POEMAS
CONSTRUINDO
O SER
1 - Ser
Autor: Carlos Henrique Rangel
Cada Ser Humano é o que
deve ser.
E pode ser mais.
E o que é se relaciona
com o que foi.
Com os que foram.
Com o que construíram os
que foram...
O que é
se relaciona com o
passado.
Com as coisas do passado.
Com o que foi feito no
passado
e continua Presente.
O Ser é fruto e
construção de outros seres.
Somatória.
Complemento.
Continuidade.
O Ser é
por que foi.
E será para o futuro se
respeitar a herança recebida.
Cada Ser Humano carrega
em si o seu mundo
E para onde for,
Onde estiver,
Sua família,
Sua rua,
Sua igreja,
Sua praça,
Seu bairro,
Sua crença,
Sua terra,
LÁ ESTARÃO...
Cada Ser é um
representante vivo de sua cultura.
Do seu Patrimônio.
Cada Ser Humano é um ser
plural, rico e belo.
O produto de uma cultura
diversa e rica.
De um modo de ser, fazer
e viver.
Cada Ser importa.
VOCÊ IMPORTA!
(O QUE VOCÊ FAZ IMPORTA)
2
- Sobre Pedras No Caminho
Autor:
Carlos Henrique Rangel
A
pedra no caminho
me
fez tropeçar.
A
pedra no caminho
me
fez pensar.
A
pedra...
O
caminho...
O
caminhar...
Eu
me fiz no caminho
ao
tropeçar...
A
pedra amarga do caminho...
A
doce pedra do caminho...
Guardei
a pedra do caminho
para
lembrar...
Nunca
me esquecerei
que
a pedra estava
no
caminho
E
que caminho...
3
- Dependência
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Eu
preciso de você
E
você de mim.
Eu
te faço.
Você
me faz.
Eu
te construo.
Você
me constrói.
O
que você é
Me
faz ser o que sou.
Me
vejo em você
E
você se vê
Em
mim.
O
UM que sou
Se
multiplica
Com
você.
Juntos
somos
Mais...
Juntos
SOMOS.
4
- Educar
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Educar
é alimentar
E
ser alimentado.
É
se dá ao outro
E
receber...
Educar
é troca
É
transbordar
Mas
também
Se
preencher...
Eu
dou o que tenho
Recebo
o que você tem...
A
transformação
É
mutua.
Eu
serei outro.
Você
será outro.
O
que fizermos juntos
Será
melhor...
E diferente.
5 - O Que Faz Um Homem?
Autor: Carlos Henrique Rangel
Um
homem não se faz sozinho.
Um
homem se faz com outros homens...
Do
Passado e do Presente.
Com
coisas feitas por homens...
Idéias,
descobertas, crenças, ritos, ritmos, visões, belezas, artes e outras...
Um homem se faz com troca, transmissão,
repetição, continuação, construção dinâmica, viva, sadia...
Um
homem se faz com outros homens...
Influenciado
pela natureza: clima, fauna, flora...
Um
homem são muitos...
Parte
dos que foram.
Parte
dos vizinhos.
Parte
dos que chegam.
Parte
de si mesmo.
Um
Homem é ETERNO se respeita o seu Passado, seu Presente,
Sua
Comunidade e a si mesmo.
6
- Quem Sou?
Autor: Carlos Henrique Rangel
Identidade...
Quem sou?
Sou esse número anotado em cartão envelhecido?
Quem sou?
Uma entidade limitada a um corpo carnal temporal?
Sou isto também, ocupando espaços, intervindo no espaço...
Interagindo com outros seres... Sou isto também...
Mas sou mais: o que penso, como penso, como ordeno
o que penso,
como transmito o que penso e o que me levou a
pensar...
Sou parte de onde vivo, do que vejo...
Minha relação com os outros seres também ajudam a
formar o que sou...
Sou parte dos outros seres: suas idéias, suas
coisas, memórias, histórias...
Então o que sou?
Uma colcha de retalhos?
Um quebra-cabeça formado por ambientes,
seres, coisas, gestos, sabores, modos, lembranças?
Lembranças... As lembranças me individualizam...
São particulares porque são minhas...
Outros lembram também mas as minhas lembranças,
com suas leituras e releituras são só minhas...
As lembranças me constroem...
O ambiente...
Minha cidade: minha casa,
a praça,
a igreja,
a escola,
o clube...
Os amigos...
Sou parte disto tudo...
Sou tanta coisa.
Construção genética: avós, pais, tios...
Culminância de algo.
Pedaço de algo maior...
NOSSA!
Sou peça de uma grande engrenagem...
Indivíduo formado e formador do coletivo.
Construído e construtor...
Modificado e modificador...
Um elo entre o passado e o futuro.
Fruto do passado e do presente...
Construção e continuação no presente.
Continuação e esperança do futuro.
O QUE EU SOU?
Não sou apenas um número em um cartão.
Nem mesmo um ponto na multidão.
Sou o PONTO.
E junto com outros pontos formo uma LINHA.
Sou indivíduo...
Mas também sou coletivo,
plural.
Sou maior porque sou muitos.
Parte de um organismo vivo, dinâmico, Especial
que depende de mim... E de todos para continuar...
EU SOU!
MAS VOCÊ TAMBÉM É.
7 - Precisar
Autor: Carlos Henrique
Rangel
Eu preciso de você para SER.
Eu me fiz com outros: Pai, Mãe, Irmãos,
Professores, Mestres...
E outros...
Eu me faço com você e outros...
No caminho te encontro e continuo...
Me construo...
Eu sou Eu...Você é você.
Juntos somos NÓS.
Maiores... Fortes...
Te completo.
Me completa...
Você me faz.
Eu te faço.
Nós nos fazemos SEMPRE.
8
- Pedaços
Autor: Carlos Henrique Rangel
Um
pedaço de mim é branca ambição e veio de longe...
