DEPOIMENTO
Educação patrimonial – uma
abordagem empírica, didática e criativa
Rodrigo Flávio de Melo Faleiro*
Carlos Henrique Rangel**
FALEIRO,
Flávio de Melo. Rangel, Carlos Henrique. Educação Patrimonial – Uma abordagem
empírica, didática e criativa. Caderno de História, Belo Horizonte, v.14,
n.20, 1º sem. 2013, p. 188 a 211.
FONTE: Cadernos de História ISSN: 2237-8871
Resumo
Formalmente a Educação
Patrimonial é trabalhada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e
Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG – há pouco tempo. Algumas ações foram
realizadas para envolver as comunidades desde a década de 1980, mas nunca se
seguiu de forma contínua e sistemática. As primeiras ações visavam uma efetiva
participação da comunidade. Depois sentiu-se necessidade de uma maior
fundamentação teórica. Por meio da parceria entre a Secretaria de Estado da
Educação e a Fundação João Pinheiro foi discutida uma nova metodologia de ação
educativa e cultural. Porém, foi com a criação do ICMS Cultural que se conseguiu
uma maior expansão do conceito “educar pela memória” por diversos municípios do
Estado.
Palavras chave: Educação; Patrimônio;
ICMS Cultural; Ação cultural.
O Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG – há alguns anos
entende como de suma importância a atuação social e educativa no tema da
preservação dos bens culturais coletivos. Poderíamos dividir, talvez, em cinco
momentos, as atuações mais sistemáticas de Educação Patrimonial desenvolvidas
na Instituição: 1ª fase, Comunitária; 2ª fase, Criativa-Experimental; 3ª fase,
Metodológica; 4ª fase, Exploratória; e 5ª fase, Normativa (ICMS). Remontamos à
primeira publicação produzida pelo Instituto, Cartilha do Patrimônio,
no final da década de 1980.
Produzida pelo sociólogo
Guido Rocha, que posteriormente ocupou o cargo de Superintendente de
Desenvolvimento e Promoção do IEPHA/MG, a cartilha era dirigida às comunidades,
aos alunos e aos professores numa abordagem mais incisiva e política, porém
menos didática. Nesse sentido, todas as partes eram envolvidas com
responsabilidade no processo tanto da destruição quanto da preservação do
patrimônio cultural de sua comunidade.
Alguns anos depois, uma
equipe multidisciplinar – composta por diversos técnicos do IEPHA/MG, coordenada
pela arquiteta Aurora Pedersoli e assessorada pela pedagoga Geny Lima –
desenvolveu algumas atividades por núcleos culturais, envolvendo escolas e
cidades na perspectiva de se elaborar uma ação reflexiva e criativa sobre o
tema em questão: a preservação da identidade cultural. Jogos, simulações
teatrais e exposições foram desenvolvidos com grupos de professores e alunos em
escolas e comunidades, com o objetivo de aproximar o trabalho institucional das
ações cotidianas.
Posteriormente, um
seminário, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais e
a Fundação João Pinheiro, foi realizado na expectativa de se discutir caminhos
da metodologia nesse processo educativo ligado ao patrimônio cultural. Nesse
evento foi apresentado o grupo Miguilim, composto por alunos da cidade de
Cordisburgo que relêem e interpretam os textos de Guimarães Rosa para os
visitantes do museu, dedicado a esse escritor naquela cidade, trabalho
significativo e exemplar no campo cultural.
Como resultado foi publicado
o livro Reflexões e Contribuições para a Educação Patrimonial, que fazia
parte de um plano mais amplo e pôde abrir discussão sobre a metodologia
de trabalhar com a Educação Patrimonial no Estado. A obra foi classificada,
em nível regional, para o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto
do Patrimônio Histórico Nacional – IPHAN –, na categoria Educação Patrimonial,
no ano de 2001. Na época a arquiteta Marília Machado Rangel era a superintendente
de Desenvolvimento e Promoção do IEPHA/MG.
É possível perceber um
avanço das iniciativas da educação não formal em ambientes culturais, tendo em
vista não apenas a preservação dos bens materiais, mas também dos valores
agregados às escolas, à oralidade, às histórias vivas das regiões, à culinária,
aos modos de vida. Tudo isso feito com certa informalidade por técnicos do
Instituto, que realizavam obras pelos diversos municípios do Estado. Ações
isoladas, mas não menos importantes, eram realizadas de acordo com a
capacidade, a possibilidade e as condições de cada projeto e o envolvimento de
cada município.
Nos últimos anos, o
historiador Carlos Henrique Rangel foi indicado como Diretor de Promoção do
IEPHA, tendo como uma de suas atribuições a retomada e continuidade desse
programa socioeducativo. Algumas ações com caráter de explorar as riquezas e a
diversidade cultural no interior foram desenvolvidas em cidades como Pirapora,
Buritizeiro, Pitangui, Entre Rios de Minas, Jeceaba e São Brás do Suaçuí.
Em Belo Horizonte, as
escolas públicas estaduais tombadas foram escolhidas para o desenvolvimento de
uma ação educativa direta. Seis edifícios escolares são tombados pelo IEPHA na
capital e apenas um no interior, ficando definido, inicialmente, trabalhar nesse programa de Educação
Patrimonial apenas com as escolas de Belo Horizonte para desenvolver um projeto
piloto, sobre o qual dissertamos mais adiante.
Ainda nessa gestão pode-se
perceber outra fase que não consta de uma ação direta do IEPHA/MG, mas sim de
orientações normativas, para o cumprimento de pontuação no ICMS Cultural, às
diversas prefeituras, que podem encaminhar projetos e relatos de ações de
Educação Patrimonial para serem analisadas. É a que chamamos aqui de 5ª fase do
processo.
1ª fase: comunidade
Ao longo de seus mais de
30 anos de existência, a Instituição cumpriu com relativa desenvoltura as suas
funções de proteger, gerenciar e estudar o patrimônio cultural do Estado. No
entanto, o tamanho reduzido do seu corpo técnico e a grande extensão
territorial de Minas Gerais, aliada à diversidade do acervo cultural, cedo
demonstraram a necessidade de parcerias para o desenvolvimento dos trabalhos.
Em 1983, o IEPHA criou o
PAC – Política de Atuação com as Comunidades –, que tinha como principal
objetivo envolver a comunidade na tarefa de preservação do patrimônio.
A política de atuação do
PAC partia do pressuposto de que todo bem cultural é uma referência histórica
necessária à formulação e realização do projeto humano de existência.
A condição necessária,
para que este modo de atuação funcione plenamente, é a de que as comunidades
locais possam se assenhorar, não apenas de seus valores culturais, mas também
dos tributos que lhes escapam das mãos. Deste modo, a criação e o
desenvolvimento de entidades locais, encarregadas
do patrimônio local e sustentadas
pelas próprias comunidades, aparecem como variável estratégica, capaz de
equacionar o problema da deterioração do acervo cultural de Minas.
Uma das metas fundamentais
da Política de Atuação com as Comunidades – PAC do IEPHA/MG – era, precisamente,
a de fomentar a criação e o desenvolvimento daquelas entidades. Neste sentido,
cumpre-lhe oferecer às comunidades locais subsídios para que possam se
organizar de modo adequado. (IEPHA/MG, 1983).
