A HISTÓRIA DO VOVÔ
Autor: Carlos Henrique Rangel
Paulinho
é um menino como tantos outros. Tem um pai trabalhador, uma mãe carinhosa e uma
irmã mais nova com quem nem sempre se dá bem...
Durante
o dia o pai e a mãe ficam fora trabalhando. Paulinho e Rita, sua irmã, estudam
de manhã.
A
tarde ficam com os avós.
Somente
a noite a família se reuni assistindo televisão após o jantar.
Nesta noite estavam todos reunidos
assistindo novela. Mas uma mudança aconteceu na rotina da família: Em um dos
melhores momentos da novela a luz acabou.
- O que foi isto? -
Perguntou o Sr. Manuel o pai de Paulinho.
- Deve ser algum fio que rebentou... Vou buscar as velas. –
Disse a vovó Maria.
- Que chato, logo agora... – Reclamou Rita.
- Logo, logo volta, você vai ver... – Falou o Vovô Carlos tranquilizando
a menina.
Vovó
Maria acendeu uma vela e a sala se iluminou.
- O que vamos fazer agora enquanto a luz não volta? –
Perguntou Paulinho.
- Eu vou dormir. – Disse o Senhor Manuel.
- Eu também. – Disse a Vovó.
- Meninos, vocês deveriam fazer o mesmo... – Disse a Mamãe
Lúcia.
- Ah mãe, ainda é cedo... – Choramingou Rita.
- Deixa Lúcia, agorinha mesmo a energia volta... Enquanto isso
vou contar uma história para os meninos. – Disse o Vovô.
- Uma história? – Perguntou Paulinho.
- Sim.
- Mas que história? – Perguntou Rita.
O
vovô Carlos ficou pensativo por alguns segundos...
- Vou contar para vocês a história do Brasil.
- História do Brasil? – Perguntou Rita.
- É, sua boba, a história do nosso país. – Completou Paulinho.
- Isso mesmo... Posso começar? – Perguntou Vovô Carlos.
Os
meninos concordaram.
- Bem, no início só existiam aqui nesta terra, as florestas,
os animais das florestas e o homem da terra e suas aldeias...
- Homens da terra? – Perguntaram as crianças quase ao mesmo
tempo.
- Sim, meninos, as terras do Brasil eram ocupadas por vários
povos de pele avermelhada chamados mais tarde de índios. Viviam em aldeias,
caçavam os animais das florestas, plantavam seus alimentos...
- Então os índios já viviam aqui? – Perguntou Rita.
- Sim, os índios são os primeiros moradores do Brasil. –
Respondeu o Vovô.
- Eu já vi um índio na televisão. Ele não usava roupas, tinha o corpo todo
pintado... – Falou Paulinho.
- Esses índios que viviam aqui eram como este que você viu. –
Completou o Vovô.
- Existem muitos índios, Vovô? – Perguntou Rita curiosa.
- Existem muitos índios de diferentes tribos. Mas antes
existiam muito mais. – Respondeu o avô das crianças.
- Por que não tem mais tantos índios como antes? – Perguntou
novamente a menina.
- Vou continuar a história e logo você vai saber... Bem, como
eu estava contando, os primeiros moradores foram os índios. Depois... Depois
vieram outros homens chamados portugueses. Homens brancos de terras distantes,
de um lugar chamado Portugal...
- Portugal? – Perguntou Rita.
- É um país, não é? – Quis saber Paulinho.
- Sim, Portugal é um país que fica do outro lado do Oceano
Atlântico. Esses homens brancos, os portugueses, atravessaram o Oceano em
barcos grandes, as Caravelas.
- Eu já vi um navio desses em um livro. Tem uns panos grandes
com o desenho de uma cruz. – Gritou Paulinho.
- São as velas. Quando o vento bate nelas, empurra o navio
para frente... – Falou o Vovô.
- Que legal – Exclamou Rita com os olhos brilhando com o novo
conhecimento.
- É sim, Com ajuda dos ventos os portugueses chegaram às
praias da nossa terra. Foram recebidos pelos homens da terra a quem deram o
nome de índios.
- Foram bem recebidos? – Perguntou Rita.
- Ah, foram sim. No início viraram amigos. O homem branco
presenteava os índios com colares de contas e espelhos e estes davam aos
portugueses uma madeira vermelha chamada Pau Brasil, que servia para tingir as
roupas. – Explicou o velho senhor.
- O nome do nosso país... – Disse Paulinho.
- Isso mesmo. A terra que se chamou Ilha de Vera Cruz, depois
Santa Cruz, onde havia Pau Brasil, passou a se chamar Brasil...
- Então no início eles achavam que o Brasil era uma ilha? –
Perguntou Paulinho admirado.
- O que é uma ilha? – Perguntou a menina com ares de quem não
entendeu nada.
- Ilha é uma terra cercada de água por todos os lados. O
Brasil não é uma ilha. – Respondeu Paulinho todo superior.
- Muito bem menino... Bem, continuando a nossa história, na
terra onde antes existiam as florestas e aldeias dos índios, surgiram os
povoados dos portugueses e as plantações de cana–de-açúcar, e os engenhos para
fazer açúcar.
- Os portugueses só faziam açúcar? – Perguntou Paulinho.
- É porque eles gostavam de doce, né Vovô? – Falou Rita se
ajeitando no sofá.
Vovô
Carlos riu.
- Eles plantavam outras coisas, mas plantavam mais cana –de
–açúcar e faziam açúcar para levar lá para o outro lado do Oceano, para os
outros países europeus.
- Vovô e o que aconteceu com os índios? – Perguntou a menina
lembrando dos primeiros habitantes da terra.
- Ah, os portugueses passaram a obrigar os índios a
trabalharem nas plantações de cana – de – açúcar. Os índios viraram escravos
dos portugueses.
- O que é um escravo, vovô? – Perguntou a menina franzindo a
testa.
- O escravo é uma pessoa que é obrigada a trabalhar de graça
para outra.
- Nossa, que ruindade! – Exclamou a menina assustada.
- Era uma coisa muito ruim sim. – Falou o avô das crianças.
- E os índios deixaram? Eu não deixaria. – Disse Paulinho
revoltado.
- Os índios não aceitaram não. Brigaram com arcos e flechas,
mas os portugueses, mais fortes, com suas armas de fogo, venciam quase sempre.
Então os índios fugiam para as matas, para longe do homem branco e suas
plantações e seus povoados e suas cidades.
- Então foi isso que aconteceu, os índios morreram nas lutas
com os portugueses. – Falou Rita pulando no sofá.
- Muitos morreram nas guerras. A maioria morreu por causa das
doenças dos brancos. – Continuou o avô.
- Como? – Perguntaram as crianças.
- Certas doenças que para o homem branco eram quase uma
bobagem faziam muito mal aos índios. A gripe, por exemplo.
- Eram fraquinhos né? – Exclamou Rita.
- Estas doenças não existiam na nossa terra, por isso não
agüentavam e morriam. – Completou o Vovô Carlos.
- Que coisa triste... - Lamentou Paulinho abaixando a cabeça.
- Mas eles lutaram e fugiram para o interior das matas. Não
deixaram as coisas fáceis para os portugueses não... – Falou o Vovô.
- Que povo ruim esses portugueses... Os índios eram seus
amigos... Eu também fugiria deles. – Comentou Paulinho.
- Assim os portugueses foram ocupando as terras com suas
plantações e cidades...
- Mas se os índios fugiram, quem ficou para trabalhar para os
portugueses? – Perguntou Rita.
- Vai ver que criaram vergonha na cara e resolveram trabalhar
eles mesmos – Falou Paulinho.
O Vovô Carlos sorriu com a indignação
do menino.
- Os portugueses precisavam de gente para trabalhar de graça
para eles. O que fizeram? Continuaram a caçar os índios, mas buscaram mais
gente para trabalhar... De um lugar chamado África, trouxeram os homens negros,
que passaram a trabalhar nas plantações...
- Eu não trabalhava... – Disse Paulinho.
-
Se não trabalhasse apanhava de chicote.
– Disse o avô.
-
Nossa, que covardia... – Gritou Rita.
-
Era uma coisa muito feia a tal da
escravidão... Bem, por muito tempo viveram os brancos portugueses nas terras
perto do mar, onde plantavam suas verduras e legumes e criavam gado.
Das suas cidades saiam de vez em quando para as matas
caçando índios, procurando ouro. – Continuou o Vovô Carlos.
-
Eles também procuravam ouro? –
Perguntaram os meninos.
-
Sim, Queriam encontrar ouro e pedras
preciosas para enriquecer Portugal. Achavam muitos índios, mas encontravam
pouco ouro.
Em um lugar depois da Serra, havia uma vila fundada por
padres Jesuítas, chamada São Paulo. Seus moradores, os paulistas gostavam de
entrar nas matas para caçar índios. Ficavam muitos meses nas matas procurando
as aldeias dos índios. Um dia, um grupo destes bandeirantes paulistas, como
eram conhecidos, resolveu parar de caçar índios para procurar pedras preciosas
e ouro.
Depois de muito tempo encontraram muito ouro no interior do
Brasil.
-
Devem ter ficado muito felizes, né? –
Disse Rita.
-
Ficaram sim. A notícia espalhou e muita
gente foi para o interior procurar ouro. Ao redor das minas de ouro,
construíram suas casas.
- Minas de ouro? – Perguntou Rita.
- É, são os buracos
cavados para retirar o ouro das montanhas. No início os homens lavavam o
cascalho da beira dos rios procurando o ouro. – Explicou o atencioso avô.
- Como eu estava dizendo, ao redor das minas surgiram as
casas, uma capela pequena, depois uma igreja e nasceu um povoado que virou uma
vila e depois uma cidade. Todos queriam vir para as Minas Gerais, como ficou
conhecida as terras do interior onde encontraram o ouro. – Continuou Vovô
Carlos.
- Minas Gerais é aqui. – Gritou Paulinho espantado.
- Isso mesmo, menino, foi assim que Minas Gerais foi ocupada.
Vinha gente de Portugal. Vinha gente das cidades perto do mar...
- É ? E quem trabalhava nas Minas? – Perguntou Rita.
- Quem você acha bobona? ... Claro que eram os escravos. -
Ralhou Paulinho, olhando bravo para a
menina.
- Isso mesmo. Os escravos índios e negros. Os brancos buscaram
muitos homens negros lá da África para trabalhar nos rios e minas a procura do
ouro e depois do diamante.
Muitas
cidades nasceram: Ouro Preto, Sabará, Diamantina, Serro, São João Del Rei,
Tiradentes e muitas outras.
Muitos
homens ficaram ricos. Portugal ficou rico...
Estes
homens construíram grandes casarões e igrejas decoradas de ouro e trabalhos
bonitos dos artistas mineiros que ainda hoje existem.
- Eu queria conhecer. – Disse Rita.
- Eu também. – Disse Paulinho.
- Ora, vamos fazer o seguinte. No fim de semana vamos fazer
uma viagem para uma destas cidades. Que tal? – Perguntou o Vovô.
- Viva! – Disseram os meninos.
- - Bem, assim pouco a pouco o homem branco foi se espalhando
pelo interior, plantando, criando gado, procurando tesouros. Junto com os
índios e os negros, construíram muitas cidades. Construíram um país chamado
Brasil.
- Que legal! – Exclamou Paulinho se levantando do sofá.
- Mas ainda não acabou. Estes homens, mistura das três raças:
índios negros e brancos eram brasileiros e conseguiram a independência de
Portugal.
- Independência? – Perguntou o Menino.
- È, as terras ainda estavam ligadas a Portugal, aquele país
lá do outro lado do mar. Os brasileiros conseguiram ser donos da terra que
passou a ser um país livre. – Continuou o Vovô.
- O Brasil se tornou um império. Teve dois imperadores: D.
Pedro I e depois seu filho, D. Pedro II.
- Igual aos contos de fadas, com castelo e tudo?
Vovô
Carlos sorriu.
-
Mais ou menos... Possuíam um palácio... Uma corte com Duques, Viscondes e
Condes...
- O país ficou livre, mas e a escravidão dos homens? -
Perguntou Paulinho cortando o avô.
- A escravidão acabou um pouco depois, porque nenhum homem
deve escravizar outro homem. Depois o Brasil virou uma república...
- Na república quem governa é o presidente, não é Vovô? –
Perguntou Paulinho.
- Isso mesmo Paulinho... O país chamado Brasil
cresceu, construiu indústrias, recebeu mais gente de outros lugares e de outras
raças. Novos brasileiros. O Brasil de hoje é uma grande nação com 500 anos de
idade.
- Nossa, é bem velhinho... – Disse Rita.
- Não é não. Para um país é ainda uma criança. Existem países
bem mais velhos. O Brasil é uma terra de grandes e lindas cidades, lindas
praias, grandes rio, florestas, cerrados, caatingas, onças capivaras, araras...
E o mais importante de tudo: Terra de um povo de várias raças, alegre e forte
que constrói seus futuro no presente sem esquecer seu passado...
- Nossa terra... – Disse Paulinho.
- Isto mesmo, nossa terra, Paulinho.
- Acabou a história Vovô? – Perguntou Rita.
- Não minha filha, essa história não acaba nunca. Eu ajudei a
fazer, seus pais estão fazendo e vocês vão continuar fazendo. Sempre, sempre,
para construir uma país melhor, com justiça, trabalho, escola e saúde para
todos.
Enquanto
o Vovô Carlos falava, a energia voltou, iluminando toda a sala.
Alguém
apagou a vela e ligou a televisão.
Vovô
levantou e foi se deitar...
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