-se a São Paulo a fim de conduzir sua família às fazendas de sua propriedade no rio São Francisco (TAUNAY, 1955. V.7. Cap. 18. p. 125-126).
O Historiador Ângelo Alves Carrara em seu texto "Antes das Minas Gerais: conquista e ocupação dos sertões mineiros", informa a existência de uma carta de sesmaria de 1690 concedendo terras na região a Matias Cardoso:
Como tenente-general, Matias Cardoso de Almeida, junto com outros concessionários, aparece numa carta sesmaria datada de 2 de março de 1690, e na qual a cada peticionário concedia quatro léguas em quadra nos sertões do rio Pardo e Doce. A vastidão – talvez melhor fosse dizer indefinição – desse território permitia que cada um dos sesmeiros escolhesse livremente o lugar que mais lhe agradasse. Por esse motivo, só podemos saber o lugar exato onde cada um se fixou em razão de documentos posteriores. (CARRARA, Angelo Alves, Antes das Minas Gerais: conquista e ocupação dos sertões mineiros. Disponível na Internet http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752007000200019 acessado em 11 de fevereiro de 2013.)
Receberam sesmaria neste mesmo ano: Domingos Soares de Albuquerque, Mateus Furtado, João Cardoso de Almeida, José de Albuquerque, Matias de Albuquerque, Vigário Antônio Furtado, Domingos de Figueiredo Calheiros, Manoel de Aguiar de Corte, Pedro Andrade Pereira, Francisco Martins pereira, Custódio Barbacena Villas Boas, Francisco Pires de Carvalho, Domingos Escórcio, João de Almeida, Salvador Cardoso, Capitão Manuel Soares Ferreira, Francisco Teixeira Cabral, Francisco Muniz Pereira, Francisco de Lima Pinto e o Sargento-mor Francisco Pires de Carvalho. (Alvará de 02 de março de 1690. FREIRE, Felisberto. História Territorial do Brasil. Salvador, Instituto Geográfico da Bahia, 1998, p. 51 e 111).
A insistência do Governador Arcebispo acabou por convencer a Câmara de São Paulo a se empenhar na ajuda àquele sertão nordestino. Em 1º de maio de 1689, o Sargento-mor de Matias Cardoso, Manuel Alves de Morais Navarro partiu para a Bahia em companhia de seus quinze índios. (BIBLIOTECA NACIONAL, 1942. V.57. p. 84-93).Por terra, partiu João Maciel Parente em 18 de junho de 1689, com o terço de que fora incumbido de formar por Matias Cardoso. Este último sertanista, por sua vez, já partira com a família algum tempo antes e o aguardava no rio São Francisco.(TAUNAY,1955. V.7. p.125,126).
Em agosto de 1689, o Sargento-mor, Morais Navarro, já havia chegado à Bahia com vinte três soldados entre índios e brancos, e recebeu ordens do Arcebispo Governador para se incorporar à Matias Cardoso no rio São Francisco. Matias Cardoso, porém, o mandou de volta à Bahia com cartas para ajustes das “coisas necessárias” à guerra. Ao retornar para junto do terço, o Sargento-mor trouxe consigo em torno de cinquenta a duzentos índios recolhidos de várias aldeias.
Em carta de 27 de agosto de 1689 dirigida ao Capitão-mor
Agostinho Cesar de Andrada o Governador geral informava a chegada dos paulistas
de Matias Cardoso:
Aqui têm chegado, e vêm chegando varias tropas de Paulistas
em numero considerável, e por seu Cabo maior Mathias Cardoso de Almeida, bem
conhecido neste Estado por seu valor, e experiência, em virtude de um aviso que
lhe mandou o Sr. Mathias da Cunha e eu ratifiquei logo que entrei a governar:
inda não tenho resoluto como este grosso de gente, e seu Cabo hão de entrar
nesta guerra, mas brevemente o resolverei. (BIBLIOTECA NACIONAL.DOCUMENTOS HISTÓRICOS. 1929. v. 10, p.370).
Mesmo estando Matias Cardoso a caminho dos sertões da Bahia, as negociações para a guerra ainda não estavam acertadas. Além de Matias Cardoso, havia outro interessado na campanha: o paulista Manuel de Camargo, que assim como Matias Cardoso, enviou carta com condições para se fazer a guerra.
O Arcebispo Governador considerou as propostas dos dois sertanistas muito parecidas, mas acabou por se decidir por Matias Cardoso, deixando claro, no entanto, que não podia conceder-lhe mais do que havia concedido a Domingos Jorge Velho.(BIBLIOTECA NACIONAL,1929.V.11, p.155 A 160).
No dia 4 de março de 1690, o Arcebispo Governador querendo dar nova forma à guerra contra os bárbaros, antes encarregada a vários chefes independentes, decidiu por reformar o Mestre de Campo Antônio de Albuquerque da Câmara, o Capitão-mor Manuel de Abreu Soares e todos os postos criados, enviando a infantaria paga de Henrique Dias aos seus presídios. Ao sertanista Matias Cardoso, coube o comando da guerra que se faria a partir de então. Dos que lutavam na guerra só foi mantido o regimento do Mestre de Campo Domingos Jorge Velho, que livre da jurisdição de Matias Cardoso poderia resolver com este a participação na luta contra os índios e contra o quilombo dos Palmares.
Em Carta
datada de 9 de março de 1690, para o Sr.
Almotacé-mor do Reino e Governador de Pernambuco, o Arcebispo Governador informa que o intento de Matias
Cardoso era de terminar a guerra e extinguir os índios o mais rápido possível
e que ele havia trazido sua família para o Rio São Francisco, “donde pretendia
fundar uma Villa, e tem já bastante povoação":
(...) porque o seu intento é
consumal-a, e extinguir os Barbaros quanto antes ser possa assim pelo interesse
da presa, e da gloria (maior na diferença de tudo o que até hoje têm operado as
armas de Sua Magestade reduzidas aos Arraiaes em que as acha) como por haver
trazido sua casa com muitas famílias, para o Rio de São Francisco, donde
pretende fundar uma Villa, e tem já bastante povoação. Elle vae a merecer, e a
adquirir. E tudo são estímulos mui veementes para o trazerem mais brevemente a
sua casa, com a, e utilidade que a todo o perigo há de procurar conseguir.