Assim, para empreender
essa descentralização, era incentivada a criação de conselhos e associações em
defesa do patrimônio local. O que faltou em alguns momentos foi uma maior
motivação por parte dos municípios. Foi criada então, na segunda metade dos
anos de 1980, a Superintendência de Desenvolvimento e Promoção que, entre
outras atribuições, se responsabilizou pelas ações comunitárias e assessoria a
esses municípios. Entretanto, apesar de todo o trabalho empreendido, como a
criação de uma cartilha do patrimônio cultural (1989), além de um caderno
técnico com conceitos e diretrizes para a proteção desse patrimônio, os
resultados não foram colhidos momentaneamente.
Durante alguns anos o
IEPHA/MG pôde contar, no seu quadro funcional, com um sociólogo que interagia
de forma incisiva nas questões sobre o patrimônio e as cidades. Muitos anos se
passaram, o quadro político do Estado se alterou, bem como o quadro social e
funcional das instituições estaduais, e a figura do sociólogo deixou de fazer
parte dos quadros. Hoje, com a abertura através de concurso público, um
profissional da área entrou no quadro, mas não vemos ainda uma articulação
ativa de uma gestão integradora e coparticipativa na área social e comunitária.
Na década de 1980, as
comunidades que recebiam obras executadas em seus municípios realizavam algumas
promoções como festas, reuniões e outras ações que envolviam também os técnicos
do IEPHA/MG. A cada obra, técnicos e comunidade se dividiam na sua execução e
recuperação dos bens tombados. Em suma, em uma análise da conjuntura atual,
podemos ver certa desarticulação da sociedade com os institutos oficiais de
preservação. Podemos ver, ainda, cidades com problemas de preservação e de
valorização da sua memória. As ações normativas que estimulam ações em troca do
repasse dos valores relativos ao ICMS não são suficientes para se ter a certeza
da eficácia e da consistência das ações realizadas.
Um avanço substancial pode
ser observado nas questões ambientais, mas nas questões relativas ao patrimônio
pouco se avançou em termos de consciência e mudança de comportamento, apesar da
sensibilização ter sido crescente. Podemos ver, também, a especulação
imobiliária assolando áreas urbanas em detrimento da preservação da história e
da memória coletiva. Temos também grandes lacunas na ação social em defesa da
cultura. A comunidade educativa ainda não vê o seu ambiente como espaço
cultural e social de memória que deve ser preservado, mantido, conservado,
equipado...
Assim, temos ainda um
grande descompasso das ações de uma comunidade com os trabalhos de preservação
dentro dos conceitos vistos e trabalhados dentro da instituição.
Necessita-se de um programa educativo de
massa que envolva maior articulação entre a
mídia e a sociedade.
2ª fase:
criativa-experimental
Em 1994, considerando a
continuidade dos trabalhos de sensibilização e entendendo que somente a criação
de uma sistemática educativa de socialização do conhecimento de todas as
questões que envolvam o patrimônio cultural poderia assegurar às comunidades a
efetiva participação na construção de sua história, o IEPHA/MG resolveu
investir em um pioneiro projeto de ação tendo em vista a Educação Patrimonial.
Essa nova empreitada pretendia conscientizar as novas gerações sobre a
importância da preservação, entendendo serem elas as futuras guardiãs desse
acervo cultural. Para sua realização, foram envolvidas as superintendências das
duas diretorias técnicas da instituição – Diretoria de Proteção e Memória e
Diretoria de Conservação e Restauração – e a Secretaria de Estado da Educação.
O Projeto Educação, Memória e Patrimônio foi desenvolvido experimentalmente com
objetivo de promover ações educativas de identificação, valorização e proteção
de bens culturais junto a escolas públicas estaduais:
Considerando a Educação
como uma das bases do processo de constituição da identidade cultural, o
presente Projeto destina-se a implementar, apoiar e assegurar a continuidade de
ações de caráter educativo em unidades escolares estaduais, no sentido de que
possam ser transmitidos e refletidos criticamente conteúdos sobre educação, Memória
e Patrimônio. (IEPHA/MG, 1994).
Os trabalhos desenvolvidos
em duas escolas escolhidas como piloto foram divididos em duas etapas que
contaram com um ativo envolvimento dos técnicos do IEPHA/MG. A primeira etapa
consistiu do planejamento e realização do curso Conversando com quem trabalha
com Patrimônio Cultural, dirigido a professores e supervisores das duas escolas
envolvidas. Seu objetivo era proporcionar informações e atividades correlatas
de cunho metodológico, com a finalidade de inserção dos conceitos básicos do
trabalho com Patrimônio Cultural e História local no currículo da escola de 1º
grau e de construir uma didática de abordagem sobre o tema dentro das salas de
aula, tratando principalmente das questões conceituais. Em três dias foram ministrados
os seguintes conteúdos:
Primeiro dia: “De
Patrimônio Edificado a Bem Cultural e Natural: evolução de um conceito” e “Arte
Colonial Mineira”.
Segundo dia: “Serro – uma
experiência com a Comunidade” e “Restauração Artística” (com visita a um ateliê
de restauração).
Terceiro dia: “Recursos
metodológicos e materiais no trabalho curricular com História Local, Memória e
Patrimônio Cultural”.
Ainda nessa etapa foram realizadas visitas
orientadas ao Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, e ao Conjunto
Arquitetônico do Caraça, atualmente pertencente ao município de Catas Altas.
A segunda etapa consistiu no trabalho de
campo propriamente dito, envolvendo as escolas estaduais Barão de Macaúbas, em
Belo Horizonte, e Zoroastro Vianna Passos, em Sabará. A ação teve início em
outubro de 1994 e foi desenvolvida por duas equipes técnicas diferentes.
Na Escola Estadual Barão de Macaúbas, duas
turmas do 3º ano do ensino fundamental foram trabalhadas pelos técnicos Elinete
P. Vasconcelos, Carlos Henrique Rangel e Rodrigo Faleiro. Na Escola Estadual
Zoroastro Vianna Passos, os alunos do Ensino Fundamental e Médio foram
trabalhados pelos técnicos Elisabeth Salles de Carvalho, Tarcísio Guadalupe Sá
Ferreira Gomes, Delmari Ribeiro e Rodrigo Faleiro.
Em ambas a coordenação foi da arquiteta
Aurora Pedersoli, com assessoria da pedagoga
Geny Lima.
O trabalho denominado Jornada do Patrimônio
Cultural foi precedido pela definição das atividades a serem desenvolvidas e
pela elaboração do plano de trabalho.
Devido ao ineditismo da
experiência, foram muito discutidas as formas de abordagem
adotadas. A coordenação do
projeto, em reunião como os professores, identificou as temáticas de interesse
dos alunos e definiu a abordagem inicial dos docentes, que consistiria
basicamente em um trabalho interativo, participativo e envolvente. O material
didático foi todo elaborado pelos técnicos, assim como a sugestão para roteiro
de pesquisa, reprodução do acervo histórico/fotográfico da Casa Borba Gato em
Sabará, além da confecção de slides
para um Jogo de Memória e propostas de atividades.
Escolas diferentes, com
turmas diferentes, obtiveram resultados diferentes, com utilização de
metodologias e ações também diferentes. Todos atenderam às expectativas
de cada realidade. Na
escola de Sabará os destaques foram a visita guiada e as duas peças teatrais
criadas pelos próprios alunos com temática referente à preservação da memória e
do patrimônio cultural.
Na Escola Estadual Barão
de Macaúbas, devido à juventude dos alunos, a equipe optou por uma abordagem
questionadora, retirando os conceitos relativos à ideia de Patrimônio Cultural
dos próprios envolvidos, usando o vídeo de desenho animado Alô Amigos, de Walt
Disney, descontraído e aparentemente desvinculado da temática. Os alunos foram
estimulados a se manifestar com relação às imagens apresentadas, que retratavam
a paisagem brasileira da década de 1940, em contraste com a realidade atual.
