1 - INVENTARIAR
Autor: Carlos Henrique
Rangel
Inventariei o meu mundo
e o que quero...
Nem tudo importa...
Mas tudo importa à memória...
Me desfaço do que não preciso
mas não esqueço.
Fica o suporte da lembrança
encravado na ficha...
Nem tudo que coleciono, preciso e quero...
Mas não quero esquecer...
Esquecer é não-ser...
2 - COLECIONADOR
Autor: Carlos
Henrique Rangel
Eu coleciono
coisas...
De gente, de
tudo.
Dai-me seus
objetos,
Os que não usa
mais...
Tudo que foi
usado
Tem uso...
Conta histórias...
Suas histórias...
Eu coleciono
emoções
Contidas em
coisas...
Dai-me suas
tristezas
E alegrias...
Suas dores, seus
amores.
Eu aprendo com as
coisas...
Sou sugador de
memórias,
Guardião...
Coleciono tudo:
Pedras no
caminho,
Folhas secas,
Madeira em sépia,
Palavras...
Dai-me suas
palavras
Cheias de você...
Eu coleciono
tudo:
A telha de um
sobrado,
o bilhete de
metrô,
A chave que não
abre mais...
Lembranças
perdidas no ar...
Lágrimas
esquecidas em mesas.
Marcas de
batom...
Trechos de
canção...
Me faço com as
coisas dos outros...
Do que pensam não
querer mais.
As rachaduras na
parede
Eu as tenho.
Tenho as chamas
da floresta
E o brinquedo de
criança antiga.
Os cabelos
brancos do ancião
Eu guardo no
bolso
E os seus
sorrisos,
No coração...
Dai-me seu olhar
Eu sei guardar...
Sou colecionador
De histórias, de
amores,
Dores e emoções.
Sou guardião do
que foi
É ou será...
3 - ATLANTES
Autor: Carlos Henrique Rangel
Minha cidade as águas levaram
Deram-me outra de mesmo nome
Mas não há memórias
Não dizem nada suas ruas
certas.
Nada significam esses tijolos
novos...
Tudo que sou se esconde em
águas...
Afogaram minhas memórias...
Quase...
Sobraram as torres da igreja
Essa que resistiu ao canto
das águas.
Não se afogou o símbolo de
fé.
Eu me afogo em lágrimas...
Vejo-me em torre de igreja
E em sonhos...
Todos os meus sonhos
Acontecem em Atlantes...
No reino agora das águas.
4 - SOBREVIVER
Autor: Carlos Henrique Rangel
Há momentos que esquecer
É a única forma de sobreviver.
Os que foram são lembranças
E vem a dor...
São muitos os que me deixaram
E somente os sei em fotos amarelas
E objetos que os dizem.
Desfilam em minha memória
Os que abandonaram esse mundo.
E sofro a solidão dos que ficaram.
São muitos os sorrisos
Que não vejo.
Quem contará sua odisseia?
Um dia também eu serei lenda de alguém
Amarelado em retrato na parede.
O tempo é meu carrasco.
Esquecer a dor
É a única forma de sobreviver...
Avô Vespúcio morreu...
Tio Ailton morreu...
Tia Zélia morreu...
Vó Mocinha morreu...
Vó Maria morreu...
Vô Ataliba morreu...
Tio Miltinho morreu...
Morreu Vó Carmem.
Tio Lipinho...
Autor: Carlos Henrique Rangel
Há momentos que esquecer
É a única forma de sobreviver.
Os que foram são lembranças
E vem a dor...
São muitos os que me deixaram
E somente os sei em fotos amarelas
E objetos que os dizem.
Desfilam em minha memória
Os que abandonaram esse mundo.
E sofro a solidão dos que ficaram.
São muitos os sorrisos
Que não vejo.
Quem contará sua odisseia?
Um dia também eu serei lenda de alguém
Amarelado em retrato na parede.
O tempo é meu carrasco.
Esquecer a dor
É a única forma de sobreviver...
Avô Vespúcio morreu...
Tio Ailton morreu...
Tia Zélia morreu...
Vó Mocinha morreu...
Vó Maria morreu...
Vô Ataliba morreu...
Tio Miltinho morreu...
Morreu Vó Carmem.
Tio Lipinho...
Tio Haroldo...
Tio Toninho...
Tio Cilas...
Tio Otaviano...
Tio Jairo...
Morreu Tia Maroca.
Morreu Tia Zaíra...
Tia Adalzira morreu...
Madrinha Eliana morreu...