Além do que conhece que não tem
Domingos Jorge Velho pode de brancos, e Indios, suficiente á empresa dos
Palmares, e entende que necessariamente
se há de ajustar com ele o mesmo Domingos Jorge para com umas, e outras
forças unidas os invadirem, e segurarem por este modo a importantíssima presa,
e o grande serviço que ambos ficarão fazendo a SuMagestade em tão universal
beneficio dessas Capitanias (BIBLIOTECA NACIONAL,1929,v. 10, p.388 a 393).
(...)
Em outro trecho da mesma carta o Arcebispo Governador informava que Matias Cardoso partiria do Rio São Francisco
em dois meses, ou seja, em maio de 1690:
Mathias Cardoso partirá dentro em
dous mezes. Enquanto não chegar se devem conservar os Arraiaes no mesmo estado
em que se acham os Mestres de Campo Domingos Jorge, antonio de Albuquerque, e o
Capitão-mor Manuel de Albuquerque Soares. (BIBLIOTECA NACIONAL,1929,v. 10, p.388 a 393).
Em outra carta, de 10 de março de 1690, destinada ao Capitão-mor do Rio Grande Agostinho Cesar de Andrada o Arecebispo Governador falava sobre a reformação dos outros comandantes da Guerra aos Bárbaros e ressaltava as qualidades de Matias Cardoso e seus subordinados:
A forma que me pareceu dar á nova
que se há de fazer aos Barbaros dessa capitania foi encarregal-a a um único sujeito
a cuja disposição absoluta, e independência esteja o acerto de continuar, e
dar-lhe o desajado fim. O merecimento valor e mais qualidades que concorrem na
pessoa de Mathias Cardoso de Almeida que ora se acha no Rio de são Francisco
com as tropas de Paulistas e Indios armados costumados a penetrar sertões, e a
se sustentarem sem mais concurso de mantimentos que o que acham nos seus arcos,
e nas suas espingardas, e o animo com que se dispõem a esta empresa, me moveu a
mandar-lhe patente de Mestre de Campo, e Governador da Guerra que há de fazer
por novo estylo a esses babaros: e a reformar para esse efeito o Mestre de
Campo Antonio de Abreu Soares, e todos os postos que a principio se crearam, e
a mandar retirar para os seus presídios e casas toda a infanteria paga
miliciana e preta do Terço de Hemrique Dias, excep(tua) dos todos os índios do
Camarão, e os mais das Aldeias dessas Capitanias, que ordeno o acompanhem, e as
mais pessoas brancas, mamlucos, e pardos que voluntariamente o quiserem seguir,
ficando somente em pé o Regimento do Mestre de Campo Domingos Jorge Velho com
todos seus officiaes, e gente que comsigo trouxe de São Paulo, quando foi
chamado para a guerra dos Palmares; a qual poderá empreender como insento da
jurisdição de Mathias Cardoso, se entre ambos se não ajustarem em algum meio
reciproco na coveniencia de um e outro intento.
(...) (BIBLIOTECA NACIONAL, 1929,v.10,p. 382 A 384)Em 6 de abril de 1690, foi passada a Carta Patente do posto de Mestre de Campo e Governador absoluto da guerra dos bárbaros do Rio Grande, em nome de Matias Cardoso (BIBLIOTECA NACIONAL, 1935. V.30, p. 7-12).
Morais Navarro recebeu a patente de Sargento-mor do regimento de Matias Cardoso, em 8 de abril de 1690, e João Amaro Maciel recebeu a patente de Capitão-mor das companhias de tropas em 10 de abril daquele ano. Datam do mesmo período, as quatro patentes de capitão de infantaria providas às pessoas de Miguel de Godoi de Vasconcellos, João Pires de Brito, João de Godoi Moreira e Luís Soares Ferreira (BIBLIOTECA NACIONAL, 1935. V. 30, P.12-29).
Posteriormente, Matias Cardoso conseguiu convencer ao Arcebispo da necessidade de se criar mais três companhias de infantaria, sendo nomeados como capitães, em 21 de julho de 1690, Diogo Rodrigues da Silva, João Freire Farto, Amaro Homem de Almeida e Matheus de Prado, substituto de Luís Soares Ferreira que retornou a São Paulo. Ainda foram concedidos os postos de Ajudante de Sargento Maior ao Alferes manuel da Motta Coutinho e os postos de Alferes de Infantaria a Antônio Fernandes da Silva e Bartholomeu do Prado (BIBLIOTECA NACIONAL, 1935. V. 30, P.95 a113).
Nesse início de campanha, Matias Cardoso estava tão confiante que propôs ao Arcebispo Governador lutar em Palmares após a derrota dos índios do Ceará e Rio Grande. D. Frei Manuel da Ressurreição se desculpou em carta de 28 de julho de 1690, dizendo que seria uma injustiça para com Jorge Velho permitir que ele lutasse contra os negros do quilombo, mas esperava que os dois chefes se unissem para as duas guerras. Acreditava que os índios seriam derrotados rapidamente, e que então, os dois poderiam acertar a luta contra os negros (BIBLIOTECA NACIONAL, 1929. V.10, p. 398-401).
Em 2 de abril de 1691, Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho em carta ao Capitão-mor da Capitania do Rio Grande, Agostinho Cesar Andrade, informava que Matias Cardoso fundou no Jaguaribe um povoado o qual foi a sua base para extinguir de vez os remanescentes dos índios Janduins, Paiacus e Hicós (TAUNAY, 1955. V. 7, p. 64-65). Em fins de agosto de 1691, o arraial recém fundado sofria uma epidemia de sarampo. Consequentemente, Matias Cardoso se transferiu para a Capitania do Rio Grande, onde pretendia fazer fronteira aos índios. Nessa época, soldados do sertanista começaram a demonstrar impaciência com o atraso do soldo prometido (BIBLIOTECA NACIONAL, 1929. V.10, p.416-421). No seu registro de Carta Patente de Mestre de Campo, Manuel Alves de Morais Navarro deixou as seguintes impressões sobre este período:
(...) E depois de formado o arraial ordenando-lhe o seu Mestre de Campo Matias Cardoso que com trezentos e cinqüenta homens fosse buscar os bárbaros no seu alojamento, o fez com tão boa ordem, que no fim de quatorze dias lhe deu uma madrugada e ganhando-se sem ser sentido todas as sentinelas fez nele grande estrago seguindo os dias cinco se retirou ao arraial com cinqüenta e oito prisioneiros.