Foram utilizados, a seu
tempo, questionários, recursos audiovisuais com imagens de bens tombados em Minas
Gerais e em outros estados, jogos, cruzadinhas, desenhos e uma visita guiada
pelo bairro Floresta, tendo como orientação uma planta da década de 1940, e uma outra visita
ao Museu Abílio Barreto. A excursão pelo bairro motivou a curiosidade das
crianças e o senso de observação, permitindo a construção individual do conhecimento.
Em pouco mais de um mês de
atividades, os resultados obtidos foram surpreendentes, culminando com uma
exposição museológica de objetos dos familiares dos alunos, com legendas elaboradas
pelos próprios, e um júri simulado. “A simulação do museu objetivou o ensino de
‘como visitar uma exposição’, considerando-se tudo o que foi trabalhado com
relação à preservação e valor cultural”. (IEPHA/MG, 1994, p. 27).
A ideia de simular um julgamento
para se captar o nível de assimilação de conceitos por parte dos alunos foi
motivada pelas observações detectadas na visita guiada ao bairro Floresta, onde
a escola se situa. Devido à proximidade com o centro da cidade, a região foi –
e ainda é – palco de grandes transformações que foram facilmente percebidas
pelos estudantes ao compararem o bairro existente com a realidade apresentada
pela planta cadastral dos anos 1940. Para servir de pano de fundo ao julgamento
foi escolhido o Solar Cannã, imóvel da década de 1940 que, devido à ameaça de
demolição por parte dos proprietários, foi embargado pela Prefeitura, e na
época do projeto (como ainda hoje) encontrava-se em ruínas.
A simulação do julgamento,
tendo como objeto uma realidade concreta, motivou o conhecimento dos dilemas
encontrados ao longo da luta pela defesa do patrimônio cultural. As turmas
foram divididas em “contra a preservação do Solar” e “a favor da sua
preservação”. Quatro alunos foram selecionados para encenarem a trama do
julgamento. Representaram quatro irmãos: dois a favor da demolição do imóvel e
os outros dois favoráveis à preservação. Outro grupo de alunos foi designado
para ser o corpo de jurados, a quem caberia a decisão hipotética de preservar
ou não o imóvel.
Para maior conhecimento e
sensibilização dos alunos foram apresentados slides com
detalhes do interior e da
fachada anteriores à degradação.
As duas duplas se
empenharam na caracterização dos papéis e no julgamento, presidido pela
presidente interina do IEPHA/MG na época, a historiadora Ruth Villamarim
Soares. Cada grupo defendeu com argumentos convincentes os seus pontos de
vista. Os dois alunos que desejavam demolir o imóvel alegaram que era velho e
que o mais correto seria a sua substituição por um prédio que teria um apartamento
para cada um dos irmãos, solucionando a disputa. Os outros dois irmãos
argumentaram que a casa era cheia de lembranças do passado da família, citando
cenas do convívio imaginário dentro da casa e até mesmo as cores das paredes
dos quartos e os afazeres dos pais na cozinha do imóvel. Importante esclarecer,
no entanto, que nenhum dos alunos conhecia o interior da Solar, o que permitiu
uma representação criativa e comovente das argumentações.
A atuação, extremamente
convincente, emocionou a todos os técnicos envolvidos por constatarem a
apreensão e utilização dos conceitos discutidos durante o projeto para
defenderem o patrimônio e a qualidade de vida local. Venceram os últimos.
Em avaliação elaborada
após a atividade, a equipe considerou que a divisão das turmas “[...] gerou uma
competição acirrada, provocando uma atitude parcial entre os alunos, os quais,
apesar da consciência sobre a importância da preservação, passaram a querer
ganhar, de qualquer forma”. (IEPHA/MG, 1994, p. 26).
Independentemente do
resultado obtido pelo júri simulado, o mais importante de todo o processo foi a
grande participação das turmas que foram sensibilizadas para a descoberta,
dedução, comparação e raciocínio com relação à temática, fechando com chave de
ouro o Projeto Piloto:
A Jornada extrapolou a
esfera da Escola, integrando também a comunidade (padre da Igreja N. S. das
Dores, vizinhos da escola, famílias dos alunos), a qual se mobilizou de
diversas formas para a construção do trabalho.
O sucesso da atuação do
IEPHA/MG foi tão grande que chegou a provocar ‘ciúmes’ nas turmas que não foram
envolvidas no Projeto. A resistência inicial, por parte de alguns professores,
em trabalhar a questão do Patrimônio Cultural com seus alunos, acabou sendo
superada a partir da tomada de conhecimento do resultado do trabalho.
Considerando o objetivo do Projeto em despertar o interesse dos alunos para as
questões da preservação do Patrimônio Cultural, houve uma preocupação por parte
dos técnicos em não fornecer informações em excesso, e sim esclarecer os
questionamentos no momento em que havia a manifestação de interesse pelos
alunos, o que pode ser avaliado como bastante salutar.
A atuação integrada dos
diversos técnicos envolvidos possibilitou uma linguagem unificada, acessível
aos alunos, os quais puderam sentir o resultado do trabalho de uma equipe
coesa. (IEPHA/MG, 1994, p. 27,30).
Finalizada a experiência
nas duas escolas, o IEPHA/MG, devido à grande repercussão alcançada, deu
prosseguimento à Educação Patrimonial através do Projeto de Pesquisa Memória de
Minas – Educação e Patrimônio Cultural, numa tentativa de se criar uma
atividade permanente integrada às ações comunitárias e ao projeto de realização
de inventários da instituição. O principal objetivo era a socialização do conhecimento
das questões referentes ao Patrimônio Cultural, assegurando às comunidades uma
verdadeira participação na construção da sua história e, consequentemente, na
melhoria de sua qualidade de vida. Uma nova ação foi realizada em 1995, na
cidade de Leopoldina, onde se empreenderam atividades educativas com a
participação da comunidade na investigação, reconhecimento e manutenção dos
referenciais culturais do município. Foram realizados encontros, palestras,
fóruns de debate, o tombamento da Escola Estadual Botelho Reis e o inventário
do acervo cultural do município.
Nos anos que se seguiram,
outras ações foram empreendidas em trabalhos de pesquisa para tombamento,
inventário e restauração de imóveis tombados. No entanto, essas atividades não
se traduziam em um projeto efetivo da instituição, refletindo muito mais a
disposição de alguns técnicos. Atualmente, um novo projeto de Educação
Patrimonial está sendo implantado no IEPHA/MG, visando suprir essa carência de
intercâmbio e conscientização tão importante para o bom desempenho da
instituição, dos municípios e comunidades na proteção do acervo mineiro.
Para os que participaram
da experiência piloto do Projeto Educação, Memória e Patrimônio, ficou
definitivamente cristalizada a ideia de que a proteção do patrimônio cultural
deve refletir os interesses das comunidades e que estas devem participar
ativamente da construção de sua identidade, o que, consequentemente,
influenciará na sua qualidade de vida. Quanto aos alunos envolvidos, temos
certeza de que a experiência da qual participaram contribuiu para uma maior
percepção daquela que tinham do mundo, formando uma nova geração sensível à
causa da preservação cultural.
3ª fase: metodológica
Em outro momento, nos anos
de 2001 e 2002, o IEPHA voltou-se para a discussão de qual processo
metodológico deveria ser adotado para o cumprimento desta atribuição – a
Educação Patrimonial. O primeiro passo foi verificar quais ações tinham sido
feitas até então e percebeu-se que, mesmo tendo bons resultados, eram descontínuas.