Do
mar sem fim.
Outro
pedaço de mim também veio do mar e é negra solidão.
Um
pedaço de mim estava aqui e é rubra intuição.
Um
pouco de mim é verde floresta. Outro amarelo ouro.
Um
pedaço de mim é pura sensualidade.
Outro
é devoção medrosa.
Um
pouco de mim decora as igrejas. Outro tinge a terra de sangue.
Um
pouco de mim observa das sacadas.
Um
pedaço brinca nas praças...
Um
pedaço de mim é ancião.
Outro
é jovem canção.
Uma
parcela de mim morreu em guerras.
Outra
embriagou-se em festas.
Um
tanto está na poeira das estradas.
Outro
tanto nas gotas do rio.
Um
pedaço de mim esta nas ferramentas.
Outra
parcela nas peças...
Na
comida vejo outro tanto. Na roupa um pouco mais...
Na
louça, no veículo, na moça...
Eu
vejo parte de mim...
Sou
parte de tudo e em tudo me vejo. Em tudo estou...
Me
faço em tudo.
Me
construo com partes de tudo
e
no TODO... SOU.
9 - As Coisas e os Nomes das Coisas
Autor: Carlos Henrique Rangel
As
coisas e os nomes das coisas...
O
nome que dou não
é...
A Coisa...
Antes
do nome a Coisa é.
As
coisas da natureza...
As
coisas construídas
com
coisas da natureza...
Mas
a Coisa passa a ser
Coisa
para mim quando a vejo...
Passa
a existir o que existia
quando
vejo...
O
que vejo, manuseio, sinto, cheiro... Nomeio.
Incorporo
ao meu mundo.
Incorporo
ao que sou.
Incorporo
à minha vida...
Assim,
conhecendo as coisas,
Nomeando
as coisas,
de
alguma forma compreendo melhor o mundo
e
a mim mesmo.
10 - Sobre Trilhos e Trens
Autor: Carlos Henrique Rangel
“O apito soou
longo, profundo, transpassando minha alma. Nos vagões de madeira,vértebras do
grande réptil, centenas entraram e se mostraram pelas janelas. O último Trem...
O derradeiro... Depois dele, nada mais... O apito de novo... Desejei que fosse
eterno. Pisquei os olhos úmidos fotografando a cena...”
“Uma telha
caiu quando passei. No chão outras tantas se amontoavam a pedaços de janelas,
vidros quebrados... As portas não existiam há dois anos e uma fogueira foi
alimentada pelas tábuas que ajudei a fechar muitas vezes. Quem diria que apenas
há alguns anos esperei Anita no banco perto da bilheteria cercado de
gente-que-esperava e gente-que-ia e gente-que-vendia... Agora apenas a solidão
de ruínas...”
“Quando
pequeno, pulava dormentes... Andava sobre os trilhos quentes equilibrando, equilibrando...
Caindo com os pés sobre as pedras azuis esbranquiçadas ... Ás vezes punha o
ouvido sobre os trilhos: podia-se ouvir o Trem chegando... Outras vezes era o
apito que nos assustava e saiamos dos trilhos para ver passar a Máquina, os
vagões... Um, dois, três... Quarenta... Perdia a conta... Não ando mais nos
trilhos. Mas até hoje conto os vagões: um, dois, três... Quarenta...”
“Na época da
construção da Estrada de ferro havia mata e até onça. O Trem atropelou uma um
dia... A malária matou muitos trabalhadores. A gripe outro tanto... Mas a
Estrada saiu... Aquela Estação ali tem o nome de comida de onça: um engenheiro
distraído...”
“A menina levava comida. Passava de saia rodada da escola local. Passava e agente olhava... Pulava os trilhos ao vento e agente olhava...
- Que comida cheirosa! – Gritava Manuel... O maquinista, pai da menina, não ouvia... Surdo que era..."
SERÁ O FIM?
11- Entre o Sim e o Não
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Sim,
vou demolir!
Sim,
vou destruir!
Sim,
um pouco de ti.
Sim,
um pouco de mim:
Minha
Alma...
Minha
calma...
Sua
calma...
Sua
Alma...
Não!
Vou
Preservar.
Não!
Vou
conservar.
Não!
Vou
cuidar.
Não!
Vou
usar.
Não!
Vou
salvar:
Um
pouco de ti.
Um
pouco de mim.
Minha
Alma.
Minha
calma.
Sua
calma.
Sua
Alma...
12 - O Carro de Boi
Autor:
Carlos Henrique Rangel
O
boi.
E
o Carro de Boi.
Ihhhhhhhhhhh!
E
o Carro de Boi...
O
caminho.
O
boi.
E
o Carro de Boi...
Ihhhhhhhhhhh!
Uma
roda.
Duas
rodas...
O
homem...
O
boi.
O
Carro de Boi...
O
caminho:
Mato
ao lado.
Terra
no chão.
O
homem.
O
boi.
E
o Carro de Boi...
Ihhhhhhh!
E
o Carro de Boi....
13 - O Rio -
Autor:
Carlos Henrique Rangel
No
mesmo rio não piso...
Ainda
assim é o mesmo rio.
O
caminho que sigo todos os dias
É
o mesmo caminho.
Os
dias...
Os
dias não são os mesmos...
Nem
mesmo eu sou o mesmo.
A
cada minuto mudo
e
o mundo.
No
entanto me sinto seguro
pisando
o rio.
Seguindo
o caminho...
Mesmo
mudando a cada passo.
A
cada minuto.
Ainda
sou.
E
o mundo que vejo mudando
me
é familiar e me faz bem...
Sou
contemporâneo
do
agora...
Sou
contemporâneo
da
mudança...
E
mesmo sabendo do efêmero me quero eterno.
14 - Eu Vi
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Meninos
Eu
vi!
Os
sobrados coloniais.
As
igrejas quase iguais... (Mas diferentes...).