(...) e retirando-se o dito Mestre de Campo por causa da peste, e muita necessidade padecia o seu arraial para trinta léguas distante do Ceará Grande com quatrocentos e cinqüenta homens de armas para guarnecer os enfermos: lhe assistiu o dito Sargento-mor ... no decurso de quatro meses com a maior parte dos mantimentos e vendo-se os soldados despidos e sem socorro algum prometendo-se lhes que venceriam o soldo desde o dia que saíssem de São Paulo se se resolveram a deixar a campanha: e o dito Sargento-mor se empenhou, e fardou a todos como foi possível....expedindo o Mestre de Campo Domingos Jorge Velho que assistia na conquista dos Palmares ao Mestre de Campo Matias Cardoso o socorresse por lhe terem fugido os soldados que não eram Paulistas com o dito Sargento-mor Manuel Alves de Morais Navarro, o mandou com duas companhias; de que eram Capitães Miguel de Godoi, e Matias Martins do Prado: ... E chegou o dito Sargento-mor com aquele socorro ao arraial de Palmares, centro e trinta léguas distante... achou o dito Mestre de Campo Domingos Jorge Velho com cinco homens somente por lhe haverem fugido todos os índios.
(BIBLIOTECA NACIONAL, 1942.V.57, p. 84-93)
Conforme as informações de Manuel Alves Navarro, mesmo com problemas Matias Cardoso conseguiu sucessos na guerra e também ajudou o seu conterrâneo matador de negros.
Como reflexo da atuação do paulista Matias Cardoso, em 17 de abril de 1692, os chefes tapuias do Rio Grande e Campo do Assú, em nome do chefe Canindé, aceitaram negociar a paz. Entretanto, o então Governador Geral, Câmara Coutinho recusou-se a pagar o soldo acordado pelo governador anterior, por não constarem da folha e não haver ordem régia sobre esse pagamento (BIBLIOTECA NACIONAL, 1936. V.34, p. 41-43).
Durante os anos de 1692 a 1694, prosseguiram as correspondências de Matias Cardoso com os Governadores referentes aos subsídios para a guerra: munições, armamentos, vestimentas e índios, além do soldo para homens do seu terço.
Em 1694, quando se retirava do Rio Grande devido à impossibilidade de continuar a campanha por falta de recursos, Matias Cardoso e cento e oitenta homens foram atacados pelos índios Janduins, Hicós e outros em terras cearenses. Nesse ataque, os índios o feriram e teriam matado seu filho além de três ou quatro homens (TAUNAY, 1955. V.7, p. 123).
Mesmo desamparado pelo governo que o contratara, a fama do sertanista impunha respeito. Quando passou pela Serra do Ibiapava, em Pernambuco, o chefe indígena Simão Taminhobá recorreu aos jesuítas, prometendo descer para a costa do mar se o livrassem dos paulistas. Matias Cardoso chegou a dizer que não os havia reduzido por causa da intercessão dos padres (LEITE, 1938. p. 40-41).
No registro de Carta do Secretário Bernadino Vieira Travasco, escrita ao Conde de Alvor, datada de 5 de agosto de 1694, temos a seguinte informação:
(...) O Mestre de Campo Matias Cardoso de Almeida está já muito velho, enfermo e incapaz e assim ele como os mais cabos paulistas vendo que em cinco anos de guerra nunca se lhes deu o soldo que se lhes prometeu quando vieram por terra e caminhos de mais de 600 léguas, padecendo muitas fomes e sedes, sem fardas para se cobrirem, nem mantimentos, nem as presas que Sua Majestade, mandou que se restituíssem a sua liberdade, desesperados de a sua mesma fineza não ter prêmio algum, sustentando-se só da esperança de o terem se retiraram todos e ficou a capitania no desamparo em que hoje se acha...( BIBLIOTECA NACIONAL, 1949. V.84, p.123-127)
Assim, cansados de esperar o apoio do governo para continuar a luta contra os índios, os paulistas se retiraram do nordeste, deixando-o a sua própria sorte.
IV – De volta ao Sertão do São Francisco
Matias Cardoso não voltou para São Paulo, instalando-se por definitivo no sertão do rio São Francisco, com vários companheiros de campanha. Dedicou-se, então, à criação de gado vacum e cavalar (PAES LEME, 1953. P. 57-58).
Em 18 de agosto de 1695, o Governador D. João de Lancastro escreveu a Matias Cardoso pedindo que mantivesse a sua gente em ordem para que os moradores da região não tivessem queixas e advertindo para que providenciasse um sacerdote para a sua aldeia e seus índios (BIBLIOTECA NACIONAL, 1937.V. 38, p. 349-350).
Acreditamos que o arraial de Matias Cardoso foi o antigo arraial do Retiro abandonado devido à enchentes. A ruína de um pequeno templo com sistema construtivo parecido com o da igreja de Nossa Senhora da Conceição da cidade de Matias Cardoso localizada próxima ao Rio São Francisco, hoje no distrito de Mocambinho - município de Jaíba - é o que resta desse primeiro arraial da região do São Francisco. Segundo Ângelo Carrara, a igreja era dedicada a Nossa Senhora do Bom Sucesso e teve como pároco o padre Paulino Pestana e Souza.
E o "grande prêmio de que o padre Paulino Pestana e Souza ouvira da boca de Matias Cardoso com muita razão deve ter sido a terra onde mais tarde instalou seu arraial. O testemunho do reverendo se apoia no fato de que ele sabia pelo ver porque no tal tempo estava ele testemunha sendo pároco na igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, sita no rio de São Francisco, no arraial de Matias Cardoso, duzentas léguas de sertão à Cidade da Bahia.
(Sumário de Informação. Autos de inquirição de testemunhos
feitos pelo corregedor Luís de Souza Valdez, da
Comarca do Rio das Velhas, sobre Isabel Maria Guedes de Brito,
filha do Mestre-de-campo Antônio Guedesde Brito, descobridor dos sertões da Bahia, rio de São Francisco e rio das Velhas, 11 de agosto de 1724. AHU.
Manuscriots Avulsos de Minas Gerais. cx.5, doc.47.) Citado por CARRARA , Ângelo Alves. Antes das Minas Gerais: conquista e ocupação dos sertões mineiros. VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 23, nº 38: p.574-596, Jul/Dez 2007, p. 589).
A Ruína, que pertenceu ao povoado de Retiro, desaparecido ainda no século XVIII, só foi redescoberta na década de 70 do século XX, através da implantação no local da sede do Projeto Jaíba. Desta forma, os moradores da região chegaram juntamente com o Projeto, vindos das mais diversas localidades. Embora a Ruína seja secular, as relações construídas com a comunidade local se iniciaram nesta época, quando se deu a ocupação de moradias construídas para os colonos recém-chegados na sede de Mocambinho.(CASTRO, Daniela Lorena Fagundes de. Diferentes Trajetórias da Preservação do Patrimônio no Norte de Minas Gerais. Disponível na Internet em http://www.forumpatrimonio.com.br/print.php?articleID=116&modo=1# . Acessado em 12 de fevereiro de 2013).