“Decidiu-se pela parceria com profissionais da área de educação e de
planejamento e pesquisa para atingir os objetivos de envolver a sociedade civil
nas áreas de preservação do patrimônio cultural de forma consciente e
participativa” (IEPHA, 2002).
Foi firmado um convênio
entre o IEPHA, a Secretaria de Estado da Educação e a Fundação João Pinheiro
“visando a disseminação de conceitos, conhecimentos, experiências e
recomendações para a exploração do tema.” (IEPHA, 2002).
Primeiramente, foi
realizada uma oficina com o corpo docente de algumas escolas públicas estaduais
e percebeu-se que havia interesse por parte dos professores de trabalhar com o tema,
tendo em vista que já se abordavam questões sobre o patrimônio cultural em
projetos transdisciplinares ou mesmo em algumas disciplinas que enfocavam
prioritariamente as questões sobre meio ambiente no seu conteúdo. A partir daí tomou-se a
decisão de trabalhar com alunos do Ensino Médio e professores na
perspectiva de que se
tornassem multiplicadores do modelo apreendido.
A Fundação João Pinheiro,
por meio do Centro de Estudos Históricos e Culturais, realizou uma pesquisa nas
escolas para subsidiar o trabalho. O resultado desse levantamento também
originou um artigo publicado na Coleção Lições de Minas, denominado “Educação
Inclusiva – construindo significados novos para a diversidade”.
Uma das primeiras ações
após essa pesquisa foi a capacitação dos professores.
Foram ministradas aulas
sobre “metodologia de formatação de projetos” tendo em vista os PCN's – Parâmetros
Curriculares Nacionais – com objetivo de recomendar uma ampliação da parte
diversificada do currículo do Ensino Médio, com temas e assuntos de interesse,
aos alunos e às comunidades em que as escolas estão inseridas.
O resultado desse trabalho
gerou a publicação Reflexões e Contribuições para a Educação Patrimonial, uma
coletânea de artigos selecionada pelo Grupo Gestor do Projeto de Educação
Patrimonial das três entidades envolvidas, com a contribuição de diversos
autores, pesquisadores nas áreas específicas que abordaram temas como: Conceitos
sobre Patrimônio Cultural (Marília Rangel); A identidade cultural de fato e de direito
(Bernardo Mata Machado); Um novo campo de ação para os professores (Betânia G.
Figueiredo); Educação e Patrimônio Cultural (Flávio Carsalade); Patrimônio
Imaterial: práticas culturais na construção de identidades de grupos (Márcia
Chuva);
Metodologia de projetos: o
patrimônio cultural no currículo do ensino médio (Mônica Barros de Lima
Starling e Sylvana de Castro Pessoa Santana); Educação Patrimonial (Aída Lúcia
Ferrari); O Museu e a Educação Patrimonial (Aída Lúcia Ferrari); Patrimônio e
Turismo (Nelson Quadros Vieira Filho); e ainda foram inseridas algumas
“Referências” indicadas por Maria Valeska Duarte Drumond. Essa publicação
tornou-se referência nacional na
área.
Na referida publicação, o
então secretário de Estado da Educação, Murilo Hingel, comentou que a meta,
nesse campo, seria estimular ações voltadas para o conjunto do patrimônio
histórico e cultural de Minas Gerais. Ressaltou, ainda, que esta não deve ser
atividade apenas das instituições e pessoas interessadas na preservação de
edifícios ou conjuntos arquitetônicos que representam fases da história de
Minas, pois o patrimônio da sociedade mineira vai muito além, das manifestações
artísticas ao conhecimento técnico e científico, dos recursos naturais ao
aparato turístico de cada região. Isso reafirma a importância maior do
patrimônio imaterial, dos valores culturais, da diversidade e da manutenção de
hábitos e costumes, inclusive o de uma boa educação focada no reconhecimento de
sua história.
Não podemos desconsiderar
as ações de alguns técnicos, motivados pelo interesse e sensibilidade em atuar
como educadores de uma comunidade, um grupo ou mesmo em realizar ações
educativas isoladas, que puderam, também, dar ao trabalho da instituição ainda
mais significado e repercussão. Um programa em 2006, denominado Trens de Minas,
visando à proteção do acervo ferroviário mineiro, desenvolveu várias ações
educativas como cursos, palestras, fóruns, atendimentos presenciais ou à
distância, produção de informativos, histórias e jogos, auxiliando os diversos
municípios mineiros na realização dos seus projetos de educação patrimonial.
4ª fase: exploratória
Programa Educação, Memória
e Cidadania
A Diretoria de Promoção do
IEPHA, Gerência de Difusão, está, nos últimos anos desenvolvendo o programa de
Educação Patrimonial “Memória e Cidadania”, cujos pilotos aconteceram
nas cidades de Paracatu e Pitangui, envolvendo comunidades quilombolas,
associações de bairros, Conselho Municipal do Patrimônio, Secretaria Municipal de Educação, secretarias municipais
de Cultura, diversas entidades públicas e privadas e escolas
estaduais e municipais, com foco central no desenvolvimento de projetos
elaborados em conjunto entre os vários segmentos da sociedade local.
Tendo como principal
objetivo a socialização do conhecimento, a conscientização e o envolvimento das
comunidades na preservação de suas manifestações culturais, o projeto de
Educação Patrimonial pretende estabelecer um vínculo efetivo e permanente entre
o IEPHA, o conselho municipal do Patrimônio Cultural, secretarias de Cultura e
os vários segmentos sociais, uma vez que a preservação é responsabilidade de
todos aqueles que vivenciam os saberes, fazeres e lugares que formam o rico
emaranhado cultural local.
O programa foi
implementado inicialmente na cidade de Paracatu, em abril de 2007, quando
representantes de 25 entidades estiveram presentes na reunião de apresentação
da proposta, coordenada pelos técnicos Carlos Rangel, Adriana Quirino e Vanessa
Ximenes. Em junho foi realizada uma oficina para formação e capacitação dos
envolvidos na execução do programa e nela foram formados seis grupos de
trabalho, que selecionaram os seguintes temas para elaboração de projetos:
“Pesquisando a Comunidade Quilombola Família dos Amaros”; “Descubra Paracatu:
paracatuense”;
“Consciência patrimonial”;
“O Resgate da memória do núcleo histórico”; “Literatura paracatuense” e
“Caretada na escola”.
A efetiva participação
popular e o pleno envolvimento de grupos heterogêneos nas ações de difusão do
patrimônio local e de reconhecimento da necessidade de preservação de sua
cultura são objetivos já alcançados com a implantação do programa.
Os grupos formados no
município de Paracatu vêm demonstrando dedicação e envolvimento na realização
dos projetos. Durante todo o processo, a equipe do IEPHA recebeu pleno apoio da
secretária de Cultura, Maria das Graças Jals, bem como dos funcionários da Casa
de Cultura. Em outubro, no aniversário da cidade, ocorreu a exposição dos
resultados alcançados no decorrer dos meses e uma avaliação coletiva para,
posteriormente, ser dada continuidade aos trabalhos, uma vez que a Educação
Patrimonial deve ser adotada como uma prática permanente.
A mesma metodologia foi
aplicada em Pitangui. O caso do município é ilustrativo, no que concerne,
sobretudo, ao envolvimento da comunidade no processo de interação necessário e
indispensável à eficiência da preservação. No dia 10 de julho de 2007 foi
realizada uma reunião na cidade entre as técnicas Adriana e Vanessa e
representantes de 19 entidades locais, para a apresentação do programa.
