O MUNICÍPIO DE JANUÁRIA
Autor: Carlos Henrique Rangel
A CIDADE DE JANUÁRIA
Autor: Carlos Henrique Rangel
Atualizado em Abril de 2024.
Após a morte do bandeirante Matias Cardoso de Almeida, pioneiro da ocupação da região do noroeste de Minas Gerais, a liderança da família coube a seu filho Januário Cardoso que prosseguiu coma conquista da região sanfranciscana iniciada pelo pai.
Primeiro transferiu o antigo arraial fundado pelo pai para um local que considerava mais adequado, atualmente denominado Arraial do Meio. Constatando as mesmas deficiências do primeiro arraial, Januário mudou-se novamente, desta vez para local definitivo, na encosta de três morrinhos, origem do povoado de Morrinhos, atual Matias Cardoso.
A partir deste arraial, deu-se início ao desmantelamento dos grupos indígenas da região com a conseqüente ocupação das terras dos dois grandes redutos caiapós: Guaíbas e Tapiraçaba. O ataque à aldeia das Guaíbas, situada em uma ilha, foi comandado pelo capitão Manoel Francisco de Toledo, contando com a participação de Domingos do Prado de Oliveira e seus agregados do Arraial de Cima, e de Manoel Pires Maciel. Após a destruição do núcleo indígena, Manoel Francisco de Toledo fundou na margem esquerda do rio, o povoado que deu origem a São Romão.
Em 1724 Januário Cardoso obteve a patente de mestre de campo do sertão
do rio São Francisco, passando a
combater o banditismo local. (MORENO, José Ricardo. Caminhos do Sertão: O Médio São Francisco no Roteiro de Joaquim Quaresma Delgado Pinho. Disponível na internet:http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_I/erivaldo_fagundes.pdf . Acessado em 21 de fevereiro de 2013).
A fundação do primeiro agrupamento “civilizado” na região de januária é atribuída ao bandeirante Manoel Pires Maciel, que a serviço de Januário Cardoso de Almeida destruiu a aldeia de Tapiraçaba, dos índios Caiapós. Em 1728, Januário Cardoso aparece como “Administrador dos índios da Missão do Sr. São João do Riacho do Itacarambi". Provavelmente trata-se de São João das Missões, que ainda hoje é território indígena. (Arraial de Morrinhos, 15 de fevereiro de 1728. Administrador Januário Cardoso de Almeida Brandão. Certidão transcrita em 1968 do livro 10, folha 38 e verso, pelo escrivão de paz e oficial do registro civil de Itacarambi, Francisco Nunes Pacheco. BRAZ, Brasiliano. São Francisco nos Caminhos da História. São Francisco, 1977, p. 609).
Após a conquista, Maciel fundou o arraial de Porto do Salgado e juntamente com os prisioneiros índios que fez, construiu uma capela dedicada a Nossa Senhora do Amparo. Segundo a tradição local, a construção deste templo deu-se em 1692, sendo que a data mais antiga referente ao lugar: 1674 – foi encontrada em uma moenda de engenho de madeira.
Os acontecimentos do Rio das Mortes conhecidos por guerra dos Emboabas, que se ocorreram entre os anos de 1708/1709, contribuíram para o crescimento do arraial do Brejo do Salgado que recebeu vários implicados na rebelião que fugiam à perseguição de Antônio de Albuquerque, dispondo quase todos de fortuna.
O caráter rebelde da população desta região irá se manifestar durante o governo de Martinho de Mendonça de Pina e de Proença, em 1736 nos motins denominados Conjuração do São Francisco. Tinha como objetivo a marcha contra Vila Rica, a capital da capitania, para deposição e expulsão do governador Martinho de Mendonça, responsável pela cobrança dos quintos atrasados, devassas e prisões.
No dia 24 de junho de 1736, cerca de 200 revoltosos do Brejo do Salgado comandados pelo Vigário Antônio Mendes Santiago, invadiram São Romão, sendo expulsos três dias depois por Domingos Alves Ferreira. São Romão sofreu uma segunda invasão, mas o movimento, bastante desorganizado e sem os esperados reforços de Miguel Nunes Viana, se desfez.
Aberta a devassa, os principais lideres, Maria da Cruz, Pedro Cardoso foram presos e tiveram seus bens confiscados. Domingos do Prado conseguiu fugir, tendo os bens confiscados.
Em 1803, o padre Custódio Vieira Leite, reconstruiu a capela do arraial do Brejo do Salgado coberta parte de telha e parte de capim, sendo de pedra e cal.
O arraial de Brejo do Salgado tornou-se distrito do Julgado de São Romão em 1720. A freguesia foi criada por decreto real de 2 de janeiro de 1811. Pelo alvará de 1814, efetivado em 1816 criou-se o julgado separando o território de São Romão.
A vila de Januária foi
criada em trinta (30) de junho de 1833, sendo sua sede transferida para o
arraial de Nossa Senhora do Amparo do Brejo do Salgado, pela Lei n.º 54, de vinte
e nove (29) de abril de 1836. Mais tarde, a Lei n.º 279, de onze (11) de abril
de 1845, transferiu a vila para o povoado do Porto do Salgado. Brejo do Salgado
passou a sediar novamente a vila pela Lei n.º 472, de trinta e um (31) de maio
de 1850. A elevação à cidade deu-se pela Lei n.º 1 093 de sete (07) de outubro
de 1860.
Em 1855, Januária possuía
duas (02) matrizes e oito (08) capelas, achando-se uma (01) em construção;
quatro (04) precisando de reparos; uma (01) só possuía as paredes e as outras
se achavam em bom estado.
Em 1864, a população do
município de Januária somava vinte e quatro (24) mil habitantes. A cidade de
Januária possuía em 1865, seiscentos e trinta e quatro (634) prédios, nove (09)
ruas e três (03) mil habitantes na sede. Em 1909, a cidade possuía dois (02)
mil prédios e cerca de dez (10) mil almas.
A Lei Provincial n.º 1868
de quinze (15) de julho de 1872 mudou a denominação do município para
Itapiraçaba. Doze anos depois, a Lei n. 3 194 de vinte e quatro (24) de
setembro de 1884 definiu o nome que até hoje vigora: Januária.
O inglês James Wells assim
descreve a cidade na primeira metade dos anos 1870:
Um passeio
à tarde pela cidade (peço perdão), pela metrópole de Januária e seus 6000
habitantes, suas ruas poeirentas e subúrbios pantanosos, mostrou muitas das
cenas peculiares a uma próspera cidade do interior brasileiro. No clarão
escaldante das ruas sem sombra, vêem-se nas esquinas e portas de venda cavalos
ossudos e debilitados, esperando de pé durante horas, enquanto seus donos, os
matutos, estão entabolando seu negócio, ou conversa, lá dentro. (...). Entre os
passantes, notamos os comerciantes e agricultores portugueses e brasileiros,
com paletós pretos ou de cor, calças brancas, gravatas vivas, e imensas
correntes de relógio; vaqueiros morenos, vestidos de couro dos gerais; mulheres
morenas e negras, com xales berrantes, batas decotadas e bordadas, saias de
cores vivas e pés descalços – a maioria delas carrega nas cabeças tabuleiros de
doces, bolos, ou frutas para vender, ou então grandes bilhas de água do rio; os
barqueiros de “camisolas”, ou camisas sem manga e pantalonas curtas, passando o
dia em terra, bem supridos de cachaça e jogando em algum telheiro aberto ou
cantando alto uma barcarola do Rio São Francisco: acrescente-se a tudo
isto grupos de homens, mulheres e crianças escorados e acocorados sob a sombra
das árvores à beira-rio, ou em portas abertas, ou onde quer que se encontre
sombra, negrinhos brincando, um ou outro porco esquálido, cachorros vagabundos
e galinhas espectrais, que se conjugam para criar a vida das ruas. As casas da
classe mais abastarda têm fachadas caiadas ou pintadas, janelas envidraçadas,
cobertura de telhas, ornamentos em estuco e portas e janelas de cores vivas,
mas os interiores são vazios e desconfortáveis; na sala de visitas vêem-se o
inevitável sofá de palhinha e jacarandá, e duas cadeiras colocadas em ângulo
reto com relação a ele de cada lado, entre as quais geralmente se estende um
tapete barato e berrante, cobrindo um pedacinho de chão de tábuas,
frequentemente sujo. (...).
As lojas
dos comerciantes são todas abertas para a rua. A venda, ou armazém, tem, de um
lado, tecidos de algodão e mercadorias congêneres; do outro, cerâmica, e a
miscelânea de estoques odoríferos de uns secos - e - molhados, servindo também
de loja de bebidas e bar para a discussão de política e qualquer outra
conversa. Há ainda as lojas do sapateiro, do funileiro, do alfaiate e outros
negócios de uma cidade pequena. Muitas das transações são efetuadas na praia
macia e lamacenta e consistem em grande parte de escambo, como em quase todas
as cidades do interior do Brasil.
As
habitações dos pobres vão desde as casas de adobe simples e caiadas, com
janelas sem vidraças, até as cabanas de sapé, ou verdadeiras gaiolas de paus;
chão de terra, bancos ou banquetas simples, paredes e teto enegrecidos de fumo,
um pilão para pilar café ou milho, uns poucos utensílios de barro, redes, ou
camas montadas sobre cavaletes formam a soma total de seu equipamento. (WELLS,
1995, 2 v., p. 313 a 315).
Já
no século XX, o recenseamento de 1950, calculava a população do município de
Januária em quarenta e nove mil setecentos e cinquenta e seis (49.756)
habitantes.[1]
Em 1962, o grande município de Januária perdeu os distritos de Itacarambi e
Missões. A Lei n.º 6.769 de treze (13) de maio de 1976 criou os distritos de
Bonito, São Joaquim e Tejuco. Em 1982, a Lei n. 8.285 de oito (08) de outubro,
criou os distritos São Pedro das Tabocas.
Em
1992, Januária perdeu o distrito de Pedras de Maria da Cruz e em 1995, Lei Estadual
n.º 12.030, de vinte e um (21) de dezembro desmembraram os distritos de Bonito
de Minas e Cônego Marinho. A Lei n.º 1.520, de dois (02) de dezembro de 1994
criou o distrito de Várzea Bonita. O distrito de Pandeiros foi criado em quatorze
(14) de abril de 2000, pela Lei municipal n.º 1.872.[2]
Situado
na Zona do Alto São Francisco, com sede a quatrocentos e cinquenta e quatro (454)
metros de altitude, distando quatrocentos e noventa e um (491) km. de Belo
Horizonte em linha reta rumo NNO, o município de Januária possuía - segundo o censo de 2010 - uma população de sessenta
e sete mil e oitocentos e setenta e cinco (67.875) habitantes. É um dos maiores municípios do Estado, compondo-se dos distritos: sede, Brejo do
Amparo, Levinópolis, Pandeiros, Riacho da Cruz, São Joaquim, Tejuco e Várzea
Bonita. A Agricultura, pecuária e serviços gerais são suas principais atividades
econômicas.
A
população de Januária, segregada pela distância, manteve-se mais ou menos
homogênea. Do resíduo ameríndio, os caiapós que, outrora, ocuparam a região,
sobrevivem tipos de mamelucos, sobretudo no interior, adaptados ao pastoreio.
Na lavoura e na pescaria, negros e mulatos predominam. O elemento branco é o
agente catalisador dessa mestiçagem generalizada. (...).
Usos e
costumes, tradições, mitos e lendas, hábitos e linguajar retratam profunda
feição arcaizante, própria de população segregada. (...).
Na zona
rural a população é rarefeita. E só na órbita do rio, na região ribeirinha,
observa-se leve densidade demográfica. (RIBEIRO, 2001, p.21).
Em Abril de 2024, o seu Núcleo Histórico foi tombado pelo CONEP/Iepha/mg após quase dez anos de estudo baseado no Inventário de Proteção do Acervo Cultural realizado pela instituição no 1985 e outras pesquisas.
Várias fotos são do arquivo pessoal de Claudionor Carneiro, com a colaboração de Fred Viana e outros fotógrafos.
Várias fotos são do arquivo pessoal de Claudionor Carneiro, com a colaboração de Fred Viana e outros fotógrafos.
EXPEDIÇÕES AO SERTÃO MINEIRO
MATIAS CARDOSO O BANDEIRANTE ESQUECIDO
O Sertão Mineiro do Rio São
Francisco ao longo dos séculos.
http://proteuseducacaopatrimonial.blogspot.com.br/2016/10/o-sertao-do-sao-francisco-ao-longodos.html
PIRAPORA A CIDADE DO FUTURO
UMA ESCOLA DE APRENDIZES MARINHEIROS EM MINAS GERAIS
[2] IBGE. Disponível em:<
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/minasgerais/januaria.pdf>.
Acessado em: 07 de novembro de 2014.
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