“O que se sabe com segurança é que a cidade que leva atualmente seu
nome, e que antes conhecida como arraial dos Morrinhos, foi de fato o arraial
do filho de Matias Cardoso, Januário Cardoso de Almeida, cuja igreja monumental
fez construir, e no interior da qual foi sepultado. Cunha Matos assinalava que
o arraial dos Morrinhos fora fundado pelo mestre-de-campo Januário Cardoso de
Almeida, “conquistador e povoador destes sertões antes do ano de 1712. Sua
fundação deveu-se às inundações que obrigaram a que se abandonasse o arraial
velho (ou do Cardoso).A menção ao ano de 1712 está inequivocamente relacionada
à enchente que nesse ano Cunha Matos dizia ter sido muito forte.51 A descrição de Cunha
Matos, porém, confunde o arraial do Meio com o dos Morrinhos: o “arraial
chamado do Meio (...) em que existem três morrinhos que deram nome ao presente arraial." (CARRARA, Ângelo Alves. Antes das Minas Gerais: conquista e ocupação dos sertões mineiros. VARIA HISTÓRIA, Belo Horizonte, VOL.23, N.º 38: JUL/dEZ 2007,p.592).
Instalando-se na margem direita do rio São Francisco, o velho sertanista paulista não se restringiu à parte baiana do sertão. Em 1698, o Governador Geral recebia denúncias de sua presença na área pernambucana, onde Matias Cardoso estava recolhendo os índios que fugiam de São Paulo nos seus currais da margem esquerda.
No “Mapa da maior parte da costa do sertão do Brazil”, extraído do original do padre Cocleo, datado de 1700, aparecem registradas duas fazendas do Mestre de Campo Matias Cardoso, ambas na margem direita do rio São Francisco. A primeira fazenda é localizada antes do rio Mangai e a outra, rio abaixo. Nesse mesmo ano de 1700, um genro e dois cunhados de Borba Gato adquiriram gado no arraial de Matias Cardoso, para levarem às Minas que então viviam um período de grande escassez de alimentos .
Detalhe
do Mapa do Padre Jacobo Cocleo datado presumivelmente de fins do século XVII,
localizando as duas fazendas de Matias Cardoso de Almeida.
Fonte da Imagem: IEPHA/MG.
Em oito (08) de junho de
1701, Inácio da Rocha, quintou em nome do Mestre de Campo Matias Cardoso, 1.300
(mil e trezentas) oitavas de ouro. Nesse mesmo mês, em vinte e sete (27) de
junho, Manoel da Costa, outro subordinado do sertanista, quintou mais duas mil
e cinquenta e cinco (2.055) oitavas de ouro em pó, também em seu nome.
“Aos vinte e sete
dias do mês de junho de mil e setecentos e hum anos quintam Manoel da Costa por
quonta do Mestre de Campo Mathias Cardo de Almeyda duas mil e sincoenta e sinco
outavas de ouro em po de q’ pagou a fazenda de Sua Magde. Q’ Ds. Gde.
Coatrosentas e onze oitavas q’ perante mim Eo tenente general Manoel de Borba
Gatto Governador do Reaisqtos. Logo Recebeo o Thezoureiro Thomas frrª de Sousa
e ficarvão mil seissentascoreta e catro oitavas de ouro q’ leva o dº Manoel da
Costa empo por não averaynda fundição nesta oficina e p.º poder tastar (?)
desua venda livre tem Se lhe passou certidão q’ de tudo fiz este termo, q’
comigo assinou, o d.º Manoel da Costa e o Porvedor e o Thezouereyro, eu
JosephdeSyxas Borges, escrivão desta oficina q’ o fis, escrevi, e asiney. (aa)
Gatto – Thomaz Ferrª de Souza – Joseph de Seyxas Borges – Manoel da Costa”.(BIBLIOTECA
NACIONAL. Anais da Biblioteca Nacional, 1943.p.75,76).
Mais tarde, em sete (07) de
maio de 1703, o Governador Geral, Dom Rodrigo da Costa escreveu a Matias
Cardoso reclamando de que este não estaria fiscalizando o caminho das Minas
para a Bahia.
Muito encarrego a V. M. o efeito deste
negócio; porque obrando V. M. o contrário, o hei de sentir muito, estrando-lhe
(entranhando-lhe) faltar a dar execução às minhas ordens... (SANTOS, 2010, p.
184).
Essa carta de 1703 seria a
última dirigida a Matias Cardoso e comprova que o seu arraial se encontrava em
ponto estratégico para evitar o descaminho do ouro e o comércio entre as Minas
e a Bahia. Dois anos depois – em trinta e um (31) de julho de 1705 - Baltasar
de Godoy Moreira, procurador da Fazenda Real da região do Rio das Velhas,
informava em carta dirigida ao governador Artur de Sá e Meneses, que Matias
Cardoso já se encontrava falecido.[1]
(...) E ultimamente se recolheu a povoado
como de fuga, deixando todo este contorno de Minas não com aquela clareza com
que V.S.ª as tinha deixado, senão com tudo tão inundado que se está hoje
matando mais gente que carne nos atalhos, e tudo tão (...).
O recolher seja pelo Rio de Janeiro, ou
acudir-lhe com reparo de oficina no arraial de defunto Mestre de Campo
Mathias Cardoso de Almeida.
Tenho dito a V.S.ª se digne a que essas minhas
cartas vão seguras à mão del Rey, meu Senhor, que são sobre meus particulares,
e juntamente me conserve no numero dos seus pagens. Guarde Deus a V.S.ª muitos anos, etc.
Minas de mato dentro, 31 de julho de 1705.
Humilde servo de V.S.ª Baltasar de Godoy
Moreira. (Grifo nosso). (ANTONIL,
2007, p. 384 e 386).
Morte de Matias Cardoso de Almeida
Portanto,
Matias Cardoso teria falecido entre maio de 1703 e julho de 1705. O arraial fundado por ele ainda existia em 1705. (ANTONIL,
André João. Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas. São Paulo, EDUSP,
2007, p.272. AHU, Rio de Janeiro, CA Doc. 3104, Carta de Baltasar de Godói Moreira
a Artur de Sá e Meneses, Minas de Mato Dentro, 31 jul.1705).
Matias Cardoso, após participar dos principais acontecimentos ocorridos na colônia no século XVII e contribuir com a conquista e conhecimento do sertão norte mineiro, saiu de cena como um grande chefe regional, deixando a seu filho, Januário Cardoso,[2] o trabalho de consolidar o domínio do Rio São Francisco.
A
Igreja de Mocambinho
“O grande
rio rola a imensidade de suas aguas na soledade do deserto, sem a aplicação
inteligente do homem, apenas como uma manifestação da grandeza da natureza”
(OTTONI,
Carlos. Da Diamantina a São Francisco. Impressões de viagem. Revista do Arquivo
Público Mineiro. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1906, Anno XI, p.677).
Sabemos
que o arraial de Matias Cardoso já existia em 1688 e que passou a ter um padre
a partir do ano de 1695, logo depois do retorno do sertanista das guerras
contra os Bárbaros do Nordeste. Podemos supor que a capela do arraial também
conhecido como Retiro dedicado - segundo Carrara – a Nossa Senhora do Bom Sucesso, teria sido construída após o ano de
1688 ou o mais tardar, a partir de agosto de 1695, quando da solicitação do
Governador D. João de Lancastro, para que o arraial tivesse um padre.
E o "grande prêmio de que o
padre Paulino Pestana e Souza ouvira da boca de Matias Cardoso com muita razão
deve ter sido a terra onde mais tarde instalou seu arraial. O testemunho do
reverendo se apoia no fato de que ele sabia pelo ver porque no tal tempo estava
ele testemunha sendo pároco na igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso,
sita no rio de São Francisco, no arraial de Matias Cardoso, duzentas léguas de
sertão à Cidade da Bahia. (Grifo nosso).
(Sumário de Informação. Autos de
inquirição de testemunhos feitos pelo corregedor Luís de Souza Valdez, da Comarca
do Rio das Velhas, sobre Isabel Maria Guedes de Brito, filha do Mestre-de-campo
Antônio Guedes de Brito, descobridor dos sertões da Bahia, rio de São Francisco
e rio das Velhas, 11 de agosto de 1724. AHU. Manuscritos Avulsos de Minas
Gerais. cx.5, doc.47.) Citado por CARRARA , Ângelo Alves. Antes das Minas Gerais: conquista e
ocupação dos sertões mineiros. VARIA
HISTORIA. Belo Horizonte, vol. 23, nº 38: p.574-596, Jul/Dez 2007, p. 589).
Nossas
suspeitas sobre a existência do arraial não foram confirmadas pelas pesquisas
arqueológicas realizadas no entorno das ruínas da Igreja de Mocambinho. Os
arqueólogos da empresa ARKAIOS Consultoria Ltda., não encontraram vestígios da
existência de residências na área.[1]
Sabemos
que Januário Cardoso promoveu a transferência do arraial do pai ainda nos
primeiros anos do século XVIII. Provavelmente
após a morte do pai – Matias Cardoso - ocorrida entre 1703 e julho de 1705.
Lembrando que o arraial ainda era mencionado como “arraial
do mestre de campo Mathias Cardoso de Almeida” em 31 de julho de 1705, por
Balthasar de Godoy Moreira, procurador da Fazenda Real da região do Rio das
Velhas, que informava sua existência em carta dirigida ao governador Artur de
Sá e Meneses. [2]
O
templo construído presumivelmente por Matias Cardoso - a edificação mais
resistente do povoado - entrou em processo de arruinamento, passando a compor -
conforme nossas conclusões - as terras da Fazenda
Retiro.
A
pesquisa arqueológica da empresa ARKAIOS - realizada entre 2005/2006 - encontrou
sepulturas dentro do templo e em seu entorno, além de vários outros objetos,
dos quais destacamos uma moeda de 31,5 mm de diâmetro e 1,3mm de espessura
cunhada em Lisboa podendo ser datada de 1715 ou 1719.[3]
Antes
de 1730, a Fazenda Retiro pertencia a
Estevão Rapozo. A partir de 1733, a
Fazenda em cujas terras as ruínas da Capela se encontravam pertencia a Pedro
Cardoso – sobrinho-neto de Matias Cardoso de Almeida - e sua esposa, D. Maria
Francisca Bocarro (Cardosa).[4]
Em
1767, as Fazendas Retiro e Ilha são
identificadas em Carta elaborada por um anônimo.[5] Em
1772, Retiro aparece em “Carta de toda porção da América Meridional” como uma
fazenda próxima ao arraial de Morrinhos. A Fazenda
Retiro dos Morrinhos é identificada em outro mapa de 1778 - Mappa da
Comarca do Serro Frio 1778 - de autoria de José Joaquim da Rocha.
No
mapa desse mesmo autor elaborado em 1793, as fazendas Retiro e Ilha são
novamente plotadas. Na primeira metade do século seguinte, a Fazenda do Retiro aparece representada
em mapas de 1804, 1810[6]e
1821.[7]
Pizarro e Araújo em 1822 identificou a Igreja do Retiro em local sem povoação,
a dez léguas do Porto do Salgado – Januária.
No mapa de Henrique Guilherme Fernando
Halfeld efetuado entre os anos 1852 e 1854, aparece perto da Ilha do Retiro[8] o “Porto do Retiro”, nas proximidades da
região em estudo. Nesta mesma época - 28 de outubro de 1854 - temos a
informação fornecida por Antônio José Lopes - um dos proprietários da Fazenda do Retiro do Cajueiro - sobre a
igreja perto de uma lagoa e um sangradouro nos limites de suas terras com as de
Felisberto da Costa Alcamim, proprietário de parte da Fazenda Retiro.
A igreja será mencionada novamente apenas
em 1912, quando da visita do Cônego Maurício Gaspar encontrando-se então,
completamente abandonada e em estado de arruinamento.
Apesar de ser uma referência para os
antigos moradores da região - atualmente dispersos em várias localidades[9] -
o pequeno templo permaneceu esquecido oficialmente ainda por sessenta (60) anos, sendo redescoberto
em 1972, devido ao projeto Jaíba e à instalação do povoado de Mocambinho.
Neste delicado contexto é apresentada a Ruína da Igreja de
Mocambinho. Trata-se de uma construção ainda mais remota que a Matriz de
Matias Cardoso, que, segundo alguns estudiosos, é a primeira Igreja
do Estado. Este bem é certamente um dos mais efetivos representantes do
permanecer falado anteriormente. A
Ruína, que pertenceu ao povoado de
Retiro, desaparecido ainda no século XVIII, só foi redescoberta na década
de 70 do século XX, através da implantação no local da sede do Projeto Jaíba.
Desta forma, os moradores da região chegaram juntamente com o Projeto, vindos
das mais diversas localidades. Embora a Ruína seja secular, as relações
construídas com a comunidade local se iniciaram nesta época, quando se deu a
ocupação de moradias construídas para os colonos recém-chegados na sede de Mocambinho.
(Grifo nosso). (CASTRO, Daniela
Lorena Fagundes de. Diferentes Trajetórias da Preservação do Patrimônio no
Norte de Minas Gerais. Disponível em:<http://www.forumpatrimonio.com.br/print.php?articleID=116&modo=1#> . Acessado em: 12 de fevereiro de 2013).
As pesquisas históricas e arqueológicas até
o momento, não comprovaram a existência do povoado do Retiro - que supomos ser
o arraial de Matias Cardoso - no entanto a documentação sobre a Igreja do
Retiro e as fazendas de mesmo nome é inquestionável.
Por outro lado, a semelhança do sistema
construtivo da igreja de Nossa Senhora da Conceição de Morrinhos – atual Matias
Cardoso – e das ruínas da igreja de Mocambinho reforça nossa suposição.
Fato é que, não estamos sós na afirmativa
de que se trata do mais importante vestígio do antigo arraial do Retiro ou de
Matias Cardoso.
Atual sede do Distrito de Matias Cardoso.
2020.
Somos de parecer que, as ruínas denominadas
“de Mocambinho” são o que restou da igreja do Retiro ou de Nossa Senhora do Bom Sucesso do primitivo arraial de Matias
Cardoso, que teria sido abandonado ainda nos primeiros anos do século XVIII.
Análises do material cartográfico somado às
fontes manuscritas pesquisadas comprovam que a igreja se encontrava em terras
rurais a partir das primeiras décadas do século XVIII, mantendo um forte vínculo
com a Fazenda do Retiro e suas
variantes.
Símbolo de uma realidade mesclada com os
mais grosseiros instintos humanos, as ruínas da igreja permanecem em sua
solitária e enigmática quietude. Sua importância reside na composição irregular
de seus tijolos recheados de suor e sonhos de homens anônimos, brutalizados na
luta incessante pela sobrevivência, cobertos com uma fina camada de pureza
mística e vontade de permanecer.
Em sua forma arruinada, os homens de várias
raças se fizeram imortais na Terra. Nem heróis ou vilões, esses homens eram
apenas homens, idênticos à multidão de homens que lota os veículos coletivos
das grandes cidades contemporâneas que a seu modo rabiscam o solo com suas
marcas.
As ruínas do Rio São Francisco são,
portanto, o presente inconsciente desses homens sem nomes do passado, para
esses homens desconhecidos que ocupam as margens deste e de outros cursos
d’água construindo o seu dia a dia com modéstia e despretensão.
No passo em que tudo passa ficou as ruínas
de uma igreja atualmente denominada “de Mocambinho”, queimada pelo Sol, banhada
pela chuva, abandonada pelos homens e arruinada pela soma destes três fatores. Enquanto
herdeiros de todo esse passado, temos o dever de proteger, resguardar,
conservar e revitalizar as “Ruínas da Igreja de Mocambinho”, símbolo material
de conquista, ocupação e consolidação de uma civilização.
A Capela de Mocambinho foi finalmente tombada pelo CONEP - Conselho Estadual do Patrimônio Cultural - do IEPHA/MG, em 31 de outubro de 2017.
A Capela de Mocambinho foi finalmente tombada pelo CONEP - Conselho Estadual do Patrimônio Cultural - do IEPHA/MG, em 31 de outubro de 2017.
[1] RUÍNAS da igreja de Mocambinho – Programa de Resgate Arqueológico –
Relatório Final. Belo Horizonte, C0DEVASF – ARKAIOS Consultoria LTDA, 2006, p.143.
[2] Provavelmente após a morte do pai – Matias Cardoso - ocorrida entre 1703
e julho de 1705. Lembrando que o arraial ainda era mencionado com “arraial do mestre de campo Mathias Cardoso de
Almeida” em 31 de julho de 1705, por Balthasar de Godoy Moreira, procurador da fazenda Real da região do Rio das Velhas, informava sua existência em carta dirigida ao governador Artur de Sá e Meneses. (ANTONIL, 2007, p. 384 e
386).
[3] RUÍNAS,
2006, p.183.
[4] a fortuna de Pedro Cardoso era estimada por volta de 1736, em torno de 50
mil cruzados em fazendas de gado. (RODRIGUES, 2009, p.75,76). Maria Francisca
era filha de Estevão Rapozo.
[5] Carta geographica da Capitania de Minas Gerais e Partes Confinantes – 1767. AH.
Exercício, AHEx, RJ. – Nº 004 – b 4.1. Cópia CRCH - Cópia CRCH – Centro de
Referência em Cartografia Histórica – UFMG.
[6] Mappa Topográfico da Capitania de Minas Gerais, datado de 1810. Cópia CRCH -
Cópia CRCH – Centro de Referência em Cartografia Histórica – UFMG.
[7] Novo Mapa da Capitania de Minas Gerais. Barão de Eschwege, datado de 1821.
Cópia CRCH – Centro de Referência em Cartografia Histórica – UFMG.
[8] Atualmente a Ilha do Retiro é habitada por cerca de 35 famílias. (Fonte:
LEMA. Disponível em:<
http://lemajf.blogspot.com.br/2010/10/itacarambi-minas-gerais.html>.
Acessado em: 12 de janeiro de 2015). A ilha abriga uma comunidade Quilombola.
ANAES DO ARQUIVO PÚBLICO E DO MUSEU DO ESTADO DA BAHIA. Salvador; 1917-1976. Irregular. Absorveu: Anaes do Arquivo Público e Inspetoria de Monumentos, 1933; Anaes do Arquivo Público da Bahia, 1938.
ARQUIVO NACIONAL. CÓDICE 155, fols.185-194.
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional - Typ. Arch de Hist. Brasileira, 1928 -1936. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=094536
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional – Augusto Porto & C., 1929.
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde. Biblioteca Nacional, 1937
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional – Typ. Baptista de Souza., 1939,1942, 1944.
BIBLIOTECA NACIONAL . Documentos Históricos, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1949
CALMON, Pedro . História da Bahia. São Paulo: Melhoramentos. S.d.
CALMON, Pedro. História do Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1971.
CASTRO, Daniela Lorena Fagundes de. Diferentes Trajetórias da Preservação do Patrimônio no Norte de Minas Gerais. Disponível na Internet em http://www.forumpatrimonio.com.br/print.php?articleID=116&modo=1# . Acessado em 12 de fevereiro de 2013.
CUNHA MATOS, Raimundo José da. Corografia histórica da Província de Minas Gerais [1837]. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1979/1981, v.1, p.169. v.1, p.180-181.
ELLIS JUNIOR, Alfredo. O Bandeirismo Paulista e o Recuo do Meridiano. São Paulo: Typ. Piratininga, s.d.
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FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Bandeiras e Bandeirantes de São Paulo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940. Vol. 181.
LEITE, Serafim S. I. História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938.
PAES LEME, Pedro Taques de Almeida- Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1953. Tomo II. 173p.
RODRIGUES, Gefferson Ramos. No Sertão, a revolta: Grupos
sociais e formas de contestação na América Portuguesa, Minas Gerais – 1736/ Gefferson
Ramos Rodrigues. - 2009.
TAUNAY, A. A Grande Vida de Fernão Dias Paes. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1955. Vol. 6 e 7. 308p. (Documentos Brasileiros, 83).
TAUNAY, Affonso. História Geral das Bandeiras Paulistas. São Paulo: Typ. Ideal H.L. Centar, 1929.
TAUNAY, A. Relatos Sertanistas. São Paulo: Martins editora, 1954.
VANHAGEN, Francisco Adolpho. História Geral do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, s/d. 3v.
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VASCONCELOS, História Antiga de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974. 2v.
VASCONCELOS, Diogo de História Média de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.
[1] Antonil, André João. Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas. São Paulo, Edusp, 2007, p.272. AHU, Rio de Janeiro-3104, carta publicada infra, Documento XXVI.
[2] Filho de Matias Cardoso, Januário desde a juventude acompanhava o pai pelos sertões. Casou-se com a prima, tendo um único filho: Caetano Cardoso de Almeida. Faleceu em Morrinhos em 1739. (Geni. Disponível em:< http://www.geni.com/people/Janu%C3%A1rio-Cardoso-de-Almeida/6000000014130991201>. Acessado em 01 de novembro de 2014).
RUÍNAS DE MOCAMBINHO - ACERVO IEPHA/MG
OBS: OS RELATÓRIOS DA PESQUISA DO PROJETO RUÍNAS DE MOCAMBINHO ENCONTRAM-SE NA GERÊNCIA DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO DO IEPHA/MG.
Família Cardoso de Almeida - Elaboração: Carlos Henrique Rangel
A CIDADE DE JANUÁRIA
Autor: Carlos Henrique Rangel
Após a morte do bandeirante Matias Cardoso de Almeida, pioneiro da ocupação da região do noroeste de Minas Gerais, a liderança da família coube a seu filho Januário Cardoso que prosseguiu coma conquista da região sanfranciscana iniciada pelo pai.
Primeiro transferiu o antigo arraial fundado pelo pai para um local que considerava mais adequado, atualmente denominado Arraial do Meio. Constatando as mesmas deficiências do primeiro arraial, Januário mudou-se novamente, desta vez para local definitivo, na encosta de três morrinhos, origem do povoado de Morrinhos, atual Matias Cardoso.
A partir deste arraial, deu-se início ao desmantelamento dos grupos indígenas da região com a conseqüente ocupação das terras dos dois grandes redutos caiapós: Guaíbas e Tapiraçaba. O ataque à aldeia das Guaíbas, situada em uma ilha, foi comandado pelo capitão Manoel Francisco de Toledo, contando com a participação de Domingos do Prado de Oliveira e seus agregados do Arraial de Cima, e de Manoel Pires Maciel. Após a destruição do núcleo indígena, Manoel Francisco de Toledo fundou na margem esquerda do rio, o povoado que deu origem a São Romão.
Em 1724 Januário Cardoso obteve a
patente de mestre de campo do sertão do rio São Francisco, posto que se dedicou
combatendo o banditismo local.
(MORENO, José Ricardo. Caminhos do
Sertão: O Médio São Francisco no Roteiro de Joaquim Quaresma Delgado Pinho. Disponível
na internet: http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_I/erivaldo_fagundes.pdf
. Acessado em 21 de fevereiro de 2013).
A fundação do primeiro agrupamento “civilizado” na região de januária é atribuído ao bandeirante Manoel Pires Maciel, que a serviço de Januário Cardoso de Almeida destruiu a aldeia de Tapiraçaba, dos índios Caiapós. Em 1728,
Januário Cardoso aparece como “Administrador dos índios da Missão do Sr. São João
do Riacho do Itacarambi". Provavelmente trata-se de São João das Missões, que ainda hoje é território indígena. (Arraial de Morrinhos, 15 de fevereiro de 1728.
Administrador Januário Cardoso de Almeida Brandão. Certidão transcrita em 1968
do livro 10, folha 38 e verso, pelo escrivão de paz e oficial do registro civil
de Itacarambi, Francisco Nunes Pacheco. BRAZ, Brasiliano. São Francisco nos
Caminhos da História. São Francisco, 1977, p. 609).
Após a conquista, Maciel fundou o arraial de Porto do Salgado e juntamente com os prisioneiros índios que fez, construiu uma capela dedicada a Nossa Senhora do Amparo. Segundo a tradição local, a construção deste templo deu-se em 1692, sendo que a data mais antiga referente ao lugar: 1674 – foi encontrada em uma moenda de engenho de madeira.
Os acontecimentos do Rio das Mortes conhecidos por guerra dos Emboabas, que se ocorreram entre os anos de 1708/1709, contribuíram para o crescimento do arraial do Brejo do Salgado que recebeu vários implicados na rebelião que fugiam à perseguição de Antônio de Albuquerque, dispondo quase todos de fortuna.
O caráter rebelde da população desta região irá se manifestar durante o governo de Martinho de Mendonça de Pina e de Proença, em 1736 nos motins denominados Conjuração do São Francisco. Tinha como objetivo a marcha contra Vila Rica, a capital da capitania, para deposição e expulsão do governador Martinho de Mendonça, responsável pela cobrança dos quintos atrasados, devassas e prisões.
No dia 24 de junho de 1736, cerca de 200 revoltosos do Brejo do Salgado comandados pelo Vigário Antônio Mendes Santiago, invadiram São Romão, sendo expulsos três dias depois por Domingos Alves Ferreira. São Romão sofreu uma segunda invasão, mas o movimento, bastante desorganizado e sem os esperados reforços de Miguel Nunes Viana, se desfez.
Aberta a devassa, os principais lideres, Maria da Cruz, Pedro Cardoso foram presos e tiveram seus bens confiscados. Domingos do Prado conseguiu fugir, tendo os bens confiscados.
Em 1803, o padre Custódio Vieira Leite, reconstruiu aa capela do arraial do Brejo do Salgado coberta parte de telha e parte de capim, sendo de pedra e cal.
O arraial de Brejo do Salgado tornou-se distrito do Julgado de São Romão em 1720. A freguesia foi criada por decreto real de 2 de janeiro de 1811. Pelo alvará de 1814, efetivado em 1816 criou-se o julgado separando o território de São Romão.
A vila de januária foi criada em 30 de junho de 1833, transferida para o arraial de Nossa Senhora do Amparo do Brejo do Salgado, pela lei n. 54, de 29 de abril de 1836. Mais tarde, a lei n. 279, de 11 de abril de 1845, transferiu a vila para o povoado de Porto do sendo transferida para o povoado do Porto do Salgado. A lei n. 472, de 31 de maio de 1850 voltou a sede para Brejo do Salgado. A elevação à cidade deu-se em 1860 pela lei n. 1 093 de 7 de outubro.
Em 1855, januária possuía duas matrizes e oito capelas, achando-se uma em construção, quatro precisando de reparos; uma, só possuía as paredes e as outras se achavam em bom estado.
Em 1864, a população do município de januária somava 24 mil habitantes. A cidade de januária possuía em 1865, 634 prédios, 9 ruas e 3 mil habitantes na sede.
Em 1909, a cidade possuía 2 mil prédios e cerca de 10 mil almas.
A lei n. 1814, de 30 de setembro de 1871, novamente transferiu a sede da cidade para o arraial de Nossa Senhora do Brejo do Amparo. Em 1872, a lei provincial n. 1868 de 15 de julho de 1872 mudou a denominação para Itapiraçaba. Doze anos depois, a lei n. 3 194 de 24 de setembro de 1884 definiu o nome que até hoje vigora: Januária.
Em 1962, o grande município de Januária perdeu os distritos de Itacarambi e Missões. A lei n. 6 769 de 13 maio de 1976 cria os distritos de Bonito, São Joaquim e Tejuco. Em 1982, a lei n. 8 285 de 8 de outubro, cria os distritos São Pedro das Tabocas. Em 1992, perde o distrito de Pedras de Maria da Cruz e em 1995, o distrito de Bonito de Minas e Cônego Marinho.
Situado na Zona do Alto São Francisco, com sede a 454 metros de altitude, distando 491 km. de Belo Horizonte em linha reta rumo NNO, o município ainda é o maior do Estado, compondo-se atualmente dos distritos: distrito-sede, Brejo do Amparo, Levinópolis, Riacho da Cruz, São Joaquim, Tijuco e Várzea Bonita.
Festas
e folclore da região:
Reisados: Em Januária o Reisado são associados às
folias-de-reis, reis-das-pastorinhas e reis-de-boi ou as denominações locais:
Reis-dos Temerosos ou Reis-do-Cacete, mulinha-de-ouro(faz parte do
Reis-de-boi).
Data:
Janeiro
Festas Juninas: Com em outros municípios mineiros, as
festas juninas são muito concorridas em Januária. Destaque
para as festas de Santo Antônio, São Pedro que são acompanhadas de quadrilhas,
barraquinhas de comidas e bebidas típicas da região.
Data:
Junho/julho
Cavalhada: Em Brejo do Amparo, distrito de
Januária, ocorre a Cavalhada no Data: mês de outubro.
Dança de São Gonçalo: Esta dança típica é dançada em
cumprimento a promessas feitas ao Santo. Não tem uma data definida.
Marujada: Procissão de barcos que vem sendo
resgatada no município. Ocorria na festa de São Pedro e recentemente passou a
acontecer no dia de São Francisco de Assis, em 4 de outubro.
Destacam
os personagens: Reis-dos-Temerosos que se vestem de marinheiros.
Queima de Judas ou Malhação de Judas: Festa popular
de ocorrência em todo o Estado de Minas é comum na periferia do distrito-sede e
no distrito de Brejo de Amparo.
Ocorre
no Sábado de Aleluia.
Encomendação das Almas: Reunião de devotos das almas que
se reúnem em penitência.
Ocorre
nas sextas-feiras da Quaresma.
Carnaval: O carnaval de
Januária é talvez a festa mais concorrida do município, atraindo turistas
foliões de várias regiões de Minas Gerais.
Ocorrência: fevereiro ou março.
Comidas e bebidas típicas:
Cachaça de Januária: Uma das mais
apreciadas no país devido a grande influência do solo calcário, a cachaça de
januária é produzida a quase 300 anos de forma artesanal e tradicional.
Os alambique mais tradicionais do
município encontram-se em Brejo do Amparo.
Comidas:
São tradicionais os seguintes pratos
encontrados nos restaurante e bares de Januária: Carne de sol, rapaduras, beiju
de tapioca, bolo de fubá ou puba, pão de queijo, peixadas, capim canela, e doces
diversos.
Artesanato:
Atualmente a Casa do Artesão concentra os trabalhos
dos artesãos do município, mestres na produção de carrancas, vapores em
miniatura, canoas, tonéis, cerâmica, bordados e outros tantos objetos
artesanais.
A Casa do Artesão está funcionando no Centro de
Cultura e Turismo.
Áreas De Lazer:
Praia: Durante o mês de junho
surgem as praias do Rio São Francisco que chegam a três quilômetros de
extensão.
Conta com infra-estrutura
para atendimentos dos veranistas, como barracas de bebidas e comidas.
Cachoeira do Rio
pandeiros:
As cachoeiras do Rio
Pandeiros atraem muitos visitantes. O Balneário do Rio Pandeiros e suas três
cachoeiras encontram-se a 48
Km . Do sede.
Na região encontra-se o
único pântano de Minas Gerais.
Brejo do Amparo: O distrito de Brejo do Amparo oferece inúmeros
bares com comidas típicas.
Fonte:
BRAZ, Brasiliano. 1977.
BARBOSA, 1971. PAG.246/7.
Revista do Arquivo Público Anno XI, 1907.
Revista do Arquivo Público Mineiro. Anno XIII. 1908. P. 622 A 625.
BARBOSA, 1971.pág. 246/7.
BARBOSA,1971. Pág. 246/7.
PINTO, Welington.1971. pag. 55.
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