No dia 04 de setembro de
2007 uma oficina reuniu 33 participantes que definiram os seguintes temas pelos
quatro grupos: Grupo 1 – Centenário da Escola Estadual Francisca Botelho; Grupo
2 – O Chafariz da praça; Grupo 3 – Resgate da memória da antiga Companhia de
Tecidos e Grupo 4 – Identidade étnica da comunidade do Veloso.
Cabe ressaltar que a
parceria com a Gerência de Patrimônio Material foi de fundamental importância
para o entendimento da comunidade pitanguiense em relação à preservação e
(re)conhecimento das suas manifestações culturais. Afinal, é de corresponsabilidade
de todo o IEPHA difundir a importância da valorização dos bens culturais, como
também participar da construção da cidadania e do fortalecimento da identidade
local.
De importância inequívoca também
são os agentes culturais designados pelas prefeituras, que atuam como aqueles que
estimulam a participação das comunidades, trazendo-as para o espaço de debate
e, por serem membros das comunidades ou identificados com elas, atuam como mediadores
para a aproximação do o IEPHA.
Etapas do programa nas
duas cidades
A Etapa um, com duração
média de um mês, reuniu os seguintes procedimentos: reunião entre IEPHA e
representantes de diferentes instituições públicas e privadas para apresentação do programa e
definição dos participantes; divulgação do programa e ações: utilização dos
meios de comunicação disponíveis para a divulgação da intervenção em todas as
suas etapas, por meio de convites, ofícios, matérias e entrevistas em jornais,
rádio, televisão; oficina de capacitação e formação dos interessados em
desenvolver projetos de Educação Patrimonial; formação dos grupos de trabalho e definição dos
temas dos projetos; elaboração dos projetos pelos grupos da oficina.
A Etapa dois, também com
duração média de um mês, incluiu: o envio dos projetos elaborados ao IEPHA para
possíveis ajustes; o acompanhamento, monitoramento e orientação das atividades
dos projetos aprovados e definidos na oficina, por e-mail e telefone; a visita
dos técnicos do IEPHA para acompanhamento.
A Etapa três, com duração
média de seis meses, contou com: a execução dos projetos elaborados; o
monitoramento e acompanhamento dos projetos; visitas periódicas dos monitores
do IEPHA, pré-definidas em cronograma, para acompanhamento e avaliação das
atividades dos projetos; evento de encerramento do programa e exposição dos
produtos.
A Etapa quatro, com
duração média de um mês, incluiu: a elaboração e envio ao IEPHA, pelos grupos,
de relatório de atividades; a avaliação coletiva dos projetos; a produção do
Relatório de Avaliação e Conclusão referente às etapas desenvolvidas.
Atividades Correlatas do
IEPHA
Outro grande avanço no
processo de municipalização e participação das comunidades na preservação do
acervo cultural foi a valorização dos projetos locais de Educação Patrimonial,
que atualmente pontuam os municípios no ICMS Patrimônio Cultural, Lei
13.803/2000. Somente no ano de 2007, o IEPHA recebeu 598 projetos municipais de
Educação Patrimonial para serem analisados, provando que as ações de difusão e
promoção do IEPHA estão obtendo resultados satisfatórios.
Programa Escolas Tombadas
Desde 2008 foi delineado
um processo crescente de consolidação de um programa educativo junto a escolas
tombadas. O objetivo principal é estabelecer uma aproximação entre o trabalho
da Instituição e os bens por ela tombados, na premissa de disseminar a gênese
preservacionista e despertar um olhar sensível à memória, à identidade, à
cultura e que isso possa ser multiplicado – em deveres estatutários que devem
ser realizados pela Instituição –, no sentido de garantir sua integridade
física e resguardar sua autonomia. Primeiramente foram escolhidos os
professores com a perspectiva de multiplicar, em sala de aula, o assunto como
tema de projetos transdisciplinares. Os resultados foram colhidos no final
daquele ano com exposições, feiras, oficinas, peças teatrais etc., feitos pelos
alunos dentro de algumas disciplinas na suas escolas.
No ano seguinte, optou-se
por trabalhar com os próprios alunos na expectativa de desenvolver o aspecto do
protagonismo juvenil. Alguns estudantes foram escolhidos para serem capacitados
como monitores e defensores do patrimônio por técnicos do IEPHA. A intenção
maior era fazê-los adquirir liderança e autoestima elevada para que pudessem propagar essa
ideia para outros alunos, como agentes culturais ativos e participativos do
processo.
Seria também produtivo que
os técnicos da Instituição entrassem em contato mais estreito com a direção das
escolas, a fim de perceber as demandas cotidianas na preservação de imóvel
tombado onde passa diariamente uma população semelhante à de pequeno centro urbano. As goteiras
provocadas por uma telha deslocada, uma maçaneta arrancada, uma porta quebrada, tudo isso é
o cotidiano de uma escola.
Solicitamos uma reunião na
Sub-Secretaria de Ensino da Secretaria de Estado de Educação – SEE –, onde
apresentamos a proposta, bem como a autorização para entrada nas escolas selecionadas.
A proposta foi acatada pelos dirigentes das escolas e o contato com os alunos foi
estabelecido. Como ação metodológica optou-se em não passar muitos conceitos e
sim vivências e reflexões pessoais, despertando o gosto e o orgulho de se estudar em uma
escola tombada como patrimônio.
São seis as escolas
tombadas em Belo Horizonte: E.E Affonso Penna, E.E Barão de Macaúbas, E.E Barão
do Rio Branco, E.E Olegário Maciel, E.E Pedro II e Instituto de Educação. Desde
2008, a EE Pedro II estava fechada para reforma. Chegamos a procurar a direção,
que fora deslocada para outro prédio com os estudantes, mas percebemos que,
enquanto não houvesse a real destinação de uso do prédio, seria inadequado
trabalhar com os antigos alunos, que talvez não regressassem para o antigo
prédio. Assim, em 2008 e 2009, trabalhamos com cinco escolas de Belo Horizonte.
Em 2008 realizamos
oficinas com os professores das escolas, estimulando-os a introduzir em suas disciplinas,
trabalhos que valorizassem o patrimônio cultural e, muito particularmente, a
sua própria escola. Muitas atividades, como pesquisas, exposições, peças de
teatro, foram realizadas. Os professores, dentro do possível, atribuíam
pontuação na sua disciplina, o que motivava ainda mais os alunos. O contato do
IEPHA com a escola era indireto, ou seja, o Instituto estimulava e capacitava
os professores e eles, em sua matéria, desenvolviam os conteúdos.
Acreditamos que esse tipo
de abordagem é eficiente, pois abrange um número grande de alunos. Acreditamos
também que a motivação dos alunos para o trabalho ocorre muito em consequência
da pontuação distribuída. Mas, pudemos perceber que o corpo de professores já
tem uma atribuição muito grande dentro da escola. Deslocá-lo da escola em seu
turno é um complicador para a instituição que não possui professor eventual
para cobrir aquele ausente. E trazer o professor em outro horário, no seu
contraturno, também é um complicador, sendo que ele não recebe remuneração
extra e, muitas vezes, exerce atividade em outra escola para compensar a
defasagem salarial de sua profissão.
Assim, pensamos no próprio
corpo técnico do IEPHA atuar diretamente com alguns alunos no seu ambiente.
Trabalhar todos os alunos não seria possível. Pensou-se, então, para o ano
seguinte (2009), trabalhar o protagonismo juvenil. Queríamos que alguns jovens
nas escolas fossem os agentes principais de atuação de defesa do patrimônio. A
voz e a observação de um aluno para outro poderia surtir um efeito mais
positivo do que de um adulto sobre um jovem. Assim, preparar os alunos seria
uma estratégia importante e eficiente na busca desta autonomia – desejávamos
que a escola fosse inserindo no seu programa a Educação Patrimonial,
naturalmente até se tornar algo amalgamado no seu programa anual. Mas, com
quais alunos trabalhar?
As direções das escolas
tombadas receberam da SEE/MG um ofício autorizando nossa atuação dentro de seus
espaços. Realizamos uma primeira reunião com a direção e algum supervisor ou vice-diretor
na perspectiva de criar um critério para a seleção dos alunos. Destacamos que
gostaríamos de trabalhar com alunos líderes positivos, não necessariamente bons
academicamente. Quando formamos os grupos, recebemos muita crítica de alguns
professores de que seria fácil trabalhar com os melhores, pois não eram eles os que mais
danificavam o patrimônio escolar. Mas estávamos convictos que seria adequado
trabalhar com eles para estimulá-los a assimilar que aquele patrimônio pertencia
a eles e não a nós, técnicos do IEPHA. Assim, ganharíamos seguidores, com uma
autoestima elevada e um comprometimento de defesa do bem cultural. Sentíamos que
o primeiro momento era para estimulá-los a participarem por livre interesse e
que necessitávamos de alunos que tivessem compromisso com o grupo.
Foi enfatizada a
confiança, a valorização do indivíduo e do grupo, o respeito, a responsabilidade,
posições tidas como subjetivas, mas carregadas de simbologia e significado. Era
necessário, a médio e longo prazo, estabelecer uma valorização do indivíduo
para que ele pudesse se sentir integrante não apenas do trabalho de restaurar o patrimônio material, mas
também do resgate da força da escola pública para a sociedade. Mais do que
restaurar coisas e lugares é necessário valorizar as pessoas na
defesa da memória
coletiva.
Encontramos realidades e
faixas etárias distintas e precisávamos adequar um conteúdo e uma intenção a
cada grupo trabalhado. No primeiro encontro com os alunos estimulamos o
conhecimento individual e cultural de cada um e a sua origem no seu grupo. Quem
era ele? De onde ele vinha? O objetivo era diagnosticar o grupo para traçar o
planejamento certo e ideal para cada um. Como estratégia didática, utilizamos o recurso de entrevistas.
Cada aluno faria uma entrevista com outro integrante do grupo, para depois
apresentá-lo. E também, com o mesmo roteiro, faria uma entrevista com outra
pessoa da escola – colega, professor, funcionário antigo etc.
Deste diagnóstico resultou
a mensuração dos dados por nós, técnicos do IEPHA, e a colocação do perfil de
cada grupo na rede. Criamos um blog em que todas as escolas eram apresentadas de forma
que uma pudesse conhecer o público de outra participante do programa.
No segundo encontro demos
uma fundamentação teórica mais substancial ao grupo. Conceitos foram discutidos
para compreensão de termos e conteúdos específicos da matéria trabalhada – o
patrimônio cultural. O que é identidade, memória, cultura, acervo e patrimônio
histórico. Recursos audiovisuais eram necessários, mas encontramos a primeira
dificuldade na escola. Não havia espaço nem equipamento disponível para
exibição de imagens e sons. Improvisamos nossos encontros em bibliotecas, em
alguma sala desocupada ou até mesmo debaixo de uma árvore ou sentados em alguma
escada.
No terceiro encontro
pudemos ter a participação da arquiteta do IEPHA, Maria Beatriz Clímaco, que
nos auxiliou a ler na arquitetura do prédio seu estilo e seus elementos artísticos.
Tínhamos como objetivo o levantamento histórico e artístico da escola. O recurso
didático usado foi o preenchimento de fichas de inventário do acervo que
constituía a escola, incluindo os bens móveis e o próprio edifício da escola –
que mereceu tombamento pelo órgão de preservação histórica do Estado – e até
mesmo os seus integrantes. Os alunos desenhavam e preenchiam as fichas, mediam
os objetos, entrevistavam pessoas para saber o uso ou a função de alguns
objetos já obsoletos no cotidiano atual da escola.
No quarto encontro a
proposta foi ampliar o olhar para além da escola.
Queríamos que os alunos
pudessem descobrir outros prédios e outros lugares na cidade que fossem de
relevância cultural para as pessoas. Criamos um roteiro a partir de cada escola
até a Praça da Liberdade, símbolo do poder público de uma época e de um Estado.
Após vários comentários sobre pontos de interesse artístico, cultural e
turístico durante o percurso, explanamos sobre cada prédio da Praça da
Liberdade, seus antigos usos, seus usos atuais e sua destinação em curto prazo com
a transformação da Praça da Liberdade em um grande centro cultural. Estimulamos
as críticas e elogios da ação governamental e ressaltamos também alguns
cuidados necessários nessa transformação.
Terminamos a visita
conhecendo as instalações do IEPHA, na antiga Secretaria de Viação, na Praça da
Liberdade. No ateliê de restauração os alunos tiveram uma aula ao vivo de todo
processo de revitalizar um bem. Na ocasião estava sendo restaurada a pintura do
forro da capela mor da Igreja Bom Jesus de Matosinho da cidade de Couto de Magalhães de Minas.
Pudemos ver a ação do tempo sobre as peças de madeira, o ataque pelos insetos
xilófagos e as intervenções necessárias para a salvaguarda daquele bem.
Outras obras também
puderam ser observadas, como imagens sacras, artefatos de cerâmica etc. Os
jovens visitaram a biblioteca do IEPHA onde conheceram o acervo de livros,
plantas, laudos, relatórios, fotografias e, muito especificamente, puderam conhecer
o dossiê de tombamento da sua escola, com textos e imagens que justificaram o
reconhecimento pelo Conselho Curador da Instituição para sua preservação.
Na parte administrativa do
prédio, percorreram salas, diretorias e espaços de convivência. Terminamos a
visita observando uma exposição de bonecos temáticos expostos em uma vitrine.
Os bonecos representavam o poeta Carlos Drummond de Andrade e o escritor Mário
de Andrade, além de um dos grandes defensores do patrimônio, Aloísio Magalhães.
A visita terminou com o retorno dos alunos às suas escolas de origem.
Com o recesso escolar de
julho, fizemos uma interrupção no projeto. No início do segundo semestre, a
epidemia de gripe suína provocou o adiamento das aulas de todas as escolas,
pelo menos por uma semana. Tínhamos em mente a proposta de se criar uma grande
passeata dos alunos, saindo de suas escolas com destino à Praça da Liberdade no
mês de setembro, em defesa do patrimônio cultural. Porém, a epidemia nos fez
modificar as estratégias iniciais. As autoridades de saúde não recomendavam aglomerações
públicas, o que nos fez adiar o início das atividades nas escolas, bem como cancelar
a passeata pública.
Pensamos que cada escola pudesse se
organizar para criar no final do ano uma atividade que envolvesse o tema do
patrimônio cultural com todos os alunos.
Estimulamos a
possibilidade de realizarem uma feira ou semana cultural que envolvesse
toda a escola, de modo que
cada instituição teria a sua atividade envolvendo todo o grupo, mas sem o
contato com os outros grupos das outras escolas, postura preventiva recomendada
pelas autoridades. Assim, os encontros seguintes nas escolas estiveram focados
na criação e organização da estrutura para o evento pretendido. Cada escola elaborou
seu encerramento dentro de sua realidade e dentro de suas possibilidades.
Elencamos a seguir alguns
resultados colhidos e relatamos justificativas de alguns trabalhos não
realizados.
A Escola Estadual Affonso
Penna constituiu, talvez, a proposta melhor assimilada. A escola desenvolveu em
um sábado uma feira cultural envolvendo todas as disciplinas e todas as séries.
Cada série e turma possuíam um professor orientador (padrinho/madrinha) que
pudesse auxiliá-las na realização da atividade. Como exemplo, houve a participação da
Orquestra Carlos Gomes, uma das precursoras em formação musical na cidade,
constituída preliminarmente dos construtores, pedreiros, marceneiros e outros artífices da
construção da Nova Capital; uma sala de brinquedos e brincadeiras tradicionais;
uma sala com reconstituição de época com jovens interpretando os políticos e
damas da época, tocando instrumentos clássicos como violino, violoncelo e piano,
servindo ponche de suco de uva com petit fours, mulheres com leques e
vestidos longos, rapazes com terno
e gravata discutindo política. Os alunos monitores participantes do programa de
Educação Patrimonial ganharam camisetas personalizadas e recebiam os familiares e
convidados na porta da escola, explicando a história da instituição e as
características do estilo artístico e arquitetônico da edificação.
A Escola Estadual Barão de
Macaúbas realizou uma reunião com os pais de alunos, em um sábado, na qual
pudemos esclarecer o programa que desenvolvíamos com os estudantes e a
importância da participação e incentivo na preservação da escola como espaço de
memória e de valor agregado que dinamizava a qualidade da educação dos alunos
que ali estudavam.
A Escola Estadual Barão do
Rio Branco escolheu comemorar o seu aniversário como um dia cívico. Foi
convidada a Banda de Música do Corpo de Bombeiros para tocar o Hino Nacional.
Todos os alunos foram posicionados na frente da escola para a chegada da banda.
Os alunos monitores, uniformizados com a camiseta do projeto, distribuíram
postais com desenhos feitos por eles e textos chamando atenção do público, pedindo
ajuda para a escola. Quando a banda chegou, ela se posicionou no pátio interno e
ali tocou o repertório preparado para o dia.
No Instituto de Educação o
grupo de alunos monitores foi mobilizado no sentido de criar uma sala ambiente
denominada Sala de Sentimentos. Foi projetado e realizado por eles um Túnel do
Tempo, onde os visitantes teriam focalizadas imagens de tempos mais antigos do
Instituto, por meio de lanternas. Eles explicavam as intervenções de cada época
– das mais antigas às mais atuais. Os alunos posicionavam os convidados na plateia
do auditório e lá os aguardava uma banda de música contemporânea. Os convidados
adultos estranharam um pouco o estilo de música apresentado, mas o público
jovem se identificou bastante com a banda e o repertório apresentado. Ao fundo eram projetadas imagens de
diversas épocas do Instituto. Ao final, uma aluna monitora fez uma conclusão do
trabalho desenvolvido.
Podemos concluir que,
nesse momento de 2009, foi feita uma mobilização de alunos com a expectativa de
serem criadas lideranças positivas em defesa do patrimônio cultural, iniciando
pelo prédio e as relações humanas da própria escola. Talvez não tenhamos
desenvolvido muita teorização dos conceitos de patrimônio com os alunos monitores,
mas a grande conquista dessa etapa foi a relação de confiança e companheirismo
vivida por todos.
Apenas na Escola Estadual
Olegário Maciel não foi possível realizar o trabalho conclusivo. O tempo ficou
exíguo, com o final das atividades letivas, e os alunos não viram possibilidade
de realizar alguma atividade nesse sentido.
5ª fase: normativa
Um ponto de extrema
importância é a possibilidade de conhecer a atuação das prefeituras por meio da
documentação do ICMS Patrimônio Cultural. O acesso que se tinha antes às informações de ações
culturais desenvolvidas nas cidades do interior era mínimo. Tudo que se tinha era fruto de
pesquisa e visita dos técnicos aos municípios, dentro da capacidade técnica de
atuação do órgão estadual.
Por alguns anos
desenvolveu-se um programa de visitas a cidades no interior de Minas. Uma
equipe, composta de historiador, arquiteto e educador, percorria regiões nunca
antes pesquisadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico do Estado para inventariar
a arquitetura, as manifestações culturais e os arquivos constitutivos da história
local. Uma das expedições percorreu as cidades de Passos, Cássia, Claraval, Ibiraci
e Desemboque.
Os esforços eram enormes:
estradas ruins, grandes distâncias, acessos difíceis e a receptividade dos
municípios nem sempre boa, de acordo com a política vigente. As expedições
poderiam ser comparadas a missões quase semelhantes a dos viajantes do século
XIX. Isso hoje foi revertido. A cada ano recebe-se um material vasto de
diversas prefeituras com informações relativas ao patrimônio cultural das mais
diversas regiões do Estado. Tudo isso em busca da redistribuição da “cota
parcela” do ICMS às prefeituras.
A democratização do acesso
às informações foi crescente, mas nem sempre o resultado e o produto são de
qualidade. Muito se recebe, mas nem tudo dentro de uma qualidade mensurável.
Uma metodologia é apresentada para se ter certa coerência e padronização do
material enviado. Mas tudo depende da equipe, do grau de conhecimento,
dedicação e estratégia que se tem em cada município.
O caráter quase
continental de Minas Gerais dificulta qualquer mapeamento atualizado e impede
qualquer pasteurização cultural, tamanha riqueza da diversidade.
Um dos possíveis caminhos
dessa ação comunitária volta-se para os pólos culturais. Cidades-pólo,
detentoras de centralidade cultural, poderiam abrigar trabalhos e, consequentemente,
a descentralização e articulação regional, na perspectiva de aglutinar questões relativas aos
temas e necessidades próprias com demandas específicas.
Desde 1995, vem sendo
executado o ICMS Patrimônio Cultural, programa de descentralização da proteção
do patrimônio cultural vinculado à Lei Estadual 13.803/00, atual lei 18030/09,
denominada Lei Robin Hood, que repassa recursos do Imposto de Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) para os municípios que investem na preservação do
patrimônio cultural, pontuando, também, ações planejadas de Educação Patrimonial.
Pelo fato de ser ainda uma
ação nova, muitas dúvidas pairam sobre o tema Educação Patrimonial,
principalmente quanto a seu desenvolvimento. Para nós, educar é alimentar e ser
alimentado, é dar-se ao outro e também receber. Educar é trocar, transbordar,
mas também se preencher. Ou seja: eu dou o que tenho e recebo o que você oferece.
A transformação é mútua e o que fizermos juntos será melhor e diferente.
Por isso entendemos a
Educação Patrimonial como um trabalho permanente de envolvimento de todos os
segmentos que compõem a comunidade, visando à preservação dos marcos e
manifestações culturais, compartilhando responsabilidades e esclarecendo dúvidas,
conceitos e, ao mesmo tempo, divulgando trabalhos técnicos pertinentes e seus
resultados.
A Educação Patrimonial
visa, principalmente, ao fortalecimento da autoestima das comunidades, pelo
reconhecimento e valorização de sua cultura e de seus produtos.
É, nesse sentido, um
trabalho de “autodespertar” motivado, que tem como temática toda a produção cultural de uma
comunidade ou grupo social, auxiliando na compreensão do papel do indivíduo no
universo social e cultural.
