INTRODUÇÃO: Educação e Patrimônio
A Educação Patrimonial é um
trabalho permanente de envolvimento de todos os que compõem a comunidade e tem
como objetivo a preservação dos lugares e espaços, casas e manifestações culturais
importantes para todos, compartilhando responsabilidades e esclarecendo
dúvidas, conceitos e ao mesmo tempo divulgando trabalhos sobre esses bens
culturais.
Visa principalmente fortalecer a autoestima
das comunidades através do reconhecimento e valorização de sua cultura e seus
produtos.
A Educação Patrimonial é um
trabalho de “auto-despertar” motivado, que trabalha com a cultura da comunidade
ou grupo social.
As comunidades devem participar
de todas as atividades ligadas à preservação do Patrimônio Cultural: desde o
inventário, tombamento, a manutenção, fiscalização, restauração e utilização.
Assim, a Educação Patrimonial
deve ser entendida como um conjunto organizado de procedimentos e ações que têm
como principal objetivo à valorização das comunidades e todo a sua produção
cultural.
O PAPEL DA
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Autor: Carlos Henrique Rangel
O patrimônio cultural pode ser
entendido como um conjunto de coisas de seres humanos. Coisas de gente, criadas
para facilitar a vivência em grupo e a sobrevivência nos espaços que lhes foram
destinados. Pode ser entendido também, como produto de uma construção coletiva
dinâmica e viva produzida ao longo do tempo em um espaço definido. Ou seja,
vinculado à memória e à construção de uma identidade e por este motivo deve ser
preservada. Essa preservação e consequente conservação, manutenção e
continuidade depende do envolvimento de todas as pessoas individualmente e
coletivamente.
Cada Ser Humano é o que deve ser. E pode ser
mais. E o que é se relaciona com o que foi. Com os que foram. Com o que
construíram os que foram...
O que é se relaciona com o passado. Com as
coisas do passado. Com o que foi feito no passado e continua presente.
O Ser é fruto e construção de
outros seres. Somatória, complemento, continuidade. Cada Ser Humano
carrega em si o seu mundo e para onde for, onde estiver, sua família, sua rua,
sua igreja, sua praça, seu bairro, sua crença, sua terra, lá estarão. Cada Ser
é um representante vivo de sua cultura. Do seu Patrimônio. Cada Ser Humano é plural. O
produto de uma cultura diversa e rica. De um modo de ser, fazer e viver. Cada
Ser importa.
Ações educativas ou
sensibilizadoras das comunidades detentoras de bens culturais ocorrem desde os
primeiros tempos do IPHAN, órgão federal de proteção do patrimônio cultural,
criado em 1936 em caráter provisório e
consolidado a partir da Lei Federal n.º 378 de 13 de janeiro de 1937 e
pelo Decreto Lei n.º 25 de 30 de novembro, também de 1937. No entanto,
estas ações careciam de objetividade e planejamento que permitissem uma
continuidade.
No Estado de Minas Gerais, após a criação do
órgão Estadual de proteção do patrimônio cultural – o IEPHA/MG – Instituto
Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais –(criado em
setembro de 1971), a situação não foi tão diferente. No início dos anos 80
(1983) a instituição criou o programa PAC – Política de Ação com as Comunidades
- cujo principal objetivo era o de romper com o paternalismo estatal. A
política de atuação do PAC partia do pressuposto de que todo bem cultural é
“uma referência histórica necessária à formulação e realização do projeto
humano de existência” [1].
“A condição necessária, para
que este modo de atuação funcione plenamente, é a de que as comunidades locais
possam se assenhorar, não apenas de seus valores culturais, mas também, dos
tributos que lhes escapam das mãos.
(...)
Deste modo, a criação e o
desenvolvimento de entidades locais, encarregadas do patrimônio local e
sustentados pelas próprias comunidades, aparece como variável estratégica,
capaz de equacionar o problema da deterioração do acervo cultural de Minas.
Uma das metas, fundamentais da
Política de Atuação com as comunidades do IEPHA/MG é, precisamente, a de
fomentar a criação e o desenvolvimento daquelas entidades. Neste sentido, cumpre-lhe oferecer às
comunidades locais, subsídios para que possam se organizar de modo adequado.”[2]
O PAC, antes mesmo da chegada do conceito ao Brasil, já era efetivamente
um programa de Educação Patrimonial. Mais tarde, em 1994, o IEPHA/MG criou o
projeto “Educação Memória e Patrimônio” que durou cerca de quatro meses em duas
escolas estaduais – Escola Estadual
Barão de Macaúbas em Belo Horizonte e Escola Estadual Zoroastro Vianna Passos
em Sabará.