Pedrinho morreu...
Morreu Tia Eunice.
Morreu Tio Roberto.
Morreu Tia Mariinha...
Tia Zairinha...
Meu Pai morreu...
Um pouco de mim
Com todos eles.
Tio Toninho...
Tio Cilas...
Tio Otaviano...
Tio Jairo...
Morreu Tia Maroca.
Morreu Tia Zaíra...
Tia Adalzira morreu...
Madrinha Eliana morreu...
Pedrinho morreu...
Morreu Tia Eunice.
Morreu Tio Roberto.
Morreu Tia Mariinha...
Tia Zairinha...
Meu Pai morreu...
Um pouco de mim
Com todos eles.
5 - AS VOZES
Autor: Carlos
Henrique Rangel
Ouçam as vozes
das coisas.
As coisas
falam...
SILÊNCIO!
Aprenda a ouvir
o que dizem as
casas...
e essas ruas...
e essas
igrejas...
e essa carteira
de escola...
Olha como o
silêncio
Não há.
As coisas te
gritam
O que você não
lembra...
E você ouvirá
Se quiser
lembrar.
Deixa eu te ouvir
Coisa que fala.
Conte-me o que
esqueci
Humano que sou...
Ensina-me sua
língua
Para que eu seja
mais Homem.
Que sua sabedoria
Feita de coisas
de homens
Faça-me mais...
Ouçam as vozes
das coisas...
Silêncio...
Silêncio...
Estão ouvindo?
Nossa pobre memória nos obriga a depositar
lembranças em coisas...
Um pedaço de papel com
imagens pode nos fazer chorar ou sorrir.
Um pano colorido de verde,
amarelo, azul e branco, me emociona e remete à minha terra...
Um cheiro de comida lembra
minha mãe...
As coisas falam...
E como falam...
E sempre de nós mesmos.
6 - -DESCARTÁVEL MUNDO NOVO
Autor: Carlos Henrique Rangel
Oh descartável Mundo Novo
“Que tem criaturas assim...”
Que desfaz do passado
Como inútil.
Que produz o presente
Com prazo de valor...
Já nasce velho
O novo consumido
E o nada que é
Dura eternamente entre
detritos
Ao lado do que devia ser...
E, no entanto não é...
Oh descartável Mundo Novo,
Destruidor de memórias.
Consolidador do vazio...
O que sobrará serei eu?
Descartável serei?
E o Mundo?
Oh descartável que sou...
Só o descartável ficará?
7 - EXISTÊNCIA
Autor: Carlos Henrique
Rangel
Monótona
existência
Essa
que lembra
Para
não esquecer.
Passo
as horas no passado
Vendo
o que foi
Para
entender o que sou.
Sou
um poço de memórias
E
mergulho diariamente
Nas
vozes das coisas.
Há
almas
Nessa
materialidade cotidiana
E
eu as tateio
E
as observo
Para
me entender...
Monótona
existência
Essa
que lembra
Para
se construir...
Para
não esquecer.
8 - LEMBRANÇAS
Autor: Carlos Henrique Rangel
De tanto lembrar sou
lembrança.
Pois lapidei minhas
lembranças
Para lembrar melhor...
O essencial...
Concentrei tudo o que sou
Em um momento...
Síntese de todas as
histórias...
Para lembrar melhor...
Não esquecer me motiva a vida
Mesmo que seja
Uma memória pasteurizada
Compactada em meu ser.
De tanto lembrar
Sou lembranças...
Mesmo que recortadas...
Sintetizadas...
Reinventadas em suas
simplicidades...
Eu sou porque lembro...
Por que lembro sou.
9 - SER
Autor: Carlos Henrique Rangel
Porque sou esse homem que
pensa
Carrego as angustias de
viver.
Pedaços de memórias
Habitam os caminhos que
trilho...
Labirintos domésticos
Impregnam meu ser.
Há movimento
Nessas coisas envelhecidas
Carcomidas pelos dias
Que berram minha alma
Fazendo-me crer.
Porque sou esse ser que pensa
Carrego a crença que sou mais
Do que posso ver.
Mas sempre haverá
A angústia das horas contadas
Do entardecer.
10 - HOMEM QUE SOU
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Sou
eterno
Homem
que sou...
Ficarão
pedaços, cicatrizes, rastros
Mesmo
sem nome
Mesmo
sem dados
Eu
estou.
Homem
que sou.
Ficarão
rancores
Dores,
amores...
Frutos
queridos...
Dissabores...