Esse processo educacional,
formal e informal, utiliza situações e ações que provocam reações, interesse,
questionamentos e reflexões sobre o significado e valor dos acervos culturais e
sua manutenção e preservação. Principalmente, deve nos motivar a pensar em nós
mesmos e no mundo que nos cerca, ao trabalhar todos os sentidos humanos: o
olhar, para que se possa entender e compreender o que se vê, para compreender o
gostar e o não gostar do que se vê; a audição, para que se possa saber ouvir e
refletir sobre o que se ouve; o olfato, para saber o mundo e seus cheiros e
seus significados e para onde eles nos remetem; a percepção tátil, para sentir
as coisas, sua temperatura, textura, maleabilidade, função estética; os modos
de se expressar e de dizer para que sejamos capazes de exprimir os sentimentos,
dúvidas, anseios e ideias, com propriedade pela fala, pela escrita e pelo
próprio corpo.
Em suma, a Educação
Patrimonial deve ser entendida como um conjunto organizado de procedimentos e
ações que tem como principal objetivo a valorização dos indivíduos e das
comunidades e toda a sua produção cultural. É um processo de autoeducação e
sensibilização que visa a eliminar a miopia cultural, despertando sentimentos e
conhecimentos adormecidos que fortalecerão o senso de pertencimento, de
compreensão, de responsabilidade dos indivíduos como elementos de um grupo, sociedade,
comunidade e lugar, utilizando para esse fim o seu acervo cultural. Seus princípios
norteadores são a descoberta e a construção em conjunto, motivadas pela observação,
apreensão, exploração e a apropriação criativa do conhecimento, na busca da compreensão da condição individual e
coletiva e o aprimoramento da vida em sociedade, promovendo a sensibilização da
sociedade para uma mudança de atitude: de espectadores da proteção
do patrimônio para atores desse processo.
O processo da Educação
Patrimonial, vista como uma peça importante e participativa para o
desenvolvimento sadio das comunidades, busca contribuir para a formação do
indivíduo como parte de uma coletividade: pela educação, produzir a compreensão;
pela compreensão, proporcionar a apreciação, e, pela apreciação, a proteção. A
adoção da preservação de nosso patrimônio cultural pela sociedade como um todo –
poder público, iniciativa privada e comunidades – conduz ao conhecimento das
diversidades culturais, aprendendo a fazer, participar, respeitar e vivenciar
tais diversidades, desenvolvendo a capacidade crítica, emocional e criativa.
No entanto, por mais
lúdicas e espontâneas que sejam as atividades e ações de Educação Patrimonial,
elas não podem dispensar o planejamento. Não podem ser aleatórias. Devem seguir
um plano/projeto estruturado com: apresentação, justificativa bem definida,
definição do público-alvo, objetivos claros, metodologia detalhada em atividades
e ações, cronograma, orçamento, definição da equipe que vai trabalhar e dos produtos que se pretende
alcançar.
Ao final do projeto,
avaliações e relatórios devem ser produzidos, visando à otimização das ações
futuras deste projeto e de outros a serem elaborados oportunamente. Dessa
forma, nossas atuações na Educação Patrimonial serão cada vez mais eficientes e
alcançarão o objetivo principal que é o envolvimento das comunidades na
preservação do patrimônio cultural e, consequentemente, na sua construção como cidadãos.
Nunca é demais repetir que
o ser humano se constitui com troca, transmissão, repetição, continuação,
construção dinâmica, viva, sadia... Um ser humano se constitui com espaços
físicos e outros seres humanos... Influenciado pela natureza: clima, fauna, flora...
Um Homem são muitos. Parte dos que
foram. Parte dos vizinhos. Parte dos que chegam. Parte de si mesmo.
Um Homem é ETERNO se respeita o seu Passado, seu Presente, sua Comunidade e a
si mesmo.
Pensando o patrimônio
cultural por meio da educação
A preservação do
patrimônio cultural, em que pese a sua origem elitizada, sempre foi a luta
desesperada do homem em se fazer lembrar e se lembrar. Os bens eleitos como
culturais nos vários momentos históricos são suportes da memória que se quer
preservar e lembrar. São poderosos ressuscitadores do que foi ou do que se
imagina que foi. Despertadores/receptáculos de glórias imaginárias criadas ou
recriadas ao longo de séculos. Os bens culturais permitem leituras diversas
como são diversos os homens.
Mas podem falar
essencialmente de forma semelhante a memórias diversas. Podem ser reconhecidos
e apropriados por esses grupos diversos com sentidos parecidos, mas diferentes.
A necessidade de sobreviver e permanecer faz com que o homem atribua valores a
bens culturais materiais e imateriais de forma individual e coletiva, sempre nessa
ordem: individual, porque somos indivíduos únicos com memórias únicas; coletiva,
porque somos ao mesmo tempo seres plurais e vivemos em grupos com crenças,
objetivos, gestos, maneiras e códigos em comum.
Cabe ao homem, individual
e coletivamente, a atribuição dos valores, a tarefa de transformar uma pedra “na
Pedra”, uma casa “na Casa”, uma praça “na Praça”, uma festa “na Festa”. Essa
incrível capacidade de valorar, de qualificar, de dar sentido às coisas não é –
e nunca foi –, gratuita. O homem precisa atribuir valores às coisas para continuar
no mundo e vivendo em grupo, para se lembrar de quem foi, é e será.
É necessário acreditar-se
eterno, no que pode durar além da vida humana, além da memória humana. Memórias
genéticas e memórias incrustadas em objetos: casarões, quadros, objetos
ritualísticos, templos, rituais, modos de fazer. Mesmo que sejam relidas,
idealizadas, deturpadas, modificas, ainda assim, memórias.
A continuidade de um grupo
e de um indivíduo como parte de um grupo pode depender de um simples objeto ou
rito.
Heritage education – an
empirical, didactic and creative approach
Abstract
Recently Heritage
Education has taken place at the State Institute of Historical and Artistic
Heritage of Minas Gerais - IEPHA/MG. Some actions have been taken to involve
communities since the 1980s, but they have never followed continuously and
systematically. The first actions aimed at effective community participation.
Then, there was the need for a better theoretical basis. Through the
partnership between the State Secretary of Education and the João Pinheiro
Foundation, a new methodology of educational and cultural action was discussed.
But it was the creation of the Cultural ICMS that provided further expansion of
the concept "education through memory" for many municipalities in the
state.
Keywords: Education; Heritage;
Cultural ICMS; Cultural Action.
Referências
ROCHA, Guido de Souza; INSTITUTO ESTADUAL DO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS. Cartilha do Patrimônio.
Belo Horizonte:
IEPHA/MG, [198-]. SECRETARIA DE ESTADO DE
EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Reflexões e contribuições para a Educação
Patrimonial. Belo Horizonte: SEE/MG, 2002.
INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
E ARTÍSTICO DE
MINAS GERAIS. Relatório. Projeto
Educação, Memória e Patrimônio. IEPHA/MG, 1994.
INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
E ARTÍSTICO DE
MINAS GERAIS. Política de ação com as
comunidades – PAC – Documento Básico, 03 de out. de 1983. Belo Horizonte:
IEPHA/MG, 1983.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Educação Inclusiva –
construindo significados novos para a
diversidade. In: FARIA, Luciano M.;
PEIXOTO, Ana Maria Casasanta (Org.). Lições
de Minas: 70 anos de Secretaria de
Educação. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da
Educação de Minas Gerais,
2000.
* Especialista em Arte e
Cultura pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Mestre em Artes
Visuais – preservação e
tecnologia da imagem pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Analista de Gestão,
Proteção e Restauro do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas
Gerais
(IEPHA/MG).
** Historiador, Ex - Diretor
de Promoção do IEPHA/MG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário