OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
DO IEPHA/MG
DE 1994 A 2010
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I
- APRESENTAÇÃO:
O Projeto Educação,
Memória e Patrimônio foi uma experiência pioneira do IEPHA/MG com educação
patrimonial realizado em
Carlos H. Rangel, Rodrigo Faleiro, Elinete
Vasconcelos e Aurora Pederzoli. Fonte: IEPHA/MG
II - INTRODUÇÃO:
O Estado de Minas
Gerais concentra inúmeras e diversificadas manifestações culturais espalhadas
por toda sua extensão territorial, fruto de suas raízes históricas, suas
potencialidades socioeconômica e rica herança cultural.
O empenho para a criação de uma instituição destinada à
preservação do patrimônio cultural coube aos intelectuais modernistas,
encantados com a homogeneidade das cidades do período colonial mineiro, que
preservavam praticamente intacto o seu acervo arquitetônico e artístico do
século XVIII. Graças a estes expoentes da intelectualidade brasileira dos
anos vinte, foi criado em 1936 o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, atual IPHAN, regulamentado pelo Decreto –Lei n.º 25 de 30 de
novembro de 1937. Este órgão de Proteção sustentado pelo instituto do
Tombamento e sob a direção do Dr. Rodrigo Melo Franco de Andrade irá
empreender a proteção dos grandes núcleos históricos e dos monumentos mais
expressivos de nossa cultura até os anos 70 superando dificuldades e se
consolidando.
Em abril 1970, o
encontro de Governadores realizado em Brasília definiu que os Estados e
municípios deveriam compartilhar a proteção do Patrimônio de expressão local,
criando os seus órgãos de preservação:
1- Reconhecem a inadiável necessidade de ação
supletiva dos Estados e Municípios à atuação federal no que se refere à
proteção dos bens culturais de valor “nacional”.
2- Aos Estados e Municípios também compete, com a
orientação técnica da DPHAN, a proteção dos bens culturais de valor regional.
3 – Para a obtenção dos resultados em vista,
serão criados onde ainda não houver, órgãos estaduais e municipais adequados,
articulados devidamente com os Conselhos Estaduais de Cultura e com a DPHAN,
para fins de uniformidade da legislação em vista, atendido o que dispõe o art.
23 do Decreto-Lei 25, de 1937.
Seguindo a orientação
do “Encontro de Brasília”, em 1971 o governo do Estado de Minas Gerais, criou
o IEPHA/MG, fundação integrante do Sistema Estadual de Cultura com a
atribuição básica de preservar o patrimônio cultural do Estado empreendendo a
identificação, registro, fiscalização e restauração dos bens culturais
tangíveis e a partir de 2002, dos bens imateriais.
Em âmbito nacional, em
1973, o governo federal criou o Programa Integrado de Reconstrução das
Cidades Históricas do Nordeste, que tinha como principal objetivo a promoção
e utilização dos bens culturais pelas comunidades. No entanto o papel
destinado a essas “ainda era de mediar o gozo estético de seres estranhos à
função social dos bens culturais: buscava-se atrair turistas”.[1]
Essa iniciativa
permitiu o surgimento de experiências, ainda que esporádicas de atuação
conjunta das instituições preservacionistas e as comunidades contempladas.
Ao longo dos mais de
quarenta anos de existência, o IEPHA/MG, cumpriu com relativa desenvoltura as
suas funções de proteger, gerenciar e estudar o patrimônio cultural do
Estado. No entanto, o número reduzido do seu corpo técnico e a grande
extensão territorial de Minas Gerais, aliada à diversidade do acervo
cultural, cedo demonstrou a necessidade de parcerias para o desenvolvimento
dos trabalhos. Já em 1981, esta necessidade se fazia premente e o
envolvimento das comunidades na preservação, uma solução.Um programa com esta
finalidade foi idealizado:
É cada vez mais premente a necessidade de consolidação de um programa
de conscientização cultural das comunidades perante os valores do patrimônio
histórico e artístico do Estado, condição básica para sua permanência como
uma das grandes heranças espirituais do País e até para que se resguarde a
própria responsabilidade pela história de Minas Gerais.
(...)
Pelo fato de Minas Gerais possuir o maior número de cidades
históricas do País, de contar com um dos mais significativos acervos barrocos
e por Ouro Preto ter sido declarada Cidade Monumento Universal pela UNESCO, o
IEPHA/MG, dentro de suas atribuições e voltado para um trabalho cada vez mais
integrado com as comunidades, vem estudando a definição de um programa
educativo capaz de contribuir com acerto para a formação da desejada
consciência coletiva diante dos valores históricos e artísticos do Estado.
Nesse sentido, conscientizar as nossas populações sobre o direito
comunitário de propriedade e o dever de todos na preservação dos bens
culturais móveis e imóveis de Minas Gerais significa despertar e promover o
“sentimento de respeito da comunidade” pelas tradições de interesse
histórico, artístico, arquitetônico e ecológico.
O objetivo principal do IEPHA/MG, com o programa de conscientização a
nível de comunidade, visa deflagrar o conhecimento mais amplo do nosso rico
patrimônio cultural, condição fundamental para garantir sua defesa e
conseqüentemente, o trabalho de restauração, conservação, valorização e
divulgação dos bens tombados ou não de cada comunidade.”[2]
Esse programa de 1981
definia como prioridade a promoção do conhecimento a acerca do patrimônio
Cultural com utilização de audiovisuais e filmes documentários e concursos em
escolas, promoção de palestras, exposições fotográficas e distribuição de
material institucional referente aos conceitos e conteúdo dos programas de
restauração desenvolvidos pela instituição à época, denominados PCH –
Programa de Cidades Históricas e POU – Programa de Obras Urgentes. Pretendia
também, um trabalho junto às universidades incentivando as pesquisas
referentes ao Patrimônio Cultural.
A ação comunitária é o esforço cooperativo e conjugado de uma
comunidade que procura tomar consciência de seus problemas e busca
resolvê-los desenvolvendo seus próprios recursos e potencialidades, contando
para tanto com a colaboração de seus líderes, grupos e instituições.[3]
No entanto foi somente
em outubro de 1983, com a criação do PAC – Política de Atuação com as
Comunidades, que a instituição efetivou de fato um programa de
conscientização das comunidades com o principal objetivo de romper com o
paternalismo estatal. A política de atuação do PAC partia do pressuposto de
que todo bem cultural é “uma referência histórica necessária à formulação e
realização do projeto humano de existência”.
A Política de Atuação com as Comunidades – PAC parte do pressuposto
de que todo bem cultural seja uma referência histórica necessária à
formulação e realização do projeto humano de existência.
Por diferentes caminhos, diferentes pessoas podem descobrir
diferentes aspectos do valor cultural de um mesmo bem. Mas, a ninguém é dado percebê-lo
em sua totalidade, do mesmo modo que é vedado a uma só pessoa o acesso às
infinitas imagens possíveis de serem projetadas sobre um só espelho.
(...)
A condição necessária, para que este modo de atuação funcione
plenamente é a de que as comunidades locais possam se assenhorar, não apenas
de seus valores culturais, mas também, dos tributos que lhes escapam das
mãos.
(...)
Deste modo, a criação e o desenvolvimento de entidades locais,
encarregadas do patrimônio local e sustentados pelas próprias comunidades,
aparece como variável estratégica, capaz de equacionar o problema da
deterioração do acervo cultural de Minas.
Uma das metas, fundamentais da Política de Atuação com as comunidades
do IEPHA/MG é, precisamente, a de fomentar a criação e o desenvolvimento
daquelas entidades. Neste sentido, cumpre-lhe oferecer às comunidades locais
subsídios para que possam se organizar de modo adequado.[4]
Assim, para empreender
essa descentralização foi criada ainda nos anos 19
Entretanto, apesar de
todo o trabalho empreendido, como a criação de um caderno técnico com
conceitos e diretrizes para a proteção do patrimônio cultural, e uma cartilha
do patrimônio cultural ( publicada em 1989), os resultados não foram tão
satisfatórios.
III - O PROJETO
EDUCAÇÃO MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
Uma
professora, Geny Lima, Carlos Henrique Rangel e Aurora Pederzoli. Fonte: IEPHA/MG
Em 1994, tendo em vista
a continuidade dos trabalhos de conscientização e entendendo que somente a
criação de uma sistemática de socialização do conhecimento de todas as
questões que envolvem o patrimônio cultural poderia assegurar às comunidades
a participação na construção de sua história, o IEPHA/MG resolveu investir em
um pioneiro projeto de educação patrimonial. Esta nova empreitada pretendia
conscientizar as novas gerações sobre a importância da preservação,
entendendo serem elas as futuras guardiãs deste acervo cultural. Para sua
realização foram envolvidas as superintendências das duas diretorias técnicas
da instituição (Diretoria de Proteção e Memória e Diretoria de Conservação e
Restauro) e a Secretaria de Estado da Educação.
Sob a Coordenação da
arquiteta Aurora Pederzoli em parceria com a Assessora Técnica Geny Lima, o
“Projeto Educação, Memória e Patrimônio" foi desenvolvido
experimentalmente objetivando a promoção de ações educativas de
identificação, valorização e proteção de bens culturais junto a escolas
públicas estaduais:
“Considerando a Educação como uma das bases do processo de
constituição da identidade cultural, o presente Projeto destina-se a
implementar, apoiar e assegurar a continuidade de ações de caráter educativo
em unidades escolares estaduais, no sentido de que possam ser transmitidos e
refletidos criticamente, conteúdos sobre educação, Memória e Patrimônio [6].
Os trabalhos
desenvolvidos em duas escolas escolhidas como piloto foram divididos em duas
fases que contaram com um ativo envolvimento dos técnicos do IEPHA/MG:
Curso “Conversando com quem trabalha com Patrimônio”
com Elizabeth Sales de Carvalho em 06 de outubro de 1994.
Fonte: IEPHA/MG
- A Primeira fase
consistiu em planejamento e realização do curso "Conversando com quem
trabalha com Patrimônio Cultural", dirigido ao professores e
supervisores das duas escolas envolvidas, tendo como objetivo“ proporcionar
informações e atividades correlatas de cunho metodológico com a finalidade de
inserção dos conceitos básicos do trabalho com Patrimônio Cultural e História
local no currículo da escola de 1º grau” e construir uma didática de
abordagem sobre o tema dentro das salas de aula tratando principalmente das
questões conceituais. Em três dias foram ministrados os seguintes conteúdos:
Curso com
Jorge Askar em 05 de outubro de 1994. Fonte: IEPHA/MG.
Avaliação: Em termos de conteúdo, verificou-se que todas as
informações passadas são da maior relevância, quando se pretende trabalhar as
questões referentes ao Patrimônio Cultural junto às comunidades
escolares. Entretanto, alguns itens devem ser observados com relação às
palestras, quais sejam:
- a simplificação da linguagem técnica, a fim de
que se torne acessível para os professores;
- a preocupação em estabelecer elos de ligação
entre um tema e outro, no sentido de se formar uma seqüência de pensamento;
- o tempo de duração das falas, visando manter o
nível de interesse dos participantes.
Ainda nessa fase foram
realizadas visitas orientadas ao Palácio da Liberdade
Escola
Estadual Barão de Macaúbas – Trabalho com os alunos. Fonte: IEPHA/MG.
- A Segunda fase
consistiu no trabalho de campo propriamente dito, envolvendo as escolas
estaduais "Barão de Macaúbas"
Escola
Estadual Barão de Macaúbas – Trabalho prático com os alunos. Fonte: IEPHA/MG.
Na Escola Estadual
"Barão de Macaúbas", foram envolvidas duas turmas do 3º ano do
ensino fundamental, trabalhadas pelos técnicos: Elinete P. Vasconcelos,
Carlos Henrique Rangel, Rodrigo Faleiro, a coordenadora Aurora Perdezoli, e a
assessora Geny Lima. Na Escola Estadual "Zoroastro Vianna Passos"
foram envolvidos alunos do ensino fundamental e médio, trabalhados pelos
técnicos, Elisabeth S. de Carvalho, Tarcísio Guadalupe S. F. Gomes, Delmari
Ribeiro, Rodrigo Faleiro, a coordenadora Aurora Perdezoli e a Assessora Geny
Lima.
O trabalho denominado
Jornada do Patrimônio Cultural foi precedido pela definição das atividades a
serem desenvolvidas e elaboração do plano de trabalho. Devido ao ineditismo
da experiência, foram muito discutidas as formas de abordagens adotadas. A
coordenação do projeto em reunião como os professores identificou as
temáticas de interesse dos alunos e definiu a abordagem inicial dos docentes,
que consistiria basicamente em um trabalho interativo, participativo e
envolvente.Com relação ao material didático todo ele foi elaborado pelos
técnicos, assim como a sugestão para roteiro de pesquisa, reprodução do
acervo histórico/fotográfico da Casa Borba Gato em Sabará, além da confecção
de slides para os Jogos de Memória, e propostas de atividades.
Escolas diferentes, com
turmas diferentes, obtiveram resultados diferentes, com utilização de
metodologias e ações diferentes. Todos satisfatórios.
Visita
Guiada com a turma de alunos da Escola Estadual Zoroastro Vianna de Sabará. Fonte: IEPHA/MG.
Na escola de
Sabará os destaques foram as visitas guiadas e as duas peças teatrais criadas
pelos próprios alunos com a temática referente à preservação da memória e do
patrimônio cultural.
Avaliação: Considerando-se o fato de que seriam três os roteiros a
serem percorridos na cidade, os historiadores ativeram-se basicamente a dois,
em decorrência do escasso tempo da palestra e diante da grande quantidade de
informações a serem transmitidas. Entretanto, todos os relatos revelaram-se de
grande importância para a uniformização da linguagem a ser utilizada em campo
pelos técnicos do IEPHA/G.
(...)
A distribuição dos 90 alunos e 03 professores nos três roteiros
ocorreu de forma desordenada e desigual, denotando a falta de compromisso e
interesse dos professores para com o que havia sido estabelecido no encontro
anterior (30 alunos e 01 professor em
cada roteiro).
(...)
Observou-se novamente, que embora de aparente interesse, a quantidade
de informações foi considerada excessiva, prolongando em demasia o tempo
despendido em cada edifício. Uma decorrência disto foi a interrupção de dois
roteiros, diante da forte chuva que caiu aproximadamente às 17 horas, ou
seja, muito tempo após o que poderia ser considerado prazo razoável para o
fechamento
dos percursos.
Alem disto, não houve praticamente nenhuma contribuição por parte dos
alunos, os quais portaram-se como meros espectadores e não como atuantes na
construção do conhecimento.
(...)
Deve-se destacar a apresentação de duas peças de teatro, a leitura de
alguns trabalhos, o envolvimento da comunidade (padre e pesquisadoras locais)
e o depoimento de grupos de alunos que, por motivos diversos, não conseguiram
apresentar um
“produto final [7]”
Turma da Escola Estadual Barão de Macaúbas – Vista
Guiada à Igreja de Nossa Senhora das Dores. Fonte: IEPHA/MG.
Na Escola Estadual
"Barão de Macaúbas", devido à juventude dos alunos, a equipe optou
por uma abordagem questionativa, retirando dos próprios envolvidos, os
conceitos relativos à ideia de Patrimônio Cultural, utilizando o vídeo de
desenho animado “Alo Amigos” de Walt Disney, descontraído e aparentemente
desvinculado da temática. Os alunos foram estimulados a se manifestarem com
relação às imagens apresentadas que retratavam a paisagem brasileira da
década de 40, em contraste com a realidade atual. Foram utilizados a seu
tempo, questionários, recursos audiovisuais com imagens de bens tombados
Visita
Guiada com a turma de alunos da Escola Estadual Barão de Macaúbas. Fonte: IEPHA/MG.
A utilização de vídeo contendo desenho animado descontraiu a turma e
estimulou as crianças a falarem espontaneamente sobre o Patrimônio Cultural,
construindo elas mesmas o seu conceito e noção de importância.
O número de slides utilizados (45) pode ser considerado excessivo na
medida em que o tempo de duração da exposição é longo; entretanto, sua
aceitação pelos alunos foi excelente, gerando questionamentos diversos e
surpreendentes, se levada em conta a sua faixa
etária (09 anos)
(...)
Os alunos receberam cópias de um trecho da Planta Cadastral da
Administração de Juscelino Kubitschek, datada de 1942, com o percurso a ser
feito devidamente “ iluminado”: Saindo da Escola, passando pela Praça
Zamenhoff, Av. Assis Chateaubriand (antiga Tocantins), Av. Francisco Sales,
R. Itajubá, R. Silva Jardim, com uma parada na Igreja Nossa Senhora das
Dores.
A medida em que comparavam a numeração antiga com a atual das
edificações, os alunos identificavam a idade aproximada das edificações e
seus respectivos estilos.
No interior da Igreja, foram respondidas as questões apresentadas
pelos alunos quanto a estilo, ambientação, simbologia, dentre outras.
A caminhada livre, sem excesso de informações, permitiu aos alunos
que tivessem dúvidas e tirassem suas próprias conclusões a partir do que lhes
era esclarecido. Acredita-se que, desta forma, o conhecimento foi sendo
construído por cada um, ao invés de lhes ter sido fornecido um “pacote
pronto”[8]”
Em pouco mais de um mês
de atividade os resultados obtidos foram surpreendentes, culminando com uma
exposição museológica de objetos dos familiares dos alunos, com legendas
elaboradas pelos próprios, e um júri simulado.
“A simulação do museu objetivou o ensino de “como visitar uma
exposição”, considerando-se tudo o que foi trabalhado com relação a
preservação e valor cultural”[9].
A idéia de se fazer um
julgamento para se captar o nível de assimilação de idéias dos alunos foi
motivada pelas observações detectadas na visita guiada ao bairro Floresta,
onde a escola se situa. Devido à proximidade com o Centro da Cidade, a região
foi e ainda é palco de grandes transformações que foram facilmente percebidas
pelos alunos ao compararem o bairro existente com a realidade apresentada
pela planta cadastral dos anos 40.
Para servir de pano de
fundo ao julgamento foi escolhido o "Solar Cannã", imóvel da década
de 40 que, devido a ameaça de demolição por parte dos proprietários foi embargado
pela Prefeitura e a época do projeto, encontrava-se em ruínas.
A simulação do
julgamento tendo como objeto uma realidade concreta motivou o conhecimento
dos dilemas encontrados ao longo da luta pela defesa do patrimônio cultural.
As turmas foram divididas em “contra a preservação do Solar” e “a favor da
sua preservação”. Quatro alunos foram selecionados para encenarem a
trama do julgamento. Representaram quatro irmãos: dois a favor da demolição
do imóvel e os outros dois favoráveis a preservação. Um outro grupo de alunos
foi designado para ser o corpo de jurados a quem caberia a decisão hipotética
de preservar ou não o imóvel. Para maior conhecimento e sensibilização dos
alunos foram apresentados slides com detalhes do interior e da fachada
anteriores à degradação.
As duas duplas se
empenharam na caracterização dos papéis e no julgamento presidido pela
Presidente Interina do IEPHA/MG, Ruth Villamarim Soares. Defenderam com
argumentos convincentes os seus pontos de vistas.
Os dois alunos que
desejavam demolir o imóvel alegaram que era velho e que o mais correto seria
a sua substituição por um prédio que teria um apartamento para cada um dos
irmãos solucionando a disputa. Os outros dois "irmãos" argumentaram
que a casa era cheia de lembranças do passado da família, citando cenas do
convívio imaginário dentro da casa e até mesmo as cores das paredes dos
quartos e os afazeres dos pais na cozinha do imóvel. Importante esclarecer,
no entanto, que nenhum dos alunos conhecia o interior da Solar, o que permitiu
uma representação criativa e comovente das argumentações.A atuação,
extremamente convincente emocionou a todos os técnicos envolvidos por
constatarem a apreensão e utilização dos conceitos discutidos durante o
projeto para defenderem o patrimônio e a qualidade de vida local. Venceram os
últimos.
Em avaliação elaborada
após a atividade, a equipe considerou que a divisão das turmas
...gerou uma competição acirrada, provocando uma atitude
parcial entre os alunos, os quais apesar da consciência sobre a importância
da preservação passaram a querer ganhar, de qualquer forma
[10].
Independente do
resultado obtido pelo júri simulado, o mais importante de todo processo foi a
grande participação das turmas que foram sensibilizadas para a descoberta,
dedução, comparação e raciocínio com relação à temática, fechando com chave
de ouro o Projeto Piloto:
A Jornada extrapolou a esfera da Escola, integrando também a
comunidade (padre da Igreja N. S. das Dores, vizinhos da Escola, famílias dos
alunos), a qual se mobilizou de diversas formas para a construção do
trabalho.
O sucesso da atuação do IEPHA/MG foi tão grande que chegou a provocar
“ciúmes” nas turmas que não foram envolvidas no Projeto. A resistência
inicial, por parte de alguns professores, em trabalhar a questão do
Patrimônio Cultural com seus alunos, acabou sendo superada a partir da tomada
de conhecimento do
resultado do trabalho”.
(...)
“O trabalho realizado no “Barão de macaúbas” destacou-se pela
flexibilidade no planejamento, o qual foi sendo construído diariamente, em
respeito ao conhecimento e interesse de alunos e professores.
(...)
Considerando o objetivo do Projeto em despertar o interesse dos
alunos para as questões da preservação do Patrimônio Cultural, houve uma
preocupação por parte dos técnicos em não fornecer informações em excesso e
sim, esclarecer os questionamentos no momento em que havia a manifestação de
interesse pelos alunos, o que pode ser avaliado como bastante salutar.
A atuação integrada dos diversos técnicos envolvidos possibilitou uma
linguagem unificada, acessível aos alunos, os quais puderam sentir o
resultado do trabalho de uma equipe coesa.[11].
Finalizada a
experiência, nas duas escolas o IEPHA/MG, devido a grande repercussão
advinda, deu prosseguimento à educação patrimonial através do Projeto de Pesquisa "Memória de
Minas - Educação e Patrimônio Cultural", numa tentativa de se criar
uma atividade permanente integrada às ações comunitárias e ao projeto de
realização de inventários da instituição. Este novo projeto tinha como
principal objetivo “a socialização do conhecimento das questões referentes ao
Patrimônio Cultural, assegurando às comunidades uma verdadeira participação
na construção da sua história e, conseqüentemente, na melhoria de sua
qualidade de vida”. Apenas um piloto foi realizado em 1995, na cidade de
Leopoldina, onde se empreenderam ações educativas com a participação da
comunidade na investigação reconhecimento e manutenção dos referenciais
culturais do município. Foram ministrados encontros, palestras, fóruns de
debate, o tombamento da Escola Estadual Botelho Reis e o inventário do acervo
cultural do município. Nos anos que se seguiram, ações isoladas foram
empreendidas em trabalhos de pesquisa para tombamento, inventário e
restauração de imóveis tombados. No entanto, estas ações não se traduziam em
um projeto efetivo da instituição refletindo muito mais a disposição de
alguns técnicos.
IV - AS EXPERIÊNCIAS DE 2001 a 2006 –
Uma Publicação e o Projeto Trens de Minas
Em 2001, foi realizada
uma oficina sobre Educação Patrimonial na sede da Fundação João Pinheiro onde
se discutiu as ações passadas da instituição e foram propostas novas ações em
parceria com a Fundação João Pinheiro e Secretaria de Estado da Educação.
No ano de 2002, houve
uma nova tentativa de se empreender um projeto de educação patrimonial, agora
em convênio com a Secretaria de Estado da Educação e Fundação João Pinheiro,
estabelecendo “um elenco de ações conjuntas visando a disseminação de
conceitos, conhecimentos, experiências e recomendações para a exploração do tema
Educação Patrimonial nas escolas de nosso estado”. O Projeto gerou uma
publicação, (Reflexões e Contribuições para a Educação Patrimonial) com
textos de diversos autores, que se tornou referência nacional na área.
“A meta da Secretaria da Educação, nesse campo, é
estimular ações voltadas para o conjunto do patrimônio histórico e cultural
de Minas Gerais. Mas é importante ressaltar que esta não deve ser atividade
apenas das instituições e pessoas interessadas na preservação de edificações
ou conjuntos arquitetônicos que representam fases da história de Minas. O
patrimônio da sociedade mineira vai muito além, das manifestações artísticas
ao conhecimento técnico e científico, dos recursos naturais ao aparato
turístico de cada região.”[12]
Em 2006 o IEPHA/MG
realizou um programa de educação patrimonial dentro do sub-programa
Preservação do patrimônio Cultural do programa “Trens de Minas”, visando,
desta forma suprir esta carência de intercâmbio e conscientização tão
importante para o bom desempenho da instituição, dos municípios e comunidades
na proteção do acervo ferroviário mineiro. Paralelamente, desenvolveu várias
ações educativas: cursos, palestras, fóruns, atendimentos presenciais e via
e-mail/site, produção de informativos, estórias educativas e jogos auxiliando
os municípios mineiros na realização dos seus projetos de educação
patrimonial.
V - O PROGRAMA EDUCAÇÃO
MEMÓRIA E CIDADANIA
Oficina em Paracatu – 2007. Fonte: IEPHA/MG.
Oficina em Pitangui -2008 - Fonte: IEPHA/MG.
De 2007 a 2010, a
Diretoria de Promoção do IEPHA/MG, Gerência de Difusão, desenvolveu um grande
programa de educação patrimonial - “Programa Memória e Cidadania” – cujos
pilotos aconteceram em 2007 nas cidades de Paracatu e em seguida, em 2008,
Pitangui, envolvendo comunidades quilombolas, associações de bairros,
Conselho Municipal do Patrimônio, Secretaria Municipal de Educação,
Secretarias Municipais de Cultura, entidades públicas e privadas diversas e
escolas estaduais e municipais. O foco central era o desenvolvimento de
projetos elaborados em conjunto entre os vários seguimentos da sociedade local. Nos anos 2008 a 2010 o
projeto atingiu as cidades de Entre Rios, Jeceaba, São Brás do Suaçuí, Pirapora,Sabará,
Sacramento, Berilo e novamente a cidade de Pitangui.
Paralelamente em 2008 e
2010 foi realizado um projeto com as escolas tombadas de Belo Horizonte, que
contemplou as escolas estaduais, Barão do Rio Branco, Barão de Macaúba,
Olegário Maciel, Afonso Pena, Instituto da Educação e D. Pedro II.
OS PROJETOS
2009 – Trabalho com os alunos
do “Projovem” vinte e quatro professores e alunos envolvidos.
Participaram da
oficinas cinquenta e sete agentes culturais.
1 - Os objetivos dos projetos:
- Promover a sensibilização
cultural através de ações junto às comunidades (palestras, cursos, cartilhas
e boletins), para que absorvam os conceitos e conheçam a realidade local com
relação ao Patrimônio Cultural e possam desenvolver coletivamente ações para
valorização e preservação das produções culturais em conjunto com o IEPHA/MG.
- Estimular a apropriação e o uso,
pela comunidade, do Patrimônio Cultural que ela detém.
- Estimular o diálogo entre a
sociedade e os órgãos responsáveis pela identificação, proteção e promoção do
Patrimônio Cultural, propiciando a troca de conhecimentos acumulados sobre
estes bens culturais.
- Levar as questões relativas à
preservação do patrimônio Cultural para dentro das escolas, contribuindo para
que o corpo docente atue como agente multiplicador.
- Incentivar a participação das
comunidades nas decisões referentes à preservação revitalização e conservação
dos marcos culturais.
- Estimular a autoestima dos vários
segmentos sociais através da valorização e reconhecimento de suas produções
culturais.
- Propiciar o fortalecimento da
identidade cultural individual e coletiva.
- Promover o estudo e a compreensão
da cultura local, destacando sua importância e sua singularidade.
- Promover o estudo sobre os bens
culturais e seus problemas, buscando soluções.
- Incentivar atividades que ampliem
a participação de diversos segmentos da comunidade visando ao prosseguimento
das ações do projeto.
- Promover a participação das
comunidades nas atividades a serem desenvolvidas pela instituição.
- Tornar acessível, aos indivíduos
e aos diferentes grupos sociais, os instrumentos e significados.
- Experimentar e desenvolver
metodologias de Educação Patrimonial, que permitam um processo contínuo de
conhecimento e compreensão e avaliação dessas ações.
- Promover a produção de novos
conhecimentos sobre a dinâmica cultural e seus resultados, incorporando-os às
ações de identificação, proteção e valorização do Patrimônio Cultural no
nível das comunidades locais e das instituições envolvidas.
2 - O trabalho consistiu das seguintes etapas:
2.1 - Etapas Preliminares:
Definição das ações a serem desenvolvidas.
2.2 - Etapa I: Definição da área de
atuação /público alvo e cronograma.
2.3 - Etapa II: Contatos e Divulgação.
2.4 - Etapa III: Atividades junto à comunidade: Oficinas e
Palestras
Oficina e Vista Orientada
em Pitangui – 2008 – Pedro Gaeta, Vanessa Soier Melo e Adriana Quirino.
Fonte: IEPHA/MG.
Oficina e Vista Orientada em Pitangui – 2008 – Pedro Gaeta, Vanessa Soier Melo e Adriana Quirino.
Fonte: IEPHA/MG.
As oficinas teriam
duração de 16 horas com exposição de conceitos, dinâmicas de grupo, visitas
orientadas a locais pré-determinados com mapas e folhas didáticas contendo
exercícios para serem realizados em campo e a elaboração em conjunto de
projetos a serem desenvolvidos nas escolas e nas comunidades.
O destaque nos
exercícios da Visita Orientada são as folhas com detalhes de edificações
situadas ao longo do trecho a ser percorrido, para serem descobertos e
identificados pelos participantes da oficina. O exercício tem como objetivo
estimular a percepção do espaço, muitas vezes ignorado no cotidiano.
Mapa utilizado para a Visita
Orientada em Paracatu
Fonte: IEPHA/MG.
2.4 - Etapa IV: Monitoramento
dos projetos:
Cartilha produzida pelo município
de Pitangui para o Projeto de Educação Patrimonial.
Texto de autoria: Carlos Henrique Rangel - Fonte: IEPHA/MG.
Reunião do Grupo com a equipe do IEPHA/MG - Paracatu.
Fonte: IEPHA/MG.
2.6 - Etapa V: Conclusão dos trabalhos:
2.7 - Etapa VI: Relatório Final.
Projeto de Educação Patrimonial em
Paracatu – 2008. Fonte: IEPHA/MG.
Projeto de Educação Patrimonial em Paracatu – 2008. Fonte: IEPHA/MG.
Exposição dos resultados do Projeto no aniversário da cidade de Pitangui
-2008.
Fnte: IEPHA/MG.
VI – Atividades Correlatas do IEPHA/MG
Outro grande avanço
no processo de municipalização e participação das comunidades na preservação
do acervo cultural foi a valorização dos projetos locais de educação
patrimonial, que pontuam os municípios no ICMS Patrimônio Cultural - atual Lei
18.030/2009.
Exigência consolidada
a partir da Deliberação Normativa 01/2005 do IEPHA/MG, as ações de educação
patrimonial passaram a fazer parte do cotidiano dos municípios mineiros,
visando a promoção sensibilização e valorização do patrimônio cultural.
Nesses anos de
atuação, várias foram as iniciativas educativas dos municípios, desde a
realização de cartilhas do Patrimônio Cultural, a jogos, revistas, camisetas,
cds interativos, almanaques ,chaveiros, postais, calendários, imãs de
geladeira, etc.
Destacamos as cartilhas
de Pitangui, Ubá, Juiz de Fora, Uberlândia, Campo Belo, Conselheiro Pena,
Aricanduva, Divino das Laranjeiras, Rio Piracicaba, Monte Alegre, Conselheiro
Lafaiete, Tiradentes, Sete Lagoas, Contagem, Congonhas, Iturama, São Thomé
das Letras, Três Corações, Canápolis Ouro Preto e tantos outros municípios.
Para auxiliar os
municípios na elaboração dos trabalhos, foram ministrados cursos ao longo dos
anos em cidades diversas do Estado.
A - A EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL
2005 – 362 projetos e
relatórios
2006 – 663 projetos e
relatórios
2007 – 623 projetos e
relatórios
2008 – 614 projetos e
relatórios
2009 – 644 projetos e
relatórios
2010 – 646 projetos e
relatórios
B - CURSOS MINISTRADOS
PELO IEPHA/MG AO LONGO DOS ANOS 2005 -2010
Ano Cursos Municípios Agentes Culturais
Participantes
2005 10 59 -
2006 18 165 614
2007 09 85 290
2008 10 87 495
2009 17 116 572
2010 15 111 990
______________________________
TOTAL: 79
623 2961
C - EVENTOS DIVERSOS: SEMINÁRIOS, CURSOS, OFICINAS, FÓRUNS
2006
Somando eventos, seminários, cursos, oficinas, fóruns (foram 29): 312 Municípios.
Agentes Culturais envolvidos: 1105 agentes culturais.
2007____________________________________________________________________
Total de Municípios participantes dos cursos, fóruns e seminários: 221 Municípios.
Total de agentes culturais envolvidos: 1096 Agentes Culturais.
____________________________________________________________________
2008
Total de Municípios participantes dos cursos, fóruns e seminários: 193
Municípios.
Total de agentes culturais envolvidos: 1879 Agentes Culturais.
____________________________________________________________________
2009
Total de Municípios participantes dos cursos, fóruns e seminários: 359
Municípios.
Total de agentes culturais envolvidos: 2079 Agentes Culturais.
__________________________________________________________________
2010
Total de Municípios participantes dos cursos, fóruns e seminários até
outubro de 2010: 111 municípios.
Total de agentes culturais envolvidos: 1366 Agentes Culturais.
TOTAL DE
PARTICIPANTES de 2006 a 2010: 7525 AGENTES CULTURAIS
NOTAS
[1] IEPHA/MG. Política de Ação com as Comunidades – PAC – Documento Básico, 03 de out. de 1983, pág. 2. [2]ACERVO, Informativo bimestral editado pela Superintendência de Pesquisa, Tombamentos e Divulgação.Belo Horizonte: IEPHA/MG julho de 1981, pág. 4. [3] IEPHA/MG. Política de Ação com as Comunidades – PAC – Ação Comunitária, 1983. [4] IEPHA/MG. Política de Ação com as Comunidades – PAC – Documento Básico, 03 de out. de 1983, pág. [5] IEPHA/MG. Política de Ação com as Comunidades – PAC – 16 de julho de 1983. [6] IEPHA/MG. Projeto Educação, Memória E Patrimônio, 1994. [7] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” Dezembro/1994. p. [8] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” Dezembro/1994. p. 23 e 24.. [9] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” Dezembro/1994. p. 27. [10] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” . Dezembro /1994. p. 26. [11] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” . Dezembro/ 1994. p.27, 30. [12] Hingel, Murílio de Avellar. Apresentação. Secretaria de Estado da Educação. Reflexões e Contribuições para a Educação Patrimonial. Grupo Gestor (Org.) – Belo Horizonte: SEE/MG, 2002. pág. 5 e 6.
O AUTOR
Carlos Henrique Rangel
É historiador de formação.
Trabalha há trinta e um anos no Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e
Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG. Foi chefe de Setor de Pesquisa de 1989
a 1991, Superintendente de Proteção de
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