Ficarão
vazios, Lembranças...
Falsas
memórias...
Horrores...
Sou
eterno
Homem
que sou...
Ficarão
rastros
Cicatrizes,
pedaços...
Na
eternidade o encontro
O
lugar comum...
11 - O FIM DAS COISAS
E DOS DONOS DAS COISAS...
Autor: Carlos Henrique
Rangel
Então caiu...
Não porque quis...
Não porque o tempo
quis...
Caiu pelas mãos dos
homens.
Canibais da memória...
Mutiladores suicidas...
Adoradores do agora.
Mas como fica o amanhã?
Alguém vai chorar
Sobre foto
envelhecida...
A mesma triste
história...
Mar de Espanha...
Cidade mineira...
Sem mar.
Sem sobrado.
Sem memória...
A amnésia lhe custará
caro...
Alguém já disse no
passado:
“Perdoai-os eles não
sabem o que fazem...”
12 - SER
Autor: Carlos Henrique Rangel
Por que sou
Esse homem que pensa
Carrego as angustias de
viver.
Pedaços de memórias
Habitam os caminhos que
trilho...
Labirintos domésticos
Impregnados do meu ser.
Há movimento
Nessas coisas envelhecidas
Carcomidas pelos dias
Que berram minha alma
Me fazendo crer.
Por que sou esse ser que
pensa
Carrego a crença que sou mais
Do que posso ver.
Mas sempre haverá
A angustia das horas contadas
Do entardecer.
13 - SONÂMABULO
Autor: Carlos Henrique
Rangel
Como era mesmo o meu
mundo?
Olho a praça tento e não
consigo...
Existia um lago ali?
Havia um coreto?
Tudo está nublado como
um sonho.
Será que alguma coisa
ocorreu aqui?
O mundo parece que
sempre foi assim.
Mas ontem, tenho quase
certeza,
Havia um sobrado ali...
Pareço viver uma amnésia
constante...
Nada me parece ser.
A igreja
Acho que nem sempre foi assim...
Lembro de duas torres
mas algo aconteceu...
Algo mudou... Mas
quando?
Ninguém mais importa
Se é que algum dia...
Tudo que desmancha
parece normal.
Serei o único sonâmbulo
Vasculhando uma pseudomemória?
Mas parecem felizes
assim...
Agem como se nascido
hoje...
Eu sei que não foi
assim.
Como foi também não sei.
Tenho vislumbres, mas
estou caindo
Nesse sono sem ontem.
Meu Deus! Já não sei dos
avós...
Quase não tenho nome...
Estou me desfazendo na
felicidade
Dos alienados...
Estou dormindo...
Vou dormir...
14 - FRAGMENTOS
Autor: Carlos Henrique Rangel
Eu sou filho dessas sobras...
Desses restos do que parecia
eterno.
Minha memória fragmentada
Tem a dimensão dos segundos
E pouco sei desses alicerces
ruídos...
No entanto, estou aqui...
Esse ser menor
Arremedo do que podia ser...
Caminho pelas pedras
Qual zumbi alienado.
Ainda assim, feliz...
Sou filho esquecido dessas sobras
A que reduzi minha memória.
E, no entanto, estou aqui...
15 - EXISTÊNCIA
Autor: Carlos Henrique Rangel
Essa que lembra
Para não esquecer...
Passo as horas no passado
Vendo o que foi
Para entender o que sou.
Sou um poço de memórias
E mergulho diariamente
Nas vozes das coisas.
Há almas nessa materialidade
Cotidiana
E eu as tateio
E as observo para me entender.
Dinâmica existência
Essa que lembra
Para se construir...
Para não esquecer.
Há verdades nessas sobras...
Nessas pegadas dos meus.
Eu as tateio para saber de mim.
Dinâmica existência
Essa que me faz lembrar
Para ser.
16 - GUARDIÃO
Autor:
Carlos Henrique Rangel
De
saudades vivo
Percorrendo
os dias.
Lembrar
é o meu calvário
E
minha redenção.
Sou
guardião de memórias
E do
que me faz lembrar.
Sigo
pelos caminhos
Que
parecem novos
Procurando
as coisas que falam
De
mim
Para
mim
E
para os meus.
Nada
me parece mudo
Mesmo
que em constante mudança.
De
saudades vivo
Percorrendo
os dias...
Sou
máquina de lembrar.
17 - MUITOS
QUE SOU
Autor:
Carlos Henrique Rangel
Descobri
cedo
Que
minha memória
Não
cabe em mim.