Recentemente, durante o ano de 2007, o IEPHA/MG desenvolveu dois
programas pilotos nas cidades de Pitangui e Paracatu utilizando uma nova
metodologia de trabalho voltada principalmente, para a capacitação e
monitoramento de projetos criados pelos diversos grupos sociais envolvidos.
Paralelamente, foi executado a partir de 1995, o ICMS Patrimônio Cultural
programa de descentralização da proteção do patrimônio cultural vinculado à lei
estadual 13.803/00 atual lei 18030/09, denominada “Lei Robin Hood”, o qual
repassa recursos do ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços) para
os municípios que investem na preservação do patrimônio cultural, pontuando,
também, ações planejadas de Educação Patrimonial.
Por ser ainda uma ação nova, muitas dúvidas pairam sobre o tema Educação
Patrimonial e principalmente quanto ao seu desenvolvimento.
Para nós, educar é alimentar e ser alimentado. É se dá ao outro e também
receber. Educar é troca. É transbordar, mas também se preencher. Ou seja: eu dou o que tenho e recebo o que você tem. A transformação é mutua. Eu
serei outro. Você será outro. O que fizermos juntos será melhor e diferente.
Por isso
entendemos a
Educação Patrimonial como um trabalho permanente de envolvimento de todos os
segmentos que compõem a comunidade, visando a preservação dos marcos e manifestações
culturais, compartilhando responsabilidades e esclarecendo dúvidas, conceitos
e, ao mesmo tempo, divulgando trabalhos técnicos pertinentes e seus resultados.
Ela visa, principalmente,
fortalecer a autoestima das comunidades através do reconhecimento e valorização
de sua cultura e seus produtos. A Educação Patrimonial é um trabalho de
“auto-despertar” motivado, que tem como temática toda a produção cultural de
uma comunidade ou grupo social. Esse processo educacional, formal e informal,
utiliza situações e ações que provocam reações, interesse, questionamentos e
reflexões sobre o significado e valor dos acervos culturais e sua manutenção e
preservação.
A Educação Patrimonial deve nos motivar, enquanto indivíduos, a pensar, a
nós mesmos e ao mundo que nos cerca. Principalmente, ela deve trabalhar todos
os sentidos humanos:
- Deve trabalhar o olhar para que possamos entender e compreender o que
se vê, para compreender o gostar e o não gostar do que se vê.
- Deve trabalhar a audição para que se possa saber ouvir e refletir sobre
o que se ouve.
- Deve educar o olfato para saber o mundo e seus cheiros e seus
significados e para onde este nos remetem.
- Deve educar a percepção tátil para sentir as coisas. Sua temperatura,
textura, maleabilidade, função estética.
- Deve trabalhar os modos de se expressar e os de dizer para que sejamos
capazes de exprimir os sentimentos, duvidas, anseios e idéias, com propriedade
através da fala, da escrita e do próprio corpo.
A Educação Patrimonial visa a fazer com que o ser humano compreenda a si
mesmo, suas angustias, dores, medos, anseios e entender o porquê das coisas: o
porquê de estar aqui. Entender a sua vida, seu modo de vida, seu mundo
particular, seu mundo coletivo e a ligação e relação de tudo isto.
Principalmente, a Educação Patrimonial deve ajudar na compreensão do
papel do indivíduo neste universo social e cultural.
Assim, a Educação Patrimonial deve
ser entendida como um conjunto organizado de procedimentos e ações que tem como
principal objetivo a valorização dos indivíduos e das comunidades e toda a sua
produção cultural. É um processo de auto-educação e sensibilização que visa a
eliminar a miopia cultural, despertando sentimentos e conhecimentos adormecidos
que fortalecerão o senso de pertencimento de compreensão de responsabilidade
dos indivíduos enquanto elementos de um grupo, sociedade, comunidade e lugar,
utilizando para esse fim o seu acervo cultural.
Os princípios norteadores das ações
de Educação Patrimonial são a descoberta e a construção em conjunto, motivadas
pela observação, apreensão, exploração e a apropriação criativa do
conhecimento, na busca da compreensão da condição individual e coletiva e o
aprimoramento da vida em sociedade. Ou seja:
- Sensibilizar a sociedade para uma mudança de atitude: de espectadores da proteção do patrimônio para atores desse processo.
- Através da educação, produzir a compreensão; através da compreensão, proporcionar a apreciação e através da apreciação a proteção.
Com a Educação Patrimonial
pretendemos contribuir para a formação do indivíduo enquanto parte de uma
coletividade. Ou seja, uma peça importante e participativa para o
desenvolvimento sadio das comunidades.
Com a Educação Patrimonial
pretendemos alcançar a preservação de nosso patrimônio cultural pela sociedade
como um todo – poder público, iniciativa privada e comunidades. Assim poderemos
aprender a conhecer as diversidades culturais;
aprender a fazer, participar, vivenciar essas diversidades culturais; aprender
a viver em sociedade e respeitar as diversidades culturais e aprender a ser,
desenvolvendo a capacidade crítica, emocional e criativa.
No entanto, por mais lúdicas e espontâneas que sejam as atividades e
ações de Educação Patrimonial, elas não podem dispensar o planejamento. Não
podem ser aleatórias. Devem seguir um plano/projeto estruturado, com princípio
meio e fim, com: apresentação, justificativa bem definida, definição do
público–alvo, objetivos claros, metodologia detalhada em atividades e ações,
cronograma, orçamento, com definição da equipe que vai trabalhar e dos produtos
que se pretende alcançar.
Ao final do projeto, avaliações e relatórios devem ser produzidos para
otimizar as ações futuras deste ou de outros projetos que, porventura, sejam
elaborados. Desta forma, nossas atuações na Educação Patrimonial serão cada vez
mais eficientes e alcançarão o objetivo principal que é o envolvimento das
comunidades na preservação do patrimônio cultural e consequentemente na sua
construção enquanto cidadãos.
Nunca é demais repetir que, o ser
humano se faz com troca, transmissão, repetição, continuação, construção
dinâmica, viva, sadia...
Um ser humano se faz com espaços
físicos e outros seres humanos... Influenciado pela natureza: clima, fauna,
flora...
O “Homem” são muitos. Parte dos
que foram. Parte dos vizinhos. Parte dos que chegam. Parte de si mesmo.
Um Homem é ETERNO se respeita o seu Passado, seu Presente,
sua Comunidade e a si mesmo.
A
PRESERVAÇÃO REVISTA
Autor: Carlos Henrique Rangel
Para viver e sobreviver no mundo, os seres precisam se
adaptar aos espaços/lugares do mundo.
Os animais se relacionam com os lugares biologicamente, se
moldando lentamente ao clima e ambiente. Tornam-se perfeitamente aptos para
viver nos espaços que escolheram como lar.
O lugar se torna seu habitat sua morada definitiva e única.
E esse ser não poderá viver em outro lugar a não ser que
seja um lugar muito parecido com o seu lugar de origem.
Sua história está vinculada, moldada no espaço que o
construiu e adaptou.
O Homem, também é um ser adaptado biologicamente, mas não
só.
Obrigado a viver em grupo para sobreviver o Homem criou
mecanismos de comunicação para poder transmitir conhecimentos, idéias e
descobertas: gestos e sons que se somam e formam sílabas, palavras e
significados.
Esses códigos dizem algo. Passam algo. Transmitem algo.
“Os homens estavam por natureza desprovidos de
meios para viver isoladamente, (...) é a necessidade que os obriga a juntar-se
uns aos outros, a inventar a vida social em conjunto”
Jâmblico, filósofo Sofista
O Homem se adapta ao lugar culturalmente.
Percebeu cedo que precisava do outro. Precisava
compartilhar com o outro o seu conhecimento e suas experiências para continuar
no mundo.
O lugar o molda, mas também é transformado por ele. O lugar
é domesticado, trabalhado por ele.
Cedo o Homem percebeu o seu mundo e descobriu que ao
contrário dos animais, precisa se adaptar aos lugares transformando-os.
Não possui peles fortes para protegê-lo do calor ou do
frio. Não possui garras para matar ou rasgar os alimentos.
Para sobreviver às constantes mudanças climáticas do meio
ambiente o Homem necessita criar peles artificiais tiradas dos outros animais.
É necessário cria garras artificiais como pedras pontudas ou paus trabalhados
para ferir e nocautear os animais/caças e os inimigos, os “outros”. E todos
esses artifícios estarão sempre em constante evolução para uma melhor adaptação
ao meio.
O Homem produz cultura. O único ser a fazê-lo. E cultura é
essa soma de modos de ser, fazer e se relacionar com os espaços/lugares, utilizando
o que o meio tem a lhe oferecer para sobreviver. Se há pedras, fará abrigos de
pedra. Se há apenas terra, a casa será de barro. Se há gelo, que seja de gelo o
abrigo a protegê-lo.
Cultura
Conjunto de atividades e modos de agir, costumes e
instruções de um povo, meio pelo qual o homem se adapta às condições de
existência, transformando a realidade.
Cultura é um processo em permanente evolução, diverso e
rico.
É o desenvolvimento de um grupo social, uma nação, uma
comunidade, fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento de valores espirituais
e materiais.
Ao contrário dos animais. Que naturalmente se molda aos
lugares. O Homem precisa aprender. Não se nasce com cultura. É necessário
aprender a cultura do grupo.
Os modos de ser de acreditar de se relacionar com o outro.
Cultura se aprende.
Então cultura está relacionada com o passado. Com o que foi
vivenciado no passado e que deve ser transmitido para que continue e ajude o
grupo a se perpetuar no mundo.
Cultura está relacionada com lembrança e com a memória e
define a identidade do grupo.
A Cultura está em gestos e ações dos Homens. É um fazer
portador de sentidos.
E os produtos culturais são conseqüências deste fazer,
deste agir.
A importância cultural é dada pelos atores deste fazer.
IDENTIDADE
Tudo aquilo que diferencia e que identifica
o homem, um grupo social, político, étnico, religioso, etc,
em relação ao Outro.
São as ações do homem para viver em sociedade ao longo da
história e do dia a dia.
Minha identidade é a soma do que lembro individualmente e
em conjunto. Minha memória se faz com o meu passado e consequentemente molda a
minha identidade.
Memória:
Lembranças, reminiscências, vestígios.
Aquilo que serve
de lembrança.
Todos nós temos lembranças.
Só lembramos do que passou.
O Homem precisa aprender sempre para lembrar.
Deve ensinar e transmitir para que outros possam lembrar e
futuramente transmitir.
Mas a memória do homem é frágil e mutável. Constantemente é
construída no presente. Nem tudo o Homem lembra e para isso é importante
repetir e transmitir e também atribuir lembranças às coisas e lugares. Para
isso é necessário qualificar as coisas e os lugares para que esses “falem” e
sejam suportes da memória do indivíduo e do grupo.
Lembrar pode ser a diferença entre sobreviver ou perecer.
Para não esquecer eu guardo o que pode me fazer lembrar.
Posso escrever, posso documentar e posso incorporar valores
e lembranças às coisas para que elas me façam lembrar.
O que sou está no passado, no presente e nos espaços que me
rodeiam.
Sou influenciado pelos lugares e pelos outros seres
humanos.
O que sou eu aprendi e construí com os meus e guardo em
minha memória.
MEMÓRIA
“Mais que apenas via de acesso ao passado, a memória é uma
estrada para a compreensão do Eu”
(Cunha, João Paulo. Editor de Cultura do Jornal
Estado de Minas)
Todo ser humano é em um lugar. E nesse lugar deixa sua
marca e sua essência, moldada e influenciada pelo lugar.
O Ser humano está no lugar. O lugar faz o Ser. O Ser também
faz o lugar.
Então, a permanência de um grupo depende da sua cultura,
que depende do lugar. Depende da memória de grupo e dos suportes da memória: os lugares que falam.
Essa produção cultural de um grupo é uma herança
compartilhada.
Podemos herdar os bens culturais, mas não herdamos a sua
compreensão.
Para compreender é preciso aprender, conhecer, vivenciar,
apreciar.
Aquilo que eu compreendo e conheço, eu respeito.
“A espécie humana é a única que precisa
Ser educada” (Kant)
“Depois do pão, é de educação que o povo
Precisa” (Danton)
Onde tem gente tem cultura transplantada, recriada,
reconstruída, adaptada, inovada e novamente criada.
Onde tem cultura tem bens culturais: materiais e imateriais
produzidos pelo Homem para viver e sobreviver no mundo que o cerca.
Todo lugar de Homem... De muitos Homens produz cultura.
Cada ser humano carrega em si o seu mundo e sua cultura e é
direta e indiretamente
transmissor, reprodutor, inovador e criador de cultura.
“A história social e pessoal, pode qualificar as coisas, os
objetos, os lugares da casa, os lugares de um bairro. Até mesmo a natureza vira
memória.”
(GONÇALVES FILHO, José Moura. 1991)
O que o Homem é está no passado, no presente e nos espaços
que o rodeiam.
O Homem é influenciado pelos lugares e pelos outros seres
humanos.
O que ele é aprendeu e construiu com os outros e guarda em
sua memória e em suportes.
É por isso que o Homem guarda coisas. As coisas falam.
Fazem com que se lembre do que aconteceu no passado e que precisa para
continuar.
Alguns “bens”, falam só para um indivíduo ou para a sua
família.
Falam de coisas que vivenciou e de coisas e seres que quer
lembrar.
Há outros bens que falam para o grupo/comunidade/nação e
transmitem o conhecimento que necessitam para que possam sobreviver com
dignidade e autoestima.
Esses são os “bens culturais”, produtos do processo
cultural de um grupo e que são importantes não por serem históricos artísticos
ou arquitetonicamente únicos, mas por que são essencialmente suportes da
memória do Homem.
O valor de um bem cultural está nessa capacidade de “falar”
ao grupo tanto coletivamente como individualmente. Está impregnado de
lembranças e dá sentido ao grupo e o diferencia de um outro.
Esse bem só terá
sentido para um grupo se for um suporte vivo de lembranças, vivências e
significados.
Esse bem precisa estar vivo no cotidiano do grupo para
realmente falar a esse grupo.
“...o conceito de bem cultural extrapola a dimensão
elitista, de "o belo e o velho". E entra numa faixa mais importante da
compreensão como manifestação geral de uma cultura.
É
o conjunto de bens culturais materiais e imateriais, de um povo.
Suas
festas, modos de fazer, criar e viver.
Suas
criações científicas, artísticas, tecnológicas e documentais.
O gesto, o habito, a maneira de ser da nossa comunidade se
constituem no nosso patrimônio cultural. (...)"
(Aloísio de Magalhães)
Preservar os bens culturais materiais e ou imateriais de um
grupo é manter a identidade deste grupo garantindo a sua continuidade. Mas isso
só será possível se esse grupo continuar a “ouvir as vozes” dos bens culturais.
Ninguém nasce sabendo cultura e sempre será necessário
ensinar o respeito às coisas que falam para podermos ouvir. É preciso romper a
miopia cultural e aprende a escutar o que os lugares e os suportes da memória
têm a dizer.
Só respeito o que conheço. Só preservo o que significa
algo. Só protejo o que é caro à minha memória e sobrevivência.
O QUE É MAIS IMPORTANTE
Autor: Carlos Henrique Rangel
PENSAR ALÉM
Autor: Carlos Henrique Rangel
Entendemos
que o Patrimônio Cultural está no ar que respiramos no dia a dia. Porque como
seres humanos, somos constituídos de lembranças, memórias e coisas do passado que nos movem no presente e nos
remetem para o futuro. Precisamos lembrar para continuarmos e aprendermos o que
dizem as coisas do passado que continuam no presente. E aprender o porquê preservar
essas coisas para que elas continuem a nos dizer o que somos.
Mas
educação patrimonial não pode e não deve se restringir às escolas. Ela deve
permear todos os nossos atos e atitudes e para isso precisamos usar todos os
meios disponíveis e necessários... Mídia impressa e televisiva, vídeos,
campanhas publicitárias, internet, etc. Tudo que possa ser usado para valorizar
e divulgar o patrimônio cultural, contribuindo para elevar a autoestima de um
grupo, comunidade, cidade ou nação.
Algumas pessoas ainda estão
pensando em educação patrimonial apenas como algo dentro das escolas...
Precisamos avançar ir além da visão simplista das coisas. Os órgãos de
preservação precisam amadurecer pensar holisticamente as "coisas" que
falam. Temos que ser criativos, sem medo de errar. Na verdade, em se tratando
de educação patrimonial não se erra nunca, pois sempre ficará alguma coisa.
O OUTRO
Autor: Carlos Henrique Rangel
Vivendo em grupo por necessidade e sobrevivência,
o ser humano cedo necessitou de símbolos e códigos para se fazer entender e
compreender o seu mundo e os seus iguais. Essa necessidade do outro e a
convivência com este, só foi possível através de um consenso coletivo para se entenderem
em relação a tudo. Desde as pequenas coisas como a nominação de um objeto, às
regras de convivência.
Se esse consenso se deu através de lideres carismáticos ou autoritários ou mesmo de forma democrática, essa não é a questão. O fato é que o consenso existiu para que fosse possível a convivência em grupo e a adaptação a um espaço determinado.
A identidade desse grupo será definida pelo consenso. Pela crença em valores assimilados por todos ou pelo menos a maioria dos membros do grupo. Os que não aceitam as regras do grupo são excluídos e se tornam os “outros”.
Também esses, denominados “outros” são necessários para a formação da identidade do grupo e a consolidação de suas crenças, costumes e ideais. A identidade de um ser ou de um grupo é definida pela contraposição à identidade de outro. O outro indivíduo, grupo, comunidade ou nação será sempre a referência até mesmo para o fortalecimento da identidade.
Ao mesmo tempo, uma comunidade por mais homogênea que seja sempre terá grupos discordantes – “os outros” que também possuem identidade própria, cultura própria, mesmo que identificados de uma forma geral com o grupo dominante.
Essa minoria dentro de uma comunidade maior ainda assim é parte desta e merecem respeito quanto a sua memória, identidade e suas produções culturais.
O outro que me acompanha e que produz cultura comigo, o que permite a diversidade cultural merece ser reconhecido, respeitado e valorizado como parte do grupo maior.
Numa sociedade consensual a diversidade deve ser o consenso para que a o grupo se renove culturalmente e sobreviva com a autoestima valorizada e fortalecida.
Esse outro também ele é parte do grupo e mesmo o outro culturalmente diferente, aquele de outro grupo/nação, também esse merece respeito. Ser diferente não é ser pior ou melhor. É apenas diferente. Outra forma de ser e de se relacionar com o mundo e seus lugares.
O outro é o meu céu e meu inferno. É o meu contraponto.
Se esse consenso se deu através de lideres carismáticos ou autoritários ou mesmo de forma democrática, essa não é a questão. O fato é que o consenso existiu para que fosse possível a convivência em grupo e a adaptação a um espaço determinado.
A identidade desse grupo será definida pelo consenso. Pela crença em valores assimilados por todos ou pelo menos a maioria dos membros do grupo. Os que não aceitam as regras do grupo são excluídos e se tornam os “outros”.
Também esses, denominados “outros” são necessários para a formação da identidade do grupo e a consolidação de suas crenças, costumes e ideais. A identidade de um ser ou de um grupo é definida pela contraposição à identidade de outro. O outro indivíduo, grupo, comunidade ou nação será sempre a referência até mesmo para o fortalecimento da identidade.
Ao mesmo tempo, uma comunidade por mais homogênea que seja sempre terá grupos discordantes – “os outros” que também possuem identidade própria, cultura própria, mesmo que identificados de uma forma geral com o grupo dominante.
Essa minoria dentro de uma comunidade maior ainda assim é parte desta e merecem respeito quanto a sua memória, identidade e suas produções culturais.
O outro que me acompanha e que produz cultura comigo, o que permite a diversidade cultural merece ser reconhecido, respeitado e valorizado como parte do grupo maior.
Numa sociedade consensual a diversidade deve ser o consenso para que a o grupo se renove culturalmente e sobreviva com a autoestima valorizada e fortalecida.
Esse outro também ele é parte do grupo e mesmo o outro culturalmente diferente, aquele de outro grupo/nação, também esse merece respeito. Ser diferente não é ser pior ou melhor. É apenas diferente. Outra forma de ser e de se relacionar com o mundo e seus lugares.
O outro é o meu céu e meu inferno. É o meu contraponto.
O outro sou eu diferente.
DESCENTRALIZAÇÃO
Autor: Carlos Henrique Rangel
É no âmbito municipal, nas localidades e comunidades
é que se encontra a verdadeira proteção.
É junto aos vivenciadores e com os vivenciadores é
que se protege o patrimônio cultural.
Se quisermos de fato efetivar e consolidar essa
proteção temos que descentralizar nossas ações. Temos que ir ao encontro destes
detentores do patrimônio cultural.
Levar nossos cursos, nossas angústias, nossas
dúvidas e certezas a onde estão as comunidades e os seus agentes culturais.
Chega da preguiça centralizadora e limitada dos
burocratas sem visão.
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