Meninos
Eu
vi!
O
Boi passar
colorindo
a Rua
com
a alegria dos brincantes.
Eu
vi... Eu senti
a
adoração à velha imagem...
Meninos
Eu
vi!
O
brilho dourado dos altares
destilando
o sagrado.
Eu
ouvi
o
som antigo do órgão
espalhando
emoção...
Eu
ouvi
o
canto dos sinos
e
suas mensagens...
Meninos
Eu
senti
o
cheiro de suor
dos
devotos em procissão...
Eu
respirei história
nas
curvas das ruas...
Eu
me alimentei
da
comida dos antigos...
Meninos
Eu
me emocionei
com
o passado presente
e
me senti eterno...
15 –
Imagine
Autor:
Carlos Henrique Rangel
IMAGINE
Imagine...
As
igrejas barrocas, ecléticas,déco
preservadas...
Os
sobrados...
Imagine
Que
todos respeitam
as
tradições, festas, histórias...
Imagine...
Os
proprietários
empenhados
em restaurar
seus
casarões centenários...
Imagine...
Que
todas as imagens
desaparecidas
apareceram
junto
às suas comunidades...
Que
os órgãos de preservação
têm
recursos e técnicos preparados
e
bem remunerados...
Você
pode achar
que
sou um sonhador
mas
não sou o único...
Imagine...
A
convivência
do
passado com a modernidade...
As
produções culturais
convivendo
harmoniosamente...
A
diversidade respeitada...
Você
pode pensar
que
sou um sonhador
mas
não sou o único...
Junte-se
a nós...
IMAGINE!
16 - Se Fosse Minha
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Se
essa rua
Se
essa rua
Fosse
minha...
Eu
mandava...
Eu
mandava preservar.
Com
essas casas...
Com
essas casas tão antigas
Só
para todo mundo olhar
Se
essa rua
Se
essa rua
Fosse
minha...
Eu
não deixava asfaltar.
Preservava
o calçado de pedra
Que
permite transpirar...
Se
essa praça
Se
essa praça
Fosse
minha...
Eu
poria a fonte
Para
funcionar...
O
lago com pequenos peixes
Para
agente alimentar...
Se
essa praça
Se
essa praça
Fosse
minha
Mais
árvores eu iria plantar.
Para
substituir as antigas,
Que
mandaram arrancar.
Se
essa igreja
Se
essa igreja
Fosse
minha...
Eu
mandava
Eu
mandava restaurar...
Resgatando
o brilho antigo,
Para
o meu povo rezar.
Se
essa rua...
Se
essa praça...
Se
essa igreja...
Fossem
minhas,
Eu
mandava conservar...
Para
deleite da minha gente:
Dos
antigos e dos que vão chegar...
( A verdade...
A pura verdade...
A rua, a praça e a igreja são minhas e
suas também.)
17 - Lembrar
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Ouvi a música
e ela me lembrou...
Lembrou meu Pai
e o mesmo disco
tocado no domingo...
O frango com quiabo
do domingo...
A casa antiga...
Eu lendo no alpendre...
O mesmo programa de TV...
A cerveja gelada...
O refrigerante negro...
Me lembrou a sobremesa...
O queijo e o doce de figo...
A mesma música
me lembrou um filme,
que me lembrou o velho cinema...
Que me lembrou VOCÊ...
Não há mais...
O Pai se foi.
O disco não toca mais...
A casa antiga cresceu, virou prédio...
O cinema virou igreja...
E você...
Você se perdeu nos anos...
O frango com quiabo
ainda freqüenta a mesa de domingo,
acompanhado do refrigerante,
esperando o queijo e doce de figo...
O programa? Não assisto mais.
18 - Apologia
Autor: Carlos
Henrique Rangel
Faço a apologia do Homem.
Do Homem simples
Que molda a Terra.
Que tira da Terra
O seu sustento.
Que constrói na Terra
Com elementos da
Terra,
A sua morada...
A sua História.
Que interpreta
Na Terra
A sua fé,
A sua celebração...
A sua diversão...
Faço apologia
Do homem que se
Faz eterno
Na transmissão
Do conhecimento,
Na permanência
De seus vestígios,
No respeito às
Tradições...
Faço apologia
Do Homem...
Do Homem heroico
Dos primeiros tempos
E das coisas deste
Homem e de todos
Os outros após este.
Faço apologia
Das coisas dos Homens.
Dos lugares dos Homens.
Das criações belas
Dos Homens...
Faço apologia
Do que há de
Mais belo.
No ser múltiplo
Que é o Homem.
Faço apologia
Da Vida...
Da vida dos Homens
Da vida dos seres,
Vivenciados pelos Homens.
Faço apologia do Planeta dos
Homens
E em paralelo,
Na divindade
Que preenche
Tudo e todos.
19 - Tempo
Autor: Carlos
Henrique Rangel
O tempo
Me diz tanto...
A minha história
É a história de tantos...
Um acúmulo
de experiências...
Memórias...
Sou síntese e conclusão.
A interpretação
Contemporânea
De mensagens
Transferidas
transmitidas
Trabalhadas
Digeridas
Relidas...
Sou discípulo biológico
Cultural.
Continuação...
Sou esperança
Ou desilusão.
Sou elo diverso
De um grande cordão...
Na leitura
Do meu chão...
Bíblia da autoestima
Rezo à permanência
Do que me faz eterno...
E aos meus.
(minha história continua no outro).
20 – Minha Terra
Autor: Carlos Henrique Rangel
A Minha Terra
Não é a ilha da
Fantasia...
Mas a ilha da Fantasia
Não é mais bela
Que a Minha Terra.
A ilha da Fantasia
Com toda a sua fantasia
Não é a Minha Terra...
A igreja de Minha Terra
Não é mais bela que a
Catedral de São Pedro
Nem mesmo a São Pedro
É dedicada...
Mas a Igreja de Minha Terra
É mais bela que a Catedral
De São Pedro...
A Praça ...
A Praça da Minha Terra
Não é a praça de São Marcos
Nem pombos tem...
Nem turistas...
Tem árvores, bancos...
E a gente conhecida
Da minha Terra...
O Rio da Minha Terra
Não é o Sena ou o Tamisa
Tem o nome simples
Como o seu povo
Que vê suas águas
Que bebe suas águas
Que se alimenta
Dos frutos de suas águas.
O dia a dia
Da Minha Terra
Tem o tempo certo
Da rotina gostosa
Regida pelos dias santos
Pelos bons dias, boas tardes, boas noites
E o grito das maritacas no entardecer...
As festas da Minha Terra
São cheias de devoção.
Devoção estampada
No sorriso enrugado dos anciãos
Ou no olhar espantado das crianças...
Não tem roupas de luxo
Nem aparecem na televisão.
A Minha Terra não
É a melhor das terras
Nem tem tal pretensão.
Mas a Minha Terra
É, para mim,
A melhor das terras...
A
terra do coração...
21- Se Eu Fosse Você
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Se
eu fosse você
Cuidaria
de mim
E
dos meus
E
dos meus lugares
E
minha memória
E
minha história...
E
o que lembra minha história...
Para
ser mais “Eu”
Quero
dizer, “Você”...
Se
eu fosse você
Não
seria você...
Seria
eu em você...
Você
se perderia
No
meu “Eu”...
Não
Seria “Você”...
Se
eu fosse você...
E
não sou... Graças a Deus!
Para
o seu bem
E
o meu...
E
o da humanidade...
O
melhor
Seria...
E é
Que
você seja “Você”
Em
toda sua sabedoria
E
eu seja “Eu”
Com
a minha falsa modéstia...
Em
nossa singularidade
A
certeza da diversidade
Da
renovação...
Da
compreensão...
Da
transformação consciente...
Da
preservação dos “Eus”
No
contexto coletivo.
22 – Cotidiano o
Espírito do Lugar
Autor:
Carlos Henrique Rangel
As
meninas passaram sorrindo.
Duas
crianças e uma adolescente...
O
carro virou a esquina...
A
moça loura passou a mão no cabelo...
O
velho com a flor...
O
vento soprou e uma flor voou sobre o carro.
Uma
buzina tocou...
A
mãe xingou a criança...
E
o velho com a flor...
O
homem de preto olhou.
Outro
carro virou.
A
música ... Era linda...
A
moto berrou...
E
o velho com a flor...
O
namorado beijou a menina.
Um
carro vermelho desfilou sua beleza.
A
farmácia fechou...
E
o velho com a flor...
A
polícia olhou.
Um
menino correu.
Uma
cerveja chegou...
Gente
com compras...
Uma
bíblia na mão...
Um
moço de óculos escreveu...
E
o velho com a flor...
Uma
moça passou.
Um
moço mexeu...
Mãe
e filha...
Moço
e moça...
Carro...
Um
jovem andou.
Outro
carro passou.
Um
neném chorou...
Outra
folha voou...
Nuvens
de chuva...
Na
esquina
O
VELHO COM A FLOR...
23 – Consideração
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Não
sei sempre o que pensam.
Não
sei muitas vezes
o
que consideram.
Sei
o que penso
E
o que considero...
Que
pode ser
O
que pensam
E
consideram...
Ou
não...
Muitas
vezes
O
que considero
E
penso
É
o que considera
O
meu grupo
Os
que estão comigo
Naquele
espaço.
Outras...
Não...
Mas
o que considero
E
penso e gosto
E
que também
Os
meus
Gostam,
pensam
E
consideram
É bom e queremos
Que
fique
Para
que outros
Depois
de nós
Considerem,
gostem
Pensem,
repitam,
Melhorem
E
transmitam.
24 - Provocação
Autor:
Carlos Henrique Rangel
TODA
PRODUÇÃO CULTURAL
É
DIGNA DE PROTEÇÃO?
E
a produção em si?
É
digna de proteção?
Proteger
o quê?
Proteger
como?
Proteger
por que?
Por
que quero?
Por
que outro quer?
Por
que muitos querem?
Um
grupo quer?
TODA
PRODUÇÃO CULTURAL
É
DIGNA DE PROTEÇÃO?
Por
que sim?
Porque
não?
Quem
decide?
Eu?
Você?
Nós?
O
culto?
O
oculto?
O
de fora?
O
de dentro?
O
alienígena?
TODA PRODUÇÃO CULTURAL
É DIGNA DE PROTEÇÃO?
25 - Mineiro
AUTOR: Carlos Henrique Rangel
Quando nasci
um anjo negro
Me disse: Vai Carlos
ser mineiro no mundo.
EU FUI...
E na corrida pelos quatro cantos
do mundo mineiro
tento mineirar o mundo...
Por que Minas
já disseram: São Muitas...
cercadas de Brasil
por todos os lados...
E de Mundo...
Mas o mundo mineiro,
de uais e trens
de palavras escondidas
e sotaque de poeta
é um só em sua
diversidade
Quando nasci
um anjo branco e cabelos dourados
com olhos de diamante
e mãos de ferro
disse: Vai Carlos,
mineirar o mundo.
Diga a todos o que é
que o mineiro tem...
E tem: ouro na lembrança.
Medos barrocos.
Igrejas aos montes
e montes... Verdes
E montes de ferro e café...
E leite...
E tem mineiro,
esse ser tão brasileiro...
Quando nasci
um anjo vermelho me disse:
Vai Carlos,
ser um mestiço mineiro...
EU FUI.
26 -Velhas
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Havia
um Rio.
E
no Rio havia velhas
E
no Rio das Velhas
Havia
peixes
E
ao redor,
onças,
pacas, cutias...
E
o verde das matas
E
o ouro...
E
o ouro...
Havia
um Rio
com
velhas...
E
depois
Homens
e bateias...
Homens
e mulheres
E
crianças
E
igrejas
E
roças
E
cidades...
Havia
um Rio
que
foi das velhas
Que
foi dos peixes...
Que
em seu redor
um
dia teve matas
com
onças
com
pacas
E
cutias...
Agora...
cidades
E
seus vestígios...
Há
um Rio
de
nome Velhas
com
velhas histórias
com
velhas lembranças...
Sem
peixes
Sem
mata
Sem
onça, pacas, cutias...
Sem
ouro...
Levando
ao Mar
o
descartável
o
podre
o
nojento
do
mundo ao seu redor...
Ainda
há um Rio...
De
nome Velhas
Resistente
Persistente
paciente
... Doente...
PACIENTE...
Ainda
há um Rio...
E
ao seu redor, gente
Até
quando?
27 - Pitangui
(Mas poderia ser a sua cidade)
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Casarões brancos em verdes,
azuis, amarelos,vermelhos,
vinhos, cinzas...
São tantos...
Coloniais, ecléticos,
déco, modernos.
Singelos, grandiosos...
Povoam quarteirões, esquinas,
adros e praças
em harmonia desordenada.
Vivos em experiências,
vivências... Belezas.
Filhos dos tempos,
seguem os homens
e com eles sofrem os dissabores
das horas
da riqueza,
da pobreza,
da fé, da descrença,
da inseparável esperança.
Brilham ao Sol
Os casarões
Brancos, azuis,
vermelhos, cinzas...
De todas as cores
como são os seus
homens,
mulheres,
e crianças.
Brilham em vida
dinâmicos,
decadentes,
reverentes,
irreverentes,
ardentes...
Perigosos
pelos segredos
acumulados em portas,
janelas, quartos, corredores, pátios,
nas seculares noites
e nos grandes dias quentes.
São tantos...
Em tantas ruas e becos,
praças, adros...
casas de homens
ao redor
das casas de Deus.
Fincadas em solos
outrora dourados...
São tantos...
Belas joias de vários tempos
como são os seus homens.
Versos de um poema
ou notas de uma bela canção.
Na Dinâmica dos séculos
falam de homens
e de tudo que é familiar aos homens.
Símbolos de riqueza,
poder, beleza, alegria,
tristezas, desejos, sonhos...
Falam dos homens da terra
que constroem em solo firme
uma visão de Céu. (um novo começo)
28 – Todos diziam - Para
Cecília Meireles
Autor:
Carlos Henrique Rangel
O
Sol iluminava as ruas da cidade.
As
janelas brilhavam.
O
chafariz jorrava a sua água límpida.
As
pessoas andavam,
Ou
apenas olhavam,
Ou
apenas conversavam.
E
todas pareciam dizer:
BOM
DIA.
As
árvores brincavam sobre o vento.
Folhas
caiam sobre o lago da praça.
Beatas
caminhavam para a igreja em passos lentos.
Alguém
cantava acompanhando os pássaros...
E
todos pareciam dizer:
BOM
DIA.
O
velho sentado no banco olhava.
A
velha na janela olhava.
O
moço sonolento no balcão do bar olhava.
Crianças
a caminho da escola olhavam...
As
casas antigas quase novas eram olhadas...
Todos
olhando, pareciam dizer:
BOM
DIA.
A
estação pintada de novo vendia artesanato.
A
igreja cheia de fieis apresentava Deus...
A
Prefeitura em seu labor burocrata governava...
A
Escola, velha anciã ensinava...
E
todos os prédios com suas funções, pareciam dizer:
BOM
DIA.
A
menina via o menino e amava...
O
menino via a bola e jogava...
O
cavalo puxando a carroça... Galopava...
Um
carro trotava nas pedras antigas da rua e balançava.
A
mãe puxava a filha...
A
filha puxava a boneca...
O
velho olhava a velha...
O
padre olhava o altar e adorava...
O
bêbado olhava a garrafa e desejava...
O
turista encantado se encantava...
E
Cecília, no Céu, a todos olhava e parecia dizer: BOM DIA.
29 – As Coisas Falam
Autor:
Carlos Henrique Rangel
A
Praça fala:
Falam
os bancos.
Os
jardins.
Falam
as pedras.
Falam
as Fontes.
E
as Estátuas...
E
os bustos...
As
ruas Falam:
As
pedras falam.
O
asfalto fala.
As
esquinas... Estas também falam.
Falam
as árvores.
Os
postes...
Os
faróis... Os sinais...
A
Igreja fala:
Falam
as escadas.
Falam
as portas.
Falam
os vitrais.
E
os bancos.
E
os altares.
E
as Imagens...
Estas
falam muito...
E
ouvem.
A
Escola fala:
E
suas carteiras.
E
seus quadros negros...
A cantina...
E o Sino?
Esse
fala, quase berra.
As
casas falam:
Os
telhados falam.
As
paredes...
As
janelas...
Os
quartos...
As
salas...
As
cozinhas também falam.
E
como falam...
A
natureza fala:
Fala
para os homens.
Também
canta.
Também
chora...
E
como chora:
por
causa dos homens...
Pelos
homens...
As
coisas falam:
De
homens.
De
homens do passado.
De
homens do presente...
As
coisas falam de vidas:
Tristezas,
alegrias, sonhos...
Amores,
dores, perdas...
As
coisas falam dos passos dos homens.
Das construções dos homens.
Da construção de homens.
Da destruição de homens.
De homens entre homens.
De
homens versos homens...
Todas
as coisas falam...
TODAS!
De
homens entre coisas.
De
coisas de homens...
De
coisas transformadas por homens.
De
espaços modificados por homens...
As
coisas falam...
Os
lugares falam...
Ouçam...
Ouçam...
Ouçam...
(Estão
ouvindo?)
30 – Tantas Coisas
(Coisas que falam)
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Pequenas
coisas
Dizem
tanto.
Tantas
coisas dizem
Coisas...
Um
olhar
O
caminhar
Um
lugar...
Tantas
coisas
Dizem...
Um
peixe no lago
O
lago...
Um
pescador no lago
O
pescador...
A
praça...
Um
coreto na praça.
No
coreto uma banda.
A
banda...
Tantas
coisas dizem
Coisas...
Um
menino com bola.
A
bola...
A
moça na missa.
A
missa...
Tantas
coisas
Dizem...
Um
sorriso de um ancião.
Um
ancião...
Um
sorriso de criança.
Uma
criança...
A
escola
O
sino da escola.
A
fábrica...
A
sirene da fábrica.
O
burro no pasto.
O
pasto...
O
burro...
A
moça do sobrado.
O
sobrado...
Pequenas
coisas dizem
Tanto...
Tantas
coisas dizem
Coisas...
O
cheiro de churrasco.
O
churrasco...
A
rua...
O
carro na rua...
O
calçamento da rua...
Tantas
coisas...
Os
que gostam.
Os
que não gostam...
Os
que enxergam.
Os
que não enxergam...
Os
que ouvem
Os
que...
Tantas
coisas
Dizem
coisas...
O
velho que diz
Sem
dizer.
O
chafariz que diz
Sem
querer...
A
montanha ferida
Que
berra
E
ninguém ouve ou vê.
Pequenas
coisas
Dizem
tanto...
Tantas
coisas
Dizem
coisas...
Tantas
coisas...
TANTAS...
TANTAS...
31 - Encantamento
AUTOR:
Carlos Henrique Rangel
Tantas
coisas me encantam...
Me
encanta
O
caminho da chuva.
O
cheiro de comida.
O
bezerro mamando.
O
velho com a flor...
Me
encanta
O
choro de criança.
A
torneira pingando...
A
moça na janela
O
moço olhando...
Me
encanta
O
casarão colorido.
O
carro de boi.
O
peixe no lago...
Me
encanta
O
plástico voando.
A
rosa solitária...
O
sino da igreja.
A
imagem da igreja.
A
beata na igreja...
Me
encanta
O
apito do trem.
O
vento no cabelo.
O
congado passando...
Tanta
coisa me encanta...
Me
encanta
A
moça sambando.
Os
profetas de Congonhas
Como
me encantam...
Me
encanta
O
ontem lembrado.
Minha
mãe no mercado.
A
pizza de domingo...
A
cama do hotel...
Me
encanta
A
novidade do amanhã
E
sua insegurança...
Me
encanta
O
postal.
O
e-mail.
O
jornal...
Me
encantam
Os
pombos da praça.
O
suor do trabalhador.
A
fotografia na parede...
Tantas
coisas me encantam...
A
cor da pele.
A
pele...
A
cor do cabelo.
O
cabelo...
A
calçada portuguesa...
O
ônibus lotado
Também
me encanta...
A
dança
E
quem dança...
E
quem olha a dança...
Tantas
coisas...
A
mosca na sopa.
A
pedra no caminho.
O
caminho...
O
caminhar...
Me
encanta
O
artista de rua
A
rua...
O
vendedor de bala...
A
bala...
A
moça bonita.
A
bala...
Tantas
coisas me encantam
Que
fico encantado
E
maravilhado
Com
tantos encantos...
A
vida...
A
VIDA ME ENCANTA!
32 - Quero
Autor
: Carlos Henrique Rangel
Não
quero te ver
Construindo
Castelos monstruosos
Onde
haviam casarios De adobe.
Não,
Não
quero ver
Ao
entardecer Os bancos Vazios enfrente
As
casas Sem causos...
Sem
prosas.
Não
quero ver As imagens Carcomidas
Ignoradas,
Maltratadas, Mutiladas, Sumidas...
Os
templos de pisos vulgares
De
gosto duvido e paredes lisas...
Não,
Não
agüento ver
O
chão de asfalto cobrindo o passado de pedras
As
roupas balançando nos telheiros agressivos.
Os
gigantes letreiros escondendo platibandas...
Quero
você após a missa.
A
procissão da santa moça.
O
chacoalhar do congado.
A
folha de guilhotina
Levantada
no sobrado.
Quero
o padeiro gritando seu pão
A
viola e sua canção.
A
feira de domingo
E
as carroças coloridas.
Quero
a paz sonolenta da praça
E
seus pássaros.
Quero
nadar no rio...
A
gente pequena saindo da escola...
Os
bons dias, os boas tardes e noites...
O
caminhar sem medo.
Quero
Dona Maroca
João
da Zezé
Maria
do Morro
Pedro
Banguela
E
outros...
Quero
a hora dos anjos
O
menino da porteira
O
apito do trem.
Não,
não quero
Congelar
o mundo
Ou
viver do passado.
Eu
só quero o continuar tranquilo
De
tempos quase iguais.
O
meu pequeno grande mundo
Complementando
o globo
Em
sua singularidade.
Quero
apenas ser igual na diferença.
E
diversidade ser feliz.
São
queres saudosistas .
33- Caminhos do Mundo
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Eu
não sei dos caminhos do mundo.
CAMINHO.
O
não saber me guia
E
me faz sábio na descoberta.
Caminho
vendo
Observando
Reparando
Desfrutando
Aprendendo
Acumulando
Trocando...
Os
caminhos do mundo
Eu
sei caminhando.
Sem
escolhas
Aceitando
O
caminho...
O
caminho
Se
faz caminhando.
São
tantos...
Os
bons
Os
não tão bons.
Os
certos
Os
não certos.
Os
que nos levam.
Os
que nos deixam levar...
Há
caminhos
Que
não são caminhos...
São
becos
São
trilhas.
Outros, estradas
Pavimentadas
Saneadas
Limpas.
Eu
não sei
Dos
caminhos...
Caminho.
Não
tenho respostas...
Nem
perguntas.
Paro
nas encruzilhadas
E
sigo o bom vento.
Não
sou guia nem guiado.
Sigo
trilhas, Picadas, Estradas...
Retas
, Curvas, Desfiguradas.
Sigo
compulsivo
(uma
missão?)
O
caminho é a minha Sina
Minha
obsessão
Minha
maldição.
Carrego
o meu fardo
Desabotoado
Recebendo
dádivas.
Eu
não sei dos caminhos do mundo...
Caminho...
34 – Línguas dos
Homens
AUTOR:
Carlos Henrique Rangel
Falo
a língua dos Homens...
De
alguns Homens...
Dos
que vivem ao meu redor.
Penso
na língua dos Homens...
Quase
como pensam todos os Homens
Que
falam a língua dos Homens...
Sou
filho do tempo dos Homens.
Medido,
Pesado, aprovado pelos Homens.
Carrego
o fardo dos Homens.
Às
vezes leve como pluma.
Outras,
pesado como chumbo.
Vejo
com os olhos dos Homens,
As
coisas dos Homens...
E
as coisas vivenciadas pelos Homens...
Sou
homem presente cheio de passados
Cheio
de outros Homens...
Ouço
com os ouvidos dos Homens
O
mundo que rodeia os Homens
E
reproduzo os sons com ritmos dos Homens.
Os
mesmos Homens do passado, do presente.
Sinto
o mundo dos Homens
Como
se realmente fosse dos Homens.
Áspero,
macio, maleável, duro...
Um
mundo de Homens...
Cheiro
o mundo com o vento dos Homens.
Aprendido
com os Homens.
Definido,
codificado por Homens.
Agradável,
desagradável, cheio de lembranças de Homens...
O
gosto dos Homens permeia o meu ser
E
define o que é bom ou ruim.
Sou
homem entre Homens...
Faço-me
com os Homens.
Vivo
entre Homens.
O
que construo
Construo
com e para Homens.
Falo,
penso, vejo, e sinto
Por
que sou
Sobre
tudo HOMEM.
35 - DIFERENÇAS
Autor: Carlos Henrique Rangel
Somos diferentes
Demais para sermos
Iguais.
Iguais o suficiente
Para percebermos
As diferenças...
Somos iguais
O suficiente
Para pensarmos
Quase iguais
E entendermos
Uns aos outros.
Para discordarmos
Ou não...
Somos diferentes
Demais...
A diferença
Nos faz.
36 – Sobrado
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Sacada:
Na
sacada
Tudo
vi...
O
ontem
E
o depois.
Na
sacada
Namorei
O
mundo
Do
alto...
Descansei
Meu
cansaço.
Janela:
A
janela
Do
mundo
Me
enquadra...
O
tempo
Brinca
Nos
vidros
Em
gotas
E
grãos de poeira.
As
mudanças
Ocorrem
Dentro
e fora...
Grades:
Ah
essas
Grades
Em
flores
Em
formas...
Belezas
metálicas
Que
me protegem
Do
medo...
Vejo
o mundo
Da
sacada...
Paredes:
Paredes
Me
separam
E
me unem.
Me
isolo
Do
mundo
No
sobrado.
Me
completo
De
mundo
No
sobrado...
Histórias
E
estórias
Me
rodeiam...
Porta:
Pela
porta
Entro
E
saio...
Ensaio
Cotidianos
De
conteúdos
Diversos:
Isso
importa?
Telhado:
A
telha...
O
telhado...
Proteção
em
Curvas.
Seguro
do mundo...
Das
intempéries
Do
mundo...
Proteção
Enquanto
houver...
O
que me protege
Do
interior.
37 - Mudança
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Os
cômodos vazio...
Não
mais os passos da família...
A
algazarra das crianças correndo no corredor...
Na
sala, não vejo o sofá...
Apenas
a marca na parede identifica o lugar...
A
poltrona do Pai ficava ali...
Quase
um Trono...
Mesmo
sem ela sinto a presença...
O
olhar fixo na tela da TV...
Na
parede, os furos...
Os
quadros infantis das meninas
não
estão mais...
Ouço
sem ouvir um som na cozinha...
Não
há mais fogão
nem
louças para lavar...
O
sorriso da Mãe, no entanto, está no ar.
O
cheiro da comida fresquinha está no ar.
Ando
pelo corredor procurando os que não estão mais...
No
quarto... Na estante vazia vejo as sombras dos livros adivinhando seus
lugares...
As
lágrimas nublam os detalhes...
O
quarto da Mãe ... E do Pai para onde corria nas madrugadas de chuva me
abrigando no ninho protetor...
Lugar
sagrado de confidências juvenis...
A
casa vazia está cheia...
E
o meu peito
E
minha alma...
Abro
a janela
E
vejo a vizinhança mudada...
Também
eu mudei...
E
a Casa...
(mudar
é um começo ou o fim?)
38- Há um Tempo
Autor: Carlos
Henrique Rangel
Há um tempo para
Nascer
Um tempo para
Crescer
Para aprender...
Há um tempo para
Acrescentar
Um tempo para
Descartar...
Há um tempo para
Sorrir
Um tempo para
Chorar...
Um tempo para
Amar
E muitas vezes
Odiar...
Há um tempo para
Esquecer
Há um tempo para
Rejeitar
Um tempo para
Valorizar
E respeitar
Um tempo para
Construir
Um tempo para
Destruir...
Muito tempo para
Lamentar...
Há um tempo para
Restaurar
Para valorizar
Para reproduzir
E transformar...
Há um tempo...
Muitos tempos
Para influenciar
Observar
Relembrar...
Um tempo para
Continuar...
Com dignidade...
Com identidade
E respeito às
Identidades.
Há um tempo para
Vivenciar
Compartilhar
Reproduzir...
Para Ser...
Há um tempo
Há um templo
Há...
Ar tempo
Há tempo
Há!
39 – Limite
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Não
seja duro comigo
(ou
consigo)
Não
sou seu inimigo...
Relaxe
Respire
fundo,
Veja
o que
Há
no mundo...
Esqueça
as
Suas
verdades...
Olha:
Existem
mais verdades...
E
não são
Minhas
Nem
suas.
Estão
no ar...
E
em tudo.
Não
feche seu
Mundo...
Abra
o seu coração
E
sua mente.
Não
determine
Nada.
Tudo
pode ser
O
limite...
Cultura...
Cultura
Não
tem limite
E
eu...
Muito
menos...
40 - A SEMANA
Autor:
Carlos Henrique Rangel
SEGUNDA
FEIRA
Os
negros escravos sorriam.
O
Senhor sorria.
A
Senhora devotada admirava o sobrado novo
De
novas portas e janelas e sacadas.
Orgulho
da família.
Orgulho
da rua...
Orgulho
da Cidade.
TERÇA
FEIRA
A
Jovem senhora,
Rosto
suado do grande esforço,
Chora
ao ver a criança.
Pequeno
rebento...
O
herdeiro esperado.
A
negra sorri para o Senhor:
-
É
menino!
O
Senhor abre a janela e explode:
-
É
menino!
O
povo na rua acompanha a alegria:
-É
MENINO!
QUARTA
FEIRA
O
senhor de meia idade
olha
com tristeza o sobrado onde nasceu.
No
velho paletó desbotado, a foto de outros tempos...
Um
último olhar...
O
adeus...
QUINTA
FEIRA
Presa
às sacadas, a placa com o nome da Escola.
O
menino despede da mãe e olha o sobrado.
“Templo
do Saber”...
Segundo
lar...
Primeiro
dia de aula...
SEXTA
FEIRA
O
senhor de cabelos grisalhos, olha com tristeza
O
Sobrado abandonado...
Lembra
da professora Ana que lhe ensinou
as
primeiras letras...
Um
grupo de garotos passa
E
uma pedra quebra a última vidraça...
SÁBADO
A
chuva caia forte sobre o telhado envelhecido.
A
madeira range...
Uma
telha cai sobre a rua...
Um
pouco mais, outro rangido...
A
cobertura cai de vez...
Com
ela, duas paredes laterais...
Um
carro passa devagar.
O
motorista olha sem olhar...
DOMINGO
Banda
de música, foguetes, sorrisos, discursos.
O
prefeito admira a nova Prefeitura...
Um
velho senhor em cadeira de rodas
não
sorri...
Em
sua mão enrugada
uma
fotografia em preto e branco
mostra
um grupo de meninos uniformizados...
Um
Sobrado ao fundo...
Discursos,
sorrisos, foguetes, banda de música...
Uma
lágrima banha a velha foto...
(Segunda
feira ninguém sabe o que será...)
41
- A Pessoa Estranha
Autor: Carlos Henrique Rangel
Era uma pessoa estranha.
Falava estranho:
Palavras estranhas, diferentes...
Todos falavam de um jeito...
Ele falava de outro.
Comia outras comidas,
Bebia outras bebidas,
Vestia outros vestidos,
Rezava para outros deuses...
Diferente!
Estranho!
E todos sabiam.
E todos sentiam.
Vinha de terra distante,
Lugares de outras gentes.
De sabedorias estranhas,
De belezas feias...
De todos distanciava
E todos dele distanciavam.
A pessoa estranha...
O “Diferente”...
O “Distante”...
Um dia, por curiosidade,
O procurei
E de coragem me armei.
A pergunta antiga pronunciei:
- Por que tanta
diferença?
Por que você é tão estranho?
O “Diferente” sorriu espantado
E disse em sua fala diferente:
-Estranho Eu?
Não seriam estranhos vocês
Que tudo diferente fazem?
Que caminham por rumos estranhos
Que o meu antigo povo ignora?
Que comem coisas estranhas?
Vestem vestidos estranhos?
Adoram deuses estranhos?
Estranho Eu?
QUE ESTRANHO !
Olhei o Homem Estranho
Com sua fala estranha
E sorri...
Um sorriso que para ele parecia muito ESTRANHO.
(o início de uma convivência)
-------------------------------------------------------------
QUESTIONÁRIO
1-
Por quê a pessoa parecia estranha?
2
– Por quê os povos são diferentes?
3
– Compare a sua cidade com a cidade vizinha.
Existem
diferenças? Quais?
42 - Arteiro Ou A Arte
No Terreiro
Autor:
Carlos H. Rangel
A
mão amassa o barro.
Massa
moldada
Acariciada
Massa
que forma
No
calor da carne
Algo/alguém além barro...
Além
massa...
A
magia
De
ser deus menor
Construindo
mundos,
Dando
nova forma
Ao
que não era
Fazendo
ser...
Deus
domina
Sobre
terra
E
ar... E fazer.
43 - A Caixa ou ICMS
(para não dizer que
não falei das caixas)
AUTOR: Carlos Henrique
Rangel
A
caixa
Carrega
o mundo.
O
mundo que importa.
Mundo
mineiro
De
tamanho diverso
Cheio
de vidas locais...
A
caixa fala de gente
E
fazer de gente.
Quase
dá para sentir
O
suor dos brincantes
O
cheiro de mofo dos casarões
O
cheiro de comida salgada/doce
O
cheiro de vela adorando...
A
caixa respira vida mineira
Centenas
de caixas...
Milhões
de vidas...
As
cores são muitas...
Muitos
sobrados
Muitas
igrejas
E
fazendas
E
sítios de homens do passado
Negros
e índios...
Espaços
de homens
Se espremem nas caixas.
Parecem
iguais
Quase
vulgares em seu formato.
Mas
as caixas...
As
caixas são diversas
Mineiramente
diversas
E
belas
Como
os seus fazedores
Esse
povo culto e oculto
De
Minas Gerais.
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