Sou
um ser em retalhos
Que
se lembra em coisas...
Aprendi
cedo a transmitir
O
que me dizem as coisas
Para
que fossem memórias
De
outros...
De
todos...
Minha
memória fragmentada
Soma-se
a outras...
Assim
lembro melhor.
Aprendi
cedo
que
o indivíduo que sou
Tem
muito de coletivo.
Sou
único...
Sou
muitos...
Sou.
18 - SINOS
Autor: Carlos Henrique Rangel
Os que destroem não são maus.
Apenas sabem que o fim dos suportes da memória
Fragilizam a alma.
Cortam elos.
Extinguem um povo.
Os preservacionistas não preservam coisas antigas.
São guardiões de coisas que “falam”.
E o que falam?
Falam para nós.
Falam de nós.
Do que fomos,
Do que somos
Do que queremos ser.
Os preservacionistas protegem a humanidade.
“E por isso
Não perguntes por quem os sinos dobram;
19 - MEMÓRIA QUEBRADAS
O triste fim da memória de
Pitangui.
Autor: Carlos Henrique
Rangel
Esse calor que chega tão
perto...
Eu que vi tanto pelas mãos
de tantos.
Olhos de letras contando
histórias...
Memórias quebradiças.
Essa chama que queima
palavras
Que falaram tanto por
séculos.
Já não sou essa tinta
bordada.
Sou carvão.
O que lembrava, não lembro
mais.
Não lembrarão os que choram
a fumaça.
Ninguém mais saberá o que
sei.
Esse calor.
Essa fumaça.
Esse fogo que queima...
Queima... Queima...
Já não sou.
Menores estão os que choram
a fumaça.
20 - MEMÓRIAS
Memória tem gosto de chuva,
De pores do Sol,
De beijo de avó.
Memória tem gosto de café quentinho
no silêncio da manhã,
De mensagens amigas esperadas,
esperadas...
E chegou...
(Proteus).
21 - CONTANDO
O que tenho para contar
Vem de um tempo que já não
é mais
Mas está aqui.
Vejo nos seus olhos de
jovem ser
O que ficou.
Você sou eu diferente...
E vai ser melhor.
A imagem envelhecida do
casarão
Ainda suporta as lembranças
e suores
Dos que nele sofreram e
festejaram a vida.
E tudo – criança – se
resume a vida
E suportes da memória.
Que bom que você seja
ouvidos
E eu, a boca do passado
presente aqui.
Para não esquecer
Eu guardei dentro de mim e
de minhas coisas
O que pode me fazer lembrar
E a você...
Continuar.
(Proteus).
22 - MESTRES
Autor: Carlos Henrique
Rangel
Ao mestre o carinho
Esse dedicado doador de
saber.
Poucos percebem a entrega
Desse ser abarrotado de
memórias,
Vivencias e histórias...
Que não são suas... E são.
Estão ali os milhares de
fazedores de homens
Os que ajudaram a
humanidade a caminhar.
E a esse mestre carregador
de mestres
O carinho...
E os Homens que precisam
aprender
Para Homens serem
Muito devem a esse mestre.
Ao mestre o carinho
Sempre.
23 - MEMÓRIA DO MUNDO
Autor: Carlos Henrique Rangel
Tenho a memória do mundo.
A memória do meu mundo
Esquecido em tijolos
quebrados.
Em fotos amarelas de velhos
álbuns...
Tenho a memória em meu
sangue
Tão velho como a Serra
Carregado de sobrenomes
pomposos.
Tenho a memória do mundo
nos sons do sino
Aquele velho sino da igreja
chamando para a missa.
Em tantas coisas carrego
essa memória...
Naquele banco do jardim
onde te vi...
A escola que ainda
ensina...
O cheiro de comida de
domingo...
Os velhos casarões cheios
de fantasmas...
O calçamento irregular da
rua Direita,
Tão torta como a vida...
Carrego essa memória do
mundo.
A parte que me cabe das
lembranças
E das leituras das coisas
que falam.
Outros também suportam
fragmentos da memória.
Outros tantos.
Dezenas.
Milhares...
Todos.
E quando lembramos juntos
Temos a grande memória do
mundo.
Do nosso mundo.
E quando repassamos aos
outros
Somos jograis...
Um coro de lembrar...
E há tristezas e muitas
alegrias.
Há saudades, ressentimentos
e remorsos.
E então sabemos que somos
especiais
Porque lembramos.
Guardiões que somos de
nossas memórias.
Especiais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário