ORIGINAL
Autor: Carlos Henrique Rangel
Ninguém pode te ensinar a gosta de uma coisa
Se essa coisa não for para você.
É assim com os nossos bens culturais.
Esses só são “bens culturais”
porque de alguma forma são importantes
Para uma coletividade.
Mas as coletividades
são formadas por indivíduos que têm vivencias próprias
e nenhum bem cultural “fala” da mesma forma às pessoas.
Eu não posso te ensinar a gostar de um bem cultural.
Esse bem precisa fazer parte de você.
Precisa te dizer algo.
Eu só posso te mostrar alguns caminhos
mas é você que vai caminhar.
O gostar de um bem cultural não pode ser de segunda mão.
Você não vai gostar só porque eu gosto.
Cada indivíduo sentirá esse “bem” de forma única e original
porque únicos e originais somos todos nós.
PERDER
Autor: Carlos Henrique Rangel
Uma coisa é não saber.
Outra é esquecer.
Posso perder por não saber.
Posso perder por esquecer.
Esquecer não é não saber
É a perda de algo
Pela incapacidade de reter.
Para não perder é preciso lembrar.
Para não perder e preciso ensinar.
Assim:
Não perderei mais por esquecer.
Não perderei mais por não saber.
O Espírito do Lugar/ O Lugar do espírito
Autor: Carlos Henrique Rangel
Cada lugar tem seu espírito
Aquele algo que se sente no ar.
O cheiro de alho na véspera do almoço.
O vento da manhã...
O cheiro de terra molhada...
O padeiro gritão pão...
Os meninos com bola.
O namoro depois da missa...
A ponte
O rio
O cheiro do rio...
A noite tem gente nos bancos...
Ainda...
Domingo tem jogo
Hoje é dia de compra,
O Robinho vai carregar...
Os bares estão cheios...
Nenhum foguete...
O time perdeu.
A praça está cheia...
A noite tem pizzaria.
Amanhã é segunda-feira...
Cedo todo mundo ao colégio...
Ônibus cheio...
Meu espírito está cheio do lugar
Há sempre lugar para as lembranças...
Sempre haverá.
A
VERDADEIRA PROTEÇÃO
Autor: Carlos Henrique Rangel
A verdadeira proteção se faz nas ruas...
No suor do dia a dia...
No fazer de novo a mesma ladainha...
Comemorar o que se comemora dia após dia...
Mês após mês... Ano a ano...
Ontem foi Reis...
Amanhã o samba do Carnaval...
Ao nascimento do menino que foi Rei vem
a sua tragédia comemorada na Semana...
Aquela que se diz Santa...
E mais vem logo depois...
E tudo isso acontece na terra
e nas coisas feitas de terra.
Amassada por mãos de homens
que se fazem eternos nestas coisas de homens...
Que se fazem e se deixam
lembrar nestas coisas de homens...
Por quê?
Por que lembrar é não esquecer...
Lembrar é continuar...
É não se perder...
ETERNIDADE
Autor: Carlos Henrique Rangel
São nas ruínas
De homens e coisas
Que vislumbro a eternidade.
Sempre haverá
Dias e rugas...
Tempo e idade...
Envelhecer é a sina de tudo,
E eu que nada sou
Desço a montanha
Bem acompanhado.
São nas ruínas
Que vislumbro o que foi.
Mas as coisas e seres envelhecidos
São muitas vezes
Mais do que foram.
São nas ruínas
De coisas e homens
Que vislumbro a eternidade.
LEMBRANÇAS
Autor: Carlos Henrique Rangel
De tanto lembrar sou lembrança.
Pois lapidei minhas lembranças
Para lembrar melhor...
O essencial...
Concentrei tudo o que sou
Em um momento...
Síntese de todas as histórias...
Para lembrar melhor...
Não esquecer me motiva a vida
Mesmo que seja
Uma memória pasteurizada
Compactada em meu ser.
De tanto lembrar
Sou lembranças...
Mesmo que recortada...
Sintetizada...
Reinventada em sua simplicidade...
Eu sou porque lembro...
Por que lembro sou.
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